A blogosfera e a Caixa de Pandora.
Por Abdon C. Marinho.
FOI com Hesíodo, que viveu entre 750 e 650 a.C, que tomamos conhecimento do mito da caixa da Pandora. O autor de “Obras e Dias” e “Teogonia” conta-nos sobre tal mito que o mais poderoso de todos os deuses, Zeus, para vingar-se de Prometeu e Epimeteu, titãs que deram o fogo aos homens, roubando-o dos deuses, criou a primeira mulher, Pandora, e a ela deu-lhe uma jarra com a recomendação que jamais a abrisse.
Como sabemos, a curiosidade sobre o conteúdo da jarra falou mais alto e Pandora acabou por abri-la espalhando sobre a Terra todos os males.
A lição mais importante do mito da “caixa de Pandora”, que muitos vivem a repeti-lo, talvez que seja que atitudes simples podem trazer graves consequências.
Nos últimos dias tenho visto quase toda, assim chamada, “blogosfera maranhense” “entertida” com os prints de supostos diálogos privados havidos entre o vice-governador do estado e um blogueiro.
Conforme já externei anteriormente – sem adentrar no conteúdo dos tais prints, pois se o diálogo se havido, deu-se em campo privado –, o grave, para a relação políticos-jornalistas/blogueiros, é alguém supostamente fazendo-se passar por jornalista/blogueiro vazar e promover a divulgação de tais diálogo e, mais, fazendo isso com inusual orgulho.
O laudo pericial – precisa-se saber qual a modalidade de crime demandou-se para a polícia apurar uma vez que se tratou de um diálogo privado e Constituição da República ainda assegura o direito à privacidade –, aponta terem havido entre o vice-governador e blogueiro quase 5 mil diálogos.
Como em toda minha lista de contatos acho que não chega a dez o número de pessoas com quem tenha tido tanta “conversa”, imagino que essa pessoa fosse alguém da “confiança” do vice-governador.
Logo, se alguém de “confiança” mostra-se capaz desse tipo de conduta é de imaginar-se o risco a que cada um deles (políticos) esteja correndo.
Nesse sentido digo que abriram a “caixa de Pandora”.
Quem doravante vai manter diálogos com jornalista/blogueiros sem o receio de estar sendo gravado ou de ter suas conversas “printadas” e levadas ao vento expondo a si, seus familiares ou aliados políticos?
Se o acontecimento e/ou a exploração do mesmo servirá para alguma coisa talvez seja para tornar formais as relações entre políticos e profissionais da mídia – como, aliás, deveria ser.
No caso em comento, se o jornalista/blogueiro tivesse se dirigido ao vice-governador ou se o vice-governador nunca tivesse lhe dado ousadia o diálogo seria o seguinte:
Blogueiro: –– Senhor vice-governador, a senhora deputada fulana de tal está se referindo ao senhor nos seguintes termos (descreveria a fala da deputada). O senhor gostaria de se manifestar?
O vice-governador poderia dizer que preferiria não se manifestar ou que se manifestaria através de nota distribuída à imprensa. Pronto, morria aí a conversa.
Em sendo verdade os diálogos vazados pela imprensa envolvendo o blogueiro e o vice-governador – o benefício da dúvida deverá sempre socorrer as vítimas –, ele terá aprendido da forma mais dolorosa umas das grandes lições de Jânio Quadros.
Conta lenda que certa vez Jânio estava dando uma entrevista e a entrevistadora o tratou por você.
Ele, com a sua voz e estilo de falar característicos, a corrigiu: –– por favor, trate-me por senhor. Intimidades só geram filhos e aborrecimentos e não quero ter nenhum dos dois com a senhora.
Abdon C. Marinho é advogado.