AbdonMarinho - CRISE EXIGE CORAGEM.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quarta-​feira, 17 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

CRISE EXIGE CORAGEM.

CRISE EXIGE CORAGEM.

O BRASIL comporta-​se como um paciente que está doente, às vezes muito doente, sabe que pre­cisa medicar-​se, mas não quer tomar o remé­dio pre­ceitu­ado pelo médico. Como resul­tado per­manece doente muito mais tempo. Sei bem o que é isso: só tomo qual­quer remé­dio quando não tem mais jeito

Um dos motores da crise política que cul­mi­nou com o afas­ta­mento da pres­i­dente Dilma Rouss­eff, ini­cial­mente, por até 180 dias, é a grave situ­ação econômica que assola o país, fruto das políti­cas equiv­o­cadas implan­tadas e desen­volvi­das durante os gov­er­nos petistas.

Ape­nas para citar três exem­p­los dev­as­ta­dores, temos o Pro­duto Interno Bruto — PIB, ameaçando encol­her mais de 4%, acu­mu­lando um déficit de quase dez por cento, nos três últi­mos anos; temos o desem­prego pas­sando dos onze por cento ou seja, mais de doze mil­hões de país de famílias sem ter como pagar as con­tas; temos dese­qui­líbrio nas con­tas públi­cas que dev­erá pas­sar esse ano, de 100 bil­hões de reais.

Quase todos os brasileiros sabem da gravi­dade da crise/​doença. A larga maio­ria já sabe os remé­dios exigi­dos na pre­sente situ­ação para, devolver con­fi­ança aos mer­ca­dos, fazer com que entre cap­i­tal externo, recu­perar a ativi­dade econômica, quase toda par­al­isada ou fun­cio­nando bem abaixo de sua capaci­dade e com isso, devolver os empre­gos toma­dos pela crise e o país voltar a crescer.

Pois é, todos ou quase todos, sabem disso. Sabem, tam­bém, da urgên­cia de tais medi­das. Ape­sar disso, ninguém, nen­hum patri­ota quer ceder nada. O país se dis­sol­vendo e a dis­cussão mais acalo­rada dos últi­mos dias é que o min­istério de Temer não tem mul­her, não tem negro, não tem gay (sei lá se não tem), que é velho, que é con­ser­vador, que pos­sui alguns inves­ti­ga­dos (bem menos que no gov­erno anterior).

Emb­ora estas questões não sejam, de todo, desproposi­tadas, a pauta do país é outra. Tem que ser outra. O cidadão que viu seu emprego sumir quer saber é quando poderá pagar as con­tas; o empresário que viu sua fábrica fechar quer saber quando poderá reabri-​la; o pai de família quer saber de uma saúde que lhe socorra, de uma edu­cação de qual­i­dade para os fil­hos, de um trans­porte público que funcione.

Ora, não é seg­redo para ninguém que o país pos­sui uma máquina admin­is­tra­tiva mas­todôn­tica. O próprio Estado é mas­todôn­tico. Pode­ria fun­cionar per­feita­mente com menos da metade do que tem hoje, elim­i­nar ao menos oitenta por cento dos car­gos comis­sion­a­dos e o que sobrar ocu­par com servi­dores de carreira.

Mas, ninguém, sequer, ousa falar nisso. O novo gov­erno cor­tou dez de um total de trinta e três min­istérios e já começou a enfrentar resistên­cia den­tro e fora do gov­erno. Um ver­dadeiro escân­dalo por ter jun­tado as atribuições do Min­istério da Cul­tura à Edu­cação. Como, aliás, era no pas­sado. Chama-​se MEC porque out­rora era Min­istério da Edu­cação e Cul­tura. Uma das pes­soas mais lúci­das que con­heci, a médica comu­nista Maria Aragão era uma das críti­cas da cisão. Segundo ela, não havia como dis­so­ciar edu­cação de cul­tura, que ambas as coisas estavam umbil­i­cal­mente lig­adas. Não sei o que acharia disso hoje.

A sim­ples junção das pas­tas é causa da grita. Bradam a todo momento: – Meu Deus, acabaram com o Min­istério da Cul­tura (o que não é ver­dade), o que será de nós?

A impressão que tenho é que as pes­soas ainda não se deram conta da «emergên­cia nacional» que esta­mos vivendo. Ou agem de má-​fé.

A situ­ação atual exige muito mais que isso. Neste momento de emergên­cia era para o gov­erno pri­orizar ape­nas os min­istérios essen­ci­ais: Justiça, Edu­cação, Saúde, Infraestru­tura, Agri­cul­tura, Ciên­cia e Teconolo­gia, Relações Exte­ri­ores, dois ou três mais. E só.

A classe política e as cor­po­rações profis­sion­ais pare­cem inca­pazes de enten­der a a gravi­dade da situ­ação, a neces­si­dade de refor­mas como a prev­i­den­ciária, tra­bal­hista, trib­utária e até mesmo a reforma política. Ninguém quer perder nada, pelo con­trário, cada um, ao que parece que é aumen­tar seus nacos de poder e seus priv­ilé­gios, e isso, é pés­simo para o Brasil.

Sem as refor­mas estru­tu­rantes, sem o fim dos priv­ilé­gios, sem o rigor no con­t­role das con­tas públi­cas e uma fis­cal­iza­ção sem tréguas da cor­rupção, com a punição exem­plar dos malfeitores, não ire­mos muito longe.

Não saire­mos da crise por um passé de mág­ica. Faz-​se necessário a rup­tura de diver­sas bar­reiras, é exigido o sac­ri­fí­cio de todos. Entre­tanto, este gov­erno, difer­ente do ante­ces­sor, pre­cisa mostra-​se dis­posto a fazer sua parte, enfrentar de peito aberto tais questões. Por isso mesmo, vejo como tímida a meta de redução de, ape­nas, qua­tro mil car­gos. Teria que ser muito mais.

Como um paciente, o país san­gra por diver­sos setores, é necessário estancar essa san­gria. Seja com a elim­i­nação de órgãos, amputações de out­ros, seja pela ingestão de med­icação forte.

A dúvida que paira é se o gov­erno Temer terá essa capaci­dade de ofer­e­cer tan­tas soluções duras. Em princí­pio, com o nível em que chegou a política brasileira, acred­ito que não. Trata-​se de um gov­erno de coal­izão for­mado por pes­soas e par­tidos que ainda não se deram conta do momento em que vive­mos. Quando muito, o gov­erno Temer ten­tará, uma ou outra coisa.

Uma coisa engraçada é que muitos dos que bradam por refor­mas são os mes­mos a protes­tar con­tra o amar­gor das mesmas.

Vejamos o caso do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, que até ontem coman­dava o país deste 2003 e que foi inca­paz de fazer os refor­mas exigi­das. Apeado do poder, no mesmo dia, já fazia a oposição mais fer­renha e cobrava resul­ta­dos, para os quais não deram nen­huma solução em treze anos de mando.

Em resumo: os grandes, as cúpu­las par­tidárias estão mais pre­ocu­padas em «ficarem bem na fita». Já oposição (ontem, gov­erno) em sab­o­tar as ini­cia­ti­vas do novo gov­erno, antes do homem sen­tar na cadeira, já estavam batendo pan­elas. Chega a ser irra­cional. Não é disso que o Brasil precisa.

Faz tempo que o país ressente-​se da ausên­cia de um «tim­o­neiro», alguém com autori­dade moral e ética, para exi­gir de todos com­preen­são para os dias difí­ceis que virão e não que nos tente tapear com soluções mág­i­cas, que, repito, não existem.

Quando, na crise que des­en­cadeou a II Grande Guerra, a Inglaterra entre­gou o seu comando a Win­ston Churchill (18741965) ele fez um dis­cur­sos mais ilu­mi­na­dos que, muito depois, virou até nome de filme ou seri­ado da TV, lá ele dizia: «Neste momento de crise, espero que me seja per­doado não falar hoje mais exten­sa­mente à Câmara. Con­fio em que os meus ami­gos, cole­gas e anti­gos cole­gas que são afec­ta­dos pela recon­strução política se mostrem indul­gentes para com a falta de cer­i­mo­nial com que foi necessário actuar. Direi à Câmara o mesmo, que disse aos que entraram para este Gov­erno: «Só tenho para ofer­e­cer sangue, sofri­mento, lágri­mas e suor». Temos per­ante nós uma dura provação. Temos per­ante nós muitos e lon­gos meses de luta e sofrimento.”

Guardadas as dev­i­das pro­porções, a situ­ação do Brasil, exige sac­ri­fí­cios, desprendi­mento dos cidadãos; exige que cedam em diver­sos pontos.

Sem isso, quando muito, adi­are­mos os problemas.

Abdon Mar­inho é advogado.