AbdonMarinho - A blogosfera e a Caixa de Pandora
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 30 de Maio de 2025



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A blo­gos­fera e a Caixa de Pandora

A blo­gos­fera e a Caixa de Pandora.

Por Abdon C. Marinho.

FOI com Hes­íodo, que viveu entre 750 e 650 a.C, que tomamos con­hec­i­mento do mito da caixa da Pan­dora. O autor de “Obras e Dias” e “Teogo­nia” conta-​nos sobre tal mito que o mais poderoso de todos os deuses, Zeus, para vingar-​se de Prom­e­teu e Epime­teu, titãs que deram o fogo aos homens, roubando-​o dos deuses, criou a primeira mul­her, Pan­dora, e a ela deu-​lhe uma jarra com a recomen­dação que jamais a abrisse.

Como sabe­mos, a curiosi­dade sobre o con­teúdo da jarra falou mais alto e Pan­dora acabou por abri-​la espal­hando sobre a Terra todos os males.

A lição mais impor­tante do mito da “caixa de Pan­dora”, que muitos vivem a repeti-​lo, talvez que seja que ati­tudes sim­ples podem trazer graves consequências.

Nos últi­mos dias tenho visto quase toda, assim chamada, “blo­gos­fera maran­hense” “enter­tida” com os prints de supos­tos diál­o­gos pri­va­dos havi­dos entre o vice-​governador do estado e um blogueiro.

Con­forme já externei ante­ri­or­mente – sem aden­trar no con­teúdo dos tais prints, pois se o diál­ogo se havido, deu-​se em campo pri­vado –, o grave, para a relação políticos-​jornalistas/​blogueiros, é alguém suposta­mente fazendo-​se pas­sar por jornalista/​blogueiro vazar e pro­mover a divul­gação de tais diál­ogo e, mais, fazendo isso com inusual orgulho.

O laudo peri­cial – precisa-​se saber qual a modal­i­dade de crime demandou-​se para a polí­cia apu­rar uma vez que se tra­tou de um diál­ogo pri­vado e Con­sti­tu­ição da República ainda asse­gura o dire­ito à pri­vaci­dade –, aponta terem havido entre o vice-​governador e blogueiro quase 5 mil diálogos.

Como em toda minha lista de con­tatos acho que não chega a dez o número de pes­soas com quem tenha tido tanta “con­versa”, imag­ino que essa pes­soa fosse alguém da “con­fi­ança” do vice-​governador.

Logo, se alguém de “con­fi­ança” mostra-​se capaz desse tipo de con­duta é de imaginar-​se o risco a que cada um deles (políti­cos) esteja correndo.

Nesse sen­tido digo que abri­ram a “caixa de Pan­dora”.

Quem dora­vante vai man­ter diál­o­gos com jornalista/​blogueiros sem o receio de estar sendo gravado ou de ter suas con­ver­sas “print­adas” e lev­adas ao vento expondo a si, seus famil­iares ou ali­a­dos políticos?

Se o acon­tec­i­mento e/​ou a explo­ração do mesmo servirá para alguma coisa talvez seja para tornar for­mais as relações entre políti­cos e profis­sion­ais da mídia – como, aliás, dev­e­ria ser.

No caso em comento, se o jornalista/​blogueiro tivesse se dirigido ao vice-​governador ou se o vice-​governador nunca tivesse lhe dado ousa­dia o diál­ogo seria o seguinte:

Blogueiro: –– Sen­hor vice-​governador, a sen­hora dep­utada fulana de tal está se referindo ao sen­hor nos seguintes ter­mos (descreve­ria a fala da dep­utada). O sen­hor gostaria de se manifestar?

O vice-​governador pode­ria dizer que preferiria não se man­i­fes­tar ou que se man­i­fes­taria através de nota dis­tribuída à imprensa. Pronto, mor­ria aí a conversa.

Em sendo ver­dade os diál­o­gos vaza­dos pela imprensa envol­vendo o blogueiro e o vice-​governador – o bene­fí­cio da dúvida dev­erá sem­pre socor­rer as víti­mas –, ele terá apren­dido da forma mais dolorosa umas das grandes lições de Jânio Quadros.

Conta lenda que certa vez Jânio estava dando uma entre­vista e a entre­vis­ta­dora o tra­tou por você.

Ele, com a sua voz e estilo de falar car­ac­terís­ti­cos, a cor­rigiu: –– por favor, trate-​me por sen­hor. Intim­i­dades só geram fil­hos e abor­rec­i­men­tos e não quero ter nen­hum dos dois com a sen­hora.

Abdon C. Mar­inho é advogado.