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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quinta-feira, 25 de Abril de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho


O CANDIDATO.

Por Abdon C. Marinho*.

UMA DAS lições mais importantes da minha carreira jurídica aprendi com o colega e decano da advocacia maranhense, Carlos Augusto Macedo Couto, professor Carlos Couto, para os próximos. A lição não me foi dada como professor, mas, como colega e como cidadão.

Conforme já disse algumas vezes, comecei a minha carreira jurídica pelo Direito Eleitoral, primeiro pelo fato de, desde muito cedo, possuir envolvimento político: militância estudantil e partidária iniciada ainda criança/adolescente e depois por gostar, efetivamente, daquela movimentação. 

O ingresso na faculdade de direito, alcançou-me, em 1991, quando já trabalhava com o deputado Juarez Medeiros na Assembleia Legislativa, fazia administração noturno e trabalhava durante o dia. Aprovado para o curso de direito, tranquei o curso de administração para seguir a carreira jurídica. 

Em 1992 já estava participando da minha primeira campanha eleitoral; em 1994, juntamente com Roberto Paula, Chico Branco, estava na coordenação da campanha eleitoral do ex-governador Epitácio Cafeteira ao governo estadual, atuando como coordenador e como uma espécie de estagiário do Dr. Laplace Passos, que era o advogado da campanha. 

Tendo concluído o curso de direito em 1996 e recebido a carteira da OAB/MA em 1997, já nesse ano e até as eleições do ano seguinte, 1998, atuei novamente como coordenador da campanha eleitoral do ex-governador e senador Cafeteira ao governo estadual. 

Esse breve histórico para dizer que desde “menino” que tenho atuação no ramo do direito eleitoral, principalmente, atuando como advogado junto ao Tribunal Regional Eleitoral - TRE. Antes da pandemia – e de alguns percalços já relatados em textos anteriores –, não tinha sessão, mesmo as administrativas, que não me fizesse presente, ganhando dos colegas o carinhoso apelido de “oitavo membro da corte” e de “decano do tribunal”, com direito a “cadeira cativa” e tudo mais, com os colegas mais novos, quando chegava, por excesso de deferência, levantar-se para que pudesse sentar.  

Foi nos primeiros anos como advogado atuante no TRE – quando militava mais do que advogava –, que recebi a lição do mestre Couto, referida acima. 

Era uma eleição renhida e o resultado de um julgamento, que achava absolutamente injusto, como tantos outros que vieram depois dele que me tirou do sério e me fez perder a compostura, a ponto de fazer comentários duros a respeito dos julgadores. 

Vendo meu comportamento, Couto chamou-me e me disse: — meu caro doutor, se não acreditares na Justiça, serás eternamente frustrado e infeliz com ministério que escolhestes seguir. Não adiantas esbravejar ou tentar “resolver no grito”. Preparas o teu recurso, vais atrás de outras instâncias. Um advogado não tem o direito de não acreditar na Justiça. Algo mais ou menos assim. 

Com mais meio quarto de século de profissão e mais de vinte anos da lição recebida do mestre, mesmo com uma “carrada de decepções” no currículo, nunca perdi minha fé na Justiça. 

Vendo a partir das visão e experiência que tenho hoje – e já tendo conhecimento de tantas decepções –, a lição do mestre Couto “me salvou”, pois, já imaginaram alguém passar um quarto de século (até aqui) ou a vida toda fazendo algo em que não acredita? Imaginando que a Justiça aprendida na vida ou nos bancos escolares não passa de uma ficção? Que tudo são “esquemas” ou corrupções? 

Ao meu sentir, pelo menos para este escriba que vos fala, seria uma vida de extrema infelicidade. E a razão da nossa existência é sermos felizes. 

A minha profissão de fé é acreditar na Justiça, apesar de tudo. 

Não abro mão, absolutamente, deste credo, pois, se assim o fizesse, estaria dizendo que toda a minha vida profissional foi inútil, seria tragado pela infelicidade. 

Como trabalhar, fazer algo que não acreditas? Qual o sentido de levar uma vida sabendo que o fruto do teu trabalho não é benéfico a ninguém? 

Agora pus-me candidato ao cargo de desembargador na vaga destinada, pela Constituição da República, para advocacia no critério do Quinto Constitucional. 

Um amigo muito próximo e querido listava as dificuldades da empreitada:

— Abdon, tu não és “fidalgo”, ou seja, não és filho de gente importante, não nasceu no seio da elite; levas uma vida de “Casmurro”, não frequenta os “salões” de eventos; não és amigo íntimo (ou não íntimo) dos conselheiros da ordem ou dos desembargadores e, muito menos, do governador, que dá a canetada final. 

Retrucava aos argumentos dizendo que possuía a principal credencial: a fé inabalável na Justiça.

O fato de não ser “fidalgo” ou de não ter nascido no seio da elite, também, não poderia servir como critério; e, muito embora, leve uma vida de “Casmurro”, sou conhecido por todos e tenho ideias claras e públicas sobre todos os temas com os quais terem que me debater na eventualidade de “chegar lá”.

E quanto ao fato de não poder “fazer campanha” devido às limitações que passas por conta da poliomielite? Indagou.

Ponderei, em relação a tal assertiva, que não era o que poderia ter feito nos últimos meses ou que poderia fazer no tempo que resta para o primeiro escrutínio, o fator determinante para a escolha, mas sim, o que fiz ou como me comportei ao logo de toda uma vida. 

Como tive que viajar – conforme relatei na crônica da semana passada –, deixei ao encargo dos meus colaboradores a incumbência de efetuar o registro da candidatura – o que fizeram em tempo hábil –, entretanto, uma interpretação equivocada que deram ao edital, acabou por deixarem de fora alguns documentos, o que só foi suprido no prazo de 48 horas, conforme previsão editalícia.

Cheguei a ficar tenso com a situação.

Muito embora saiba das dificuldades que teremos ao longo da caminhada: primeiro, ser escolhido pelos advogados e advogadas aptos a votarem na eleição direta, no total de 12 (doze); segundo, ser escolhido entre os 06 (seis) pelo Conselho Estadual da OAB; terceiro, figurar na lista tríplice, formulada pelo TJMA; e, por fim, ser escolhido pelo governador. 

Dizia aos colegas e colaboradores que independente do resultado de cada uma das etapas, o que me importava era poder ser candidato, dizer a todos: — ei, eu estou aqui. 

Ao poder dizer isso – somente isso –, estou dizendo a todas as crianças pobres ou ricas, filhas de camponeses ou de abastados, pretas, brancas ou de quaisquer das cores do arco-íris, de qualquer religião ou credo, que elas também poderão chegar onde quiserem,  pois o filho de D. Neuza e de seu Vanderlino, agricultores,  analfabetos por parte de pai, mãe e parteira e foragidos da seca, chegou até aqui. 

É isso que move. Ganhar, ser escolhido são os objetivos, mas o que me move para participar de tal processo é a ideia de que estou sendo o fanal para alguém, sobretudo, para aqueles nunca tiveram nada na vida além da força de vontade. 

Sou de uma família grande. Meus avós tiveram mais de uma dúzia de filhos e com eles vieram para o Maranhão, para viver da agricultura na região do médio Mearim; meus pais tiveram mais de uma dezena de filhos. 

Destas duas gerações, fui o primeiro a concluir um curso superior, apesar de todas as dificuldades que enfrentamos: a pobreza, a seca, a pólio, a orfandade na primeira infância e todas as demais situações já relatadas em diversas outras oportunidades.

Hoje, na nossa família imensa, com diversos doutores, professores, todos bem formados e podendo se estabelecer onde quiserem, ouvi de um sobrinho a declaração que mais me tocou e emocionou: — tio, o senhor foi a minha inspiração.

Abdon C. Marinho é advogado.