AbdonMarinho - UM VEXAME DUPLICADO NA BR 135.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 19 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UM VEX­AME DUPLI­CADO NA BR 135.

UM VEX­AME DUPLI­CADO NA BR 135.
Por Abdon Mar­inho.
ALGUÉM que, desav­isado, pas­sasse pela dita inau­gu­ração da dupli­cação da BR 135 – obra inacabada, mal feita, com diver­sos pon­tos já pre­cisando de reparos, que con­sumiu uma fábula de recur­sos e que se arras­tou por quase dez (frise-​se: dez anos para con­cluírem pouco mais de vinte quilômet­ros) –, pen­saria ter saltado para um mundo do absurdo, uma mis­tura de comé­dia pastelão com desenho ani­mado e tan­tas out­ras coisas mais do nosso imag­inário infan­til.
Acred­ito que para o espetáculo ficar mais “ani­mado” só fal­tou os con­tendores se ati­rarem, mutu­a­mente, tor­tas, copos d’água, suco de groselha, etc.
Outra impressão que tive foi que “turma da zona norte”, coman­dada por Gordão, enfren­tou a turma do Bolinha, com todos saindo esco­ri­a­dos.
Falando sério. Que papelão, este, das nos­sas autori­dades, hein? Será que inau­gu­ração de obra pública com­por­taria aquele tipo de com­por­ta­mento?
Estava em viagem ao norte do estado, por isso, só pude acom­pan­har a refrega dan­tesca pelas men­sagens dos diver­sos gru­pos de What­sApp, assim mesmo, nos lugares onde a inter­net chegava.
E, emb­ora, cada qual dos meios de comu­ni­cação (com hon­radas exceções), ele­gendo seus anjos e seus demônios no episó­dio, pareceu-​me que todos se enquadram naquela máx­ima: “em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão”, mere­cendo o destaque da falta de razoa­bil­i­dade o gov­er­nador Flávio Dino.
A forma como se deu vex­ame pareceu-​me haver uma descabida orques­tração para tirar proveito de uma obra que, todos sabe­mos, foi mal “tocada” inteira­mente pelo gov­erno fed­eral, com pouca ou nen­huma par­tic­i­pação do gov­erno estad­ual, menos ainda da atual gestão, que, segundo dizem, fez foi ten­tar retirar-​lhe recur­sos das emen­das dos dep­uta­dos fed­erais para out­ras neces­si­dades do estado, que, reconheça-​se, são muitas.
Ape­sar disso, o gov­er­nador achou ade­quado tirar uma “casquinha” e ten­tar se “apos­sar” do evento, que, pelo menos no plano teórico, nada tinha com ele.
Era um evento pro­movido pelo gov­erno “golpista”, com uma agenda “maldita” e con­taria com a par­tic­i­pação de inúmeras autori­dades “golpis­tas”, tanto de fora quanto de den­tro do estado.
O gov­er­nador não ape­nas achou opor­tuno como fez pior, levou uma claque for­mada pelos mais ele­va­dos servi­dores da admin­is­tração pública – acred­ito que muitos deles dev­e­riam estar em seus pos­tos de tra­balho dando expe­di­ente –, que de forma vol­un­tária (ou pro­gra­mada), achou-​se no “dire­ito” de vaiar out­ras autori­dades pre­sentes no evento e, pas­mem, xingá-​las.
Vejam, ainda que o gov­er­nador – ou qual­quer outro –, tenha se sen­tido agravado por alguma crítica mais ácida pre­sente em algum dis­curso, o mais cor­reto ou “edu­cado” seria deixar pas­sar ou rebater com urban­idade e edu­cação, mostrando que a crítica fora infun­dada ou injusta.
Acho que nem mais em assem­bleias estu­dan­tis se rebate críti­cas com vaias e/​ou xinga­men­tos.
Ver autori­dades públi­cas tomarem este tipo de ati­tude pareceu-​me um tanto quanto fora de con­texto.
Se as autori­dades que se com­por­taram de forma tão inapro­pri­ada tin­ham autor­iza­ção do gov­er­nador para aquele tipo de com­por­ta­mento sig­nifica que o gov­erno foi tomado pelo clima de “tudo posso”, incom­patível, por­tanto, com os ideais democráti­cos; se não tin­ham, sig­nifica que desre­speitaram a autori­dade do próprio gov­er­nador. Este, então, na sua fala, dev­e­ria pedir des­cul­pas e admoestá-​las.
Será que alguém acha nor­mal autori­dades públi­cas, pagas com o din­heiro do con­tribuinte, se com­portarem como mal-​educados baderneiros? Será que o gov­er­nador não se con­strangeu com o com­por­ta­mento dos sub­or­di­na­dos?
Per­gunto isso, porque, lá em casa, nos meus tem­pos de menino, quando tinha visita em casa não podíamos nem falar alto ou pas­sar na sala.
Mas Abdon, o entrevero começou com a críti­cas do dep­utado Hildo Rocha às estradas estad­u­ais. Bem, talvez a crítica do dep­utado, no momento da solenidade, tenha sido ino­por­tuna, ape­sar de ver­dadeira. Isso jus­ti­fi­caria o com­por­ta­mento “infan­til” das autori­dades públi­cas?
As estradas “no” Maran­hão são muito ruins, tanto as estad­u­ais quanto as fed­erais. Este é um fato. Eu, que há vinte anos as per­corro e o ceguinho que faz linha For­t­aleza — Belém, sabe­mos disso. Toda vez que o ceguinho cruza a fron­teira do estado ele indaga afir­mando: entramos no Maran­hão?! Saí­mos do Maran­hão?!
São estradas mal cuidadas, com sinal­iza­ção defi­ciente, com ondu­lações, com bura­cos, com acosta­mento ruim ou sem nen­hum acosta­mento e tan­tas out­ros male­fí­cios que colo­cam em risco as vidas de quem pre­cisa, por elas, trafe­gar.
Ora, isso vem sendo assim desde sem­pre. Por não ser culpa, exclu­siva, do atual gov­erno, este com maior razão, ao ten­tar ocul­tar tal ver­dade e atrair a cólera do senador João Alberto que o chamou de men­tiroso e out­ros adje­tivos, teria se saído mel­hor se na sua fala tivesse recon­hecido o quanto nos­sas estradas deixam a dese­jar e con­cla­mado a união de todos para mel­ho­rar a situ­ação, não só das estradas fed­erais e estad­u­ais, como, tam­bém, a mel­ho­rar os nos­sos indi­cadores.
Há anos falo que a razão para um estado tão rico em ter­ras férteis, água, min­erais diver­sos, gás nat­ural e mesmo petróleo, ocu­par as piores posições em todos indi­cadores soci­ais e econômi­cos, é ape­nas uma – ou esta a prin­ci­pal delas –, uma classe política que não pensa além dos seus inter­esses e de sua sede de per­pet­u­ação no poder. Não vão além disso. O que inter­essa mesmo é se elegerem. O Estado? O Estado que se exploda.
O adver­sário pode ter a ideia mais inter­es­sante, a mel­hor das causas para o Estado, porém, nunca terá a chance de vê-​la implan­tada, pois a ideia, por mais bril­hante, não foi do “dono”, momen­tâ­neo, do poder. Essa é a a nossa des­graça maior.
Como vamos romper o ciclo de atraso e mis­éria que mal­trata tanto os menos favore­ci­dos? A resposta é uma só: não vamos romper.
Aprendi que de tudo é pos­sível tirar lições. A lição que tiramos do espetáculo depri­mente da inau­gu­ração da dupli­cação da BR 135, é que o Maran­hão pre­cisa, antes de mais nada, de choque civ­i­liza­tório, onde as autori­dades enten­dam o valor da boa edu­cação e ten­ham ver­gonha de causarem ou teste­munharem cenas tão deploráveis.
Pelo que vejo, parece que ainda estão longe disso.
Abdon Mar­inho é advogado.