AbdonMarinho - SOBRE DITADURAS E OUTROS MALES.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 16 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

SOBRE DITADURAS E OUT­ROS MALES.

SOBRE DITADURAS E OUT­ROS MALES.

DITA­DORES não me fasci­nam. Tam­bém nunca nutri qual­quer sim­pa­tia por qual­quer ditadura. Seja ela de dire­ita, esquerda, civil ou mil­i­tar. A elas sem­pre reservei aque­les sen­ti­men­tos que certa vez Ulysses Guimarães bem descreveu: ódio e nojo.

Emb­ora mil­i­tante político desde muito cedo – já nos anos oitenta estava envolvido no movi­mento estu­dan­til par­tic­i­pando da cri­ação de grêmios, cam­panha das dire­tas, da con­sti­tu­inte, etc –, nunca me ani­mou a defesa de mod­e­los autoritários. Sem­pre com­preendi que a democ­ra­cia está entre as maiores con­quis­tas da vida civ­i­lizada. A ideia da existên­cia de ditaduras «boas» nunca fez minha cabeça. Ao meu sen­tir ditadura é ditadura e, por isso mesmo, um mal em si.

Defender que con­quis­tas humanas: saúde, edu­cação, amparo social, jus­ti­fi­cam que se abram mão de liber­dades civis, o dire­ito de expressão, de ir e vir, de manter-​se junto aos seus, de tra­bal­har e pos­suir bens nunca me pare­ceu algo razoável.

Sem­pre tive na liber­dade o maior bem do ser humano, maior mesmo que a própria vida. Nunca vi sen­tido na vida sem liberdade.

A restrição à liber­dade em nome de deter­mi­nadas con­quis­tas sem­pre me pare­ce­ram uma cortina de fumaça aos que pre­tenderam ou pre­ten­dem a per­pet­u­ação no poder para come­ter toda a sorte de des­man­dos, vio­lên­cia e apro­pri­ação do patrimônio público, quando não a destru­ição de toda a nação.

As auto­de­nom­i­nadas «esquer­das» sem­pre tiveram que con­viver com esse para­doxo. Ao momento em que sem­pre cobraram liber­dade e democ­ra­cia nos seus países, silen­ciam de forma obse­quiosa às vio­lações das liber­dades nos chama­dos «países lab­o­ratórios» da exper­iên­cia comu­nista. Mais que isso, defen­dem, em pleno século 21, as restrições às liber­dades (todas elas) com unhas e dentes, jus­ti­fi­cam o mor­ticínio, as prisões políti­cas, o ostracismo e o exílio.

O que con­sidero mais patético de tudo isso é que nen­hum daque­les que vemos como fer­ren­hos defen­sores dos regimes autoritários topariam viver tal exper­iên­cia, muito pelo con­trário, para estes valentes a liber­dade deve ser de forma mais ampla e irrestrita possível.

O que nos levar a crer que ditadura para os países dos out­ros é refresco.

São de tal forma defen­sores da liber­dade de expressão que se acham no dire­ito de defend­erem as restrições às liber­dades como um dire­ito legit­imo de pen­sar difer­ente. Enten­deram? Pois é, eu não entendi a bril­hante con­clusão a que chegou uma impor­tante lid­er­ança polit­ica do nosso estado. Neste raciocínio qual­quer crítica a um mod­elo dita­to­r­ial trata-​se de uma intol­erân­cia a um modo de «pen­sar diferente».

Não deixa de ser curioso ver pes­soas que não con­seguem ficar cinco min­u­tos longe do What­sApp ou afas­ta­dos dos seus smart­phones, defend­erem restrições às liber­dades mais fun­da­men­tais dos seres humanos, den­tre as quais a de se expres­sarem livremente.

Vou além, o Brasil e out­ros países do con­ti­nente exper­i­men­ta­ram a tragé­dia de viver sob ditadura. Estas ditaduras cei­faram mil­hares de vidas dos seus opos­i­tores. No mesmo período, e depois dele, a ilha-​prisão dos irmãos Cas­tro fez o mesmo. Mil­hares de assas­si­natos, uns falam em 20 mil, out­ros em 12 mil, o certo e, não dúvida alguma disso, que mil­hares foram os que pere­ce­ram por sua oposição ao régime, inclu­sive, muitos por crime de opinião, perderam a vida diante dos tris­te­mente famosos «paredóns». Out­ros mil­hares ten­tando fugir da ilha-​prisão.

Seus autores con­fes­saram tais práti­cas em fóruns inter­na­cionais. Os próprios líderes do país caribenho, mataram dire­ta­mente inúmeras víti­mas. Não sou eu que digo. Tem con­fis­são, tem vídeo, tem fotografia.

Há difer­enças obje­ti­vas nas vidas per­di­das? Não. Claro que não. A vida de cada ser humano tem a mesma importância.

Pois é, «nos­sas esquer­das» acham que os brasileiros, argenti­nos, uruguaios que perderam a vida durante os regimes autoritários nestes países valem mais que os os mil­hares que perderam a vida em Cuba, na Coréia do Norte, na URSS, ou noutros países na out­rora cortina de ferro.

A mim, não parece razoável que pes­soas que dizem víti­mas de perseguição, que enfrentaram as auguras de ditaduras, tratem com dois pesos e duas medi­das suas víti­mas. Ou será que as víti­mas do régime cubano que tiveram seus dire­itos vio­la­dos nas últi­mas cinco décadas fiz­eram por mere­cer e por isso foram assas­si­nadas? As mil­hares de famílias apartadas de seus entes queri­dos mere­ce­ram isso? Os crimes que pas­sam da pes­soa do con­de­nado na Cor­eia do Norte ou os cam­pos de tra­balho forçado podem ser recon­hecido como práti­cas legítimas?

Não encon­tro quem esclareça tais contradições.

Aqui, no Brasil, dizem que um processo con­sti­tu­cional que afas­tou a pres­i­dente Dilma foi um golpe, o vice-​presidente, eleito com ela na mesma chapa e com os mes­mos votos, um farsante golpista, mas acham nor­mal que nas vir­tu­osas democ­ra­cias cubana, norte-​coreana ou venezue­lana, o poder vá pas­sando de pai para filho, neto, irmão ou o que o valha, quase sem­pre por des­ig­nação. Talvez con­sid­erem tais proces­sos mais legí­ti­mos que o pre­visto na leg­is­lação brasileira.

Não, meus sen­hores, não rendo hom­e­nagem a dita­dor nen­hum. Ditaduras não me seduzem.

Abdon Mar­inho é advogado.