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O BOOK ROSA DO MARANHÃO.

Escrito por Abdon Mar­inho

O BOOK ROSA DO MARANHÃO.

Por Abdon Marinho.

DURANTE os anos de chumbo do régime comu­nista polonês era prática cor­riqueira daquela ditadura colo­car a polí­cia sec­reta e mesmo a osten­siva no encalço dos homos­sex­u­ais para doc­u­men­tar sua vida pri­vada e íntima e uti­lizar aquele mate­r­ial cole­tado pelo Estado como instru­mento de perseguição política, chan­ta­gens, achin­cal­hes e até tor­turas, prisões e mortes.

Eram os chama­dos “books rosas”, muitos dos quais foram local­iza­dos ou se encon­tram per­di­dos até hoje com o fim daquele régime.

Um filme em exibição no stream­ing Net­flix trata desse assunto: Entre Frestas.

Antes das agên­cias de mod­elo ou da Rede Globo pop­u­larizarem o nome a expressão book rosa era um instru­mento de perseguição a artis­tas e int­elec­tu­ais homos­sex­u­ais na Polô­nia comu­nista.

O ideól­ogo do comu­nismo, Karl Marx (18181883), na obra “Dezoito Brumário de Louis Bona­parte”, de 1852, cun­hou uma frase que restou imor­tal­izada até hoje: “A história se repete, a primeira vez como tragé­dia e a segunda como farsa”.

Suposta­mente – digo isso porque negado peremp­to­ri­a­mente pelos envolvi­dos –, e sem que ninguém se desse conta, a história dos “books rosas” do antigo régime comu­nista polonês e a frase do comu­nista Marx se encon­traram no nosso velho Maran­hão cansado de guerra, até bem pouco tempo coman­dado no núcleo do poder pelos “bolcheviques”, desta vez como farsa.

Como se recor­dam, o assunto mais comen­tado no final de sem­ana pas­sada em todas as “rodas” foi um suposto fla­grante de uma guarnição mil­i­tar em um dep­utado estad­ual que suposta­mente estaria prat­i­cando sexo oral em um rapaz, suposta­mente seu fun­cionário, em plena orla da cap­i­tal maran­hense.

Primeiro foi dis­tribuída uma not­inha anôn­ima de rede social nar­rando em tons pornográ­fi­cos o mila­gre, sem dec­li­nar o nome do santo. Lá con­tinha que durante abor­dagem de rotina o par­la­men­tar fora encon­trado – se não me falha a memória o termo uti­lizado foi fla­grado –, fazendo sexo oral no rapaz referido como sendo seu motorista e que na vis­to­ria do veículo foram encon­tra­dos din­heiro (três mil reais), uma pasta preta con­tendo doc­u­men­tos da ativi­dade par­la­men­tar, além alguns cig­a­r­ros de maconha (atribuí­dos ao suposto motorista) é um falo de bor­racha medindo 22cm.

Tendo aguçado a curiosi­dade geral da plateia, não tar­daram a espal­har as fotografias do dep­utado e de um rapaz, suposta­mente envolvi­dos no suposto episó­dio de “fla­grante” nar­rado na not­inha mali­ciosa ante­ri­or­mente divul­gada.

Muito emb­ora as fotografias não fos­sem do suposto episó­dio foi o que bas­tou para “incen­diar” ainda mais os comen­tários da pat­uleia afoita por escân­da­los.

Acho que somente no dia seguinte o dep­utado suposta­mente envolvido no suposto episó­dio denun­ciou que estaria sendo vítima de uma rede de “fake news” patroci­nada pelo gov­erno estad­ual por conta de sua ativi­dade par­la­men­tar e por ter denun­ci­ado supos­tos esque­mas de cor­rupção de inte­grantes do gov­erno, bem como, reafir­mando pública e desnec­es­sari­a­mente sua ori­en­tação sex­ual, neste ponto sendo con­tes­tado pela malta maledi­cente com a seguinte frase: “não se com­bate fake news com fake news”.

Pois bem, ami­gos, o pre­sente texto não trata do suposto episó­dio de cunho sex­ual, até porque sexo con­sen­sual envol­vendo adul­tos só se torna assunto de “inter­esse público” nas ditaduras mais tacan­has.

Se o fato tivesse acon­te­cido – ainda que faça alguma obser­vação quanto ao local, a con­tro­versa posse de dro­gas –, este seria um assunto estri­ta­mente pri­vado e não inter­es­saria a ninguém, ape­nas rev­e­lando a série de pre­con­ceitos ainda exis­tentes na nossa sociedade. Até porque, se fosse uma excelên­cia, nas mes­mas condições, “pegando” uma “gos­tosa” não seria noti­cia ou, se o fosse, seria para “fes­te­jar” a façanha e não para dene­grir os supos­tos envolvi­dos como fiz­eram com a exposição pública do dep­utado e do rapaz, violando-​lhes, clara­mente, princí­pios con­sti­tu­cionais con­ti­dos no artigo 5º da carta, como o dire­ito à intim­i­dade, a vida pri­vada e o dire­ito de imagem.

O que fiz­eram aque­les cidadãos – e me é indifer­ente se o fato ocor­reu ou não –, foi algo muito grave e que dev­e­ria resvalar em uma apu­ração com o obje­tivo de encon­trar, respon­s­abi­lizar e punir de forma ade­quada os envolvi­dos.

Igual­mente grave, para dizer o mín­imo, é o fato de um dep­utado estad­ual acusar o gov­erno de se encon­trar por trás de uma rede de “fake news” para intim­i­dar os adver­sários – e ou man­ter sob con­t­role os ali­a­dos, ainda mais fazendo uso de instru­men­tos como a espi­onagem da vida pri­vada das pes­soas para chan­ta­gens políti­cas.

Repare que no caso do dep­utado, con­forme ele próprio denun­ciou, cri­aram uma “nar­ra­tiva” com fatos inverídi­cos para o chan­tagear politi­ca­mente por con­tas da sua atu­ação parlamentar.

Ora, se são capazes de “criar” um fato inex­is­tente com propósito tão escu­sos o que os impediriam de uti­lizarem os instru­men­tos de espi­onagem para bis­bil­ho­tar a vida das pes­soas incluindo o que fazem – e com quem fazem –, nas alcovas?

Em sendo ver­dade o que foi denun­ci­ado, fatos “cri­a­dos” con­tra um dep­utado para chantageá-​lo e o achincalhá-​lo por conta de sua ativi­dade par­la­men­tar, talvez, seja ape­nas a ponta ice­berg de um escân­dalo político, ético e moral envol­vendo o gov­erno estad­ual atual­mente gov­er­nado por pes­soas que sem­pre se venderam como respeita­do­ras dos dire­itos humanos e das garan­tias con­sti­tu­cionais, pre­tendendo, o gov­er­nador, até torna-​se imor­tal da Acad­e­mia Maran­hense de Letras — AML.

A menos que a perseguição seja fruto da inveja, nunca se sabe.

O dep­utado expôs uma série de per­fis de redes soci­ais fal­sos que estariam por trás da dis­sem­i­nação de notí­cias fal­sas a seu respeito e apon­tando como sendo “patrono” de tais per­fis o gov­erno estad­ual.

Como a assertiva do dep­utado não é um pen­sa­mento iso­lado, pois não é de hoje que se ouve “à boca pequena” que os donatários do poder se uti­lizariam dos legí­ti­mos instru­men­tos de inves­ti­gação do Estado para con­struir dos­siês con­tra os cidadãos – adver­sários ou não –, bem como, não é hoje insin­uam que os mes­mos “donos do poder” pode­riam “acabar” com esse ou aquele adver­sário em “três tem­pos”, acred­ito que o episó­dio que víti­mou o dep­utado dev­e­ria ser mel­hor inves­ti­gado.

Muito emb­ora não acom­panhe o dia a dia do par­la­mento estad­ual, não tenho notí­cia de que solic­i­tado ou foi deter­mi­nada qual­quer inves­ti­gação par­la­men­tar com o propósito apu­rar se o dep­utado estad­ual, de fato, foi vítima de uma trama para impedir-​lhe de desem­pen­har com plena liber­dade o seu mandato, bem como, se con­forme denun­ciou, tal crime par­tiu do gov­erno estad­ual.

Repito, o que ocor­reu e o que foi denun­ci­ado são fatos graves e que desafiam uma inves­ti­gação séria e isenta.

Estran­hamente ouve-​se um estron­doso silên­cio na Assem­bleia Leg­isla­tiva, no Min­istério Público Estad­ual, na Polí­cia e na sociedade civil. Como se fosse nor­mal o que acon­te­ceu.

Não é aceitável que em pleno século XXI o Estado ainda se uti­lize de bis­bil­ho­tagem ou crie uma rede de fake news com o propósito de chan­ta­gens con­tra adver­sários ou ali­a­dos, muito menos ainda que tais “bis­bil­ho­ta­gens” recaíam, inclu­sive, sobre a vida íntima, pri­vada ou sex­ual dos cidadãos.

Infe­liz­mente, por covar­dia ou medo, não se ouvem cobranças mais enfáti­cas por inves­ti­gações sobre fatos tão graves, repito.

Para fechar o ciclo comu­nista no Maran­hão, que superou de “lavagem” os piores indi­cadores da antiga oli­gar­quia que reinou por quase meio século, só fal­tava ressus­citarem os “books rosas” da Polô­nia comu­nista.

Segundo dizem, não falta mais.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

HOBBES, LOCKE, ROUSSEAU E … BOLSONARO.

Escrito por Abdon Mar­inho

HOBBES, LOCKE, ROUSSEAU E … BOLSONARO.

Por Abdon Marinho.

O LEITOR que não tenha gazeado muitas aulas no ensino fun­da­men­tal deve ter ouvido falar dos três primeiros per­son­agens que nom­i­nam o título do pre­sente texto.

Com um pouco de sorte até devem lem­brar que se tratam de filó­so­fos “con­trat­u­al­is­tas” que voltaram seus estu­dos para explicar a relação entre os seres humanos e o Estado.

Tal relação, segundo estes filó­so­fos, rece­beu o nome de “con­trato social”, uma figura de lin­guagem para dizer que o homem e o Estado cel­e­braram tal “con­trato” para garan­tir a sobre­vivên­cia da sociedade.

Ainda segundo tais filó­so­fos o ser humano vivia no “Estado Nat­ural” e sem con­hecer qual­quer orga­ni­za­ção política.

Vivendo cada um por si, em estado nat­ural, o ser humano passa a se sen­tir amaçado, partindo daí a neces­si­dade de se pro­te­ger, bus­cando para isso algo ou alguém capaz de asse­gu­rar os seus dire­itos nat­u­rais.

Em tal con­texto de neces­si­dade o homem aceita abdicar da sua liber­dade indi­vid­ual, do dire­ito de fazer o que quiser e como quiser para submeter-​se às leis da sociedade e do Estado.

Já o Estado investido de tal poder se com­pro­m­ete em defender o homem, o bem comum e a criar as condições para que ele, respei­tando um con­junto de nor­mas, possa se desen­volver.

É a esta relação con­sti­tuída sem qual­quer norma escrita mas fir­mada nos primór­dios da sociedade que se denom­ina con­trato social.

Com pou­cas vari­ações, mas tendo como espinha dor­sal tais con­ceitos – os ingle­ses Thomas Hobbes (15881679), para quem os homens pre­cisavam de um Estado forte pois a sua ausên­cia resul­taria numa guerra con­stante; John Locke (16321702), segundo o qual o homem vivia num estado nat­ural onde não havia orga­ni­za­ção política, social, restringindo a assim a sua liber­dade impos­si­bil­i­tando o desen­volvi­mento da ciên­cia ou arte; e o francês Jean-​Jacque Rousseau (17121778), para quem o homem no estado nat­ural vivia em har­mo­nia e que o aparec­i­mento da pro­priedade pri­vada fomenta a desigual­dade social partindo daí a exigên­cia para o surg­i­mento do estado como garan­ti­dor das liber­dades e evi­tar o caos –, desen­volveram seus estu­dos e dedicaram a vida.

Estes con­ceitos são bási­cos e con­stam da grade cur­ric­u­lar do ensino fun­da­men­tal e que você encon­tra em qual­quer pesquisa que faça sobre o assunto inclu­sive com as mes­mas palavras.

Claro que muitas vezes o Estado (ou seus diri­gentes) exageram ou esque­cem os fun­da­men­tos bási­cos que o fez sur­gir: o bem comum e pro­teção dos seres humanos, e passa a oprimir os gov­er­na­dos.

Daí surgem as rev­oluções, as insur­reições e as des­ti­tu­ições dos gov­er­nantes estatais e/​ou a própria elim­i­nação física de tais gov­er­nantes.

Nas democ­ra­cias con­sol­i­dadas, onde as insti­tu­ições fun­cionam de forma ade­quada, há o respeito ao “con­trato social” fir­mado no surg­i­mento do sociedade.

Até onde lem­bro, estu­damos sobre tais con­ceitos, surg­i­mento do Estado e os filó­so­fos cita­dos acima nas aulas de Edu­cação Moral e Cívica.

Pois bem, trago tal assunto porque o quarto per­son­agem que nom­ina o texto – e um grupo de ali­a­dos seus –, difer­ente de nós, gazeou todas as aulas de Edu­cação Moral e Cívica e/​ou de Filosofia e não ape­nas acha estranho tais con­ceitos como acred­ita que o resto da humanidade que os for­mu­la­ram e procu­ram viver sob seus aus­pí­cios estão erra­dos.

Outro dia, como faz sem­pre que pode, sua excelên­cia deu mais uma prova que gazeou as aulas.

Pas­sando o feri­ado da padroeira do Brasil no litoral paulista ele reclamou que não pôde assi­s­tir ao jogo do San­tos no está­dio por não ter o pas­s­aporte da vacina, doc­u­mento exigido em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro para acesso a even­tos de grande porte. «Por que cartão, pas­s­aporte da vacina? Eu que­ria ver o jogo do San­tos. Agora me falaram que tem que estar vaci­nando. Por que isso? Eu tenho mais anti­cor­pos de que quem tomou a vacina», ques­tio­nou.

Essa “insur­reição” pres­i­den­cial – com­par­til­hada, inclu­sive, com as mes­mas palavras por seus seguidores –, é aprova que descon­hece os con­ceitos bási­cos do que seja o Estado.

Ele ignora que deste o estado orig­inário – e por conta disso o seu surg­i­mento –, nos­sos antepas­sa­dos acor­daram em abrir mão de parte de suas liber­dades indi­vid­u­ais, por exem­plo o dire­ito de não se vaci­nar, em nome do inter­esse cole­tivo.

Out­rora, registre-​se, não havia a opção de recusa, a vaci­nação era com­pul­sória.

Agora, o cidadão tem o “dire­ito” de recusar a vacina, em con­tra­partida o Estado adota medi­das restri­ti­vas à sua livre cir­cu­lação pelos ambi­entes onde sua pre­sença poderá causar algum dano à saúde dos demais – ou ape­nas para mostrar que deve cumprir uma norma ou ori­en­tação em nome do bem comum.

Essas medi­das nada têm com cercea­mento da liber­dade indi­vid­ual, mas sim, com a pro­teção do inter­esse cole­tivo.

E, como dito ante­ri­or­mente, con­sti­tui fun­da­mento essen­cial do “con­trato social” cel­e­brado entre os cidadãos e o Estado.

Pen­sar difer­ente, defender o império da liber­dade indi­vid­ual sobre o inter­esse cole­tivo, seria negar o sen­tido da existên­cia do Estado e defender o retorno ao “estado nat­ural” exis­tentes nos primór­dios da humanidade.

Ora, se não é líc­ito que o cidadão comum esclare­cido pregue a negação do Estado e o retorno do “estado nat­ural” em nome da “liber­dade indi­vid­ual”, menos líc­ito, ainda, que seja o próprio gov­er­nante a fazê-​lo.

Explico o motivo. Ao ser investido no cargo de gov­er­nante, pela con­fi­ança dos seus con­ci­dadãos, o indi­ví­duo deixa de ser um cidadão comum e passa a ser o respon­sável pelo bem comum, pela defesa do inter­esse cole­tivo. Em out­ras palavras passa a ser o “fiador” do “con­trato social” cel­e­brado entre o povo e o Estado.

Muito emb­ora aproveite todos os bônus do cargo, sua excelên­cia ignora os seus ônus, entre os quais o de ser fiador do con­trato social que coloca o inter­esse cole­tivo acima do inter­esse e da liber­dade indi­vid­ual, até mesmo da sua própria liber­dade.

Assim, o com­por­ta­mento do pres­i­dente em relação as vaci­nas – já que esta­mos falando disso –, dev­e­ria ter sido o oposto do que foi até aqui.

Ao invés de, sem qual­quer base, falar mal das vaci­nas – que a real­i­dade prova, é o que vem sal­vando vidas –, dev­e­ria ter sido o primeiro a ofer­e­cer o braço para ser vaci­nado, servindo de exem­plo para o povo que “admin­is­tra”, quando muito que aguardasse a sua vez.

Fez o con­trário disso, como assis­ti­mos e por último disse que não vai mesmo se vaci­nar.

Quer dizer que o Estado que dirige não é “fiador” do imu­nizante que com­prou e man­dou aplicar nos cidadãos? Quer dizer que a sua liber­dade indi­vid­ual é supe­rior ao inter­esse cole­tivo?

Uma outra prova que o pres­i­dente descon­hece o sen­tido da existên­cia do Estado é a defesa obses­siva que faz do direto do cidadão armar-​se para defender a sua liber­dade indi­vid­ual.

Ora, como vimos no iní­cio do texto o Estado surgiu jus­ta­mente para isso: pro­te­ger o cidadão e garan­tir a sua liber­dade.

Ao pre­gar em sen­tido diverso, o cidadão que é o fiador do Estado no cumpri­mento de sua mis­são, diz com out­ras palavras que Estado que dirige é inca­paz de cumprir a mis­são para o qual foi cri­ado daí a neces­si­dade do cidadão se armar e exercer a “lei do mais forte”, mais armado, numa espé­cie de retorno tar­dio ao “estado nat­ural” em era cada um por si.

No mesmo pas­seio sua excelên­cia pediu para não ser “abor­recido” com per­gun­tas sobre o número de víti­mas da COVID-​19 no dia em que atingi­mos a triste marca de 600 mil mor­tos.

Ora, a quem nos resta per­gun­tar sobre o número de mor­tos que não ao pres­i­dente?

Muito emb­ora não queira, “abor­rec­i­men­tos” como o número de mor­tos, a inflação, o preço dos ali­men­tos, dos com­bustíveis, a fome dos cidadãos e tan­tos out­ros, vieram “embu­ti­dos” no cargo, se não quer ser “abor­recido” que des­ocupe o posto.

Como os leitores podem perce­ber, ao “gazear” as aulas de Edu­cação Moral e Cívica e/​ou Filosofia, sua excelên­cia faz um mal tremendo ao Brasil.

O pior é que a ignorân­cia parece ser um mal con­ta­gioso.

Abdon Mar­inho é advogado.

O fra­casso da ger­ação Pirapora.

Escrito por Abdon Mar­inho

O FRA­CASSO DA GER­AÇÃO PIRAPORA.

Por Abdon Marinho.

O SÍTIO PIRA­PORA, no Bairro Santo Antônio, na cap­i­tal do estado ocupa um lugar espe­cial, na memória afe­tiva da minha juven­tude. Era lá, em mea­dos dos anos oitenta, na esteira da rede­moc­ra­ti­za­ção do país, que par­tidos políti­cos, movi­men­tos soci­ais, cidadãos comuns, estu­dantes e tan­tos out­ros ativis­tas se reu­niam para dis­cu­tir a traçar dire­trizes para o novo momento político e para o estado que gostaríamos de fazer e viver.

A área, que ante­ri­or­mente fora maior, ced­era espaços as con­stantes invasões, ficando, por fim, uma estru­tura menor, com espaços para reuniões, refeitórios, alo­ja­mento, esta­ciona­mento, etc., que a igreja católica alu­gava aos segui­men­tos descritos acima.

Os par­tidos e movi­men­tos soci­ais traziam suas lid­er­anças de quase todos os municí­pios do estado e lá se reu­niam para sem­i­nários e debates políti­cos. Eram opor­tu­nidades pre­ciosas para con­hecer­mos diver­sas pes­soas e a real­i­dade social de cada municí­pio maranhense.

Nos finais de sem­ana pro­lon­ga­dos aproveitá­va­mos ainda mais esses momen­tos de ale­gria, sobre­tudo, nos inter­va­los ou ao fim do dia, antes do recol­hi­mento noturno.

Foi no Sítio Pira­pora que, em 1994, em um con­gresso do Par­tido Social­ista Brasileiro — PSB, o então senador Cafeteira aceitou dis­putar as eleições daquele ano numa das mais mem­o­ráveis cam­pan­has que o estado assis­tiu.

Em diver­sos out­ros momen­tos impor­tantes para a história política do Maran­hão, antes e depois de 1994, em situ­ações e reuniões que par­ticipei, o Sítio Pira­pora teve lugar.

Depois, muitos daque­les que lá estiveram se “eli­ti­zaram”, mesmo os par­tidos ditos pop­u­lares e pas­saram a fazer seus encon­tros em hotéis ou out­ros lugares lux­u­osos.

O leitor mais aflito e impa­ciente já deve estar se per­gun­tando a razão de tanta nos­tal­gia.

Pois bem, essas rem­i­nis­cên­cias têm como propósito infor­mar que foi em uma reunião destas no velho Pira­pora que os atu­ais man­datários do estado, há cerca de 35 anos, fiz­eram a pre­visão que chegariam ao poder.

Já tratei aqui, em out­ros momen­tos da reunião no Sítio Pira­pora onde um grupo de jovens dis­cu­tiam a situ­ação política do estado, estraté­gias políti­cas, alianças, e como pode­ria ser o Maran­hão no pós domínio do grupo Sar­ney – para os pre­sentes a razão de toda mis­éria e sofri­mento do nosso povo.

Eu estava lá. Pode­ria dizer: meni­nos eu vi, como disse Gonçalves Dias em Y-​Juca Pirama, quando o atual gov­er­nador, um jovem estu­dante uni­ver­sitário pre­viu que um dia seria gov­er­nador do Maran­hão e como seria difer­ente a real­i­dade política e econômica do nosso povo quando aquele dia chegasse.

A pre­visão seria a real­iza­ção de um sonho e, como tal, aplaudi­mos e fes­te­jamos.

Por sendas tor­tu­osas eis que a pre­visão se con­sumou, a difer­ença é que já cam­in­hando para o fim do mandato, daqui a oito meses, se for dis­putar o Senado da República ou um ano e dois meses, se pre­tender ficar até o fim, aquilo que em 198687 do século pas­sado fes­te­jamos como sendo um sonho, visto com os olhos de hoje, era uma ameaça.

Aque­les jovens “mor­tos” de felizes ante a pos­si­bil­i­dade de alguém da nossa ger­ação chegar ao poder, está­va­mos, na ver­dade, sendo ameaça­dos com tal vati­cino.

O sen­hor Dino – e sua turma dos quais alguns estiveram pre­sentes naquela reunião –, chegou ao poder em janeiro de 2015, já se vão quase sete anos, e ressal­vado um avanço aqui ou ali, o que temos, infe­liz­mente é que, naquilo que é essen­cial para povo e que se propôs fazer: reti­rar o Maran­hão da rabeira do desen­volvi­mento social e econômico, não avançou “um palmo”, pelo con­trário, os dados do Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­cas — IBGE, rev­e­lam que no atual gov­erno as coisas pio­raram muito para o nosso povo.

Cabe obser­var que os dados cole­ta­dos pela Orga­ni­za­ção das Nações Unidas (ONU) e diver­sos out­ros organ­is­mos idô­neos cor­rob­o­ram com dados do IBGE.

Ape­nas para se ter uma ideia, nos primeiros cinco anos do atual gov­erno mais de 400 mil pes­soas foram lança­dos na faixa de extrema pobreza no nosso estado.

Para os que se pre­ocu­pam com o estado e seu povo é forçoso recon­hecer, infe­liz­mente, que com a pan­demia tal situ­ação agravou-​se bem mais. Temo pelo que sairá depois que todas as estatís­ti­cas fecharem depois que o gov­erno findar.

O IBGE aponta que ape­nas 34,6% das pes­soas com idade supe­rior a 14 anos pos­sui algum tra­balho for­mal; para se ter uma ideia esse per­centual rep­re­senta a metade do per­centual do Estado de Santa Cata­rina (68,6%) e é bem menor que o indi­cador de Rondô­nia (54,1%), ape­nas para citar dois esta­dos que pos­suem semel­hanças com o Maran­hão.

Por outro lado, na mesma faixa de idade, a taxa de des­ocu­pação é 13,9%, con­tra 6,2% de Santa Cata­rina e 8,1% de Rondô­nia.

Mas não é só, 31,4% dos maran­henses sofrem restrições de acesso à edu­cação – e olha que este é o setor “menina dos olhos” do gov­erno –, 5,4% à pro­teção social; 24,9% à condições de mora­dia; 82,1% a serviços de sanea­mento básico; 34,4% a comu­ni­cação; 15,5% dos lares não pos­sui um ban­heiro exclu­sivo para o domicílio; 34,9% não pos­sui doc­u­mento de pro­priedade do imóvel que reside; 16,6% são os anal­fa­betos com 34,3% pos­suindo ape­nas o fun­da­men­tal incom­pleto.

Depois de sete anos de gov­erno um estado que pos­sui esse nível de indi­cadores com­prova, infe­liz­mente, o fra­casso de um mod­elo de gestão.

Ao meu sen­tir os atu­ais donatários não tin­ham um plano para desen­volver o estado e não o con­struíram ao longo dos anos, preferindo a política rasteira do “deixa como estar para ver como é que fica”.

Por outro, para pare­cerem “bem na fita” pas­saram a desen­volver políti­cas com­pen­satórias e a enga­nar o povo com maciços inves­ti­men­tos na mídia e na dis­tribuição de esmo­las: ces­tas bási­cas, bolsa isso, bolsa aquilo, vale isso, vale aquilo, etc.

Não ques­tiono a importân­cia de se assi­s­tir as pes­soas em condições de vul­ner­a­bil­i­dade com tudo que pre­cisam, ainda mais em tem­pos tão difí­ceis. Não ques­tiono a importân­cia de um restau­rante pop­u­lar ou do vale-​gás, etc.

O ques­tiono é a falta de políti­cas públi­cas que desen­volvam o estado e retire as pes­soas das condições de vul­ner­a­bil­i­dades em que se encon­tram.

O estado mel­horou sub­stan­cial­mente sua arrecadação, recebe mais do que con­tribui com a arrecadação de trib­u­tos fed­erais, con­traiu diver­sos emprés­ti­mos e, ape­sar disso, aumen­tou o número de pes­soas em condições de vul­ner­a­bil­i­dade e depen­dentes das esmo­las do gov­erno, quase sem­pre uti­lizadas como moeda de troca por votos.

Mas essa não era uma das prin­ci­pais críti­cas ao grupo Sar­ney, man­ter as pes­soas mis­eráveis para se per­pet­u­arem no poder com a dis­tribuição de esmo­las?

Se no iní­cio do gov­erno tín­hamos a esper­ança – ou ilusão –, de que have­ria uma rup­tura com os mod­e­los arcaicos de gov­ernar, hoje, sete anos depois, esta­mos vendo qua não ape­nas man­tiveram com ampli­aram as vel­has práticas.

Não é sem razão que muitos dos ali­a­dos (ou ex-​aliados) do atual gov­er­nador que “enricaram” na política ao invés de respon­derem por desafi­arem toda leg­is­lação crim­i­nal do país – e algu­mas leis extrav­a­gantes –, ao invés de estarem pre­sos ou respon­dendo por seus deli­tos, estão per­cor­rendo o estado na busca de mais um mandato ele­tivo. E tem até os que pleit­eiam coman­dar o estado.

Em sete anos não tive­mos um gov­erno que bus­casse aproveitar as condições favoráveis do estado para desenvolvê-​lo – que são muitas e de todos con­heci­das –, ou, ao menos, fin­car as bases para o desen­volvi­mento.

O que temos é um estado muito mais pobre, com uma pop­u­lação de mis­eráveis que só aumenta e sem qual­quer per­spec­tiva de futuro e, pior, com alguns dos que pre­ten­dem governá-​lo, com um pron­tuário no lugar de uma biografia.

Como disse outro dia o maluco que dirige o país que os poupo de dizer o nome, “nada é tão ruim que não possa piorar”.

Esse é o o retrato do fra­casso da ger­ação Pira­pora. O fra­casso da nossa ger­ação. Tan­tos son­hos e tanto ide­al­ismo em vão.

Abdon Mar­inho é advogado.