AbdonMarinho - A boçalidade cobrou sua conta
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 11 de Maio de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A boçal­i­dade cobrou sua conta


A BOÇAL­I­DADE COBROU SUA CONTA.

Por Abdon C. Marinho.

QUANTO vale a Presidên­cia da República? Ou, talvez a mel­hor forma de per­gun­tar: qual o sig­nifi­cado e importân­cia de se ser pres­i­dente da República?

Acred­ito que valha muito, não pelo salário e/​ou sta­tus, mas pelo sig­nifi­cado de se chegar ao cargo mais alto do país e, mais impor­tante, escol­hido pela maio­ria da pop­u­lação. Numa democ­ra­cia direta, como a nossa, em que cada cidadão tem dire­ito a um voto, chegar à presidên­cia sig­nifica con­tar com o apoio da maio­ria dos cidadãos. Estes, ao escol­her, estão dizendo que con­fiam no indig­i­tado escol­hido para representá-​los e fazer as mel­hores escol­has em seu nome.

Para os políti­cos ser pres­i­dente é ter atingido o ápice da car­reira, ter chegado ao topo. Não é à toa que muitos seriam capazes de vender a mãe – e entre­gar –, por tal honra. Out­ros seriam capazes de dar um rim, ou um braço, quem sabe um ded­inho, para chegar ao topo.

O que sig­nifica você ter chegado ao topo, no lugar onde quase todos dese­jariam estar e perder tal posição? Pior, saber que o seu fra­casso não pode ser cred­i­tado a ninguém que não a si próprio?

Talvez tais inda­gações ten­ham sido respon­sáveis pelo fato do (ainda) inquilino do Palá­cio do Planalto ter demor­ado mais de quarenta horas – quem se deu ao tra­balho de con­tar, disse que foram 44 horas e 34 min­u­tos –, para rea­pare­cer em público e fazer um dis­curso cho­cho, que teve como único ponto pos­i­tivo o fato de ter sido curto, onde agrade­ceu pelos votos rece­bidos, disse que os movi­men­tos pop­u­lares são fru­tos da indig­nação e sen­ti­mento de injustiça de como se deu o processo eleitoral.

De mais a mais disse as man­i­fes­tações pací­fi­cas são bem-​vindas, mas que os méto­dos não podem ser os da esquerda, que sem­pre prej­u­dicaram a pop­u­lação, com invasão de pro­priedades, destru­ição do patrimônio, cercea­mento do dire­ito de ir e vir.

A refer­ên­cia ao dire­ito de ir e vir foi feito para ten­tar “tirar o corpo fora” do movi­mento de cam­in­honeiros que inter­di­tam estradas país, em protestos por sua der­rota, diante da leniên­cia quase crim­i­nosa da Polí­cia Rodoviária Fed­eral — PRF.

Out­ros tópi­cos do seu pro­nun­ci­a­mento tar­dio, não pos­suem relevân­cia. São fru­tos de elu­cubrações e de uma visão de mundo desconec­tada do mundo real, dos cidadãos que acor­dam cedo para ralar muito e poder colo­car o “de comer” den­tro de casa.

No domingo, 30/​10, ainda durante a votação recebo a men­sagem de um dileto amigo: “— anal­iso aqui o futuro do nosso país, Dr., E chego a uma con­clusão: Bol­sonaro é um fra­casso. O cara tem a máquina pública nas mãos, os gov­er­nadores eleitos ou em via de se eleger, todas as polí­cias, forças armadas, evangéli­cos, católi­cos, fal­sos moral­is­tas (esses são muitos).… tem tudo isso. E ainda pena pra vencer um adver­sário que tem uma som­bra de maior cor­rupto do país”.

E acres­cen­tava: “— Dr, eu digo para ami­gos próx­i­mos: eu sendo pres­i­dente vence­ria em 1º turno”.

Àquela hora, o meu dileto amigo ao dizer que o cidadão “penava” para vencer o adver­sário, imag­i­nava que ele iria vencer. Mesmo com mais votos do que o número obtido quando gan­hou, perdeu. E perdeu feio, diante de todas as condições que cri­aram. Até um “estado de emergên­cia” cri­aram durante o micro-​processo eleitoral, a chamada “PEC do deses­pero”, para inun­darem de recur­sos os eleitores mais vul­neráveis e conquistar-​lhes os votos.

Nunca antes na história deste país – espero que as insti­tu­ições acor­dem para o que acon­te­ceu e não nor­mal­izem o anor­mal –, a máquina pública foi tão escan­car­a­mento uti­lizada numa cam­panha eleitoral eleitoral quanto nes­tas eleições, notada­mente, neste segundo turno. Cheg­amos ao ponto de ter uma insti­tu­ição de Estado, a PRF, sendo denun­ci­ada e admoes­tada pela Justiça Eleitoral, por está real­izando “oper­ação padrão”, com todas as car­ac­terís­ti­cas de prej­u­di­ci­ais ao adver­sário.

Não ape­nas ela. O gov­erno inteiro estava em cam­panha, mesmo aque­las pes­soas que por lei, estão proibidas de quais­quer ativi­dade de cunho eleitoral, estavam de alguma forma, atre­ladas e fazendo cam­panha para o atual pres­i­dente da república.

E não ape­nas a máquina pública. A máquina pri­vada tam­bém estava na cam­panha. Nunca, desde que acom­panho o processo eleitoral – e já se vão mais de quarenta anos –, tive notí­cias de tanto “assé­dio eleitoral”, com os donos de empre­sas, chefes ime­di­atos, ger­entes, con­strangendo seus empre­ga­dos a votarem o seu can­didato, no caso p sen­hor Bol­sonaro.

Perderam com o uso da máquina pública e pri­vada, com os empresários asse­di­adores, agronegó­cio que deseja “pas­sar a boiada” na questão ambi­en­tal; com as forças de segu­rança, sobe­ja­mente apar­el­hadas, PRF, PF, Polí­cias Estad­u­ais, igre­jas, com pas­tores asse­di­adores intim­i­dando os fiéis; os fanáti­cos rad­i­cal­iza­dos; os lunáti­cos; mili­cianos; o uso, nunca visto de men­ti­ras, que agora chamam de fake news; ódio, intol­erân­cia, etc.

Com tudo isso perdera-​me eleição em um processo eleitoral trans­par­ente – que se não digo limpo, é por conta, prin­ci­pal­mente, dos abu­sos per­pe­tra­dos pelos que perderam, pres­i­dente à frente –, que o resul­tado recon­hecido por quase todas as nações do mundo e insti­tu­ições nacionais ainda na noite de domingo.

Todas as grandes nações e órgãos inter­na­cionais – e mesmo os nacionais –, apressaram-​se em chance­lar o resul­tado das eleições por temerem as ameaças des­feri­das ao longo dos anos e, prin­ci­pal­mente, nos últi­mos meses. A Casa Branca, não levou uma hora para recon­hecer o resul­tado; o Palá­cio do Eliseu a mesma coisa, e assim por diante.

Quando, ainda no domingo ou na segunda-​feira, perguntaram-​me o que achara da der­rota do atual pres­i­dente, respondi de pronto: — a boçal­i­dade man­dou sua conta.

E a boçal­i­dade a que me refiro, não se encon­tra restrita ape­nas ao atual pres­i­dente, mas, tam­bém, ao seu entorno.

Dias antes das eleições a dep­utada eleita Marina Silva (REDE/​SP) foi agre­dida com palavras de “baixo calão” em Minas Gerais durante uma ativi­dade política. Ape­sar das grosse­rias sofridas, ela ape­nas dirigiu-​se à del­e­ga­cia de polí­cia mais próx­ima e reg­istrou um Bole­tim de Ocor­rên­cia.

Às vésperas do segundo turno a dep­utada reeleita Carla Zam­belli (PL/​SP) foi agre­dida com palavras numa dis­cussão política numa das ruas de São Paulo. O que ela fez? Jun­ta­mente com seus segu­ranças, de armas em punho, saíram em perseguição ao suposto agres­sor apontando-​lhes as armas e o man­dando deitar no chão. Registre-​se que até dis­paro foi dado, se perseguiu o sujeito por uma via lotada de transe­untes e aden­trando em um restaurante/​bar tam­bém repleto de cidadãos.

Uma sem­ana antes, foi aquele ali­ado de primeira hora do atual man­datário, Roberto Jef­fer­son, que rece­beu a PF que fora a sua casa cumprir um man­dado de prisão, à bala (mais trinta, dis­paradas com um fuzil) e granadas.

Essas pes­soas – e não ape­nas elas – copi­aram o “cacoete” do pres­i­dente de se acharem “donas do país” e par­ti­ram para as boçal­i­dades mais tacan­has.

Fiz­eram das men­ti­ras ou fake news um mundo para­lelo no qual tudo ia muito bem, obri­gado.

As boçal­i­dades do ainda pres­i­dente são de todas con­heci­das, basta dizer, con­forme ref­er­en­ci­ado no texto do fim sem­ana, o com­por­ta­mento que teve durante a pan­demia, e que segundo dizem, pode ter lev­ado a morte mil­hares de pes­soas.

Neste Dia de Fina­dos, enquanto pen­sava nos meus que par­ti­ram, inclu­sive, na pan­demia, pen­sei por um momento naque­les que super­aram as per­das pes­soais para votar em alguém que riu da suas dores, que escarneceu do seu sofri­mento, que fez piadas enquanto choravam.

Como disse no texto ante­rior, mesmo recebendo pedi­dos de pes­soas queri­das, não tinha como “deixar pas­sar”. Por isso, depois de 20 anos sem votar no PT (na eleição de 2018 me ausen­tei do segundo turno) votei nele nova­mente.

Um amigo que acred­ito pen­sar igual ao que me moveu, escreveu:

— Os “mínions” não enten­dem que não vota­mos em Lula por ser o mel­hor, mas, sim, por ter se tor­nado a única alter­na­tiva diante de dis­cur­sos e ati­tudes anti­democráti­cas de Bol­sonaro, tivesse ele ficado CAL­ADO ao longo desses meses e colo­cado min­istros com­pe­tentes e não, sim­ples­mente, par­ceiros ide­ológi­cos, teria sido eleito com ampla folga! Mas não, ele é campeão em se auto sab­o­tar para ale­grar aque­les 30% de malu­cos que procu­ram uma borda na terra plana para pular!

O atual inquilino do Planalto é, de fato, o único respon­sável por sua der­rota. Não adi­anta dizer que é hon­esto, que mel­horou a econo­mia, que fez isso ou aquilo – sendo ver­dade ou não –, pois exis­tem coisas que são inegociáveis.

Pois é, como dizia meu velho pai, que era anal­fa­beto por parte de pai, mãe e parteira: “mais cedo ou mais tarde, a boçal­i­dade cobra sua conta”.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

PS. As ilus­trações do texto foram col­hi­das da inter­net.