AbdonMarinho - A amoralidade como método e a Justiça Eleitoral.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 26 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A amoral­i­dade como método e a Justiça Eleitoral.


A AMORAL­I­DADE COMO MÉTODO E A JUSTIÇA ELEITORAL.

Abdon Mar­inho.

DURANTE a aber­tura dos tra­bal­hos da Justiça Eleitoral deste ano, ainda em janeiro, o pres­i­dente daquela corte fez um breve histórico do quanto evoluí­mos nesta área. Por ser o advo­gado mais antigo naquela sessão, sua excelên­cia, “con­fir­mava” comigo as histórias sobre as fraudes que ocor­ria na antiga cédula de papel e urna de lona; as impug­nações voto a voto; as ten­ta­ti­vas de “adi­v­in­har” o desejo do eleitor quando a “letra” não aju­dava, as apu­rações madru­gada a den­tro, os mapas de votação, etc., diver­sas coisas que ficaram para a história.

Ape­sar de todos os avanços, sua excelên­cia fazia uma ressalva: o abuso de poder político e econômico por parte dos can­didatos, bur­lando a von­tade do eleitor e dis­torcendo a democ­ra­cia ainda é uma chaga que pre­cisa ser mel­hor enfrentada.

Este é o tema que abor­dare­mos no pre­sente texto.

Nos últi­mos dias tenho acom­pan­hado a divul­gação de áudios e tex­tos atribuí­dos a um dep­utado estad­ual – e pré-​candidato a prefeito da cap­i­tal –, e ao seu estafe de cam­panha de 2018. São fatos graves.

Muito além dos palavrões, assé­dios, menosprezo aos cidadãos pagadores de impos­tos – e na maior parte dos envolvi­dos –, dos seus salários, chamou minha atenção a nat­u­ral­i­dade com que aque­las pes­soas (can­didato, asses­sores, colab­o­radores), todos jovens e instruí­dos, come­tem toda a sorte de impropérios – e crimes –, na intenção de alcançar os seus obje­tivos: a eleição do can­didato.

Em nen­hum momento dos diál­o­gos (áudios ou tex­tos) vi alguém demon­strando qual­quer pre­ocu­pação com a ética, muito pelo con­trário, a única, pôde-​se dizer “recomen­dação” foi para que se cometessem os “deli­tos” fazendo o uso de per­fis fal­sos, os chama­dos “fakes”. Ou, uma outra, para que lem­brassem que eram servi­dores públi­cos, ou seja, que tomassem cuidado para não serem apan­hados.

Caso seja ver­dade o que vem sendo divul­gado pela mídia – e as provas apon­tam em tal sen­tido –, antes e durante o período eleitoral de 2018, tive­mos dois órgãos públi­cos, com atu­ação direta em todo estado, “tra­bal­hando” a cam­panha de um candidato.

Trata-​se de algo que vai muito além das pre­ocu­pações do TRE com os abu­sos cometi­dos por can­didatos de forma iso­lada.

A per­gunta ini­cial que se faz é se isso se deu com o con­hec­i­mento e con­sen­ti­mento do gov­er­nador do estado ou se à sua rev­elia? E, caso tenha tido con­hec­i­mento, por que nada foi feito para impedir?

A resposta a essa per­gunta talvez seja ape­nas uma: a amoral­i­dade como método para alcançar o poder – e nele manter-​se –, é algo “nor­mal” na “nova” política maran­hense.

Veja que em sua defesa o “novo” dep­utado aponta como respon­sáveis pela divul­gação dos áudios e vídeos – segundo ele, adul­ter­ados e manip­u­la­dos –, out­ros dep­uta­dos estad­u­ais, que assim pro­ce­dem não por apreço à justiça ou a ética na política, mas por que têm inter­esse na “destru­ição” moral do colega para se pro­moverem.

Noutras palavras, o que a pop­u­lação assiste é uma guerra de quadrilhas.

Como podemos perce­ber, em sendo ver­dade tudo isso, repito, é que a política maran­hense cam­inha célere rumo à sar­jeta moral como nunca tive­mos prece­dentes.

Não que os políti­cos de out­rora fos­sem “San­tos”, longe disso, mas, se com­para­dos aos de agora, sobre­tudo a estes jovens políti­cos que pon­tuam na política estad­ual, pos­suíam lim­ites éti­cos que estes, nem de longe alcançam.

Estes “jovens anciãos” da nova política estad­ual, pelo que se tem rev­e­lado atual­mente, não con­hecem quais­quer lim­ites. Pelo poder são capazes de tudo. Tudo, no sen­tido mais amplo da palavra.

São estas pes­soas, desprovi­das de qual­quer senso ético, abso­lu­ta­mente amorais, que volta e meia falam em “nova” política, “novas” práti­cas, etc.

Os que se enga­naram – como eu –, pen­sando que alternân­cia no poder ini­ci­ada nas eleições de 2014 traria efe­ti­va­mente novas práti­cas para a política local, diante destes fatos, e de tan­tos out­ros, já percebe­mos que vive­mos o nosso pior pesadelo.

A con­statação – e temor –, de que a Justiça Eleitoral, jun­ta­mente com o Min­istério Público Eleitoral e os vários movi­men­tos de com­bate à cor­rupção eleitoral não têm sido efi­cazes em banir essas práti­cas nefas­tas do cenário estad­ual estão aí materializadas.

Estas mes­mas pes­soas que come­teram toda sorte de abu­sos nas eleições estad­u­ais, agora se apre­sen­tam para as eleições munic­i­pais. Querem ser prefeitos, man­dar nos recur­sos públi­cos como gestores dos municí­pios.

A eles se somam out­ras cen­te­nas de pré-​candidatos à prefeitos e vereadores que, prati­ca­mente, desde o encer­ra­mento das eleições de 2016, estão nas ruas come­tendo seus abu­sos.

Em alguns municí­pios muitos dos que se apre­sen­tam como pré-​candidatos, com recur­sos próprios – ou fruto de crimes –, estão “com­prando” apoios de políti­cos ou aten­dendo as mais vari­adas deman­das dos cidadãos para se pro­moverem.

São shows, chur­ras­cos, fes­tas diver­sas, entrega de brindes, aber­tura de ruas, dis­tribuição de mate­r­ial de con­strução, etc.

Isso tudo sem con­tar com teia de crimes dig­i­tais para auto­pro­moção e “descon­strução” dos pos­síveis adver­sários.

Tais práti­cas não ocor­rem ape­nas em rincões longín­quos. Vem ocor­rendo tam­bém na cap­i­tal e em toda região met­ro­pol­i­tana.

À vista de todos, temos pré-​candidatos, dis­tribuindo bens e finan­ciando toda sorte de even­tos. Já em pleno ano eleitoral, em diver­sos municí­pios, incluindo os da região met­ro­pol­i­tana, tive­mos pré-​candidatos “ban­cando” blo­cos car­navale­scos, inclu­sive com a dis­tribuição de mil­hares de abadás, bebidas e até “bandecos”.

Ora, a leg­is­lação vigente proíbe que can­didatos dêem quais­quer brindes aos eleitores.

Diante disso é de se per­gun­tar o que a Justiça Eleitoral e o Min­istério Público farão para impedir ou para cas­sar reg­istro destes hoje anun­ci­a­dos como pré-​candidatos que há muito tempo estão come­tendo abu­sos.

Vai per­mi­tir que estes “abu­sadores” par­ticipem do processo eleitoral sem qual­quer embaraço? Pes­soas que com­pram apoios com din­heiro vivo, que dis­tribuem bens, irão par­tic­i­par do pleito como os demais que não come­teram qual­quer delito?

Exis­tem exem­p­los de cas­sação de mandatos porque os então can­didatos deram uma ou duas pas­sagens de ônibus a eleitores.

Como achar razoável atual­mente que pré-​candidatos pro­movam shows artís­ti­cos carís­si­mos com dis­tribuição de brindes? Que dis­tribuam ces­tas bási­cas? Que dis­tribuam mil­hares de camise­tas no car­naval, além de pro­mover blo­cos? Que saiam pela cidade com­prando apoios? Que abram ruas? Que con­struam pontes? Que façam “supostas” ações soci­ais inter­es­sa­dos na auto­pro­moção?

As provas dos abu­sos estão aí. Basta uma ligeira pesquisa. Basta con­sul­tar, por municí­pio, quem são os pré-​candidatos e o que andaram fazendo nos anos e meses que ante­ced­eram as eleições.

Noutra quadra, caso nada seja feito para impedir ou banir estas pes­soas da vida pública, a política estad­ual, muito além do que já vem acon­te­cendo hoje, se tornará uma “terra de ninguém” com os pos­tu­lantes “com­prando” mandatos ele­tivos nas bar­bas de todos e con­tando com a leniên­cia da Justiça Eleitoral.

Ao meu sen­tir, se quis­er­mos eleições limpas, os cidadãos de bem, o Min­istério Público con­tando com a altivez da Justiça Eleitoral, devem impedir que estes pré-​candidatos que estão aí come­tendo abu­sos dis­putem as eleições municipais.

Só uma resposta à altura dos abu­sos será capaz de impedir que no futuro ven­hamos a ser con­fronta­dos com fatos como estes que estão vindo a público envol­vendo a eleição de deter­mi­nado dep­utado estad­ual – e que deve ter sido tônica de muitas outras.

Se não for­mos capazes de impedir que o mal flo­resça, ele, cer­ta­mente, tomará conta de tudo.

Abdon Mar­inho é advogado.