AbdonMarinho - A FAZENDA DO LULA. OU, LULA APRESENTA SUA ÓPERA DO MALANDRO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 20 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A FAZENDA DO LULA. OU, LULA APRE­SENTA SUA ÓPERA DO MALANDRO.

A FAZENDA DO LULA. OU, LULA APRE­SENTA SUA ÓPERA DO MALAN­DRO.
OUTRO dia li no blog do amigo e jor­nal­ista Robert Lobato a nar­ra­tiva de um episó­dio ocor­rido no iní­cio da década de noventa.
O texto, bem escrito e sereno, começa de forma literária:
“Era inverno chu­voso de 1990.
Na Uni­ver­si­dade Estad­ual do Maran­hão (Uema), con­ver­sá­va­mos eu, Már­cio Buzar, Neil Arm­strong, Agostinho Neto e out­ros com­pan­heiros.
Divagá­va­mos sobre a então recente eleição pres­i­den­cial de 1989.
Em certo momento, Buzar, hoje pro­fes­sor na UNB, disse algo mais ou menos assim: “Perdemos a eleição, mas não perdemos a luta. De certa forma foi até bom Lula ter per­dido, pois minha maior decepção seria ele gan­har e depois apare­cer a notí­cia de que ele é dono de fazenda”. Nunca esqueci dessas palavras!«
Já con­hecia o episó­dio, que me foi nar­rado pelo próprio jor­nal­ista numa das vezes que esteve em minha casa. Robert Lobato, seus ami­gos, eu e tan­tos out­ros, mal saí­dos da ado­lescên­cia e tra­vando os primeiros con­tatos com a democ­ra­cia, após os vinte e um anos do régime mil­i­tar, ten­tá­va­mos, cada um nos seus seg­men­tos – nos grêmios estu­dan­tis, nos DCE’s, nas asso­ci­ações de moradores –, con­tribuir de alguma forma como uma nova história para o Brasil.
Emb­ora só viesse con­hecer o Robert anos depois, essas histórias, estes son­hos, essa con­sciên­cia cole­tiva de bus­car dias mel­hores para o país era um elo comum naque­les dias inver­nosos e enso­lara­dos. Con­tribuíamos com o que podíamos, mesmo com os poucos recur­sos da vida de estu­dante moradores da per­ife­ria e bair­ros pop­u­lares.
Outra coisa a nos unir era o Lula, ape­sar das críti­cas pon­tu­ais. Ele era ideal a ser atingido. Um operário, nordes­tino, do povo, chegar ao cargo mais alto da nação. Este foi o sonho que nos embalou naquele lula lá, brilha uma estrela…
Assim, vota­mos, ped­i­mos votos, defend­emos o nome de Lula em todos os fóruns. E, como o sonho sem­pre foi mais impor­tante que o próprio obje­tivo, encon­trá­va­mos mérito até na der­rota.
O medo da decepção de Buzar – naquele inverno chu­voso de 1990, na poética nar­ra­tiva de Robert –, só de imag­i­nar a pos­si­bil­i­dade de Lula virar fazen­deiro, é a expressão maior do próprio sonho. O medo de acor­dar para real­i­dade. Quan­tas vezes não son­hamos um sonho tão bom que torce­mos para não acor­dar?
Além de votar em Lula naquele 1989, con­tin­uei votando (eu e tan­tos out­ros) até alcançar o tão son­hado obje­tivo em 2002.
E foi aí que percebi que o sonho era bem difer­ente da real­i­dade. A posse do operário-​presidente já fora regada pelos mais caros vin­hos do mundo. Segundo noticiou-​se na época, pre­sente do mar­queteiro que gan­hara uma for­tuna cuidando da cam­panha. Os novos ter­nos, feitos sob medida, tam­bém, já davam uma ideia do pendão do «nosso» Lula pelos mimos que o cap­i­tal – causa maior de todos os males –, podia ofer­e­cer. Antes só tín­hamos a pre­ocu­pação de defendê-​lo do fato de morar «de favor» na casa do com­padre Roberto Teix­eira.
O gov­erno que se desen­hou já refle­tia o desas­tre que viria. Petis­tas deslum­bra­dos num con­sór­cio espúrio com o que havia de pior na política nacional.
Enquanto isso pes­soas cor­re­tas, sérias, eram tratadas como inimi­gas do Estado.
Os primeiros e tristes episó­dios do gov­erno que se ini­ci­ava refletem isso: o mem­o­rável chá de cadeira que Dirceu deu em Gabeira e out­ros líderes políti­cos e a exigên­cia do próprio Dirceu de ser tratado como «primeiro-​ministro».
Aí veio o men­salão, o petrolão, a gen­erosi­dade desme­dida com os recur­sos do BNDES, o alcance dos fun­dos de pen­são dos tra­bal­hadores, o socorro as ditaduras ami­gas e tan­tos out­ros desati­nos.
Mais que uma briga pela per­pet­u­ação no poder – como pensou-​se no men­salão –, veio a certeza que havia uma quadrilha insta­l­ada no coração da nação, tam­bém com propósito do enriquec­i­mento fácil e que iam muito além de uma fazenda.
O der­radeiro vex­ame a que a sociedade brasileira exper­i­menta é ver um ex-​presidente da República com­pare­cer diante de um juiz na condição de réu.
Aí volto ao dileto amigo Robert Lobato, que anal­isa o fato como uma vitória do ex-​presidente.
Sou dos que dis­cor­dam frontal­mente. Como vence­dor, amigo Bob? A nossa prin­ci­pal pre­ocu­pação naquele não muito longe 1989 era o Lula apare­cer como dono de uma fazenda e agora está ele no banco dos réus como chefe de uma orga­ni­za­ção crim­i­nosa.
O que está se dis­cutindo – é bom que se deixe claro –, é o fato daquele cidadão, que son­há­va­mos como mod­elo para o Brasil, emer­gir de inúmeras inves­ti­gações poli­ci­ais como chefe de quadrilha espe­cial­izada no roubo da coisa pública.
E não são poucos os indí­cios e depoi­men­tos neste sen­tido. Os mem­bros da família e exec­u­tivos da Ode­brecht dizem isso. Emilio e Marcelo nar­ram o episó­dio com riquezas de detal­hes; o amigo Léo Pin­heiro da OAS, con­firma estes fatos; os dire­tores da Petro­bras cor­rob­o­ram, basta ver os depoi­men­tos de Nestor Cev­eró e agora de Renato Duque; o ex-​senador Del­ci­didio do Ama­ral con­firma e por último, o casal de mar­queteiros a serviço do par­tido, de Lula e de Dilma traz das som­bras tudo aquilo que, nem nos nos­sos piores pesade­los imag­iná­va­mos.
Mais grave uma quadrilha que tomou de assalto o Estado brasileiro, a par­tir de sua capaci­dade de mobi­liza­ção e disponi­bil­i­dade de recur­sos, influ­en­ciou os des­ti­nos de out­ros povos, intrometeu-​se em eleições de out­ras nações.
O sim­ples fato de um ex-​presidente sentar-​se no banco dos réus já é motivo para vex­ame; quando este ex-​presidente é o primeiro operário a chegar ao poder e em quem o povo brasileiro depos­i­tou tanta esper­ança e emocionou-​se com sua posse é algo dev­as­ta­dor; e quando este mesmo ex-​presidente, operário, cidadão do povo, senta-​se no banco dos réus na condição de cor­rupto é algo a enver­gonhar a todos nós. Não ape­nas os que son­haram em vê-​lo pres­i­dente, mas a todos os cidadãos de bem.
E quando você pensa que nada de pior pode acon­te­cer, você se depara com este ex-​presidente mentindo descarada­mente, sone­gando a ver­dade, dizendo não saber o que todos, mesmo os mais ingên­uos, sabem que ele sabia e sabe; negando o inegável, como o foi ao dizer que influên­cia alguma tinha no seu próprio par­tido.
E quando pen­samos que não podia ir além na falta de caráter, aquele que foi depositário de tan­tos son­hos e esper­anças, faz «delação pre­mi­ada» con­tra a própria esposa. Pior, con­tra uma esposa fale­cida, que não tem, sequer, a chance de defender-​se.
Já havia prometido não me sur­preen­der com quais­quer rev­e­lação que ainda viesse sur­gir. Mas con­fesso que causou-​me espé­cie a forma desre­speitosa com a qual o ex-​presidente «empurrou» a respon­s­abil­i­dade para a mul­her fale­cida.
Então a mul­her era investi­dora em imóveis? Mas, com qual renda, se a vida inteira foi «do lar»? Então a mul­her pedia favores a empresários à rev­elia do ex-​presidente que nem tomava con­hec­i­mento? Quanto ofensa.
Mas, na opinião do sen­hor Lula «(…) mul­heres são assim, não con­tam tudo ao marido.«
No seu primeiro inter­ro­gatório como réu, o ex-​presidente exerceu aquilo que sabe fazer como ninguém: a arte da malan­dragem. Não se impor­tando de, para isso, colo­car a respon­s­abil­i­dade na mul­her fale­cida. Desre­spei­tando os mor­tos e o senso comum de todos os brasileiros decentes.
É ver­dade que à defesa tudo é per­mi­tido. É um dire­ito do réu usar todos os recur­sos na sua defesa, mas se esper­ava um mín­imo de decên­cia, ética e respon­s­abil­i­dade de quem ocupou o cargo máx­imo da nação.
Aos mil­i­tantes reunidos em Curitiba para con­stranger a Justiça, uma con­fis­são invol­un­tária: não se disse inocente e sim que não tin­ham provas con­tra ele.
O sen­hor Lula não pos­sui qual­quer pre­ocu­pação que não seja safar-​se e não se é ou não inocente.
Existe mérito ou vitória nisso, amigo Bob?
Emergem provas de que roubaram tudo. Roubaram até os nos­sos son­hos, nos­sos ideais. Difer­ente da nossa, as atu­ais ger­ações não têm no que acred­i­tar. Aque­les em que con­fiá­va­mos trans­for­maram a política nacional no que há de pior em todos os can­tos e em toda nossa história.
Não, não existe mérito. Não há vitória. Somos uma nação de der­ro­ta­dos.
Abdon Mar­inho é advogado.