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Sar­ney & Dino: A volta dos que não foram.

Escrito por Abdon Mar­inho


SARNEY & DINO: A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM.

Por Abdon Marinho.

CON­HECIDO por suas análises políti­cas sem­pre apu­radas, o poeta, cro­nista, escritor, cineasta e ex-​deputado Joaquim Nagib Haickel escreveu uma com um título despre­ten­sioso: “Sobre 2022”. Lá fez diver­sos prognós­ti­cos sobre os pos­síveis cenários. Em um deles, jus­ta­mente a que cau­sou maior bur­bur­inho, assen­tou: “A mon­tagem de um cenário ainda maior, algo mais mon­u­men­tal, que resul­tasse em uma ampla coal­isão, que envolvesse tam­bém o grupo Sar­ney, o que sacra­men­taria de uma vez a eleição de todos, sem que muitas forças, políti­cas e finan­ceiras fos­sem despendi­das. Neste caso a vaga ao senado ser ofer­e­cida ao grupo Sar­ney, cabendo a Wev­er­ton aceitar indicar o suplente de senador e o vice-​governador”.

Deixando falar o cineasta, com­ple­tou: “Essa arquite­tura seria digna de um Oscar de mel­hor direção de arte”.

Pois bem, muito emb­ora con­corde com a assertiva de que tal arquite­tura mere­ce­ria gan­har a estat­ueta do Oscar de mel­hor direção de arte, cer­ta­mente haverão de con­vir, que a união Sar­ney & Dino, ou vice-​versa, pas­saria longe do Oscar de mel­hor roteiro original.

Quan­tas vezes, eu mesmo, que não sou ninguém, falei sobre isso? Quan­tas vezes não disse que o sonho de Dino é ser o can­didato a vice-​presidente na chapa de Lula e que isso pas­saria por uma artic­u­lação com o velho moru­bix­aba maran­hense? Quan­tas vezes não disse que Dino pode­ria se “col­i­gar” a Sar­ney até por bem menos que uma can­di­datura a vice-​presidente ou qual­quer outra coisa, desde que pudesse man­ter seu espaço de poder?

E olhem que mesmo min­has primeiras análises sobre tais pos­si­bil­i­dades, no texto “Sar­ney & Dino: o acordo que não ousa dizer o nome”, não eram orig­i­nais, mas, ape­nas fruto do que já teste­munhei na política maranhense.

Lem­bro que em agosto/​setembro de 2003, no primeiro ano do gov­erno Lula, uma “facção” petista “inven­tou” e ten­tou levar adi­ante a can­di­datura do então juiz Flávio Dino à prefeitura de São Luís. Até então o prazo de fil­i­ação e domicílio eleitoral eram de no mín­imo um ano antes do pleito. Dino, por ser juiz não pos­suía for­mal­mente fil­i­ação, pre­cis­aria sair da mag­i­s­tratura e filiar-​se a um par­tido, no caso o PT.

Con­forme noti­ciou na época o saudoso jor­nal­ista Wal­ter Rodrigues, o juiz Dino e o dep­utado Wash­ing­ton Luiz, que salvo engano, assumira como suplente, chegaram a vis­i­tar a então senadora Roseana Sar­ney, onde lhe dis­seram que não se “opo­riam” caso ela se fil­iasse ao Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT.

Em 2002, os Sar­ney, que romperam com os tucanos por conta da “Oper­ação Lunus”, apoiaram a can­di­datura de Lula e, em 2003, estavam man­dando e des­man­dado nos espaços políti­cos do gov­erno fed­eral no estado e, tam­bém, no Brasil.

O PT local, emb­ora no poder cen­tral, era como “peru novo”, ou seja, “comia na mão de Sar­ney”, e, pelo menos, uma das várias facções, não viam “nada demais” em fazer de Roseana Sar­ney uma “com­pan­heira”, ainda mais se isso servisse para pavi­men­tar o cam­inho de um “quadro raiz” do petismo, momen­tanea­mente investido na condição de juiz, no comando da prefeitura da cap­i­tal.

Acred­ito que a divul­gação da matéria no Col­unão de Wal­ter Rodrigues, com tais infor­mações, muito provavel­mente, vin­das de out­ras “facções” petis­tas, acabou “melando” aquela artic­u­lação e o então juiz acabou desistindo do seu intento de virar “político de mandato” naquela ocasião.

Na sem­ana seguinte à matéria, ao encon­tro e ao suposto “con­vite” para Roseana “virar” petista, vieram os des­men­ti­dos, da parte dos artic­u­ladores din­istas.

Como a política é “dinâmica”, dois anos depois, já em 2006, o gov­er­nador José Reinaldo “encantou-​se” por Dino e o fez dep­utado fed­eral, num esquema oposi­cionista ao grupo Sar­ney de quem ele fora “enam­orado” há, ape­nas, dois anos.

Anos depois, em ret­ribuição ao fato de Zé Reinaldo lhe ter feito “nascer” para a política com mandato e toda con­tribuição que deu até torná-​lo gov­er­nador, impediu de forma cruel que encer­rasse a car­reira política com senador, tra­bal­hando, incansavel­mente, para a eleição de Wev­er­ton Rocha e Eliziane Gama, em 2018, dois ali­a­dos de “primeira hora”.

Faço esse reg­istro histórico ape­nas para dizer que a artic­u­lação Dino & Sar­ney para a eleição estad­ual de 2022, até pode­ria, como pon­tif­i­cou o cineasta Joaquim Nagib Haickel, gan­har o Oscar de direção de arte, mas, jamais o de roteiro orig­i­nal, repito, con­forme rev­e­lado há quase vinte anos pelo jor­nal­ista Wal­ter Rodrigues.

E, antes mesmo de WR exercer com o bril­han­tismo seu mis­ter e rev­e­lar o que os pro­tag­o­nistas que­riam man­ter oculto, se voltar­mos a história um pouco mais, até o ano de 1984, na cam­panha pelas dire­tas já ou pela chapa Tancredo/​Sarney, lá encon­traremos o “líder estu­dan­til” Flávio Dino dividindo “palanque” com o então senador Sar­ney, ex-​presidente do PDS, par­tido de sus­ten­tação da ditadura, tam­bém afeito aquela pauta.

E, muito emb­ora isso seja ape­nas uma pil­héria, se voltar­mos um pouco mais no tempo, lá pelos anos setenta, encon­traremos o infante Flávio Dino, em alguma visita do seu pai, Sálvio Dino ou do avô, Nico­lau Dino, a Sar­ney, dizendo com seus botões ou em voz alta: — pai/​vô, quando eu crescer quero ser como o “tio” Sar­ney.

Mas isso é piada. Não levem a sério, por favor.

Então, ao meu sen­tir, essa con­jec­tura de Haickel a respeito de uma hipotética união dos gru­pos Dino & Sar­ney, nada mais é do que “a volta dos que não foram”.

Dino não desis­tiu do sonho de ser o can­didato a vice-​presidente na chapa com Lula e para isso, muito emb­ora o Maran­hão não rep­re­sente muita coisa no cenário político/​eleitoral brasileiro, pre­cisa con­tar com a valiosa amizade de Sar­ney com Lula.

Não sendo, ape­nas isso, sufi­ciente, tra­balha, incansavel­mente, noutras duas frentes: fusti­gar sem­pre que pode – e não falta motivos para isso –, o pres­i­dente Bol­sonaro, prin­ci­pal adver­sário de Lula, até agora; e atacar o ex-​juiz Sér­gio Moro, que filiou-​se a um par­tido político e, cer­ta­mente, dis­putará as próx­i­mas eleições.

Emb­ora, unindo-​se ao bol­sonar­ismo e ao petismo nos ataques a Moro, a investida con­tra o ex-​companheiro de toga, tem um cál­culo político próprio.

Dino, Ciro, e diver­sos out­ros, que gravi­tam em torno de uma ter­ceira via política para o país, sabem que o ex-​juiz Moro é o nome que ameaça os seus son­hos de chegarem algum dia à Presidên­cia da República.

Ainda que Moro não ultra­passe Bol­sonaro ou Lula para ir para o segundo turno das eleições de 2022 – quando gan­haria (assim como qual­quer outro) de qual­quer um deles –, será o nome mais forte para as eleições de 2026, quando dev­erá dis­putar com muito mais chances con­tra essa turma.

Esse é o o motor dos ataques de Ciro e, prin­ci­pal­mente, de Dino con­tra o ex-​juiz Sér­gio Moro.

Não temos notí­cias – exceto pelo fato do pai ter sido mem­bro de um par­tido –, de qual­quer ativi­dade político par­tidária de Moro até a recente fil­i­ação, bem difer­ente, do que se sabe de Dino, que antes, durante e depois da mag­i­s­tratura, sem­pre teve um, dig­amos, “enga­ja­mento” político e lig­ação próx­ima com par­tidos, tanto que, con­forme divul­gado, ampla­mente, na mídia cog­i­taram e “tra­bal­haram” por sua can­di­datura à prefeito da cap­i­tal em 2004, quando ainda era juiz. Con­forme rev­e­lam as noti­cias da época, isso não foi feito à sua rev­elia, ele sabia e até par­ticipou de reuniões neste sen­tido.

Lem­bro que quando saiu o suposto des­men­tido sobre as artic­u­lações com Roseana Sar­ney, assi­nado por Fran­cisco Gonçalves, um dos líderes do movi­mento “pró-​Dino prefeito” e atual secretário de alguma coisa no gov­erno Flávio Dino, dis­seram até que “era men­tira que Dino teria con­vi­dado Roseana para filiar-​se ao PT”, entre out­ras coisas.

WR, em resposta, assen­tou que a matéria jamais dis­sera tal coisa, até porque Dino não pos­suiria legit­im­i­dade para con­vi­dar quem quer que fosse para ingres­sar em um par­tido político.

Lem­bro que, inspi­rado como só ele, WR “destrin­chou” o des­men­tido e até deu “aula” de redação ao mis­sivista.

Pois é, aí quando vejo o ataque de Dino a Moro imputando-​lhe crime ou com­por­ta­mento incom­patível com a mag­i­s­tratura, o que me vem à lem­brança é o dito pop­u­lar “macaco olha o teu rabo” ou aquela velha lição do meu saudoso pai, anal­fa­beto por parte de pai, mãe e parteira, que ensi­nava: “— ah, meu filho, quem disso usa, disso cuida”.

Abdon Mar­inho é advogado.

Reflexões para o futuro.

Escrito por Abdon Mar­inho



REFLEXÕES PARA O FUTURO.

Por Abdon Marinho.

COS­TUMO DIZER que para começar­mos a enten­der o Brasil faz-​se necessário “olhar o quadro inteiro”, mais que isso, olhar para o pas­sado e para o pre­sente e intuir o que pre­ten­dem para o futuro.

Sem­ana pas­sada o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT “saudou” a eleição de Daniel Ortega, na Nicarágua, como a mais lídima man­i­fes­tação pop­u­lar, sobera­nia do povo sobre o “impe­ri­al­ismo”. Claro que depois da pés­sima recepção da man­i­fes­tação o par­tido lançou uma segunda nota dizendo que a nota ante­rior não fora sub­metida à direção par­tidária e que a posição do par­tido “é de defesa da autode­ter­mi­nação dos povos, con­tra inter­fer­ên­cia externa e respeito à democ­ra­cia, por parte de gov­erno e oposição”.

Ortega elegeu-​se para um quarto mandato con­sec­u­tivo tendo a esposa como vice-​presidente após pren­der sete adver­sários, mais de uma cen­tena de opos­i­tores em um arremedo de eleição mar­cada pela vio­lên­cia e pela pouca par­tic­i­pação pop­u­lar.

Em todo caso, não faria muita difer­ença se tivesse tido grande par­tic­i­pação pop­u­lar. Nas ditaduras, na maio­ria das vezes, o povo já foi de tal maneira alque­brado que até acha nor­mal o que lhe sucede, mesmo as pri­vações aos dire­itos mais ele­mentares.

O PT prati­ca­mente fez desa­pare­cer do seu site qual­quer refer­ên­cia ao processo eleitoral na Nicarágua, assim como, qual­quer notí­cia a respeito da ditadura venezue­lana, que já levou 95% da pop­u­lação a situ­ação de mis­éria; ou mesmo a Cuba ou a Cor­eia do Norte, out­ras ditaduras que sem­pre con­taram – e con­tam –, com o apoio e a sol­i­dariedade dos líderes petis­tas.

Esta sem­ana o sen­hor Bol­sonaro ini­ciou um périplo pelos países do mundo “onde se sente em casa”: as ditaduras mais repres­so­ras do Ori­ente Médio, lugar em que os gov­er­nantes tornaram-​se donos dos países, não admitindo qual­quer tipo de oposição, onde as mul­heres e as mino­rias não pos­suem quais­quer dire­itos e são tratadas como se fos­sem objeto e sujeitas a perderem a vida ao menor deslize.

Por detrás da opulên­cia dos seus mon­u­men­tais pré­dios e mesquitas existe uma história de opressão con­tra as mul­heres e mino­rias e inex­iste qual­quer espaço para dis­cordân­cia ou livre man­i­fes­tação de pen­sa­mento ou de opinião.

Claro, dirão os bol­sonar­is­tas, o pres­i­dente está falando e aper­tando as mãos de tais dita­dores no inter­esse do nosso país, fazendo negó­cios e trazendo divisas.

— “Ain”, Abdon é con­tra que se esta­beleça relações diplomáti­cas e comerciais?

Não é nada disso, até porque o sen­hor Bol­sonaro nunca teve esse tipo de pre­ocu­pação. Não estão, os gov­ernistas pre­ocu­pa­dos com as boas relações com­er­ci­ais no Ori­ente Médio.

Se estivessem pre­ocu­pa­dos com isso, com o comér­cio, com a solidez da nossa econo­mia, não teriam pas­sado dois anos “espez­in­hando” a China, prin­ci­pal par­ceira com­er­cial do Brasil.

E coloco o “espez­in­har” entre aspas – mil­hares delas –, porque o Brasil que pre­cisava (e pre­cisa) da China e não o con­trário – ainda mais naquele período de pan­demia incon­trolável.

Outra coisa, que história é essa (se for ver­dade) que o pres­i­dente e sua comi­tiva estão sendo “ban­ca­dos” por gov­er­nos estrangeiros? Viraram putas (com todo o respeito a essas profis­sion­ais)? Que relação com­er­cial é essa em que uma das maiores econo­mias do mundo aceita que o outro par­ceiro pague suas contas?

Logo, não se trata de acor­dos ou parce­rias com­er­ci­ais, mas, sim, afinidades “ide­ológ­i­cas”.

Algo bem semel­hante ao dis­curso petista da “grande man­i­fes­tação pop­u­lar e democrática” com que se referiu a “eleição na Nicarágua ou “autode­ter­mi­nação dos povos” quando se trata da defesa dos seus dita­dores de esti­mação.

Assi­s­tir Bol­sonaro e os seus embas­ba­ca­dos diante dos dita­dores do Ori­ente Médio não é muito difer­ente das solenidades “beija-​mão” pro­movi­das por Lula e os seus adu­ladores quando vis­i­tavam Fidel Cas­tro e/​ou mesmo, Hugo Chávez.

No que­sito amor a ditaduras, far­inha do mesmo saco.

Há quase vinte anos o petismo criou o men­salão, um mecan­ismo de com­pra de apoio par­la­men­tar, para fazer aprovar tudo que que­ria.

Por tal artifí­cio os par­la­mentares da “base” rece­biam um “extra” para apoiarem o gov­erno.

Os recur­sos ile­gais vin­ham de diver­sas fontes e irri­gavam as con­tas das excelên­cias.

Descoberto o esquema, mas já con­comi­tante a ele, cri­aram o “petrolão”, outro esquema de cor­rupção fun­dado na apro­pri­ação de empre­sas estatais – notada­mente a Petro­bras –, mas com ram­i­fi­cações noutros organ­is­mos estatais ou não como Banco Brasil, Caixa, BNDES, FNDE e tan­tos out­ros, lotea­dos entre os par­tidos para que dessem sus­ten­tação ao gov­erno.

A pat­uleia, por conta da Oper­ação Lava Jato e out­ras, acabou tomando con­hec­i­mento de uma pequena parte do muito que roubaram dos cofres públi­cos.

Quan­tias tão absur­das que tornou-​se comum o sub do sub do sub alguma coisa, em acor­dos de delação pre­mi­ada, oferecer-​se para devolver algo como cem mil­hões de dólares para não ser preso.

Além do PT, par­tido do pres­i­dente, quem tam­bém estavam na “linha de frente” dos escân­da­los de cor­rupção acima referi­dos, eram, entre out­ros, o PTB, de Roberto Jef­fer­son; o PP, de Ciro Nogueira e Arthur Lira; o PL, de Walde­mar da Costa Neto, futura “casa” do pres­i­dente; parte do DEM e do MDB, além de diver­sos out­ros.

São as mes­mas agremi­ações políti­cas, prati­ca­mente, as mes­mas pes­soas que deste os primeiros anos do petismo que “san­graram” a nação que con­tin­uam “dando as car­tas” na atual gestão.

Além de ocu­parem os mes­mos espaços políti­cos de antes – e se locu­pletarem como sem­pre –, na atual quadra política cri­aram uma nova modal­i­dade de cor­rupção o “bol­solão” que tam­bém atende pelo sin­gelo nome de “emenda do rela­tor”.

Quando “inven­taram” isso lá atrás disse que o Brasil cri­aram o par­la­men­tarismo irre­spon­sável, pois entre­garam uma parcela sig­ni­fica­tiva do orça­mento para ser admin­istrada pelo par­la­mento sem que hou­vesse qual­quer controle.

O tempo, sen­hor de tudo, com­prova que estava certo.

As emen­das de rela­tor ou “bol­solão” é ape­nas uma espé­cie de “neto” do velho men­salão dos primór­dios do petismo, que tem como propósito com­prar o apoio do par­la­mento para as medi­das do governo.

No que­sito ban­dalha, tudo como dantes no quar­tel de Abrantes.

Agora mesmo, quando o STF deter­mina que haja transparên­cia no empenho das tais “emen­das do rela­tor”, o Con­gresso Nacional reage, reclama de interferência.

Ora, ora, quer dizer que as excelên­cias, além dis­porem do orça­mento da união, ou seja do nosso din­heiro, não querem que saibamos para onde ele está indo? Ou será que não está indo? O que as excelên­cias querem ocul­tar? Por que o Con­gresso Nacional, quase todo, teme que se rev­ele quem foram (ou quem são) os ben­efi­ciários do bol­solão e para onde foram os bil­hões e bil­hões de reais que foram dis­tribuí­dos nos anos de 2019, 2020 e 2021? Quem da oposição rece­beu ou recebe mesada do gov­erno Bol­sonaro?

Nesta reflexão chamo atenção do leitor para a seguinte situ­ação: seja men­salão, seja petrolão, seja bol­solão, o “modus operandi” da turma que se encon­tra no poder é, com algu­mas vari­ações, o mesmo. E a vítima é sem­pre a nação.

O Brasil con­sti­tuiu uma casta per­dulária que fez – e con­tinua fazendo –, for­tuna a par­tir do pat­ri­mo­ni­al­ismo e da apro­pri­ação dos recur­sos públi­cos.

Acho engraçado quando ouço algum ingênuo (ou tolo) dizer que não existe cor­rupção no atual gov­erno, lem­bro sem­pre daquele velho bor­dão: sabe de nada, inocente.

Agora mesmo se diglad­iam em torno da tal PEC dos pre­catórios ou do calote – que tratare­mos em um texto especí­fico –, o dis­curso de quem a aprovou é que fiz­eram isso para per­mi­tir um bene­fí­cio de 400 reais para o “Auxílio Brasil”, o novo apelido da “Bolsa Família”.

Como nos tem­pos do gov­er­nos petis­tas usam os pobres e a neces­si­dades mais urgentes para escon­der os ver­dadeiros inter­esses.

No que­sito falta de orig­i­nal­i­dade, empate téc­nico.

Ninguém viu, por exem­plo, falarem que pode­riam elim­i­nar, neste e no próx­imo ano, as emen­das de rela­tor – que o pres­i­dente pode­ria ter vetado; ou que pode­riam sus­pender para as próx­i­mas eleições os recur­sos do fundo par­tidário ou fundo eleitoral; ou que pode­riam cor­tar pelo menos um terço das mor­do­mias e van­ta­gens que auferem.

Pois é, ninguém lem­bra disso, ninguém lem­bra que pode­riam encon­trar out­ras alter­na­ti­vas antes de apli­carem um calote em vel­hin­hos que, na sua maio­ria, esperam há uma vida para rece­berem o que lhes é dev­ido pela União.

Sabem por que fazem isso? A resposta é muito sim­ples: da verba do “calote” e do “furo de teto” tirarão um pedaço para si.

E assim cam­inha o Brasil rumo ao caos.

Cer­ta­mente não é isso que quer­e­mos para o futuro.

Abdon Mar­inho é advogado.

Meu tio viajou.

Escrito por Abdon Mar­inho


MEU TIO VIA­JOU.

Por Abdon Marinho.

PES­SOAL­MENTE só o con­heci quando fui tra­bal­har na Assem­bleia Leg­isla­tiva a par­tir de 1991. Eu, asses­sor do dep­utado Juarez Medeiros e ele um dos dep­uta­dos da oposição o que sem­pre nos per­mi­tia tro­car uma ou outra ideia.

Achava curiosa a história dos três Bened­i­tos, o primeiro, vereador por São Luís; o segundo, prefeito de Alto Ale­gre e o ter­ceiro, dep­utado estad­ual. Os fil­hos Rosário deten­tores de um humor inigualável.

E como sabiam de “cau­sos”; e como tin­ham histórias para con­tar.

Em 1994 por ocasião da eleição para o gov­erno do estado e tendo como can­didato o então senador Cafeteira, ficamos bem mais próx­i­mos. A cam­panha era coor­de­nada por um grupo muito pequeno, basi­ca­mente, eu, Chico Branco, Roberto de Paula, coman­dando o comitê; Ader­son Lago, Juarez Medeiros (can­didato a vice-​governador) e Bened­ito Ter­ceiro, tratando da parte política; o Dr. Laplace Pas­sos e João Ita­pary, cuidando do jurídico; Jesus Ita­pary cuidando do cofre vazio da cam­panha.

Lá, no comitê do Sítio Leal, que fora a casa de Cafeteira, e tinha, ainda, ares de residên­cia, quando não estavam pelo inte­rior fazendo cam­panha, está­va­mos tro­cando ideias e impressões políti­cas, con­tando piadas e rindo dos cau­sos. Ader­son mais “engen­heiro” focado na engen­haria da eleição; já Ter­ceiro, emb­ora, tam­bém, engen­heiro agrônomo, mais brin­cal­hão.

Como nos divertíamos naque­les bate-​papos.

Per­dida a eleição de 1994 e fin­d­ando os mandatos de dep­utado em março de 1995, pouco tempo depois a prefeita de São Luís, Con­ceição Andrade, con­vida para uma mis­são inglória: cuidar da limpeza da cap­i­tal, os ex-​deputados Juarez Medeiros, pres­i­dente da Col­iseu, Bened­ito Ter­ceiro, dire­tor administrativo-​financeiro e Car­los Guter­res, dire­tor téc­nico.

Juarez convidou-​nos para ir com ele para Col­iseu. Eu, para a Secretária-​Executiva e Roberto de Paula para a Asses­so­ria Jurídica.

Foram quase dois anos tra­bal­hando para “enx­u­gar gelo”. A empresa não tinha din­heiro para nada. Seu único cliente, a prefeitura, mal con­seguia man­dar os recur­sos sufi­cientes para pagar a folha de pes­soal, assim mesmo, só a folha líquida, não con­seguindo arcar, sequer, com os encar­gos prev­i­den­ciários e tra­bal­his­tas.

Foi um período de grande difi­cul­dade, mas que teve o extra­ordinário mérito de for­t­ale­cer os nos­sos laços de amizade.

Quando, em 1996, Juarez e Car­los Guter­res, saíram da empresa para out­ros desafios, Ter­ceiro assumiu a presidên­cia e eu o sub­sti­tui na Dire­to­ria Administrativa-​Financeira.

Foi no período em que está­va­mos pela Col­iseu que Ter­ceiro, um dia, começou a me chamar de “tio” – não sei se ainda era secretário-​executivo ou se já dire­tor.

O certo, é que pas­sou a referir-​se a mim, como “meu tio”. Era meu tio para cá, meu tio para lá. Para não ficar trás, tam­bém pas­sei a chamá-​lo de tio. Mais, não ape­nas eu pas­sei a chamá-​lo de tio, como tam­bém, os meus sócios, Wel­ger, Neto, Rodrigo, os fun­cionários do escritório. Pas­samos a chamar de tias, tam­bém, as meni­nas, Bethâ­nia e Verônica e a Darcy Ter­ceiro, a esposa. Todas “viraram” nos­sas tias e nós os seus tios.

Os ami­gos mais chega­dos a nós a eles se ref­erem como meus tios.

Assim, neste mais de um quarto de século tem sido assim: só nos refe­r­i­mos a Ter­ceiro e aos famil­iares como tios e tias e eles se ref­erem a nós, do escritório, da mesma forma.

Serviu mais ainda para essa aprox­i­mação o fato do nosso escritório ficar a poucos pas­sos do pré­dio onde resi­dem.

Quando diag­nos­ti­cado com o câncer, acred­ito que tenha sido uma das primeiras pes­soas a ser avisa­dos. Um dia a tia Verônica chegou e me falou dos “pon­tos” da doença no pul­mão.

Ter­ceiro sem­pre encarou a doença, como a tudo: com inco­mum altivez e bom humor. Nunca deixando trans­pare­cer a dor ou o sofri­mento que o afli­gia.

Era assim com tudo, repito.

Dos nos­sos tem­pos de diri­gentes da Col­iseu “her­damos” uma Ação de Impro­bidade Admin­is­tra­tiva, que “corre” há 23 anos – já fomos absolvi­dos uma vez, o MPE recor­reu, o TJMA disse não haver provas e man­dou que retor­nasse para nova instrução –, um assunto que já me inco­modou bas­tante, mas que hoje só me causa pesar.

Cito este episó­dio porque na audiên­cia de instrução fui parte e advo­gado no feito pre­si­dido pelo então juiz João San­tana e lá acon­te­ceu um fato que ainda hoje conto por onde passo.

Após ser ouvido, pas­sei a acom­pan­har o depoi­mento dos demais. Quando chegou a vez de Ter­ceiro ser ouvido, o juiz per­gun­tou: — o sen­hor tem con­hec­i­mento das acusações que lhe são feitas pelo Min­istério Público? Gostaria de ouvi-​las?

— Por favor, excelên­cia, leia-​as. Responde-​lhe Ter­ceiro.

Ato con­tin­uou o juiz pas­sou a lista-​las: — doação de uma urna funerária para um gari; paga­mento de uma ajuda de custo a outro; paga­mento do funeral de um famil­iar de um fun­cionário; doação de uma den­tadura a outro. E por aí foi.

Ter­ceiro sabia de tudo isso. A ideia de pedir para juiz lê as acusações era ape­nas para mostrar o quanto de injus­ti­fi­cado era o processo.

Neste domingo, 14/​11, a ape­nas 15 dias do seu aniver­sário, meu tio via­jou.

Recebi a notí­cia após cam­in­har pelo sítio e con­statar, como ser­tanejo, que estava “bonito para chover”, abri o celu­lar e vi a notí­cia.

Difer­ente do afir­mado ele não mor­reu, pes­soas como o meu tio não mor­rem.

Ele ape­nas pegou sua Harley-​Davidson e via­jou. E, de lá, de onde estiver, vai con­tin­uar olhando por nós.

Boa viagem, meu tio. Vai com Deus.

Do sobrinho, Abdon.