AbdonMarinho - A VITÓRIA DA PERSEVERANÇA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Segunda-​feira, 29 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A VITÓRIA DA PERSEVERANÇA.

A VITÓRIA DA PERSEVERANÇA.

Por Abdon Mar­inho.

POR ESTES DIAS assis­ti­mos à con­sol­i­dação de uma vitória. Uma vitória, como o título diz, da per­se­ver­ança.

Os municí­pios maran­henses cor­ta­dos pela Estrada de Ferro Cara­jás pas­saram a rece­ber, para fins de incor­po­ração às suas receitas, uma com­pen­sação finan­ceira.

São Luís, rece­beu quase 28 mil­hões em val­ores retroa­t­ivos e mais 2,5 mil­hões por mês; Bacabeira, mais de 4 mil­hões retroa­t­ivos e mais quase 400 mil men­sais; Alto Ale­gre do Pin­daré, rece­beu 9,5 mil­hões retroa­t­ivos e mais de 800 mil men­sais; Arari quase 3 mil­hões retroa­t­ivos e mais 255 mil men­sais; Açailân­dia, 12 mil­hões retroa­t­ivos e mais de um mil­hão men­sais; Vila Nova dos Martírios 3,6 mil­hões retroa­t­ivos e mais 334 mil reais men­sais; Vitória do Mearim 2,2 mil­hões retroa­t­ivos e mais 205 mil reais men­sais; São Pedro da Água Branca 5,1 mil­hões retroa­t­ivos e mais 463 mil reais men­sais; Igarapé do Meio 2,7 mil­hões retroa­t­ivos e mais 250 mil reais men­sais; Cinelân­dia 4,9 mil­hões retroa­t­ivos e mais 448 mil reais men­sais; Buritic­upu 2,9 mil­hões retroa­t­ivos e mais 271 mil reais men­sais; Bom Jesus das Sel­vas 5,1 mil­hões retroa­t­ivos e mais 470 mil reais men­sais; Monção 1,3 mil­hões retroa­t­ivos e mais 123 mil reais men­sais; Turilân­dia 1,5 mil­hões retroa­t­ivos e mais 138 mil reais men­sais; Santa Inês 1,2 mil­hões retroa­t­ivos e mais 107 mil reais men­sais; Pindaré-​Mirim 1,3 mil­hões retroa­t­ivos e mais 121 mil reais men­sais; Itapecuru-​Mirim 1,4 mil­hões retroa­t­ivos e mais 125 mil reais men­sais; Ana­jatuba 2,2 mil­hões retroa­t­ivos e mais 196 mil reais men­sais.

Out­ros municí­pios tam­bém, como Bom Jardim, foram comtem­pla­dos com uma mel­hora na receita.

Esta vitória se tornou mais palpável quando o ex-​presidente da República, Sr. Michel Temer, san­cio­nou, em 18 de dezem­bro de 2017, a Lei 13.540÷2017, pela qual foi aumen­tada a Com­pen­sação Finan­ceira pela Explo­ração de Recur­sos Min­erais (CFEM) para 15% (quinze por cento) para os municí­pios escoa­dos da pro­dução de minério de ferro ou sofram os impactos das atividades.

Trata-​se, sem dúvida alguma, de uma grande vitória. No maran­hão 23 municí­pios irão rece­ber os 15% sobre os 3% (três por cento) do fat­u­ra­mento bruto sobre a explo­ração do minério de ferro. O restante ficarão assim dis­tribuí­dos: 60% para os municí­pios pro­du­tores; 15% com os esta­dos e 10% com a União.

Por ocasião do rateio deste din­heiro, mais de cem mil­hões de reais, o que mais apare­ceu foram pais para essa “cri­ança”.

Claro que muitos tiveram par­tic­i­pação e con­tribuíram de alguma forma para que estes recur­sos se tor­nassem uma real­i­dade, senadores, dep­uta­dos, prefeitos.

O que poucos sabem – quase ninguém –, é como essa vitória se iniciou.

Em mea­dos de janeiro de 2013, um domingo chu­voso, recebi uma lig­ação de um amigo, o advo­gado Ariosto Car­valho, que­ria levar na minha casa duas out­ras pes­soas para saber se aceitaria uma causa – quando chegaram fui apre­sen­tado aos sen­hores Leon­cio Lima e Fabrício.

O primeiro fora fun­cionário durante muitos anos da Vale e tinha sido procu­rado pela prefeita de Bom Jesus das Sel­vas, Cris­tiane Damião, que estava angus­ti­ada com a escassez de recur­sos no municí­pio.

Naquela opor­tu­nidade, pelo que entendi, já tin­ham feito con­tatos com out­ros advo­ga­dos que não mostraram muito inter­esse ou não enten­deram bem do que se tratava, por isso me procuraram.

Ao tér­mino das colo­cações, disse-​lhes, já naquela opor­tu­nidade, que tín­hamos uma causa muito inter­es­sante. Em princí­pio, não uma causa “jurídica” na acepção comum do termo, mas uma causa política.

A ideia ini­cial era ape­nas a cri­ação de um con­sór­cio de municí­pios maran­henses impacta­dos pela linha fer­roviária para, jun­tos, pres­sion­arem a Vale em busca de com­pen­sação finan­ceira. A empresa já con­tribuía aqui e ali com pequenos pro­je­tos, mas algo bem incip­i­ente, como favor.

Além da com­pen­sação social e ambi­en­tal a ser cobrada da empresa, havia uma outra pauta que era con­seguir que fos­sem lib­er­a­dos os recur­sos deposi­ta­dos junto ao BNDES desde a pri­va­ti­za­ção da empresa Com­pan­hia Vale do Rio Doce, que pri­va­ti­zada virara Vale. A ter­ceira pauta era essa: fazer con­star no Código de Min­er­ação algum tipo de com­pen­sação finan­ceira pelos impactos cau­sa­dos.

A primeira reunião visando a cri­ação deste con­sór­cio, ocor­rida no Mul­ti­cen­ter Sebrae, se não me falha a memória, con­tou com a par­tic­i­pação de pouco mais de meia dúzia de prefeitos. Estes, mes­mos, duvi­dando que a ini­cia­tiva fosse dar em algo.

Diziam: — A Vale é muito poderosa; nada que fiz­er­mos vai fazer sur­tir qual­quer efeito; jamais rece­ber­e­mos alguma coisa e por aí vai.

Esta­mos falando de um período bem ante­rior a Mar­i­ana, a Bru­mad­inho, com a Vale alcançado recordes de pro­dução e val­oriza­ção.

Ninguém enten­dia muito bem o que eram com­pen­sações ou porque uma empresa pri­vada tinha que “dar din­heiro aos municí­pios”.

Alguns, não sei por qual razão, até tin­ham medo ou não que­riam par­tic­i­par.

A prefeita de Açailân­dia, um dos municí­pios mais impacta­dos pela fer­rovia, foi uma das que recusou-​se a entrar do con­sór­cio, segundo ela iria tratar dos inter­esses do seu municí­pio dire­ta­mente com a Vale. Por conta disso, o vice-​prefeito Juscelino, que era entu­si­asta da ideia, virou o embaix­ador do con­sór­cio, e tam­bém por conta disso, em Açailân­dia foi real­izada a primeira audiên­cia pública visando a sua cri­ação.

Com o prefeito de São Luís, Edvaldo Holanda Júnior, estive­mos no dia 4 de abril daquele ano, era um fim de tarde, com o obje­tivo de con­vi­dar o municí­pio a inte­grar o con­sór­cio, gen­til como sem­pre, ouviu, assen­tiu, mas nunca deu resposta se iria par­tic­i­par ou não.

Ape­nas recen­te­mente tive notí­cias que São Luís pas­sara a inte­grar o con­sór­cio.

Na linha de frente a prefeita de Bom Jesus das Sel­vas, Cris­tiane Damião; o prefeito de Alto Ale­gre do Pin­daré, Atenir Ribeiro; a prefeita de Vila Nova dos Martírios, Karla Batista; o prefeito de Monção, João de Fatima; o prefeito de Santa Rita, Tim Ribeiro; o prefeito de Arari, Djalma Machado; o prefeito de Tufilân­dia, Dr. Neto; o prefeito de Bacabeira, Alan Lin­hares, entre out­ros. Já não lem­bro o nome de todos.

Em 23 de abril lançou-​se ofi­cial­mente o con­sór­cio. A par­tir daquela data pas­samos a per­cor­rer os 23 municí­pios para fazer as audiên­cias públi­cas para a sua for­mal­iza­ção. Fal­tei ape­nas a duas (man­dei um rep­re­sen­tante do escritório), nas demais estive pre­sente no tra­balho de con­venci­mento dos munícipes e vereadores.

Se muitos prefeitos não acred­i­tavam, o que dizer do restante da população?

Mod­esta parte, sai-​me bem no papel de ten­tar con­vencer e explicar a importân­cia do con­sór­cio e da “briga” que está­va­mos tra­vando.

Moti­vado pela esper­ança e certo que está­va­mos fazendo algo grandioso para o nosso estado, escrevi um texto sobre o assunto: “Uma Causa para o Maran­hão” – está no meu site e, acred­ito, foi repro­duzido pelo próprio con­sór­cio e por algum jornal.

O ano quase todo foi con­sum­ido com estas audiên­cias públi­cas. Se já não me falha a memória a última foi real­izada em Bom Jesus das Sel­vas, no iní­cio de outubro.

Para­lelo (e mesmo antes) à for­mação do con­sór­cio, ten­tá­va­mos exercer a pressão política sobre a Vale – as duas primeiras reuniões, inclu­sive, ocor­reram no meu escritório.

Como ela (Vale) mostrava-​se intran­si­gente, com os dados forneci­dos pelo sen­hor Leôn­cio Lima, cos­turei um doc­u­mento nar­rando toda situ­ação cau­sada pela Vale e a sua indifer­ença.

Doc­u­mento escrito perguntaram-​me como o mesmo dev­e­ria chamar-​se, aí me ocor­reu uma a ideia. Ele dev­e­ria ter como título “Carta aos Povos do Mundo”. A ser redigido em diver­sas lín­guas (ini­cial­mente por­tuguês e inglês) e ser dis­tribuído em todos os países onde a Vale tivesse negó­cios.

A par­tir daquele doc­u­mento a Vale começou a ace­nar com a pos­si­bil­i­dade de disponi­bi­lizar recur­sos como con­tra­partida pelos danos cau­sa­dos a pop­u­lação.

Na última reunião real­izada no meu escritório já disse que esta com­pen­sação pode­ria ser na casa dos cem mil­hões de reais por ano aos municí­pios.

O valor exato foi infor­mado numa reunião em um hotel da Ponta d’Areia em 27 de novem­bro daquele ano.

Antes disso, porém, tive­mos uma outra vitória. Em 23 de out­ubro, na Câmara de Vereadores de Marabá (PA), estive­mos numa reunião com o dep­utado Leonardo Quin­tão, de Minas Gerais, a época rela­tor do Código de Min­er­ação, que se com­pro­m­e­teu em incluir a com­pen­sação aos municí­pios maran­henses na nova leg­is­lação.

Naquele momento a Vale já tinha super­ado as rus­gas com o con­sór­cio por conta de protestos e até inter­dição de seus tril­hos e já estavam com um boa relação, tanto que cedeu o seu trem exec­u­tivo para levar (prefeitos e equipe) até Marabá.

Após essas vitórias “fui dis­pen­sado” pelos diri­gentes do con­sór­cio, as promes­sas feitas à título de hon­orários, esque­ci­das.

Foi uma causa que me con­sumiu por mais de um ano. Durante o qual era a pes­soa que tinha mais a ofer­e­cer a causa. Respei­tando a importân­cia dos gestores, não podemos nos fur­tar a recon­hecer que eram anôn­i­mos, ao passo que eu já tinha uma car­reira jurídica con­sol­i­dada e recon­hecida há mais de quinze anos.

Não sei quanto a Vale repas­sou aos municí­pios maran­henses nestes últi­mos anos – de 2014 a 2019 –, se tiver man­tido a palavra, foram mais de 500 mil­hões.

Agora o gov­erno fed­eral repassa mas estes out­ros cem mil­hões, além dos repasses men­sais para estas e as futuras gerações.

Ape­sar de não ter rece­bido, até hoje, um único cen­tavo, nem mesmo ressarci­men­tos pelas via­gens e despe­sas pes­soais – dis­cuto pos­síveis dire­itos na Justiça –, fico muito feliz com o resul­tado alcançado.

Lem­bro dos dis­cur­sos feitos em diver­sas ocasiões naque­las audiên­cias públi­cas quando dizia da neces­si­dade da luta pelas com­pen­sações e para a respon­s­abil­i­dade social da Vale de out­ras empre­sas.

Aque­las palavras não foram vãs, agora o trem não deixa só a poeira, o dano ambi­en­tal e o apito. Agora deixa, tam­bém, recur­sos, que, se bem apli­ca­dos, farão grande difer­ença na vida das comu­nidades maranhenses.

Essa foi uma vitória extra­ordinária, a vitória dos que acred­i­taram numa pos­si­bil­i­dade remota e não desi­s­ti­ram. Essa foi vitória da per­se­ver­ança.

Abdon Mar­inho é advogado.