AbdonMarinho - A imortalidade contestada.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 14 de Maio de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A imor­tal­i­dade contestada.

A IMOR­TAL­I­DADE CON­TES­TADA.

Por Abdon Marinho.

CINÉ­FILO, trago na memória os filmes que mais me emo­cionaram ao longo dos anos. Entre estes destaco a trilo­gia “O Poderoso Chefão”, magis­tral obra Fran­cis Ford Cop­pola. Logo no iní­cio do primeiro filme, lançado no Brasil em 1972, aparece o chefão Vito Cor­leone, na inter­pre­tação estu­penda de Mar­lon Brando, recebendo o agradec­i­mento e um “beija-​mão” por um “favor” prestado a um agente funerário, que humilde­mente e com claro temor per­gunta como poderá pagar pelo que foi feito.

Na minha lem­brança é mais ou menos assim. Respondendo-​lhe D. Cor­leone que no momento certo saberá como pagar pelo obséquio.

Guar­dem essa cena.

À ilha do Maran­hão cheguei, de forma defin­i­tiva, em 1985, para ini­ciar o ensino médio no Liceu Maran­hense, por­tanto, há quase quarenta anos. Não lem­bro, em todos estes anos de ter teste­munhado, nem mesmo de “ouvir falar” de ques­tion­a­men­tos sobre as escol­has dos imor­tais da Acad­e­mia Maran­hense de Letras — AML.

De tão dis­cre­tos, os imor­tais, pouco se sabe deles ou o que fazem e muito menos das eleições que real­izam para a escolha do suces­sor do “morto-​rotativo”. Talvez, aqui e ali, algum buchi­cho ou decepção com esta ou aquela escolha. Nada que ultra­pas­sas­sem os umbrais da Casa, na Rua da Paz, quando muito, chegando ao Senad­inho da Praça João Lis­boa, logo à frente, assim mesmo, “cor­rendo” ape­nas entre uma seletís­sima plateia.

Nada que des­per­tasse o inter­esse dos cidadãos que pre­cisam acor­dar cedo para “gan­harem” o sus­tento das suas famílias.

Era assim. Não é mais.

Depois do suposto episó­dio de cunho sex­ual homo­erótico que teria tido como ator prin­ci­pal um par­la­men­tar da Casa de Manoel Beck­man foi a vez da atenção da pat­uleia ser tomada pela eleição na Casa de Antônio Lobo.

Tal celeuma, desta vez, deu-​se porque ninguém menos que o gov­er­nador do estado, sen­hor Flávio Dino, “botou na cabeça” que era o nome ideal para sentar-​se na cadeira que fora do seu pai, Sálvio Dino, ocu­pante da cadeira 32 na AML, fale­cido no ano de 2020, vítima da pan­demia do novo coro­n­avírus (COVID-​19).

A polêmica teve lugar porque sendo o Maran­hão uma pequena aldeia e São Luís o seu núcleo, não há quem não saiba da vida de todo mundo.

Por estas par­a­gens, ninguém duvida da inteligên­cia de sua excelên­cia, tido por muitos, como muito inteligente, um dos mel­hores de sua ger­ação.

Menino pre­coce que con­cluiu os estu­dos fun­da­men­tal e médio no Colé­gio dos Irmãos Maris­tas, na Rua Grande, “de primeira” ingres­sou no con­cor­rido curso de dire­ito da Uni­ver­si­dade Fed­eral do Maran­hão e, em seguida, foi aprovado, quase que simul­tane­a­mente, em dois con­cur­sos públi­cos espe­cialís­si­mos: de pro­fes­sor da própria uni­ver­si­dade fed­eral em que estu­dara e de juiz fed­eral da Primeira Região – este último, em primeiro lugar, como fazem sem­pre questão de enfa­ti­zar –, não pas­saria des­perce­bido do escrutínio público.

Como pro­fes­sor uni­ver­sitário sem­pre teve suas aulas con­cor­ri­das, como jurista, notada­mente no Tri­bunal Regional Eleitoral — TRE/​MA, onde os debates fervil­havam naque­las tardes às vésperas e logo depois das eleições, travava debates jurídi­cos sub­stan­ciosos, ainda mais quando encon­trava um bom procu­rador regional eleitoral – e tive­mos muitos, e com eles aprendemos.

Assim, tal qual uma cele­bri­dade (ou sub), tendo a vida acom­pan­hada – por seus méri­tos, diga-​se –, cau­sou “estran­heza” e polêmica a pos­tu­lação e escolha de sua excelên­cia para a casa literária.

Muito emb­ora o novo imor­tal tenha apre­sen­tado um acervo de livros e arti­gos escritos ao longo dos anos, não se tem con­hec­i­mento que nen­hum deles tenha qual­quer apelo literário.

São escritos téc­ni­cos, geral­mente volta­dos para a área do dire­ito, e alguns para a política.

Per­manecem ocul­tos dos muitos fãs, que acom­pan­ham a vida do novo imor­tal, qual­quer soneto, qual­quer romance, qual­quer crônica com apelo literário ou mesmo uma resenha escrita ou pub­li­cada dos clás­si­cos que declarou ter lido por imposição do pai-​acadêmico.

Faz sen­tido a inqui­etação dos críti­cos, pois sendo uma “acad­e­mia de letras”, que teve na sua origem a inspi­ração de Gonçalves Dias, nosso poeta maior, e pos­suiu no seu quadro de fun­dadores int­elec­tu­ais como Antônio Lobo, Alfredo de Assis Cas­tro, Astolfo Mar­ques, Bar­bosa de Godois, Cor­rêa de Araújo, Clodoaldo de Fre­itas, Domin­gos Quadro, Fran Pax­eco, God­ofredo Mendes Viana, Xavier de Car­valho, Ribeiro do Ama­ral e Vieira da Silva e depois tan­tos out­ros recon­heci­dos por inúmeras obras literárias, o ingresso de alguém que a despeito da recon­hecida inteligên­cia, não pos­sua – pub­li­ca­mente –, uma única obra com estofo literário.

Resta aos críti­cos imag­inarem que os romances, sone­tos, crôni­cas literárias ou ver­sos tor­tos, ao estilo “batat­inha quando cresce ‘espar­rama’ pelo chão” … ainda ven­ham.

Estes críti­cos guardam o mesmo otimismo que tiveram os inte­grantes da acad­e­mia do Nobel quando con­ced­eram o prêmio Nobel da Paz ao recém-​eleito pres­i­dente amer­i­cano Barack Obama. Na época os críti­cos dis­seram que o prêmio seria pelo que ele suposta­mente faria como pres­i­dente.

A vida, às vezes, nos coloca diante de sutis iro­nias. Querem uma? Na mesma sem­ana, prati­ca­mente no mesmo dia, em que fez-​se morto o jor­nal­ista e escritor Jon­aval Medeiros Cunha San­tos, o J.M. Cunha San­tos, autos de “Meu Cal­endário em Pedaços” – seu primeiro livro; “O Esparadrapo de Março”, “A Madru­gada dos Alcoóla­tras”, “Paquito, o Anjo Doido” e “Odis­séia dos Pivetes”, Cunha San­tos estava escrevendo mais um livro: “Ter­ceiro Tes­ta­mento” e de infini­tos e mem­o­ráveis arti­gos literários, que nunca foi lem­brado para qual­quer cadeira na Casa de Antônio Lobo, Flávio Dino, com “escasso” acervo literário, tornou-​se imor­tal.

O engraçado, após a imor­tal­i­dade de sua excelên­cia, foi a “chuva” de comen­tários que recebi.

Um amigo me ligou para dizer que o novo imor­tal era como os faróis da edu­cação, que em boa hora um antigo gov­erno semeou pelo estado, indaguei o motivo é ele sem con­ter o riso com­ple­tou: — ora, Abdon, é alto, “redondo” e pos­sui uma bib­lioteca bem “pequen­ina”. O “bem pequen­ina” foi para reforçar.

Um outro amigo escreveu, com fina iro­nia, na sua rede social que o próx­imo passo seria o sen­hor Bol­sonaro candidatar-​se a uma vaga na Acad­e­mia Brasileira de Letras — ABL.

E choveram comen­tários, críti­cas, insin­u­ações, quase nen­huma elo­giosa.

Um amigo em fla­grante pil­héria (mas com inco­mum gen­erosi­dade) disse: — Ah, Abdon, o próx­imo imor­tal da AML será você, tenho certeza que os seus tex­tos têm mais ape­los literários do que os tex­tos do novo imor­tal.

Já espan­tando qual­quer sug­estão neste sen­tido, deixo claro não sou can­didato a nada. Talvez, a tomar um tijela de juçara com camarão seco, se rece­ber um con­vite. Rsrsrs.

Voltando ao assunto sério, serviu para açu­lar a polêmica e fomen­tar a “con­tes­tação” a imor­tal­i­dade de sua excelên­cia na AML, o “apadrin­hamento” que ele bus­cou junto ao imor­tal – em todos os sen­ti­dos e digo isso ape­nas para não perder a piada –, José Sar­ney, o Dom José.

Tal qual na película de Cop­pola, o que mais teve foi quem se per­gun­tasse, o que estaria por trás daquele “beija-​mão”.

Até o Jor­nal Folha de São Paulo fez matéria sobre o “acordo” Dino-​Sarney.

Por óbvio que D. José, no episó­dio do “beija-​mão” não deve ter pedido nada ao gov­er­nador, não é do seu feitio tratar de assun­tos mate­ri­ais de chofre, mas, cer­ta­mente, como se deu com D. Cor­leone, anotou o favor prestado na conta dos “haveres”, que um dia, cer­ta­mente, chegará. Talvez um apoio para alguém “seu” chegar a um dos tri­bunais ou virá pres­i­dente, talvez um acordo político que aumente o quin­hão dos “seus” na par­tilha do poder a par­tir do ano que vem, tanto na esfera local quanto nacional, quem sabe uma ajuda do novo imor­tal na “escrit­u­ração” de uma nova biografia.

Seja o que for, um dia a conta chegará. E será paga por todos os maran­henses.

Abdon Mar­inho é advogado.