AbdonMarinho - O PIOR DO PASSADO OU UM NOVO REIS PACHECO PARA O MARANHÃO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 19 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O PIOR DO PAS­SADO OU UM NOVO REIS PACHECO PARA O MARANHÃO.

O PIOR DO PAS­SADO OU UM NOVO REIS PACHECO PARA O MARAN­HÃO.

Por Abdon Mar­inho.

UM dos clás­si­cos da música brasileira que nos embalou nos anos oitenta tinha o refrão: “vejo o futuro repe­tir o pas­sado, vejo um museu de grandes novi­dades, o tempo não pára”.

Era o grito de insat­is­fação da juven­tude e, por assim dizer, de toda a sociedade con­tra os des­man­dos dos donos do poder ver­bal­izado nos pal­cos dos shows em Brasil por Cazuza.

Os fatos do momento no Maran­hão trouxeram-​me a lem­brança deste refrão especí­fico: vejo o futuro repe­tir o pas­sado, vejo um museu de grandes novidades…

Quem con­hece a história recente, e não tão recente, tem uma real dimen­são da gravi­dade dos fatos.

O gov­erno estad­ual, mais uma vez, vê-​se acos­sado por notí­cias de malfeitos.

Desta vez, uma cir­cu­lar da Poli­cia Mil­i­tar do estado ori­en­tando pesquisas sobre as prefer­ên­cias políti­cas dos cidadãos e da própria cor­po­ração. O propósito, segundo a mesma cir­cu­lar, pre­venir pos­síveis “embaraços eleitorais”.

Trata-​se de uma novi­dade esse tipo de levantamento?

Não. A história reg­is­tra os mil­hares de ban­cos de dados com infor­mações dos cidadãos nos arquivos dos regimes total­itários: no régime nazista, na Ale­manha; no facista, na Itália, no comu­nismo, desde a União Soviética aos seus satélites ao redor do mundo, no pas­sado e atual­mente, no caso de Cuba, Cor­eia do Norte, e seus congêneres.

No Brasil, durante ditadura mil­i­tar, era comum que se inves­ti­gasse e fizessem ban­cos de dados sobre as prefer­ên­cias políti­cas e eleitorais dos cidadãos, as fichas do DOI-​CODE, estão ainda por aí, sendo objeto de pesquisas.

É fato, um dos praz­eres de dita­dores e seus apren­dizes é bis­bil­ho­tar a vida dos cidadãos, a saber o que fazem, com quem falam, o que dizem, com quem trepam.

Essa é a busíles da questão, o cerne de sua gravi­dade: temos um gov­erno estad­ual, em plena democ­ra­cia, con­stru­indo ban­cos de dados sobre os cidadãos e sobre os seus adver­sários políti­cos, reais e imaginários.

Em se tratando de escân­dalo político no Maran­hão essa “con­fecção” de dados sobre a vida dos cidadãos, faz o caso “Reis Pacheco”, até então, na minha visão, o mais grave – tín­hamos um senador da República urdindo um falso crime de assas­si­nato para com­pro­m­e­ter um outro senador da República e gan­har as eleições de 1994 – pare­cer coisa de cri­ança trav­essa.

No caso “Reis Pacheco” a trama toda se deu na esfera pri­vada. Antiético, crim­i­noso, imoral, mas na esfera privada.

Agora, segundo informa a cir­cu­lar, temos uma situ­ação em que a máquina estatal, pior, a força poli­cial, onde deve se escu­dar toda a sociedade, desem­pen­hando um papel político eleitoral crim­i­noso.

O gov­er­nador do estado, Flávio Dino, se disse indig­nado com tal fato, achando um absurdo que tal situ­ação tenha ocor­rido, prom­e­tendo, por fim, a punição dos respon­sáveis. Segundo soube até já baixaram ato de exon­er­ação do coro­nel que, suposta­mente, teria assi­nado a por­taria cir­cu­lar encomen­dando o banco de dados sobre as prefer­ên­cias políti­cas dos cidadãos.

A neg­a­tiva do gov­er­nador de que o sub­or­di­nado, ao encomen­dar o banco de dados, não agira por deter­mi­nação estatal sug­ere alguns ques­tion­a­men­tos.

Como sabe­mos as polí­cias em qual­quer lugar do mundo, mesmo nas ditaduras, regem-​se por princí­pios basi­lares den­tre quais, os mais impor­tantes são: hier­ar­quia e dis­ci­plina.

Daí, ques­tion­amos:

Um ofi­cial da poli­cia faria algo tão grave por sua própria conta e risco?

Quem tinha ou tem inter­esse no serviço sujo?

Quem o encomendou?

Qual o inter­esse de ofi­ci­ais da PMMA em pesquisar dados dos cidadãos em todo estado e da cor­po­ração para “fins eleitorais”?

Ainda que façamos um enorme esforço fica difí­cil acred­i­tar que ofi­ci­ais “burlem” os princí­pios de hier­ar­quia e dis­ci­plina para imiscuir-​se em assun­tos de cunho político/​eleitoral.

Saber as prefer­ên­cias políti­cas dos cidadãos e mesmo da cor­po­ração não é algo que esteja den­tro das atribuições das polí­cias.

Fica mais difí­cil acred­i­tar na “indig­nação” do gov­er­nador e seus aux­il­iares, quando faze­mos um breve ret­ro­specto das infor­mações que se tem do seu gov­erno em relação a supostas perseguição aos seus adver­sários.

Trata-​se de voz cor­rente no meio político de que o gov­erno pos­sui infor­mações sobre este ou aquele político e por isso mesmo estes terão que ficar onde o gov­er­nador quiser, sair can­didato do seu lado ou não se atrav­es­sar no seu cam­inho.

Será ver­dade? Não sei. Dizem que sim.

Caso sejam ver­dadeiros tais boatos, como o gov­er­nador e os seus têm infor­mações capazes de guiar o com­por­ta­mento dos políti­cos?

A resposta é uma só: fazendo uso da estru­tra de inves­ti­gação estatal.

Mais uma pes­soa já insinuou-​me que estaria sendo alvo de escu­tas ou de vio­lação dos dados de comu­ni­cação.

Por estas e out­ras, fica difí­cil acred­i­tar na “indig­nação” dos atu­ais donos do poder. Mais parece uma con­ve­niente des­culpa de quem foi apan­hado com as calças nas mãos.

Há cerca de dois anos, logo depois da eleições de 2016, choveram denún­cias de uso da poli­cia para intim­i­dar eleitores e can­didatos no inte­rior do estado, diver­sos políti­cos acor­daram no dia da eleição com polí­cia na porta para supostas averiguações de crime eleitoral.

Em Mir­in­zal chegaram a deter — ou pren­der -, o prefeito sob a ale­gação de crime que suposta­mente teria cometido, con­tribuindo, pelo que se sabe, para a sua derrota.

Em todo estado, trata-​se de quase uma una­n­im­i­dade, é voz cor­rente o viés autoritário do atual grupo que se assen­horeou do poder.

Não tol­eram e não aceitam quais­quer tipos de críti­cas ou opinião dis­so­nante. Não demon­stram qual­quer respeito ou apreço pela liber­dade de expressão dos cidadãos.

Os exem­p­los claros disso são os inúmeros proces­sos aos quais respon­dem blogueiros e jor­nal­is­tas no Maran­hão, atual­mente.

E pelo poder, ao que parece, tudo é válido, mesmo o desre­speito às regras comez­in­has de democ­ra­cia, de respeito, gratidão e leal­dade.

Assim, não vêem nada demais em terem descar­tado, como um cão “lazar­ento”, aquele que foi o respon­sável por sua existên­cia política, o ex-​governador José Reinaldo Tavares. E mais, moverem céus e ter­ras para que não con­siga sua eleição ao Senado da República – quando dev­e­riam não medir esforços em sen­tido con­trário.

Acham que está tudo bem quando dão, como deram, um “passa-​moleque” no dep­utado Waldir Maran­hão, ridic­u­lar­izado, nacional e inter­na­cional­mente, por tê-​los aten­di­dos e revo­gado o impeach­ment da ex-​presidente Dilma Rouss­eff, com a promessa de amor eterno, gratidão per­pé­tua, com título de “guer­reiro do povo brasileiro” e vaga na chapa ofi­cial como senador.

Fica difí­cil acred­i­tar na inocên­cia diante de tão grave imputação, quando teste­munhamos um certo exagero no uso da força estatal como fiz­eram com o ex-​prefeito Riba­mar Alves e o ex-​deputado Paulo Mar­inho – não dis­cuto a natureza dos supos­tos crimes que ten­ham cometido, mas restou claro um certo “prazer” dos donos do poder em fazê-​los con­hecer a presí­dio de Pedrin­has a par­tir da per­spec­tiva interna.

Exis­tem out­ros casos de “exageros” no uso do poder como se quisessem mostrar quem “manda” ou para com­pen­sar out­ras situações.

A situ­ação é tal que mesmo o mais pací­fico dos homens que con­heço, Léo Costa – o mundo pode estar ‘pegando’ fogo e ele con­segue ver algo de pos­i­tivo, como aproveitar para comer peixe frito; capaz de enx­er­gar pos­i­tivi­dade onde os demais só vêm caos; o der­radeiro otimista diante do quadro político dan­tesco do momento –, mesmo ele, não faz muito tempo, surpreendeu-​me ao dizer que não ingres­saria no PSDB, já sob o comando do senador Roberto Rocha, enquanto o par­tido tivesse qual­quer lig­ação, por menor que fosse com o gov­erno estad­ual – acho que as palavras que usou foram mais duras.

O ex-​prefeito de Bar­reir­in­has, não disse palavras tão duras ape­nas dev­ido a “pux­ada de tapete” das eleições de 2016, quando lhe “tomaram” o par­tido que fun­dou e lhe impedi­ram de dis­putar a reeleição ou pela total falta de apoio que teve do gov­erno estad­ual – ape­sar de sem­pre ter sido um leal com­pan­heiro, a ponto, inclu­sive, de pas­sar o aero­porto do municí­pio para o estado –, fê-​lo ter perce­bido, assim como tan­tos out­ros, que o poder, para seus atu­ais deten­tores, é mais impor­tante que a causa.

Quem pode­ria imag­i­nar que num gov­erno inti­t­u­lado da “mudança” fos­sem ocor­rer suicí­dios, como o do médico Mar­i­ano Cas­tro, tendo como questão de fundo escân­da­los de corrupção?

São coisas assim, o pouco caso e o menosprezo diante de out­ras, como o caso do empresário de Barra do Corda que mor­reu após ter sido enjaulado durante um dia inteiro e sob o sol a pino; o caso do suicí­dio de um del­e­gado que ale­gou perseguição ou da estu­dante morta em Bal­sas, após desastrada oper­ação, e que os famil­iares até hoje não rece­beram um pedido for­mal e público de des­cul­pas, que faz aumen­tar a descrença e, como soube, faz sur­gir uma emblemática e imag­inária asso­ci­ação de ex-​eleitores.

O caso agora rev­e­lado – e que nos remete as cat­acum­bas mais hor­rip­i­lantes dos regimes total­itários –, é um crime eleitoral a recla­mar uma pronta inter­venção do Min­istério Público Eleitoral no sen­tido apu­rar todas as respon­s­abil­i­dades e iden­ti­ficar os envolvi­dos.

Ina­ceitável que, em pleno século 21, ten­hamos, sobre­tudo depois de tudo que pas­samos, que con­viver com coisas desta natureza.

Fichar cidadãos? Tomem tenên­cia meus sen­hores!

Aguçou-​me uma curiosi­dade: Será que fiz­eram uma ficha minha? O que tem nela? Posso ter acesso?

Encerro lem­brando que no clás­sico de Cazuza, “O Tempo Não Pára”, antes do verso “vejo o futuro repetindo o pas­sado, vejo um museu de grandes novi­dades”, vem aquele: “A tua piscina está cheia de ratos, tuas ideias não cor­re­spon­dem aos fatos”…

Até breve!

Abdon Mar­inho é advo­gado.