AbdonMarinho - O “BOLSONARISMO” E O FRACASSO DA POLÍTICA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 16 de Maio de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O “BOL­SONAR­ISMO” E O FRA­CASSO DA POLÍTICA.

OBOL­SONAR­ISMO” E O FRA­CASSO DA POLÍTICA.

Por Abdon Mar­inho.

QUAL­QUER que seja o resul­tado da dis­puta eleitoral deste ano tenho por mim que a política nacional nunca mais será a mesma.

No cen­tro desta assertiva, com maior destaque, o can­didato a pres­i­dente Jair Bol­sonaro.

A par­tir da chamada rede­moc­ra­ti­za­ção do pais, con­tada da data da eleição de Tan­credo Neves, em 1985, não surgiu um político capaz de gal­va­nizar tan­tos sen­ti­men­tos – para o bem ou para o mal, quanto ele.

Não há para­lelo. O difer­en­cial em todos estes atos pró-​Bolsonaro é o caráter vol­un­tário. Mesmo nos menores municí­pios nordes­ti­nos, tidos como ter­ritório do “petismo” temos vis­tos car­reatas, “moto­cadas” ou mesmo pas­seio de bici­cle­tas, em apoio ao can­didato do Par­tido Social Lib­eral — PSL.

Os “seguidores” do “bol­sonar­ismo” fazem questão de dizer que estão lá – par­tic­i­pando dos even­tos do can­didato, sem o can­didato –, de forma vol­un­tária e espon­tânea.

Vão além: com­pram as camisas do can­didato e tratam o can­didato como “mito”.

Não me recordo de ter assis­tido um movi­mento igual em apoio a nen­hum can­didato na recente história política do país. Mesmo o movi­mento “Dire­tas Já”, de 1984, era um movi­mento de “causa”, se voltava con­tra a ditadura mil­i­tar e pelo dire­ito de escolha pelo voto direto do diri­gente da nação. Sem con­tar que reu­nia uma miríade de pes­soas e sen­ti­men­tos, estes os mais dís­pares.

Outro grande movi­mento “espon­tâ­neo” ocor­rido a par­tir de 2013, se voltava con­tra tudo e con­tra todos, sem pos­suir um obje­tivo determinado.

O que vemos hoje – e acho que as pesquisas de opinião pública não refletem com exatidão o fenô­meno –, é o mais extra­ordinário movi­mento político espon­tâ­neo das últi­mas décadas, retro­cedo para antes do régime mil­i­tar, implan­tado em 1964.

Em ter­mos pro­por­cionais temos algo bem pare­cido ao movi­mento getulista, no século pas­sado – e aí já peço des­cul­pas aos his­to­ri­adores se disse alguma tolice.

E por que acho que esta­mos diante de um fenô­meno político? Sim­ples, o sen­hor Bol­sonaro é, talvez, um dos mais frágeis, den­tre os can­didatos, com ideias rasas e de senso comum que sei, não encon­tram adep­tos nem entre os seus mais fieis eleitores e/​ou seguidores, a maio­ria com­posta por pes­soas de for­mação int­elec­tual supe­rior.

Por isso mesmo, a quase a una­n­im­i­dade dos seus eleitores, con­cor­dam que o seu preparo para gov­ernar só seja igual ou supe­rior ao da ex-​presidente Dilma ou do ex-​presidente Lula.

Ape­sar de tan­tas situ­ações pes­soais des­fa­voráveis e ideias cur­tas, con­tando com estru­tura par­tidária minús­cula, pos­suir pouquís­si­mos segun­dos de tempo na tele­visão e rádio e de ter ficado fora de ativi­dades de cam­panha durante, prati­ca­mente, todo o primeiro turno – por conta do aten­tado –, con­segue reunir o apoio de mais trinta por cento do eleitorado, não deixa dúvi­das que o sen­hor Bol­sonaro é um fenô­meno político.

Como não recon­hecer como fenô­meno um can­didato que a despeito de tan­tas frag­ili­dades conta, hoje, com o apoio «fechado» de quase 35 mil­hões de eleitores, que não ape­nas votam nele, mas estão nas ruas fazendo sua cam­panha, sem rece­ber nada para isso?

Esse sucesso, entre­tanto, é o reflexo mais con­tun­dente do fra­casso da polit­ica brasileira.

A história reg­is­tra out­ros exem­p­los de surg­i­mento de lid­er­anças inusi­tadas na esteira do fra­casso da polit­ica insti­tu­cional.

Difer­ente no caso brasileiro é o fato do sen­hor Bol­sonaro ser “politico profis­sional” há quase 30 anos.

O que poucos dizem – talvez por não terem se dado conta –, é que tanto o fra­casso da polit­ica quanto o surg­i­mento do “bol­sonar­ismo» como fenô­meno politico-​eleitoral é uma cri­ação do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT e dos seus ali­a­dos, sobre­tudo dos os mais rad­i­cais, no poder desde 2003.

Foram eles com a sua falta de apreço pela democ­ra­cia e respeito às insti­tu­ições; com a uti­liza­ção da cor­rupção como estraté­gia de per­manên­cia e manutenção do poder que destruiu a polit­ica nacional e pos­si­bil­i­tou o surg­i­mento de supos­tos “sal­vadores da pátria” como o que hora se verifica.

Engana-​se, tam­bém, os que pen­sam que os dois episó­dios: o fra­casso da política e o surg­i­mento de “mitos” não foi feito “por aci­dente”. Não foi.

A ver­dade a ser dita é uma só: o PT e suas lid­er­anças não acred­i­tam no mod­elo de democ­ra­cia que luta­mos à duras penas para con­quis­tar. Isso quem diz não sou eu. São seus doc­u­men­tos e ini­cia­ti­vas.

Agora mesmo temos assis­tido o sen­hor José Dirceu – que, con­de­nado a mais de trinta anos de cadeia, só está solto por viver­mos numa democ­ra­cia exces­si­va­mente con­de­scende com crim­i­nosos – dizer que “vão tomar o poder” e falar que não recon­hece a legit­im­i­dade do Poder Judi­ciário como insti­tu­ição.

Ora, isso numa democ­ra­cia, ressal­vado o dire­ito à liber­dade expressão, é chama­mento a um golpe de estado nos moldes do feito na Venezuela e que des­graçou aquele país.

Usa-​se eleições legí­ti­mas para se destruir as insti­tu­ições democráti­cas e o próprio Estado.

Neste con­texto, a estraté­gia do petismo e ali­a­dos passa tam­bém pela “destru­ição” das demais forças polit­i­cas ou torná-​las seus satélites.

Foi isso que fiz­eram desde que chegaram ao poder: tra­bal­ham para elim­i­nação das demais agremi­ações e lid­er­anças fazendo alianças fisi­ológ­i­cas respon­sáveis pelos grandes escân­da­los de cor­rupção.

A estraté­gia de elim­i­nação da classe polit­ica é mais pre­sente em relação ao PSDB, mas, no atual pleito, tra­bal­haram – e ainda tra­bal­ham –, para aniquil­a­mento politico de Marina Silva, da Col­i­gação Rede/​PV – como fiz­eram em 2014 –, e, tam­bém, de Ciro Gomes, do PDT.

As pub­li­cações nacionais dos últi­mos dias trazem escabrosas histórias de como o ex-​presidente/​presidiário Lula tem manobrado, de den­tro da cadeia, para acabar com as can­di­dat­uras de Marina Silva e Ciro Gomes, que, pelo menos, no plano teórico, sem­pre foram ali­a­dos do “petismo”.

A eles não inter­essa uma sociedade baseada no plu­ral­ismo de ideias, den­tro de um con­senso do entendi­mento médio do seja a democ­ra­cia.

Se fosse assim, não tra­bal­hariam para fomen­tar a divisão da sociedade entre norte e sul; bran­cos e negros; índios e bran­cos; pobres e ricos, gays e het­eros­sex­u­ais e, pas­mem, até entre homens e mul­heres, como se uns não pre­cisas­sem de out­ros.

Enquanto pro­movem a destru­ição dos demais agru­pa­men­tos políti­cos e rad­i­cal­izam posições divi­sion­istas da sociedade, fomen­tam o surg­i­mento de “líderes» como Bol­sonaro.

Assim, em última análise, o “bol­sonar­ismo» nada mais é do que uma cri­ação do “petismo”, dos seus treze anos de des­man­dos.

Tenho con­ver­sado com alguns ami­gos que são eleitores do pres­i­den­ciável do PSL.

Esses eleitores que, segundo pesquisas for­mam a maio­ria do seu eleitorado, têm pelo menos duas grad­u­ações, com mais de uma espe­cial­iza­ção, pai de família com fil­hos na ado­lescên­cia ou próx­imo disso, que, se não é rico, sus­tenta a si e aos seus sem maiores difi­cul­dades. Ou seja não é alguém sem esclarec­i­mento do que seja política.

O que ouvi: votam e fazem cam­panha para Bol­sonaro porque vêem nele o único capaz de romper, nesse momento, com o pro­jeto de sociedade que o “petismo” já ten­tou implan­tar e que “ameaça” a fazê-​lo, caso cheguem ao poder nova­mente.

Como o petismo con­hece as frag­ili­dades do can­didato Bol­sonaro vem incen­ti­vando o clima de “guerra”, como estraté­gia de for­t­alec­i­mento da sua can­di­datura.

E quem disse isso, con­forme já referido acima, foi o próprio José Dirceu, ao cun­har que “não basta gan­har a eleição, temos que tomar o poder”.

Esse é o tipo de rad­i­cal­iza­ção que, longe de inter­es­sar ao con­junto da sociedade – que quer o país estável para pro­duzir e gerar empre­gos –, mas tão somente a quem incen­tiva a “guerra” e insta­bil­i­dade como forma de col­her div­i­den­dos.

Um erro que pode “estra­gar” a estraté­gia é que o “bol­sonar­ismo”, parece-​me, bem maior que Bol­sonaro.

Assim, chegare­mos ao sete de out­ubro: de um lado os “bol­sonar­is­tas” imaginando-​se numa “cruzada” para sal­var a sociedade brasileira dos males do “comu­nismo”, da “depravação”, da “venezueliza­ção” do Brasil, destru­ição da “família cristã oci­den­tal” e do outro os devo­tos e seguidores do “petismo” imaginando-​se – e pre­gando –, que eleito Bol­sonaro, a mis­são de um futuro gov­erno seu será elim­i­nar as chamadas mino­rias e os out­ros segui­men­tos da sociedade.

Decerto imag­i­nam milí­cias “bol­sonar­is­tas” armadas para elim­i­nar gays, índios, negros, pobres, nordes­ti­nos, etc. Talvez pensem que será reim­plan­tada um novo mod­elo de sociedade patri­ar­cal, em voga até o iní­cio do século pas­sado, com as mul­heres e fil­hos como “pro­priedades” dos seus sen­hores.

Se não fosse tão ter­rível, tão dan­tesco e toscas tais ideias, tal quadro seria engraçado.

O Brasil vive um momento tão sur­real, que é como se tivésse­mos retro­ce­dido alguns sécu­los.

Ao que parece, no atual momento menos impor­tante que ter­mos uma edu­cação de qual­i­dade, uma saúde efe­tiva para a pop­u­lação, estar­mos prepara­dos para com­pe­tir de igual para igual com os demais países no mer­cado global ou conec­ta­dos aos avanços tec­nológi­cos ou da ciên­cia é saber­mos com quem fulano ou bel­trano vai para cama ou o que pensa sobre deter­mi­na­dos temas próprios da vida privada.

Será que foi para isso que tanto batal­hamos para chegar até aqui?

Vejo como resul­tado desta eleição ape­nas um: o fra­casso de um pro­jeto de nação.

Abdon Mar­inho é advo­gado.