AbdonMarinho - O ESCÂNDALO DA SAÚDE E O SEQUESTRO DA NOTÍCIA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 18 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O ESCÂN­DALO DA SAÚDE E O SEQUE­STRO DA NOTÍCIA.

O ESCÂN­DALO DA SAÚDE E O SEQUE­STRO DA NOTÍCIA.

Ainda reper­cute no seio da sociedade a Oper­ação Poli­cial “Ser­mão aos Peixes” tendo por foco supos­tos desvios na pasta da saúde, de onde, segundo os inves­ti­gadores, foram desvi­a­dos cerca de um bil­hão e duzen­tos mil­hões, de um total de dois bil­hões repas­sa­dos pelo Min­istério da Saúde.

Este escân­dalo teria como prin­ci­pal pro­tag­o­nista e chefe do «esquema» o ex-​secretário da pasta e cun­hado da ex-​governadora, Ricardo Murad.

Como as infor­mações são vazadas a conta-​gota, qual­quer juízo de valor que se faça neste momento poderá ser des­men­tido, à luz dos fatos, amanhã, ainda assim tenho algu­mas con­sid­er­ações a fazer.

Sem­pre fui um crítico deste mod­elo de saúde implan­tado no Maran­hão que ao invés de único era – e con­tinua sendo tri –, o sis­tema munic­i­pal, o estad­ual e o fed­eral. Três sis­temas que não se comu­ni­cam e que, muitas vezes, um nega assistên­cia ao paciente do outro, con­forme há processo em anda­mento ate­s­tando isso. Parte da respon­s­abil­i­dade (senão a maior), deve-​se ao municí­pio de São Luís que nunca assumiu a respon­s­abil­i­dade como gestor pleno do sistema.

A omis­são do gestor pleno per­mi­tiu a inter­venção do estado do Maran­hão – já bus­cava isso –, que provo­cou a des­ti­tu­ição COSEMS ele­gendo uma dire­to­ria de tal forma lig­ada à SES que as decisões que dev­e­riam ser bipar­tite pas­saram a uni­par­tite – a SES decidia e pronto.

Isso, porque, ape­sar do municí­pio de São Luís pos­suir assento per­ma­nente na comis­são, nunca ousou con­trariar, con­tes­tar, o gov­erno estadual.

Em deter­mi­nado momento o gov­erno estad­ual chegou, inclu­sive, a querer assumir – por muito pouco isso não acon­te­ceu – a rede munic­i­pal, o comando das unidades de emergên­cia da capital.

Esse clima de bal­búr­dia prop­i­ciou que todo tipo de coisa acon­te­cesse na saúde, a prin­ci­pal delas, a con­cen­tração de recur­sos na SES que dis­tribuia – com o con­t­role da CIB – ao seu bel prazer, aos municí­pios e as unidades, as ver­bas do SUS.

Com o con­t­role da rede, o gov­erno do estado do Maran­hão tra­tou de «ter­ce­i­rizar» o SUS através das OS’s e OCIPS’s, estando, talvez, aí a origem de todos os «desvios» que a Polí­cia Fed­eral e a CGU (Con­tro­lado­ria Geral da União), infor­mam ter descoberto e que, provavel­mente, alcança desde a con­strução até a gestão dos hos­pi­tais do Pro­grama Saúde é Vida.

Difer­ente do que os adver­sários do ex-​secretário trataram de divul­gar – e que o próprio, num ato falho con­cor­dou, ao dizer que não haviam desvios bil­ionários (como se assen­tisse que os mes­mos foram só mil­ionários) –, a autori­dade poli­cial não disse, ao menos até onde li, que a OCRIM, suposta­mente coman­dada pelo ex-​gestor, embol­sou, roubou, se apro­priou de um bil­hão e duzen­tos mil­hões. Pelo que entendi, usaram o termo «desvio» em sen­tido amplo, alcançando não ape­nas, no sen­tido em que todos enten­deram, mas tam­bém, os pro­ced­i­men­tos equiv­o­ca­dos, con­tratações sem lic­i­tação, paga­men­tos calça­dos em proces­sos com defeitos, etc.

Ora, se o ex-​gestor e sua equipe pos­suíssem a capaci­dade de «embol­sar» R$ 1,2 bil­hões de um total de R$ 2 bil­hões e ainda assim man­terem em fun­ciona­mento a rede de saúde como man­tiveram, teriam que ser chama­dos para con­tin­uarem à frente da rede, desta vez, sob vig­ilân­cia, para faz­erem o din­heiro ren­der muito mais.

Não estou dizendo ou «metendo a mão no fogo” por ninguém – é pos­sível que «desvios», no sen­tido enten­dido por todos, ten­ham havido, até em val­ores mais ele­va­dos – mas não dos R$ 2 bil­hões. Para que alivi­assem os cofres públi­cos do peso de sessenta por cento dos val­ores rece­bidos, seria necessário que os serviços públi­cos ofer­tado deix­as­sem de ser ofer­e­ci­dos – sabe­mos que isso não ocor­reu. Há notí­cias, inclu­sive, que os serviços vin­ham fun­cio­nando com mel­hor efi­ciên­cia que agora, o que cor­rob­ora com a minha opinião de que os desvios, se exis­tentes, não alcançaram os per­centu­ais alardea­dos e difundidos.

Como não tenho com­pro­misso com o erro ou a inver­dade de ninguém, acho opor­tuno expres­sar essa opinião e tam­bém para fugir do lugar-​comum comum traçado pela mídia maran­hense, onde temos:

  1. de um lado – a mídia lig­ada ao atual gov­erno dizendo que o ex-​secretário embol­sou, de R$ 2 bil­hões repas­sa­dos pelo min­istério da saúde, R$ 1,2 bil­hão. Essa é uma infor­mação «burra» e que depõe con­tra o atual gov­erno: se roubavam sessenta por cento das ver­bas e o sis­tema fun­cionava mel­hor, quer dizer que o atual gov­erno é tão incom­pe­tente que com cem por cento das ver­bas não con­segue fazer o sis­tema fun­cionar com a efi­ciên­cia ante­rior ou, pior, que os atu­ais gestores estão «roubando» bem mais, por isso o sis­tema está ineficiente;
  2. de outro lado a mídia lig­ada ao ex-​secretário fin­gindo que a oper­ação poli­cial não ocor­reu ou ten­tando apon­tar os malfeitos como sendo do atual gov­erno ou, ainda, saindo na defesa dos envolvi­dos sem qual­quer com­pro­misso com a notícia.

O ex-​secretário, aux­il­iares seus, empresários que tra­bal­havam ou tin­ham negó­cios com a sec­re­taria de saúde, foram con­duzi­dos ou pre­sos, tiveram as casas e escritórios revi­ra­dos, doc­u­men­tos, com­puta­dores e até o lixo, apreen­di­dos. Não há como se ocul­tar o fato. Não se pode seques­trar a notí­cia como fiz­eram, a ponto da matéria não ter sido, sequer divul­gada pelo jor­nal o Estado do Maran­hão, no dia seguinte.

Até onde eu lem­bro, pou­cas vezes, a imprensa do Maran­hão teve com­por­ta­mento tão risível.

Os prob­le­mas cri­a­dos a par­tir da inter­venção no SUS pelo gov­erno ante­rior – agora sob inves­ti­gação – pre­cisam ser resolvi­dos. O gov­erno estad­ual pre­cisa rein­serir as unidades con­struí­das ao sis­tema devol­vendo a gestão aos que têm o dever fun­cional de as administrar.

Não é aceitável, que sabendo o que foi feito errado, e, que tornou o sis­tema vul­nerável à cor­rupção, se insista no mod­elo e se deixe as coisas como estão.

Abdon Mar­inho é advogado.