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A sucessão estad­ual em tem­pos de Game Of Thrones.

Escrito por Abdon Mar­inho


A SUCESSÃO ESTAD­UAL EM TEM­POS DE GAME OF THRONES.

Por Abdon Marinho.

HAVIA deci­dido não me man­i­fes­tar sobre a sucessão estad­ual até ter­mos clareza da rup­tura na Casa Dino, atual­mente ocu­pando o Trono de Ferro dos Leões.

A minha opinião – já exter­nada out­ras vezes –, é que qual­quer análise política feita no momento em que todos os can­didatos emb­ora se “bicando” dizem fazer parte do mesmo grupo e com o ocu­pante do Palá­cio dos Leões “jogando” a decisão para o futuro é mero chute con­jec­tura, boato ou asses­so­ria de imprensa deste ou daquele candidato.

O grupo do atual gov­er­nador criou uma equação política em que difi­cil­mente perde a eleição se man­tiverem a unidade.

Há quem sur­gira até que o gov­er­nador pre­tende­ria aco­modar – como fez ao longo dos anos – os inter­esses de todos e lançar mão de um nome de sua extremada con­fi­ança para o gov­erno estad­ual.

Nesta leitura o nome seria do dep­utado fed­eral Már­cio Jerry, que atual­mente comanda uma sec­re­taria estad­ual.

E porque o sen­hor Jerry? Segundo esta mesma análise o sen­hor Dino é gov­er­nador na “cota de Jerry” e não ao con­trário e, na hora de decidir ele, Jerry, ten­de­ria a optar pelo próprio nome e não por outro do grupo.

Uma outra linha de raciocínio já aponta para o seguinte: o sen­hor Dino não con­seguindo con­cretizar o sonho de ser can­didato a vice-​presidente da República, sairia mesmo can­didato ao senado com Jerry de primeiro suplente; Brandão a gov­er­nador com atual secretário de edu­cação de vice-​governador, deixando em aberto a pos­si­bil­i­dade de, em 2026, o próprio Dino voltar ao gov­erno do estado ou deixar a dis­puta para o crustáceo.

A equação faz sen­tido uma vez que na even­tu­al­i­dade de uma vitória do Lula ou de outro nome de oposição, é quase certo que o sen­hor Dino vire min­istro (deixando o mandato de senador para o suplente) e tente se via­bi­lizar para ser can­didato a sucessão nacional na condição de can­didato a pres­i­dente ou a vice-​presidente.

No mundo que pediu a Deus, gan­hando ou per­dendo gan­haria, parafrase­ando a ex-​presidente Dilma Rouss­eff.

O certo é que o mesmo grupo se man­te­ria no poder no cenário estad­ual com Dino no papel de Vitorino/​Sarney no Senado e gov­erno estad­ual e até mesmo no Planalto ou Jaburu.

Estes seriam os cenários dos sonhos.

Ocorre que a equação de “poder per­pé­tuo” engen­drada pelo Casa Dino encontra-​se ameaçada por forças exter­nas e inter­nas podendo haver comunhão de inter­esses entre elas para tomarem o Trono de Ferro das mãos do sen­hor Dino.

Pois bem, de uns dias para cá pas­saram a sur­gir notí­cias na imprensa local (não sei se tam­bém na nacional) de que a “batata” de Dino/​Brandão estaria assando em fogo alto no Tri­bunal Supe­rior Eleitoral — TSE, por conta da chamada “farra dos capelães”, estrat­a­gema pela qual o gov­er­nador nomeou diver­sos pas­tores e padres para ocu­parem car­gos públi­cos de capelão no sis­tema de segu­rança e pri­sional.

Me ocu­pei do assunto em 5 de maio de 2018 no texto “Em nome de Deus — A polêmica das capelanias”.

Não tratarei – não neste momento –, do processo em si, até porque não con­heço sua instrução e trami­tação, mas das suas con­se­quên­cias caso tenha um efeito des­fa­vorável ao atual gov­er­nador e seu vice.

Recor­dando os meus tem­pos de leitor assí­duo dos livros de mis­térios de Agatha Christie e Sir Conan Doyle, a primeira coisa a me per­gun­tar é: “a quem aproveita o crime?”

Trans­portando tal inda­gação para a real­i­dade da política local, a per­gunta seria: “quem seriam os ben­efi­ciários dire­tos e indi­re­tos de um resul­tado des­fa­vorável para a chapa Dino/​Brandão no TSE?” Ou, noutras palavras, quem aproveitaria o crime?

Se fosse a minha batata que estivesse assando teria a resposta em três letras: W, O, C. W de Wev­er­ton; O de Oth­e­lino e C de Cutrim.

Não estou dizendo que estas pes­soas estão “cavando” um resul­tado des­fa­vorável a Casa Dino/​Brandão no TSE muito emb­ora pos­suam poder e “estru­tura” para isso e muito mais –, ape­nas que em caso de “des­graça” dos atu­ais coman­dantes do estado, serão eles que estarão no mundo que pedi­ram a Deus.

Ape­nas para servir de alerta, meu saudoso pai cos­tu­mava dizer que “no Maran­hão o que din­heiro ou “taca” não resolver é porque foi pouca”, já para Brasília existe um outro adá­gio: “Brasília é como um mer­cado persa, tudo pode se vender e se com­prar bas­tando ajus­tar o preço”.

Sem Dino/​Brandão no páreo, cas­sa­dos e inelegíveis por oito anos, o senador Wev­er­ton pode­ria voltar a son­har com o gov­erno estad­ual e consolidar-​se como um dos man­datários do estado.

O dep­utado estad­ual Oth­e­lino assumiria o gov­erno interi­na­mente, mar­caria eleições indi­re­tas e, muito provavel­mente, seria eleito para tirar o restante do mandato, podendo, até mesmo, ser can­didato a reeleição, com o com­pro­misso de apoiar o senador pede­tista em 2026.

O dep­utado Cutrim assumiria à presidên­cia da Assem­bleia Leg­isla­tiva, aumen­tando as chances de ser reeleito dep­utado estad­ual e con­se­quente­mente, pres­i­dente da casa novamente.

Uma outra “van­tagem” para o atual pres­i­dente da Assem­bleia numa situ­ação des­fa­vorável a Dino/​Brandão, ela chegando o quanto antes é que ele próprio se livraria do processo das suces­si­vas reeleições para o comando da Casa de Bequimão, que em situ­ações semel­hantes envol­vendo out­ros esta­dos, o Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, anulou.

Tais per­spec­ti­vas seriam motivos sufi­cientes para suas casas tra­marem con­tra a Casa Dino/​Brandão na corte Brasiliense?

Não tenho a resposta. Talvez sim, talvez não; talvez só aguar­dem o desen­ro­lar dos fatos. Mas, cer­ta­mente, não irão chorar de tris­teza se a Casa Dino/​Brandão cair.

Como os ami­gos pud­eram perce­ber, é den­tro do grupo gov­ernista, tanto nas equações ini­ci­ais, com o gov­er­nador e o vice-​governador voando em “céu de brigadeiro”, quanto na equação em que os mes­mos per­son­agens habitam “Inferno de Dante”, o espaço para comunhão entre os dois gru­pos, é pouco, estre­ito ou nen­hum.

São pro­je­tos e inter­esses políti­cos que se excluem, na ver­dade um casa­mento de con­veniên­cia.

Con­forme temos con­statado, nos últi­mos tem­pos as casas Wev­er­ton, Oth­e­lino e Cutrim, que co-​habitam a Casa Dino pelos benesses do trono de ferro, têm tra­bal­hado em per­feita har­mo­nia.

Isso ficou mais patente quando nas eleições munic­i­pais do ano pas­sado “desertaram-​se” jun­tos, cor­rendo léguas do can­didato dos Leões e quando o dep­utado fed­eral Gil Cutrim deixou o PDT, sem ser molestado por ninguém, pelo con­trário, com juras de amor eterno.

Den­tro do grupo gov­ernista, não pre­vendo uma des­graça mas se preparando para a even­tu­al­i­dade da mesma ocor­rer, dois out­ros can­didatos já se colo­cam como pos­síveis “herdeiros” do trono de ferro: o secretário Sim­p­li­cio Araújo, pelo Par­tido Sol­i­dariedade, e o secretário Camarão, pelo Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT.

Resta saber, com Dino fora do jogo, quem ele iria apoiar e que força teria numa situ­ação de adver­si­dade. Agravando-​se tal situ­ação em relação ao crustáceo por conta dos inter­esses par­tidários do par­tido que escol­heu para filiar-​se (PT).

Sem Dino/​Brandão no páreo out­ras casas tam­bém entram na guerra pelo trono de ferro.

A Casa Sar­ney poderá vir com ex-​governadora Roseana ao gov­erno, uma vez que aparece muito bem na “fita” ou mesmo numa aliança com a Casa Holanda, com o ex-​prefeito Edi­valdo Holanda como can­didato ao gov­erno e ela (Roseana), can­di­data ao senado.

Aqui cabe um parên­te­ses para reg­is­trar que é sur­preen­dente a per­for­mance do ex-​prefeito de São Luís no cenário político estad­ual e com o grande poten­cial de cresci­mento, caso não seja abatido por algum infortúnio rela­cionado a sua gestão frente à prefeitura da cap­i­tal. Reg­is­trando que ele sem­pre teve uma imagem muito mel­hor que a própria gestão. Mesmo as pes­soas dizendo que a admin­is­tração dele era ine­fi­ciente, incom­pe­tente e por vezes até cor­rupta, sem­pre o preser­varam dos desac­er­tos e bandalhas.

Assim, não será sur­presa se ele chegar a con­quis­tar o trono de ferro para a Casa Holanda.

Outra casa que tam­bém pode mel­ho­rar de per­for­mance caso ocorra o infortúnio da Casa Dino/​Brandão é a Casa Rocha, senador Roberto Rocha.

Com Dino fora do páreo e com um deserto de can­didatos ao Senado Fed­eral ele poderá ter uma votação muito acima do cenário que tem hoje.

Como podemos perce­ber são muitos os inter­esses em jogo em torno do trono de ferro e muitas casas com muito a gan­har no caso de conquista-​lo.

Na política dizia o pai de um amigo meu basta um acon­tec­i­mento para mudar toda uma tra­jetória.

Em Game Of Thrones é assim.

Aguar­dem os próx­i­mos episó­dios.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

TOME TENTO, BOLSONARO!

Escrito por Abdon Mar­inho

Ditadura Militar no Brasil: O Que Você Precisa Saber Para o Enem?

TOME TENTO, BOLSONARO!

Por Abdon Marinho.

DESDE O ANO pas­sado que o pres­i­dente da República, sen­hor Bol­sonaro, vem batendo o “pez­inho” para dizer que se as eleições do próx­imo ano não forem como ele quer “não vai ter eleição”.

Sabe-​se, até, que o Gal. Braga Netto, min­istro da defesa, andou man­dando “reca­dos” ao Con­gresso Nacional no sen­tido ten­tar influ­en­ciar suas decisões a respeito daquela pau­tar pres­i­den­cial.

Isso sem con­tar que nos dias que se seguiram, lá estava ele, um gen­eral – ainda que aposen­tado –, no comando de toda a tropa mil­i­tar, passe­ando de moto com o pres­i­dente como se fosse “um chaveir­inho” daquela autoridade.

Algo tão patético e con­strange­dor que dev­e­ria causar a repulsa das pes­soas comuns mais, sobre­tudo, das tropas.

Pois bem, como dizíamos, o pres­i­dente, sem­pre que pode, ameaça a nor­mal­i­dade democrática do país, a última foi no domingo 1º de agosto: “Vocês estão aí, além de cla­mar pela garan­tia da nossa liber­dade, bus­cando uma maneira que ten­hamos eleições limpas e democráti­cas no ano que vem. Sem eleições limpas e democráti­cas, não haverá eleição. Nós que exigi­mos. Pode ter certeza. Vocês são de fato o meu Exército, o nosso Exército, para que a von­tade pop­u­lar seja expressa na con­tagem pública dos votos”, disse o pres­i­dente em uma gravação feita do Palá­cio da Alvorada.

As colo­cações do pres­i­dente da República são sérias por dois motivos e encerra uma contradição:

Primeiro, que se não está falando sério, e por isso ninguém trata com importân­cia que dev­e­ria ter, reforça a imagem que a autori­dade máx­ima da República não passa de um pân­dego a quem as pes­soas tratam como um pequi roído.

Segundo, que se está falando a ver­dade é porque encontra-​se em curso um golpe mil­i­tar a colo­car em risco todas as con­quis­tas que tive­mos até aqui.

A con­tradição: ninguém pode falar em liber­dade e ao mesmo tempo ameaçar a real­iza­ção de eleições.

O pres­i­dente da República – ou quem quer que seja –, não pode dizer “não vai ter eleições” ou condiciona-​las ao seu pen­sa­mento.

Como não vai ter eleição?

As eleições do país encontram-​se mar­cadas para ocor­rerem reg­u­la­mente desde a pro­mul­gação da Con­sti­tu­ição Fed­eral, em 5 de out­ubro de 1988, na redação orig­i­nal do artigo 77, con­stava que as eleições ocor­re­riam, três meses antes do tér­mino dos mandatos.

A par­tir da Emenda Con­sti­tu­cional nº. 16, de 1997, ficou esta­b­ele­cido:

Art. 77. A eleição do Pres­i­dente e do Vice-​Presidente da República realizar-​se-​á, simul­tane­a­mente, no primeiro domingo de out­ubro, em primeiro turno, e no último domingo de out­ubro, em segundo turno, se hou­ver, do ano ante­rior ao do tér­mino do mandato pres­i­den­cial vigente”.

Vou além, mesmo durante a ditadura a peri­od­i­ci­dade das eleições foi algo que a Con­sti­tu­ição Fed­eral con­sagrou e, muito emb­ora, a eleição ocor­resse através do Colé­gio Eleitoral e com os eleitos pre­vi­a­mente escol­hi­dos, nen­hum dos generais/​presidentes ousaram ques­tionar a reg­u­lar­i­dade dos pleitos.

Cada um cumpriu o seu mandato – que era único –, e foi para casa colo­car seu pijama.

A Con­sti­tu­ição de 1967, por coin­cidên­cia, igual­mente no artigo 77, esta­b­ele­cia:

Art 77 — O Colé­gio Eleitoral reunir-​se-​á na sede. do Con­gresso Nacional, a 15 de janeiro do ano em que se findar o mandato presidencial.

§ 1º — Será con­sid­er­ado eleito Pres­i­dente o can­didato que, reg­istrado por Par­tido Político, obtiver maio­ria abso­luta de votos do Colé­gio Eleitoral.

§ 2º — Se não for obtida maio­ria abso­luta na primeira votação, repetir-​se-​ão os escrutínios, e a eleição dar-​se-​á, no ter­ceiro, por maio­ria simples.

§ 3º — O mandato do Pres­i­dente da República é de qua­tro anos”.

Vejam os sen­hores que o pres­i­dente, talvez envaide­cido ou insu­flado por algum “sol­dad­inho de chumbo” fala como se pre­tendesse inau­gu­rar um mod­elo de ditadura que nem a ditadura mil­i­tar brasileira nos seus vinte e um anos de triste memória, ousou.

Quando diz – e já o fez mais uma vez –, ou faz do jeito que quer ou não terá eleição ano que vem, seria opor­tuno que as insti­tu­ições o inti­masse a dizer o que pretende.

Uma coisa é ele e seus seguidores irem às ruas pedindo para os votos serem impres­sos, nada con­tra, é um dire­ito de cada um pedir o que quiser.

Bem difer­ente é arvorar-​se do ridículo papel de dita­dor e dizer que se não tiver o voto impresso não ter­e­mos eleições.

Quem foi que lhe deu autori­dade para dizer isso? Quem pensa que é?

Ele con­fia no quê ou em quem para propalar esse tipo de bravata?

Vai colo­car as tropas nas ruas para impedir as eleições?

Fechar o Con­gresso Nacional e os tribunais?

Nomear gov­er­nadores, senadores, dep­uta­dos fed­erais e estad­u­ais? Vai “fechar” tudo e con­cen­trar o poder Brasília com a família e apanigua­dos? Ou será que vai nomear mil­itares para admin­is­trarem os esta­dos e fun­cionarem como juízes, desem­bar­gadores e ministros?

É opor­tuno esse tipo de inda­gação porque os mandatos, nos ter­mos da Con­sti­tu­ição Fed­eral, têm data certa para encer­rarem, 31 de dezem­bro de 2022.

O que virá depois disso se o pres­i­dente diz que não ter­e­mos eleições ano que vem?

Assis­ti­mos a essa série de despautérios com ares de falsa normalidade.

Lem­bro que quando fomos às ruas, em 1984, pedindo dire­tas já e per­der­mos no Con­gresso Nacional com a rejeição da Emenda Dante de Oliveira, volta­mos para chorar em casa e nos preparar­mos para a dis­puta no Colé­gio Eleitoral.

Quem quer dis­putar ou respeita as regras esta­b­ele­ci­das ou sai do jogo.

O que não pode é o pres­i­dente da República e seus ali­a­dos pres­sion­arem o Con­gresso Nacional – o que é legí­timo –, e diz­erem que se não fiz­erem como querem não ter­e­mos eleições – o que é ilegítimo.

O que me per­gunto é se enlouqueceram.

Aliás, antes disso, me per­gunto se as pes­soas que foram às ruas pedi­rem voto impresso tam­bém estão asso­ci­adas ao pro­jeto golpista de “não ter eleições” na hipótese do Con­gresso Nacional, como está pare­cendo, vetar a proposta.

Vão pegar em armas con­tra as eleições mar­cadas desde 1988?

Fico aqui pen­sando se esse povo, de fato, sabe o que é um golpe.

Será os nos­sos mil­itares – cuja maio­ria nunca deu um tiro –, sabem o que sig­nifica sub­me­ter mil­hões de brasileiros a um golpe ou pen­sam que não haverá reação interna e/​ou internacional?

Vão pren­der os que se rebe­larem con­tra o golpe onde? Em cam­pos de con­cen­tração na Amazô­nia? Ou vão abrir fogo e matar os mil­hões que forem às ruas protestarem?

É guerra civil que querem?

Assim, como dizia no gov­erno de Dilma Rouss­eff não saber o que aquele povo tomava no café da manhã, no caso atual gov­erno tenho quase certeza que a alfafa é bati­zada.

Só isso para jus­ti­ficar essa sucessão de bra­vatas, essas maluquices sem sentido.

Noutra quadra, o Con­gresso Nacional, diante das declar­ações do pres­i­dente, já dev­e­ria pas­sar os olhos pelo artigo 85 da Constituição.

Por alto, iden­ti­fico, pelo menos, três Crimes de Respon­s­abil­i­dade do gov­er­nante, vejamos:

Art. 85. São crimes de respon­s­abil­i­dade os atos do Pres­i­dente da República que aten­tem con­tra a Con­sti­tu­ição Fed­eral e, espe­cial­mente, contra:

….

II — o livre exer­cí­cio do Poder Leg­isla­tivo, do Poder Judi­ciário, do Min­istério Público e dos Poderes con­sti­tu­cionais das unidades da Fed­er­ação;

III — o exer­cí­cio dos dire­itos políti­cos, indi­vid­u­ais e sociais;

IV — a segu­rança interna do País;

Comete crime ao ten­tar impedir o livre exer­cí­cio do Poder Leg­isla­tivo e dos poderes con­sti­tu­cionais das UF, con­forme “reca­dos” do min­istro da defesa ao pres­i­dente da Câmara dos Deputados.

Atenta con­tra o o exer­cí­cio dos dire­itos políti­cos dos cidadãos, notada­mente o dire­ito de votarem e serem votados.

E, por último, a segu­rança interna do país, uma vez que o “golpe” que anun­cia levará o país a uma guerra civil.

O Brasil pas­sou vinte um anos sob um régime dita­to­r­ial, sem liber­dade para escol­her dire­ta­mente seus gov­er­nantes e, a par­tir de 1985, com a rede­moc­ra­ti­za­ção do país pas­samos a escol­her os nos­sos pres­i­dentes, o que faze­mos desde 1989, agora nos aparece um “bra­vateiro” para dizer que ou fazem do jeito que ele quer ou não terá eleição.

Ora, quem ele pensa que é para querer usurpar uma con­quista que nos foi tão cus­tosa?

Como diria meu pai, tome tento, Bolsonaro!

Abdon Mar­inho é advo­gado.

DE ÁPIO CLÁU­DIO CEGO PARA FLÁVIO DINO

Escrito por Abdon Mar­inho


DE ÁPIO CLÁU­DIO CEGO PARA FLÁVIO DINO.

Por Abdon Marinho.

Meu caro Flávio Dino,

É muito provável que tu nunca ten­has ouvido falar de mim ou, se ouviu, muito provavel­mente destes pouca ou nen­huma importân­cia. Não faz mal.

Permita-​me uma breve apresentação.

Fui um político romano da gente Cláu­dia que viveu entre os anos 340273 a.C., na minha car­reira pas­sei por quase todos car­gos públi­cos mil­itares de Roma, ape­nas para se ter ideia, fui côn­sul por duas vezes, e, antes mesmo de ser côn­sul, fui eleito cen­sor, o que não era algo usual.

Se ainda assim não lem­brares quem fui, informo que as min­has obras ainda se encon­tram à vista de todos.

Ainda como cen­sor con­struí o primeiro aque­duto de Roma, fazendo a água subir e descer mon­tan­has e col­i­nas para aten­der as neces­si­dades dos meus con­ci­dadãos, o chamado “Água Ápia”.

Uma outra obra muito impor­tante, ainda dos meus tem­pos como cen­sor, foi a Via Ápia, que leva esse nome em minha hom­e­nagem, o mesmo ocor­rendo com o aque­duto.

O Appia que car­regam é uma refer­ên­cia ao meu nome.

A razão desta mis­siva é jus­ta­mente essa segunda obra, a Via Ápia, que ainda hoje serve de cam­inho em Roma e nos seus arredores. Aliás, segundo soube, muitos dos seus patrí­cios a uti­lizam com final­i­dades menos edificantes.

Foi con­struída ini­cial­mente para ligar Roma a Cápua, numa dis­tân­cia de 300 km, depois esten­dida por mais 300 km, até Brin­disi, no cal­can­har do que hoje é a Itália.

Como podes perce­ber uma obra que fiz a quase 2.400 anos ainda hoje se encon­tra em uso, servindo ao povo ou com qual­quer outra ser­ven­tia, ainda que turís­tica.

Recen­te­mente foi descoberta uma outra rodovia romana feita por um outro patrí­cio meu nos pân­tanos exis­tentes nos arredores de Veneza, com a mesma idade e que per­manece intacta e/​ou muito bem con­ser­vada para idade que tem.

Assim escrevo-​te por sen­tir um certo con­strang­i­mento, uma certa “ver­gonha alheia” ao con­statar a qual­i­dade das obras de engen­haria que real­izas no paupér­rimo Estado do Maran­hão, no igual­mente pobre Brasil, a despeito do tempo, recur­sos, maquinários e da própria evolução da engen­haria nestes dois milênios e meio.

Veja, enquanto as obras públi­cas que real­izei há quase 2.400 anos ainda estão “de pé”, ainda pos­suem util­i­dade social, as obras públi­cas que empreen­des, notada­mente as estradas, tão impor­tantes para levar o pro­gresso e con­duzir as riquezas do estado, já care­cem de reparos antes mesmo da inau­gu­ração.

Quando alguém me conta por aqui que uma obra que real­izas pre­cisa ser refeita antes da inau­gu­ração, con­fesso que fico “roxo” de ver­gonha.

Um dos exem­p­los mais bison­hos do que falo é a antiga Estrada da Raposa.

Desde que assum­istes o mandato que tra­bal­has lá, trata-​se de uma obra infe­rior a cinco quilômet­ros, con­sumindo a quase oito anos de recur­sos públi­cos e de paciên­cia dos cidadãos.

E agora, que infor­mam encontrar-​se a obra na “reta final” para inau­gu­ração, o que mais se vê são máquinas e homens tra­bal­hando para repara-​la e, devo dizer, fazendo um serviço “meia-​boca”, tapando um buraco e deixando outro em vias de abrir para ser tapado no dia, na sem­ana ou no mês seguinte.

O certo é que a obra que já con­sumiu quase dois mandatos con­sec­u­tivos teus e que é minús­cula, não é obra de dois inver­nos. Ou seja, se antes da inau­gu­ração já reclama reparos, não terá vida útil alguma, será uma obra para irri­tar os cidadãos por muitos e muitos anos.

O mesmo acon­tece no Maran­hão inteiro.

Se tu pegares a rodovia MA entre o Povoado Cujupe e o Municí­pio de Gov­er­nador Nunes Freire, o seu mandato inteiro se encon­tra em reparos e esse tempo todo com bura­cos dan­i­f­i­cando os veícu­los dos cidadãos.

Veja um outro exem­plo: a MA 006, que vai de Apicum-​Açu, no extremo norte do estado a Alto Par­naíba, no extremo sul, durante a sua primeira cam­panha vito­riosa ao gov­erno prom­e­teste que faria dela a rodovia da inte­gração do Maran­hão. Nunca fez nada do que prom­e­teu e essa é uma estrada que padece dos mes­mos defeitos de todas as out­ras, con­strução defeitu­osa, reparos mal feitos e a eterna manutenção.

O desas­tre é o mesmo em todas as obras sob a tua respon­s­abil­i­dade, qual­quer uma que escol­heres no estado, mesmo as que abril­han­tam os com­er­ci­ais de tele­visão são mal feitas e recla­mam reparos.

É con­strange­dor, a menos que sejam feitas com tal intenção.

Em con­ver­sas por aqui fiquei sabendo que essa é uma “nova” modal­i­dade de desvio de recur­sos públi­cos.

As obras são mal feitas de propósito, para ficarem “eter­na­mente” neces­si­tando de reparos e inves­ti­men­tos. Têm até um nome pouco edi­f­i­cante, dizem que são as “obras de morder”, pois todos mor­dem um pedaço do recurso.

É algo que custo a acred­i­tar. Não é crível que enquanto fiz obras para durarem milênios – estão aí para com­pro­var –, agora se façam obras “para não durarem”.

E olha que nunca fomos “puros” em Roma. O termo cor­rupção, aliás, tem origem no latim corruptĭo.

Ainda assim não é aceitável que as obras públi­cas que con­stróis, com recur­sos do endi­vi­da­mento do estado e que dev­e­riam ser um fato de desen­volvi­mento econômico para povo, só lhes tragam mais empo­brec­i­mento e mis­éria.

Dizem que quando cen­sor e côn­sul endi­videi e me des­fiz de ter­ras romanas para con­struir as obras que real­izei, mas elas, difer­entes das que tu dizes con­struir pegando din­heiro emprestado jamais trarão maior ser­ven­tia que o dano que causa aos cofres públi­cos.

Agora mesmo soube que pedistes autor­iza­ção para con­trair mais um endi­vi­da­mento com o argu­mento de inve­stir em infraestru­tura.

Soube que o valor dos juros que o estado pagarás é até mesmo supe­rior ao mon­tante do emprés­timo. Muito emb­ora pouco usual que o acessório seja supe­rior ao prin­ci­pal, seria aceitável – ainda que ques­tionável –, se obras públi­cas con­struí­das com tais recur­sos “se pagassem”, o que não é o caso.

Na qual­i­dade das obras públi­cas que empreen­destes em todos os anos do teu gov­erno, os maran­henses terão duas despe­sas inúteis: o paga­mento dos ele­va­dos juros e os eter­nos reparos das obras.

O que afirmo nesta mis­siva é fácil con­statares, basta faz­eres um lev­an­ta­mento de todos os recur­sos que o tesouro despendeu em obras estru­tu­rantes nos últi­mos anos e ver­i­fi­cares a situ­ação das mes­mas atualmente.

Verás que o din­heiro público foi pelo ralo, que as obras não duraram nada, pelo con­trário, se tornaram um escoad­ouro per­ma­nente de din­heiro público.

Vês como é per­versa a política que empreen­des?

Tu endi­vi­das o estado com a des­culpa de inve­stir em obras públi­cas que irão servir, desen­volver e trazer riquezas para o povo.

Mas o que acon­tece é que tu con­trais uma dívida e duas out­ras fontes de pobreza para o povo: o paga­mento de juros e encar­gos e o paga­mento eterno na manutenção da obra.

Os recur­sos usa­dos nes­tas coisas, no paga­mento dos juros e encar­gos, e no eterno serviço de manutenção das obras mal feitas – e pelas quais ninguém é punido –, fazem falta na assistên­cia aos mais neces­si­ta­dos.

Com a des­culpa de traz­eres desen­volvi­mento, tenho por certo que trazes mais mis­éria e sofri­mento para o povo, con­forme assen­tei acima.

Não me alon­garei mais.

Avalias min­has palavras, sobre­tudo, min­has obras e com­paras com o que tens feito.

Indo a Roma ou na Itália, de um modo geral, não deixes de vis­i­tar as obras que fiz há 2.400 anos.

Serás que as tuas obras chegarão perto disso?

Com os cumpri­men­tos de

Appius Claudius Caecus

Ex-​censor e ex-​cônsul de Roma.