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TRINTA ANOS DE UMA CAM­PANHA MEM­O­RÁVEL III. Episó­dio 3 — A “traição”.

Escrito por Abdon Mar­inho


(Foto da inter­net)
TRINTA ANOS DE UMA CAM­PANHA MEM­O­RÁVEL III.

Episó­dio 3 — A “traição”.

Por Abdon C. Marinho.

QUANDO o Par­tido Social­ista Brasileiro — PSB “bateu” o martelo a favor de Cafeteira, acho que em março ou abril, houve uma “gri­taria” enorme dos diri­gentes, fil­i­a­dos e mil­i­tantes do PDT con­tra o que chama­ram de “traição”.

Foi o próprio Jack­son Lago que cun­hou a frase de que o par­tido ou Con­ceição (a ex-​prefeita Con­ceição Andrade) foram “con­t­a­m­i­na­dos pelo vírus da traição”.

Depois disso – pelos meses e anos seguintes –, não par­avam de repe­tir, como se fosse um mantra, que Con­ceição fora con­t­a­m­i­nada pelo vírus da traição; que Con­ceição rimava com traição; que o PSB rimava com traição, e out­ros adje­tivos semel­hantes.

O motivo para tanta vir­ulên­cia (só para aproveitar o “vírus”) devia-​se ao fato de acharem que o PSB dev­e­ria seguir com eles (PDT) por terem sido “respon­sáveis” pela eleição de Con­ceição Andrade em 1992.

Durante minha “car­reira” de mil­i­tante político só tive uma fil­i­ação par­tidária, no PSB, onde fiquei fil­i­ado de 1991 a 2021.

Naquele tempo, quando ainda vivíamos os primeiros anos da aber­tura política, o PSB tinha uma car­ac­terís­tica muito dis­tinta das demais agremi­ações par­tidárias: pelo menos no Maran­hão, era um par­tido sem “dono”, sem uma lid­er­ança política capaz de impor sua “von­tade” ou visão para os demais mem­bros.

Isso o tor­nava um par­tido único.

Enquanto no PDT tinha a lid­er­ança forte de Jack­son Lago, no cenário local e Brizola no cenário nacional dando a primeira ou a última palavra, que depois todos ref­er­en­davam; enquanto nos par­tidos comu­nistas (PCdoB e PCB) tin­ham o chamado “cen­tral­ismo democrático”, con­tra­ditório, não? E, mesmo no PT, com suas infini­tas cor­rentes, todos “obe­de­ciam” as ordens que vin­ham “de cima”, no PSB, as opiniões de tra­bal­hadores rurais como Diquinho, Louz­inho, Zé Maria, Roberto Mor­eira, do Mearim; Tota, Pongó, da Baix­ada; Domin­gos Paz, João Teix­eira, do Alto Turi e de tan­tos out­ros fil­i­a­dos e mil­i­tantes de todos os can­tos do estado, eram lev­adas em con­sid­er­ação e tin­ham o mesmo peso que as opiniões de Con­ceição Andrade, prefeita da cap­i­tal, José Car­los Sabóia, dep­utado fed­eral, Juarez Medeiros e Zé Costa, dep­uta­dos estad­u­ais.

Essas pes­soas não saiam de seus municí­pios, seus povoa­dos para virem servir de “vaquin­has de presé­pio” nas reuniões do par­tido.

Suas opiniões tin­ham o mesmo peso dos que tin­ham man­da­dos, dos que tin­ham “cur­rículo”.

Os ali­a­dos de Cafeteira, quando foram con­vi­da­dos a par­tic­i­par de um dos con­gres­sos ou reunião do diretório acharam tudo “muito com­plexo”, uma vez que nos seus par­tidos bas­tava a lid­er­ança ou pres­i­dente do par­tido dizer com quem iria se aliar, quem iria ser can­didato e ninguém ques­tionaria ou diria qual­quer coisa.

Naquela eleição de 1994, teve isso.

O dep­utado Ader­son Lago que era uma das pes­soas que Cafeteira ouvia e era dos coor­de­nadores e entu­si­asta da sua can­di­datura, inúmeras vezes me disse não enten­der como pode­ria fun­cionar um par­tido como o PSB.

Nota: anos depois ele filiou-​se ao PSB onde pas­sou uma tem­po­rada chegando a dis­putar uma indi­cação para dis­putar a eleição da cap­i­tal con­tra o advo­gado José Anto­nio Almeida e per­dendo num critério de desem­pate.

Em 1994, nem a dire­ita nem a esquerda con­seguiam enten­der o fun­ciona­mento do par­tido e, em decor­rên­cia dessa falta de con­hec­i­mento, acabaram por não enten­der o fato do PSB ter deci­dido por Cafeteira e não por Jack­son Lago. Talvez, fosse mais cômodo ir com o ex-​prefeito da cap­i­tal, talvez Con­ceição Andrade, prefeita que fora apoiada por ele, quisesse isso, assim como out­ras lid­er­anças.

Muito emb­ora Con­ceição – e out­ras lid­er­anças –, tenha sido respon­s­abi­lizada (por conta da incom­preen­são) a decisão não foi dela ou de out­ros com mandato (nem sei se no primeiro momento votou a favor de apoiar Cafeteira), foi do con­junto do par­tido. Con­ceição aceitou a decisão e como lid­er­ança dis­ci­plinada e fiel ao par­tido a “per­son­ifi­cou” e por isso pagou o maior preço. O de ser difamada como “traidora”.

Con­forme esclareci no episó­dio ante­rior, a prefeitura de São Luís, emb­ora dirigida por uma lid­er­ança do par­tido, não era algo que, dig­amos, “irra­di­ava” para todo o par­tido, aliás, nem mesmo os fil­i­a­dos da cap­i­tal e do seu entorno, se “sen­tiam” fazendo parte daquele gov­erno con­sor­ci­ado com o PDT.

O que “pesou”, entre­tanto, foi a com­preen­são de que a can­di­datura de Cafeteira era muito mais viável para vitória con­tra o grupo Sar­ney que a can­di­datura de Jack­son.

Os debates – pena que não temos como fazer esse res­gate histórico –, eram no sen­tido de que ape­sar do ex-​prefeito ter feito uma boa gestão na cap­i­tal sua influên­cia não ia muito além do “Estre­ito dos Mos­qui­tos” enquanto Cafeteira tinha sido gov­er­nador que saiu-​se muito bem avali­ado a ponto de ter sido eleito senador qua­tro anos antes com quase sessenta por cento dos votos váli­dos.

Essa mesma análise apon­tava que Jack­son Lago não teria uma votação muito supe­rior a que tivera Con­ceição em 1990.

Mais, que os votos de Jack­son Lago, se ele não fosse can­didato migrariam todos para Cafeteira mas que o oposto não se daria.

Um outro fato que poucos sabem é que Cafeteira tinha votos, muitos votos, votos “fideliza­dos” mas não tinha grupo político (ou esse era muito restrito) e sem o apoio do PSB não teria como ser can­didato.

Já o PSB, como dito nos episó­dios ante­ri­ores teve origem no “Grupo Nossa Luta”, uma espé­cie de “cor­rente” par­tidária den­tro do PMDB, nos anos do bipar­tidarismo e nos primeiros anos da aber­tura polit­ica e mesmo após a rede­moc­ra­ti­za­ção do país.

Logo, Cafeteira não era um estranho para o PSB e já o tinha apoiado 1986.

Para vencer o grupo Sar­ney vale­ria a pena apoiar a can­di­datura de Cafeteira, naquela opor­tu­nidade já fil­i­ado ao PPR, par­tido “difamado” como sendo o par­tido de Maluf.

O resul­tado do primeiro turno con­fir­mou essa análise: Roseana Sar­ney teve 541.005 (47,18%); Cafeteira 353.032 (30,79%); Jack­son Lago 231.528 (20,19%) e Fran­cisco da Cha­gas (PSTU) 21.061(1,84%), dos votos váli­dos.

Nas avali­ações feitas entre o primeiro e segundo turno dizíamos que o PSTU “sal­vara” o segundo turno.

Uma análise mais detida, entre­tanto, ver­i­fi­camos que Cafeteira e Jack­son ape­sar de todos os con­fli­tos insu­fla­dos durante a pré-​campanha e a própria cam­panha, tiveram mais de cinquenta por cento dos votos. Sig­nif­i­cando que poderíamos ter ganho aquela eleição ainda no primeiro turno.

E se?

E se tivésse­mos todos unidos, sem intri­gas, sem picuin­has? E se, tive­mos gan­hado as eleições de 1994, ainda no primeiro turno?

O Maran­hão hoje seria diferente?

Em 1997, já bacharel, mas, ainda, sem carteira da OAB, só obtida em out­ubro daquele ano, Ader­son Lago, então dep­utado, me chamou para ini­cia­r­mos a orga­ni­za­ção da cam­panha de Cafeteira de 1998.

O comitê cen­tral de cam­panha era no antigo solar da família Archer, na Praça Gonçalves Dias, de onde se tem uma das mais belas vis­tas da nossa cap­i­tal.

Acho que foi pelo final de 1997 ou iní­cio de 1998, que liguei para Con­ceição Andrade, para que viesse somar conosco naquela cam­panha que se ini­cia­ria.

Disse que todos, agora, estariam jun­tos, Cafeteira, Jack­son, PSB, PDT.

Ela me ouviu com atenção que lhe é pecu­liar e depois respon­deu (senti um pouco mágoa e/​ou des­en­canto):

— ah, agora “eles” querem.

Em 1998, ela, Con­ceição, já apoiou Roseana Sar­ney, se não me falha a memória.

Abdon C. Mar­inho é advogado.

PS. No próx­imo episó­dio tratare­mos, até onde der, da cam­panha de 1994.

A FARSA DA HISTÓRIA OU HISTÓRIA DA FARSA

Escrito por Abdon Mar­inho

A FARSA DA HISTÓRIA OU HISTÓRIA DA FARSA.

Por Abdon C. Marinho.

QUEM já se deu ao tra­balho de estu­dar um pouquinho de história (não pre­cisa ser his­to­ri­ador) deve saber que desde sem­pre os inter­esses econômi­cos são pre­pon­der­antes nas alter­ações de coman­dos dos países, sobre­tudo, naque­les em que os proces­sos democráti­cos ainda pos­suem frag­ili­dades.

Quan­tos golpes de esta­dos não viven­ci­amos nos últi­mos duzen­tos, cem anos, ao redor do mundo? Quanto não lucraram as empre­sas que deram sus­ten­tação ao fas­cismo ou ao nazismo? Até com os mil­hões de mor­tos lucraram bil­hões. As câmaras de gás ou os fornos onde mil­hões perderam a vida tinha uma história de lucro por trás.

Quan­tas guer­ras não foram pro­movi­das na África por inter­esses econômi­cos? Se pux­amos pela memória, até a escravidão que enver­gonhou e enver­gonha o mundo por sécu­los foi pro­movido a par­tir dos inter­esses econômi­cos de empre­sas – e até de países.

Guer­ras, gov­er­nos depos­tos, ditaduras se suce­dendo, vezes para aten­der aos inter­esses de min­er­ado­ras, vezes para aten­der inter­esses de petroleiras … e por aí vai.

Muitas das vezes para aten­der os inter­esses de seus gru­pos econômi­cos, gov­er­nos usaram da própria força para der­rubar out­ros gov­er­nos em nações mais frágeis.

Isso é (foi) o que mais vimos ao redor do mundo, seja na África, na Ásia, nas Améri­cas ou no Caribe.

Mesmo no Brasil, na ditadura instau­rada em 1964, os inter­esses econômi­cos de empre­sas nacionais e, prin­ci­pal­mente, transna­cionais, foram deci­sivos.

Infe­lic­i­taram o país por duas décadas enquanto lucravam as cus­tas do sangue e do suor dos tra­bal­hadores brasileiros.

O dis­curso, já sur­rado de out­ras con­tendas era a liber­dade ameaçada.

Querem tirar a “nossa”liberdade! Bradavam.

Em nome da tal liber­dade, da tal democ­ra­cia, tan­tos crimes se cometeram …

Hoje o núcleo do poder econômico mudou. Não são as grandes min­er­ado­ras, as petroleiras ou sis­tema bancário que detém o poder econômico.

Os homens e empre­sas mais ricas são as voltadas para a tec­nolo­gia e, a cereja do bolo econômico, as chamadas Big techs.

Nos últi­mos anos essas empre­sas “invadi­ram” nos­sas vidas e pas­saram a ser inte­grantes dos nos­sos lares, prin­ci­pal­mente as redes soci­ais.

Por viver­mos cem por cento do nosso tempo conec­tadas a elas pas­samos a vê-​las como “da família” e não como empre­sas capazes de tudo para auferirem lucro.

Como ensina o dito que o poder cor­rompe e o poder abso­luto cor­rompe abso­lu­ta­mente, essas Big techs pas­saram a ditar diver­sas nor­mas e a tentarem se imporem acima das leis dos países onde auferem seus lucros.

Con­fi­antes no poder econômico que pos­suem fazem pouco caso das decisões judi­ci­ais e instruem seus advo­ga­dos a recor­rerem indefinida­mente nas deman­das cau­sando sérios pre­juí­zos, inclu­sive, para aque­las pes­soas que são suas colab­o­rado­ras e que as aju­dam nos vas­tos lucros que auferem.

A situ­ação é tão escan­dalosa que já até virou meme – esse um termo próprio da lin­guagem das redes.

Certa vez, ao pegar um caso con­tra uma dessas empre­sas recebi o tal “meme” onde mostrava que per­dendo a demanda iriam recor­rer, recor­rer, recor­rer, até que não sobrassem mais recur­sos no orde­na­mento jurídico.

Essa é uma real­i­dade que é viven­ci­ada por muitos brasileiros.

Esse pouco apreço pelas insti­tu­ições e pelo próprio Poder Judi­ciário nos últi­mos dias gan­hou um novo com­po­nente quando um “dono” de uma rede social através de uma fake news ou não, ameaçou des­cumprir as decisões judi­ci­ais ainda que emanadas das mais ele­vadas cortes do país.

Vejamos, con­forme já dito de forma exaus­tiva, desde que o mundo é mundo que o poder econômico “diz o dire­ito”, mas isso sem­pre se deu de forma disc­reta, mesmo quando patroci­navam guer­ras e pro­moviam golpes, pelo menos pub­li­ca­mente, não ousavam tanto.

Como nunca visto, nos últi­mos dias, um empresário do setor de redes soci­ais entrou em con­fronto com um min­istro da suprema corte de um país e, de que­bra, como dito, ameaçou não mais cumprir as decisões judi­ci­ais e a inter­ferir, com ilações, no processo eleitoral do país.

A impressão que me restou foi de estar­mos de volta aos anos 40, 50 ou 60 do século pas­sado, em uma republi­queta de bananas do Caribe ou da América do Sul.

Não temos reg­istros em quais­quer democ­ra­cias, que sejam recon­heci­das como tais, de empre­sas ou empresários agindo de forma tão acin­tosa con­tra uma nação e suas insti­tu­ições. Cheg­amos ao ponto de, fazendo coro, ao pros­elit­ismo e ao rad­i­cal­ismo dos nos­sos dias, empresa/​empresário acusarem o sis­tema eleitoral e as eleições legit­i­mas – recon­heci­das por todas as nações do mundo –, como fraud­u­len­tas.

Trata-​se algo muito sério, até porque faz a acusação e ilação de fora do país e longe do alcance das autori­dades para que prove o alegado.

Não é sem razão que disse anos atrás que, com o poder que det­inham, pode­riam pro­mover golpes de estado em quais­quer lugares do mundo.

Quer nos pare­cer que resolveram “tes­tar” a teo­ria no nosso país.

O pior dessa farsa histórica é que muitos por descon­hec­i­mento da história, por serem incau­tos ou por colo­carem os inter­esses de suas facções políti­cas acima de tudo, até dos inter­esses da própria nação, “embar­cam” na ideia do “empresário” lib­ertário, herói que pensa nos inter­esses do povo acima dos seus próprios e os tem por “sal­vadores”.

Não acred­ito, como dizem, que lutam pela liber­dade. Não é ver­dade, ainda ontem estavam imbuí­dos no propósito de der­rubarem um gov­erno eleito.

Apos­tam na bal­búr­dia polit­ica para lucrarem – inclu­sive com os “cliques” de suas posta­gens escan­dalosas e/​ou men­tirosas –, e para testarem suas próprias forças.

As insti­tu­ições brasileiras têm o dever moral de repelir com veemên­cia esse tipo de intro­mis­são e de exi­gir que cessem com tais com­por­ta­men­tos e, ainda, que respon­dam, nos ter­mos da lei, caso ten­ham cometido algum crime tip­i­fi­cado na leg­is­lação penal.

Os prob­le­mas do nosso pais pre­cisam ser resolvi­dos pelos brasileiros.

Não é con­ce­bível que uma nação como a nossa seja tratada como uma republi­queta de bananas.

A defesa insti­tu­cional da nação cabe a todos os brasileiros.

Não pre­cisamos e não aceita­mos a tutela de ninguém.

As empre­sas e empresários transna­cionais que se ocu­pem dos assun­tos dos seus países, a fome, a mis­éria, os prob­le­mas da imi­gração, do uso desen­f­reado de dro­gas, da falta de uma saude uni­ver­sal e de suas próprias ten­ta­ti­vas de golpe, con­forme viven­ci­amos na eleição passada.

Empresário ou empre­sas, ali­adas ou não de segui­men­tos nacionais, nada mais são do que golpis­tas.

E isso não podemos aceitar.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Venezuela 🇻🇪 cola nariz de pal­haço no Brasil 🇧🇷.

Escrito por Abdon Mar­inho


Venezuela 🇻🇪 cola nariz de pal­haço no Brasil 🇧🇷.

Por Abdon C. Marinho.

SEM­PRE que vou falar de polit­ica rela­cionada a eleição, rep­re­sen­ta­tivi­dade e democ­ra­cia me vem a lem­brança aquela história do coro­nel do sertão. Como falo muito de política é provável que já a tenha con­tado aos leitores uma dezena de vezes. Mas, para os que não lem­bram, a lenda é a seguinte: no sertão do Brasil, em dia de eleição, a urna era colo­cada na varanda da casa do coro­nel – e sob as vis­tas deste –, que, metic­u­losa­mente, ia preenchendo as cédu­las e entregando-​as aos eleitores da região para que estes as colo­cassem na urna. O roteiro bem sim­ples: o cidadão saia da fila, pegava a cédula dev­i­da­mente votada pelo coro­nel e a deposi­tava na urna. Tudo transcor­rendo bem até que um dos eleitores fez menção de “abrir” o voto. O coro­nel gri­tou: — o que pensa que está fazendo, cabra? O cidadão respon­deu: — des­culpa, seu coro­nel, só estava vendo em quem estou votando. O coro­nel retru­cou: — e você não sabe que o voto é secreto?

Fatos assim – out­ros até mais graves –, povoam as nar­ra­ti­vas do dire­ito eleitoral brasileiro ref­er­entes aos sécu­los pas­sa­dos em oposição ao quanto que evoluí­mos na nossa democ­ra­cia, sendo os “soluços” anti­democráti­cos, fatos iso­la­dos.

Aqui é assim, mas na Venezuela …

O assunto do texto, emb­ora rela­cionado com as eleições venezue­lanas, nem é esse, mas sim, como o régime dita­to­r­ial daquele país fez o gov­erno brasileiro – e não é de hoje –, de bobo. A história das eleições nos tem­pos dos coro­néis, serve ape­nas para mostrar que, na Venezuela da atu­al­i­dade, ela gan­hou uma nova roupagem.

O apren­diz de dita­dor, cedendo as pressões inter­na­cionais, decidiu mar­car eleições “livres” para o dia do aniver­sário de nasci­mento de Hugo Chavez (28 de julho), que “instalou” o atual régime. Numa releitura do que faziam os nos­sos coro­néis, aquele régime decidiu que o povo pode votar, mas desde que seja nos can­didatos do régime ou fan­toches do mesmo.

Para isso, ao longo dos anos, foi “elim­i­nando” os adver­sários, tornando-​os inelegíveis, levando-​os às prisões, acusando-​os de traidores da pátria, etc, etc., até que restou, no campo da oposição, ape­nas uma can­di­data, uma sen­hor­inha de mais de oitenta anos que nunca fiz­era nada de “errado” na vida; que nunca tivera qual­quer par­tic­i­pação política – e por isso mesmo –, total­mente fora do “radar” da ditadura. E o que fez o régime? Sim­ples­mente impediu-​a de registrar-​se can­di­data. A “vel­hinha” não con­seguiu reg­is­trar a can­di­datura no site da justiça eleitoral do país e tão pouco chegar à sede daquela insti­tu­ição para fazer o reg­istro de forma pres­en­cial.

A “democ­ra­cia” venezue­lana “escolhe” em quem o povo pode votar e é bem provável que este­jam batendo cabeça porque “deixaram” uma vel­hinha e tiveram que deixar cair a más­cara da ditadura para impedir que con­cor­resse. Ou não. Talvez o régime se sinta tão con­fortável que pouco esteja “lig­ando” para o pensa o mundo exte­rior a respeito de sua ditadura. Não é assim na Rús­sia, que ao longo das décadas foi “matando” qual­quer sus­piro democrático e elim­i­nando fisi­ca­mente pos­síveis opo­nentes? Não foi assim em Cuba? Não foi assim na Cor­eia do Norte? E tan­tos outros.

Pesquisas recentes apon­tam que setenta por cento da pop­u­lação mundial vive sob o jugo de regimes autoritários – um acréscimo de um quarto em relação ao iní­cio dos anos dois mil.

No capí­tulo venezue­lano dos regimes autoritários o Brasil “ganha” o nariz de pal­haço por ter – desde que se instalou o atual régime, ainda sob o comando de Hugo Chávez –, vis­tas grossas, ou como se diz, atual­mente, “pas­sado o pano” para o que vinha acon­te­cendo.

É certo que o Brasil não pode­ria fazer qual­quer tipo de “inter­venção” no régime venezue­lano, claro, mas, a questão é outra. Desde que instalou o régime dita­to­r­ial na Venezuela, o Brasil – não adi­anta dizer que é o atual gov­erno, já na quinta ver­são –, tem atu­ado como “fiador” do mesmo.

Quanto o atual gov­erno assumiu, o diri­gente venezue­lano já visto como dita­dor por todo o mundo, foi rece­bido com “pom­pas e cir­cun­stân­cias” deferi­das a ben­feitores da humanidade. Antes, já com o régime mostrando a que veio, o gov­erno brasileiro despe­jou rios de din­heiro para ajudá-​los, em uma das faju­tas eleições que fiz­eram o atual pres­i­dente, já na condição de ex-​presidente de mandatos ante­ri­ores, foi a Cara­cas par­tic­i­par de comí­cios em favor do atual dita­dorz­inho.

O Brasil está “pas­sando o pano” há duas décadas para um régime político que, chegando ao ápice do seu autori­tarismo impediu uma vel­hinha de ser can­di­data através de estrat­a­gema bisonho; que apar­el­hou todas as insti­tu­ições; que levou à prisão dezenas, cen­te­nas de opos­i­tores e que levou o país à ruína econômica.

O nosso país quer se vestir de “lid­er­ança” regional e até mesmo global, mas não con­seguiu, até aqui, ir além do papel de “bobo da corte” da Venezuela.

Outro episó­dio que o régime de Cara­cas colou o nariz de pal­haço em Brasília diz respeito à “briga” ter­ri­to­r­ial daquele país con­tra o Suri­name pela região do Esse­quibo. O Brasil quis fazer papel de “medi­ador” e acaba de gan­har um novo “chega pra lá” da ditadura venezue­lana, que edi­tou uma lei “anexando” a região ao seu ter­ritório.

Mais uma vez a resposta do Brasil ficou aquém do esper­ado. Ao dizer que a lei tem sen­tido “pró forma” é não enten­der (ou não querer enten­der) o que ela sig­nifica.

Qual­quer pes­soa sabe que a Venezuela não vai “invadir” o Suri­name amanhã, até porque, segundo os espe­cial­is­tas, teria que pas­sar por ter­ritório brasileiro, o sen­tido da lei é criar um falso con­flito externo para bus­car em torno da ditadura uma unidade e, prin­ci­pal­mente, oprimir ainda mais os opos­i­tores, arran­jando des­cul­pas para impingir-​lhes a pecha de “traidores” da pátria.

Esse é o real sig­nifi­cado da lei de incor­po­ração do Esse­quibo. Logo mais ver­e­mos dezenas de opos­i­tores sendo pre­sos como “traidores” da pátria, sofrendo proces­sos fraud­u­len­tos, expul­sos e con­de­na­dos por traição.

Isso tudo parece-​nos tão óbvio, entre­tanto, o Brasil finge que não sabe o acon­tece, preferindo equilibrar-​se entre a omis­são e as notas pro­to­co­lares.

Assim, será difí­cil tirar o nariz de pal­haço que a Venezuela colo­cou.

Ressalte-​se que não é ape­nas a Venezuela que faz o Brasil de bobo no cenário inter­na­cional, out­ras ditaduras tam­bém fazem o mesmo como a Rús­sia, Irã, Cuba, entre out­ros.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.