AbdonMarinho - O AMIGO BEAL - QUANDO NOS DEIXA O MELHOR AMIGO DA INFÂNCIA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 10 de Maio de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O AMIGO BEALQUANDO NOS DEIXA O MEL­HOR AMIGO DA INFÂNCIA.


O AMIGO BEALQUANDO NOS DEIXA O MEL­HOR AMIGO DA INFÂNCIA.

Por Abdon C. Mar­inho.

A MANHÃ chu­vosa na ilha do Maran­hão veio, tam­bém, com uma nota de tris­teza: a morte de um amigo de infân­cia.

Em deter­mi­nado momento daque­les saudosos e doura­dos anos, do mel­hor amigo da minha infân­cia.

Foi o meu sobrinho-​neto, Ruy­lon Peixoto, filho de minha sobrinha mais velha e de um outro grande amigo de infân­cia, Ger­son Peixoto, que, tam­bém já nos deixou há muitos anos, que trouxe a triste notí­cia.

Repro­duziu a infor­mação de uma página de notí­cias da nossa cidade e escreveu uma leg­enda: — fale­ceu, que triste.

Na sexta-​feira, quando estava a cam­inho de Mor­ros, já havia man­dado a noti­cia de que ele não estava bem, estaria inter­nado em uma UTI em Teresina. Não cheguei a vê a infor­mação, por algum motivo quando fui abrir apare­ceu que estava indisponível. Pen­sei que fosse alguma bobagem ou que se arrepen­dera de man­dar. Só a noite, já em casa, tomei con­hec­i­mento de que meu amigo de infân­cia não estava bem e que uma irmã estava fazendo uma cam­panha para ajudá-​lo no custeio das despe­sas com o trata­mento.

Pela manhã, logo nas primeiras horas, a notí­cia acima. Com pouco mais de cinquenta anos, o meu amigo de infân­cia, Beal, deix­ava esse plano.

Após estu­dar um ou dois anos em Gov­er­nador Archer, no Alde­nora Belo, primeiro morando na Rua do Sossego, em casa alu­gada e depois com a minha irmã Bibia, na Rua Sete de Setem­bro, fui morar em Gonçalves Dias. Meu pai havia con­struído uma casa lá, entre uma casa/​comércio de minha Deiza e a usina de “pilar” arroz dos pais de Beal.

Foi naquela usina que con­heci Beal e sua mãe, D. Irene. Íamos estu­dar na mesma sala, acho a ter­ceira série.

Por algum motivo tinha ido a usina e lá encon­trei com eles.

Como “pare­cia” gostar de estu­dar, sua mãe disse que dev­eríamos estu­dar jun­tos e que ele dev­e­ria ser como eu.

A par­tir daquele dia ficamos ami­gos. Não o chamava pelo apelido, sim pelo nome, Ruber­val; quase sem­pre pelo nome com­pleto, Ruber­val Bruno Dias. Achava curioso, pois o “Bruno” era o sobrenome da mãe.

Morava umas três ou qua­tro casas depois da minha. Desde cedo acos­tu­mado a me “virar” soz­inho – fiquei órfão com cinco anos –, na hora que cla­reava, já lev­an­tava, me arru­mava e seguia para a escola. Nem lem­bro se tomava café, ou mesmo se exis­tia café para tomar.

Todos os dias, é certo, pas­sava na casa de Beal para desce­mos jun­tos para a escola, a Unidade Integrada Castelo Branco.

Chegava lá muito cedo, como a família dele tinha o hábito de “tro­car o dia pela noite”, ainda os encon­trava dor­mindo por qual­quer canto, redes, camas, em lençóis pelo chão, era algo muito inco­mum aos meus olhos. Geral­mente, aguar­dava ele se arru­mar e tomar café e sair­mos para a escola, indo as vezes pela nossa própria rua, a Rua Rui Bar­bosa ou seguindo pela Rua Almir Assis, aguardando na Praça Miguel Bahury, em frente, que tocassem a cam­painha ou já ficá­va­mos mesmo lá na porta aguardando a hora de “for­mar” para entrar­mos no pré­dio.

Só andá­va­mos jun­tos, onde estava um, estava o outro.

Essa prox­im­i­dade valeu-​nos o apelido de “o Gordo e o magro”, pois Beal era bem gordinho quando cri­ança, enquanto eu era magro como uma tripa.

Nosso ciclo mais próx­imo na primeira infân­cia tinha out­ros cole­gas, Kaion Peixoto, Gec­i­mon Pereira, Bento Chaves Neto, e tan­tos out­ros. Mas com Beal a prox­im­i­dade era maior pois sem­pre está­va­mos jun­tos.

Quando ini­ci­amos o “giná­sio”, o equiv­a­lente hoje aos anos finais do fun­da­men­tal, tín­hamos que estu­dar a noite, pois só nesse horário havia esse ensino.

Seguíamos a rotina de antes, final da tarde pas­sava na casa dele e descíamos para o “Ban­deirantes” – era a mesma escola, só que a noite, tinha outro nome.

O que mudava tam­bém era o retorno para casa.

O amigo Beal, muito pre­coce para assun­tos sex­u­ais, todas as noites que­ria voltar pela rua onde ficavam os “cabarés” da cidade, na maio­ria das vezes só mesmo para olhar as “meni­nas”. Naquele tempo, com doze, treze anos, já era para estar­mos nas sacan­a­gens da vida. Com mais grana que nós, nessa fase, sem­pre que podia, Beal estava com uma ou outra. E tinha um fôlego inve­jável.

Acho que foi pelo final da sexta ou começo da sétima série que começamos a nos dis­tan­ciar. Nesse período, Beal teve um prob­lema de saúde, se não me falha a memória, uma apen­dicite, e não voltou mais para a escola – ainda ten­tei que voltasse, sua mãe, tam­bém, mas não teve jeito, não voltou e começamos a seguir cam­in­hos dis­tin­tos.

Com isso, acabou a nossa rotina de estar­mos sem­pre jun­tos. Pouco depois mudaram-​se para outra casa, na mesma rua, mas no “cen­tro” da cidade e pas­samos a quase não nos ver­mos.

Foi por esse tempo que meu pai “botou” um comér­cio na Rua Dr. Paulo Ramos, onde eu pas­sava o dia inteiro, tomando de con­tas, até a hora de ir para o colé­gio. Às vezes quem pas­sava pelo comér­cio era Gec­i­mon para ficar um tempo comigo, bater­mos um papo ou ver­mos alguma coisa das aulas.

Quando ter­minei o giná­sio a neces­si­dade de con­tin­uar os estu­dos me troux­eram para cap­i­tal para fazer o ensino médio no Liceu Maran­hense. Aí a dis­tân­cia com os ami­gos de infân­cia pas­sou a ser tam­bém espa­cial. Pou­cas vezes voltei a Gonçalves Dias ou a Gov­er­nador Archer e as noti­cias dos ami­gos de infân­cia se tornaram mais esparsas, muito emb­ora sem­pre que encon­tre com alguém de casa sem­pre per­gunte: — como vai fulano? E Sicrano?

Já estava morando em São Luís quando soube que seu irmão mais velho, tam­bém é que casou-​se com outra amiga de infân­cia veio a mor­rer de forma bem pre­coce.

Acho que uma ou duas vezes, falei com o seu irmão mais novo Remy, com Sil­vana, outra irmã, falei uma ou duas vezes pelas redes soci­ais, já o irmão Rogério, o caçula, daquela época, nunca tive notí­cias.

Anos depois, fui infor­mado que o amigo Beal se tornara vereador de Gonçalves Dias, fiquei feliz com a notí­cia, muito emb­ora nunca tenha tido a opor­tu­nidade de expres­sar tal ale­gria pes­soal­mente a ele. Nas pou­cas vezes que fui a nossa GD, não o encon­trei, não acom­pan­hei sua vida pes­soal, seus rela­ciona­men­tos, seus casa­men­tos, fil­hos, etc.

Na fotografia – de uma página ou site da nossa cidade e que ilus­tra esse texto –, não recon­heci o meu mel­hor amigo de infân­cia.

Acabamos adiando as coisas na nossa vida. Deix­amos para vis­i­tar o amigo numa outra opor­tu­nidade, de tele­fonar para um par­ente outro dia.

E, vamos sem­pre adiando, até o dia em que não ter­e­mos mais a opor­tu­nidade de faz­er­mos nada do que plane­jamos.

Muitas vezes plane­jei ir a Gonçalves Dias ou a Gov­er­nador Archer para reen­con­trar os ami­gos de infân­cia, sem­pre adiando. Na pan­demia perdi o amigo Gec­i­mon, agora o amigo Beal.

A vida vai pas­sando e não nos damos conta que somos ape­nas pas­sageiros.

Vai com Deus, amigo. Saudades eter­nas de tudo que vive­mos naque­les anos da nossa infân­cia.

Abdon C. Mar­inho.

O AMIGO BEALQUANDO NOS DEIXA O MEL­HOR AMIGO DA INFÂN­CIA

Por Abdon C. Mar­inho.

A MANHÃ chu­vosa na ilha do Maran­hão veio, tam­bém, com uma nota de tris­teza: a morte de um amigo de infân­cia.

Em deter­mi­nado momento daque­les saudosos e doura­dos anos, do mel­hor amigo da minha infân­cia.

Foi o meu sobrinho-​neto, Ruy­lon Peixoto, filho de minha sobrinha mais velha e de um outro grande amigo de infân­cia, Ger­son Peixoto, que, tam­bém já nos deixou há muitos anos, que trouxe a triste notí­cia.

Repro­duziu a infor­mação de uma página de notí­cias da nossa cidade e escreveu uma leg­enda: — fale­ceu, que triste.

Na sexta-​feira, quando estava a cam­inho de Mor­ros, já havia man­dado a noti­cia de que ele não estava bem, estaria inter­nado em uma UTI em Teresina. Não cheguei a vê a infor­mação, por algum motivo quando fui abrir apare­ceu que estava indisponível. Pen­sei que fosse alguma bobagem ou que se arrepen­dera de man­dar. Só a noite, já em casa, tomei con­hec­i­mento de que meu amigo de infân­cia não estava bem e que uma irmã estava fazendo uma cam­panha para ajudá-​lo no custeio das despe­sas com o trata­mento.

Pela manhã, logo nas primeiras horas, a notí­cia acima. Com pouco mais de cinquenta anos, o meu amigo de infân­cia, Beal, deix­ava esse plano.

Após estu­dar um ou dois anos em Gov­er­nador Archer, no Alde­nora Belo, primeiro morando na Rua do Sossego, em casa alu­gada e depois com a minha irmã Bibia, na Rua Sete de Setem­bro, fui morar em Gonçalves Dias. Meu pai havia con­struído uma casa lá, entre uma casa/​comércio de minha Deiza e a usina de “pilar” arroz dos pais de Beal.

Foi naquela usina que con­heci Beal e sua mãe, D. Irene. Íamos estu­dar na mesma sala, acho a ter­ceira série.

Por algum motivo tinha ido a usina e lá encon­trei com eles.

Como “pare­cia” gostar de estu­dar, sua mãe disse que dev­eríamos estu­dar jun­tos e que ele dev­e­ria ser como eu.

A par­tir daquele dia ficamos ami­gos. Não o chamava pelo apelido, sim pelo nome, Ruber­val; quase sem­pre pelo nome com­pleto, Ruber­val Bruno Dias. Achava curioso, pois o “Bruno” era o sobrenome da mãe.

Morava umas três ou qua­tro casas depois da minha. Desde cedo acos­tu­mado a me “virar” soz­inho – fiquei órfão com cinco anos –, na hora que cla­reava, já lev­an­tava, me arru­mava e seguia para a escola. Nem lem­bro se tomava café, ou mesmo se exis­tia café para tomar.

Todos os dias, é certo, pas­sava na casa de Beal para desce­mos jun­tos para a escola, a Unidade Integrada Castelo Branco.

Chegava lá muito cedo, como a família dele tinha o hábito de “tro­car o dia pela noite”, ainda os encon­trava dor­mindo por qual­quer canto, redes, camas, em lençóis pelo chão, era algo muito inco­mum aos meus olhos. Geral­mente, aguar­dava ele se arru­mar e tomar café e sair­mos para a escola, indo as vezes pela nossa própria rua, a Rua Rui Bar­bosa ou seguindo pela Rua Almir Assis, aguardando na Praça Miguel Bahury, em frente, que tocassem a cam­painha ou já ficá­va­mos mesmo lá na porta aguardando a hora de “for­mar” para entrar­mos no pré­dio.

Só andá­va­mos jun­tos, onde estava um, estava o outro.

Essa prox­im­i­dade valeu-​nos o apelido de “o Gordo e o magro”, pois Beal era bem gordinho quando cri­ança, enquanto eu era magro como uma tripa.

Nosso ciclo mais próx­imo na primeira infân­cia tinha out­ros cole­gas, Kaion Peixoto, Gec­i­mon Pereira, Bento Chaves Neto, e tan­tos out­ros. Mas com Beal a prox­im­i­dade era maior pois sem­pre está­va­mos jun­tos.

Quando ini­ci­amos o “giná­sio”, o equiv­a­lente hoje aos anos finais do fun­da­men­tal, tín­hamos que estu­dar a noite, pois só nesse horário havia esse ensino.

Seguíamos a rotina de antes, final da tarde pas­sava na casa dele e descíamos para o “Ban­deirantes” – era a mesma escola, só que a noite, tinha outro nome.

O que mudava tam­bém era o retorno para casa.

O amigo Beal, muito pre­coce para assun­tos sex­u­ais, todas as noites que­ria voltar pela rua onde ficavam os “cabarés” da cidade, na maio­ria das vezes só mesmo para olhar as “meni­nas”. Naquele tempo, com doze, treze anos, já era para estar­mos nas sacan­a­gens da vida. Com mais grana que nós, nessa fase, sem­pre que podia, Beal estava com uma ou outra. E tinha um fôlego inve­jável.

Acho que foi pelo final da sexta ou começo da sétima série que começamos a nos dis­tan­ciar. Nesse período, Beal teve um prob­lema de saúde, se não me falha a memória, uma apen­dicite, e não voltou mais para a escola – ainda ten­tei que voltasse, sua mãe, tam­bém, mas não teve jeito, não voltou e começamos a seguir cam­in­hos dis­tin­tos.

Com isso, acabou a nossa rotina de estar­mos sem­pre jun­tos. Pouco depois mudaram-​se para outra casa, na mesma rua, mas no “cen­tro” da cidade e pas­samos a quase não nos ver­mos.

Foi por esse tempo que meu pai “botou” um comér­cio na Rua Dr. Paulo Ramos, onde eu pas­sava o dia inteiro, tomando de con­tas, até a hora de ir para o colé­gio. Às vezes quem pas­sava pelo comér­cio era Gec­i­mon para ficar um tempo comigo, bater­mos um papo ou ver­mos alguma coisa das aulas.

Quando ter­minei o giná­sio a neces­si­dade de con­tin­uar os estu­dos me troux­eram para cap­i­tal para fazer o ensino médio no Liceu Maran­hense. Aí a dis­tân­cia com os ami­gos de infân­cia pas­sou a ser tam­bém espa­cial. Pou­cas vezes voltei a Gonçalves Dias ou a Gov­er­nador Archer e as noti­cias dos ami­gos de infân­cia se tornaram mais esparsas, muito emb­ora sem­pre que encon­tre com alguém de casa sem­pre per­gunte: — como vai fulano? E Sicrano?

Já estava morando em São Luís quando soube que seu irmão mais velho, tam­bém é que casou-​se com outra amiga de infân­cia veio a mor­rer de forma bem pre­coce.

Acho que uma ou duas vezes, falei com o seu irmão mais novo Remy, com Sil­vana, outra irmã, falei uma ou duas vezes pelas redes soci­ais, já o irmão Rogério, o caçula, daquela época, nunca tive notí­cias.

Anos depois, fui infor­mado que o amigo Beal se tornara vereador de Gonçalves Dias, fiquei feliz com a notí­cia, muito emb­ora nunca tenha tido a opor­tu­nidade de expres­sar tal ale­gria pes­soal­mente a ele. Nas pou­cas vezes que fui a nossa GD, não o encon­trei, não acom­pan­hei sua vida pes­soal, seus rela­ciona­men­tos, seus casa­men­tos, fil­hos, etc.

Na fotografia – de uma página ou site da nossa cidade e que ilus­tra esse texto –, não recon­heci o meu mel­hor amigo de infân­cia.

Acabamos adiando as coisas na nossa vida. Deix­amos para vis­i­tar o amigo numa outra opor­tu­nidade, de tele­fonar para um par­ente outro dia.

E, vamos sem­pre adiando, até o dia em que não ter­e­mos mais a opor­tu­nidade de faz­er­mos nada do que plane­jamos.

Muitas vezes plane­jei ir a Gonçalves Dias ou a Gov­er­nador Archer para reen­con­trar os ami­gos de infân­cia, sem­pre adiando. Na pan­demia perdi o amigo Gec­i­mon, agora o amigo Beal.

A vida vai pas­sando e não nos damos conta que somos ape­nas pas­sageiros.

Vai com Deus, amigo. Saudades eter­nas de tudo que vive­mos naque­les anos da nossa infân­cia.

Abdon C. Mar­inho.