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AbdonMarinho - Politica
Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quinta-feira, 29 de Maio de 2025



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho


Matapi, camarões e traíras.

Por Abdon C. Marinho.

FORAM os povos tupis das tribos localizadas no litoral brasileiro que legaram os povos caboclos do norte do país o instrumento artesanal de nome matapi grafado na língua nativa como matapí utilizado para pesca de camarões e outros peixes.

O matapi, ainda utilizado para pesca do camarão no formato artesanal, consiste numa armadilha feita de taboca ou talas de palmeiras e cipó ou embiras para se fazer a amarração. 

Os caboclos colocam os “matapis” nos pontos de vazantes aguardando que o crustáceo fique preso na armadilha. Segundo especialistas em meio ambiente essa é a forma mais sustentável para a pesca do camarão. 

Como a maioria dos leitores não são pescadores e pouco estão ligando o sistema de pesca artesanal devo dizer que essa introdução tem apenas o condão de servir como analogia aos últimos acontecimentos da politica local.  

Quer me parecer que “armaram o matapí” para pescar o camarão, nesse caso, um camarão bem maior que o camarão-gigante-da-Malásia (Macrobrachium rosenbergii), também chamado de camarão gigante azul, espécie nativa do Sudeste Asiático e, que aos poucos, vai se introduzindo em ecossistemas amazônicos. 

E tento o camarão ingressado no matapí os pescadores e/ou os melhores chefs leoninos preparam os manjares a serem servidos tais como: bobó de camarão; risoto de camarão; moqueca de camarão; risole de camarão ou, ainda, camarão empanado ou camarão no alho e  “Orleans”, eita corretor! Digo: óleo. 

Outras receitas famosas para o crustáceo são: bolinhos de mandioca com camarão ao catupiry; camarão frito na cerveja; camarão frito empanado; polenta com creme de camarão; escondidinho de camarão; estrogonofe de camarão e até vatapá de camarão. 

Como aperitivo, para abrir o apetite, a sugestão do chef é uma caipirinha com cachaça de São Domingos ali nas imediações de Colinas; e, como sobremesa, um rocambole de doce de leite de búfala da Baixada. 

Deixando as aulas de pesca artesanal e as melhores receitas do nosso cardápio de lado para adentrar no árido campo dos acontecimentos mesquinhos dos dias atuais, tenho por certo que o nosso vice-governador foi vítima de uma armadilha engendrada por pessoas que se fizeram passar por “amigas”. Literalmente, armaram o matapí para o Camarão. 

Não tenho motivos para duvidar da palavra do vice-governador quando ele acusa de falsidade os “prints” fartamente distribuídos pela imprensa. 

Ao meu sentir, quem se passa por amigo, inclusive, chamando o outro de “chefe” para, ato contínuo, espalhar aos “quatro ventos” o conteúdo da conversa é capaz de tudo até de falsificar “prints” ou vender a mãe (e entregar). A isso, no linguajar do sertão, dar-se o nome “trairagem”, coisa de “traíra”, não o peixe, mas os homens. 

A “trairagem” descabida vai de encontro a uma garantia constitucional aos que exercem o direito de bem informar a sociedade, insculpida no artigo da Carta Constitucional: “XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”. 

Como hoje o tempo passa numa velocidade bem maior, vejo que tudo me parece ao reverso do certo. Pois sou de um tempo em que Jornalistas, com “J” maiúsculo, protegiam suas fontes com o sacrifício da própria liberdade ou da própria vida. Foi pensando em pessoas com tal nível de caráter que se fez inserir tal dispositivo na Constituição Federal como cláusula pétrea ou seja que não pode ser alterada. 

É dizer, sob o império da Constituição da República nenhum jornalista é obrigado a revelar quem lhe deu essa ou aquela informação. 

Daí ser incompreensível a mim, pois vejo a desonra normalizada–, que jornalistas façam uso de expediente vil para obter informações e que faça uso das mesmas da forma que tenho visto. Assim como, ao meu sentir, é igualmente asqueroso que outros supostos jornalistas dêem guarida a isso ao invés de ficarem do lado da vítima. No caso em tela, das duas vítimas. 

Mas vejo muitos jornalistas, políticos, fazendo isso com tanto desassombro que imagino viver em um mundo paralelo, de conceitos invertidos. 

Antes, repito, Jornalistas morriam ou iam presos por defender suas fontes agora vemos pessoas se passando por jornalistas indo à polícia entregar seus equipamentos de trabalho e se orgulhando disso. 

Mesmo admitindo-se  como verdadeiro o conteúdo dos “prints” espalhados, tratou-se de uma conversa privada entre duas pessoas supostamente “amigas”, “mui amigas” embora do ponto de vista da biologia traíras consumam camarões, rãs, insetos e outros peixes. 

Em tese, as traíras “não aliviam” para ninguém. Logo, camarão parado é alvo fácil ou a maré leva. 

Ora, a conversa “não havida” entre duas pessoas e não manifesta publicamente em ambiente público ou através de veículos de comunicação, diz respeito unicamente aqueles dois participes. Se um dos dois resolvem tornar aquela conversa “não havida” publicamente, por mais grave que seja seu conteúdo, é ele que é o ofensor e, de uma “tacada” só, ofende dois, com quem dialogou e sobre quem se dialogou. 

Mesmo o “Vale tudo” da política, não deveria admitir que desconhecessem conceitos elementares de privacidade. pensaram no inferno que seria a vida sem a privacidade?

Não faz muito ouvi de um pastor, líder de uma denominação religiosa, que se viessem a público seus diálogos de WhatsApp com um determinado político “o mundo viria abaixo”. Por um momento fiquei a imaginar o um líder religioso conversaria com um político de “tão grave” a ponto do “mundo vir abaixo”. 

Faço tais considerações para assentar o quanto é ridículo essa “ópera-bufa” que tentam encenar na nossa decadente cena política brasileira, com dia sim, no outro também, alguém reverberando diálogos “não havidos” em caráter privado. 

Vejam, por mais graves que tenha sido o conteúdo dos “diálogos não havidos” os mesmos ocorreram em caráter pessoal entre duas pessoas e, repito, a suposta gravidade, em todos os aspectos, não são os tais diálogos em si, mas sim, a publicização dos mesmos e a sua exploração política, inclusive, por uma de suas supostas vítimas. 

O diálogo privado encontra-se no mesmo patamar: o que eu penso de você não lhe diz respeito a menos que eu os exponha publicamente. 

Nesse caso, o bem maior a ser considerado e protegido, inclusive por imperativo constitucional, é a intimidade e a vida privada das pessoas. 

Encerro dizendo que no dia em todas as conversas privadas forem reveladas o mundo acaba. 

Que libere sigilo total de todos seus diálogos os que discordarem. 

Abdon C. Marinho é advogado e cronista.