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IDEB: A tragé­dia do Brasil e a esper­ança que vem do Pará.

Escrito por Abdon Mar­inho


IDEB: A tragé­dia do Brasil e a esper­ança que vem do Pará.

Por Abdon C. Marinho.

QUANDO já falamos muito sobre deter­mi­nadas coisas e somos tangi­dos pela neces­si­dade de voltar­mos a falar ficamos com a sen­sação de estar­mos revis­i­tando lugares por onde pas­samos, uma espé­cie de “dèja vu” temático.

É pre­cisa­mente o que acon­tece comigo quando falo sobre edu­cação. Já tratei desse assunto tan­tas vezes – prin­ci­pal­mente depois que me tornei investi­dor de pro­je­tos edu­ca­cionais com metas ambi­ciosas –, que fico com a impressão que nada mais tenho a acres­cen­tar sobre o assunto.

Mas vamos ao que inter­essa. Por esses dias foram divul­ga­dos os dados do IDEB de 2023.

Entre tan­tas notí­cias sobre o que foi con­statado duas notí­cias me chama­ram mais atenção: que há uma dis­crepân­cia de apren­diza­gem de qua­tro anos no ensino fun­da­men­tal entre cri­anças egres­sas da escola pública em relação as cri­anças da egres­sas da escola pri­vada – essa é a tragé­dia de que trata o texto; e que o Estado do Pará avançou 20 (vinte) posições em relação a avali­ação ante­rior em relação ao IDEB do ensino médio – Epa! Epa! Essa é uma infor­mação das mais rel­e­vantes para a edu­cação nacional. É a infor­mação que nos traz a esper­ança.

No geral o resul­tado desse IDEB de 2023 não é bom para a edu­cação.

Vejamos, ape­nas pouco mais de um terço dos esta­dos cumpri­ram as metas esta­b­ele­ci­das para os primeiros anos do ensino fun­da­men­tal (1º ao 5º anos): Paraná, Ceará, São Paulo, Santa Cata­rina, Dis­trito Fed­eral, Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Alagoas e Rio Grande do Sul.

Nesse quadro (dos anos ini­ci­ais) se destacaram os esta­dos de Alagoas e Ceará como as unidades fed­er­adas que mais avançaram desde o iní­cio da avali­ação, em 2005, para cá, Alagoas avançou 3,5 e o Ceará avançou 3,4 pon­tos.

Deve­mos con­sid­erar que as metas alme­jadas não são ele­vadas e fazem parte de uma estraté­gia de se ir avançando no desen­volvi­mento da edu­cação no país de forma grad­ual.

Quando vemos que ape­nas 11 unidades fed­er­adas foram capazes de alcançar as metas, repito, mod­estas, já temos uma ideia do faz a edu­cação pública rev­e­lar uma desvan­tagem de 4 anos ao tér­mino do ensino fun­da­men­tal.

Sem querer ser repet­i­tivo, mas já sendo, o Brasil, através de seus esta­dos, Dis­trito Fed­eral e municí­pios pre­cisam ofer­tar fer­ra­men­tas e condições de ensino que favoreçam a con­sol­i­dação de uma edu­cação igual­itária para todas as cri­anças.

Há décadas que fala disso. O “seg­redo” para o for­t­alec­i­mento da edu­cação nacional é mel­ho­rar­mos a sua base.

Os entes fed­er­a­dos pre­cisam ser cobra­dos para cumprirem essas metas por uma edu­cação básica igual­itária e de qual­i­dade.

A sabedo­ria pop­u­lar tem muito a nos ensi­nar. Meu pai, um ser­tanejo anal­fa­beto por parte de pai, mãe e parteira, cos­tu­mava dizer que “pau que nasce torto até a cinza, quando queimam, é torta”.

Se ape­nas 11 unidades da fed­er­ação con­seguiram cumprir as metas rel­a­ti­vas aos anos ini­ci­ais, o desas­tre aumen­tou quando se avaliou os anos finais do fun­da­men­tal (6º ao 9º anos), ape­nas três unidades con­seguiram êxito: Paraná, Ceará e Goiás os três com 5,5 pon­tos tendo gan­hos respec­ti­va­mente em pon­tu­ação, 1,9, 2,4 e 2.0 pon­tos de 2005 para cá.

Desses três esta­dos, o Ceará foi o que mais avançou em pon­tos, 2,4 desde 2005.

Os dados rev­e­laram que de todos as unidades fed­er­adas, emb­ora não tenha alcançado a meta, o estado de Alagoas foi o mais avançou desde 2005, obtendo 2,6 pon­tos desde então.

Como uma sequên­cia lóg­ica do fato de que sem uma boa base haverá a dete­ri­o­ração nas eta­pas seguintes, nen­huma das unidades da fed­er­ação alcançou a meta nacional de 5,2 esta­b­ele­cida para o ensino médio.

Os três esta­dos que ficaram mais próx­i­mos da meta foram Paraná, com 4,9 pon­tos; Goiás, 4,8 pon­tos; e o Espírito Santo, 4,8 pontos.

Em meio a essa tragé­dia de ter­mos um ensino médio com os piores indi­cadores do país mere­cem destaque os esta­dos de Goiás, Piauí e Pará que “gan­haram”, um 1,6 pon­tos de 2005 para cá.

Entre os três o que merece maior destaque é o Estado do Pará, sim, o nosso viz­inho do lado. Em ape­nas dois anos, de 2021 para 2023, evoluiu 1,2 pon­tos.

Vejamos, se não me falha a memória, até 2021 o IDEB do ensino médio do Pará estava abaixo do IDEB do Maran­hão, em ape­nas dois anos não ape­nas ultra­pas­sou o Maran­hão, mas, tam­bém, vinte out­ras unidades da fed­er­ação, indo para “as cabeças” do rank­ing, como dizia um per­son­agem famoso de uma nov­ela.

Vi essa sem­ana uma pub­li­ci­dade do estado paraense ressaltando o feito – e deve fazer isso –, e fiquei encan­tado com o fato do Estado do Pará, em um situ­ação total­mente adversa, pois os indi­cadores do ensino fun­da­men­tal tanto nos anos ini­ci­ais quanto nos anos finais, são ter­ríveis, estando abaixo de quase todas as demais unidades, ter con­seguido – nessa que é a etapa mais difí­cil da edu­cação, o ensino médio –, avançar o que as demais unidades levaram mais de uma década para alcançar.

Um dado dos mais inter­es­santes sobre o extra­ordinário feito do Pará, de ter ele­vado a nota do IDEB de 3,2 para 4,4 em ape­nas dois anos é o fato de ter sido a rede estad­ual, o ensino público, a respon­sável por essa ráp­ida evolução.

Fosse o Brasil um país que lev­asse, efe­ti­va­mente, a edu­cação a sério, era para o gov­er­nador Helder Bar­balho e o secretário Rossieli Soares estarem em todos os canais de comu­ni­cação do país expli­cando como alcançaram tal feito e servindo de exem­plo para os out­ros esta­dos. Quiçá, uma CPI para “entre­garem” o seg­redo. Rsrs.

Estão de parabéns. E como é bom poder­mos cel­e­brar um feito de tamanha mag­ni­tude. Acho que somente aque­les que amam de ver­dade a edu­cação con­seguem dimen­sionar o que falo.

Esse feito do Pará mostra que é pos­sível. Quando ninguém mais parece acred­i­tar na edu­cação surge um fato como esse mostrando que é pos­sível. Sim, nós podemos, como diria um ex-​presidente amer­i­cano.

Se man­tiverem o mesmo ritmo de avanço, na próx­ima avali­ação do IDEB, se não alcançarem a meta estarão bem próx­i­mos disso.

Em meio a tragé­dia que o IDEB rev­elou na edu­cação pública brasileira, inclu­sive com esta­dos que eram refer­ên­cia em edu­cação pública ficando para trás, o avanço do Pará, em tão pouco tempo, mostra que é pos­sível ter­mos esper­ança, mostra que é pos­sível cor­ri­gir­mos, com as fer­ra­men­tas cer­tas, as várias dis­torções pelas quais passa o ensino público no Brasil.

Ape­nas a título de sug­estão, acho que os secretários de edu­cação dos esta­dos e municí­pios, jun­ta­mente com seu corpo téc­nico devem se debruçar sobre os números desse IDEB, exam­i­nar os bons e maus exem­p­los e ten­tar enten­der os motivos de uns con­seguirem avançar, superar os infini­tos obstácu­los e out­ros não.

Entendo ser de fun­da­men­tal importân­cia disponi­bi­lizar, igual­i­tari­a­mente, a todas as cri­anças, ado­les­centes e jovens fer­ra­men­tas de ensino que favoreçam a sua apren­diza­gem. Do mesmo modo, inve­stir con­tin­u­a­mente na for­mação con­tin­u­ada de edu­cadores – e cobrar depois –, para que estes “entreguem” a essas cri­anças, ado­les­centes e jovens e uma edu­cação de qual­i­dade.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Um can­didato improvável.

Escrito por Abdon Mar­inho


Um can­didato improvável.

Por Abdon C. Marinho*.

QUANDO se aprox­i­mava do fim o ano de 1998 recebi do amigo Juarez Medeiros, de quem fui chefe de gabi­nete na Assem­bleia Leg­isla­tiva do Maran­hão e depois na COL­ISEU (Com­pan­hia de Limpeza de Serviços Urbanos de São Luís) a pro­posta para adquirir uma pro­priedade que ele rece­bera em uma per­muta com o amigo comum Alberto Carneiro local­izado no Povoado Quinta, São José de Ribamar.

Não tinha neces­si­dade ou a ideia de com­prar um imóvel e muito menos morar na zona rural da ilha. Aceitei o desafio para aju­dar o amigo (que a época se prepar­ava para ingres­sar na car­reira de pro­mo­tor de justiça) mas, com a intenção de vender o quanto antes.

O próprio Juarez, em uma folha de chamex, com sua incon­fundível caligrafia escreveu os ter­mos do con­trato.

Era ape­nas um ter­reno com muitas jaque­iras, mangueiras e out­ras arvores e uma cas­inha que era ocu­pada pelo caseiro.

Pas­sa­dos seis ou oito meses sem con­seguir vender o imóvel resolvi “dar uma arru­mada” para pas­sar os finais de sem­ana. Depois qua­tro ou cinco finais de sem­ana no sitio decidi “ir ficando” por lá, onde con­tinuo até hoje.

Devo dizer, entre­tanto, que esse não é o assunto desse texto.

Já vivia no sitio dois ou três anos, quando um dos caseiros me disse que alguém de nome Mulato que­ria falar comigo. Disse que tudo bem, pode­ria apare­cer em um dos finais de sem­ana pelo sítio.

Um sábado qual­quer pelo começo dos anos 2000, apareceu-​me o Mulato que até então não sabia o que que­ria comigo e que o que tinha de infor­mações sobre o mesmo é que morava na invasão nas prox­im­i­dades da Quinta chamada Cidade Alta e que tinha algum envolvi­mento comu­nitário.

O sitio ainda não pos­suía muro e eu estava deitado numa rede na varanda quando aproximou-​se da can­cela e disse que podia chegar-​se.

Era um rapa­zote com pouco mais de vinte anos, uns dez (ou pouco mais) a menos que eu. Perguntei-​lhe o que que­ria e disse que que­ria me con­hecer, sabia que era advo­gado, que tinha exper­iên­cia com polit­ica – naquela época já estava com meu escritório de advo­ca­cia e já pas­sara pela asses­so­ria de Juarez na Assem­bleia, pela COL­ISEU, pelo tra­balho na cam­panha de Con­ceição em 1992, pela cam­panha de Cafeteira em 1994 e 1998, pela cam­panha de Castelo em 1996, pela de Ricardo Murad em 2000 e 2002 –, que­ria tro­car ideias comigo e, se pos­sível, apren­der alguma coisa.

Fiquei sur­preso com o assunto, mas a par­tir daquele dia pas­samos a tro­car algu­mas ideias sobre a polit­ica no estado, na cidade, as nos­sas visões de mundo. Acho que foi nesse mesmo encon­tro que me disse do desejo de ser político, quiça prefeito do município.

Con­tin­u­amos a man­ter con­tato e sem­pre que tín­hamos opor­tu­nidade trocá­va­mos algu­mas ideias sobre os acon­tec­i­men­tos do momento.

Pas­sa­dos alguns anos Mulato me liga e diz pede para pas­sar no escritório para falar comigo. Quando chegou disse-​me o assunto: que­ria que lhe emprestasse um mil ou um mil e quin­hen­tos reais para abrir uma gale­te­ria.

Disse-​lhe: –– Ô Mulat­inho não posso lhe emprestar o din­heiro por dois motivos: quem empresta din­heiro corre o risco de perder o amigo e/​ou o din­heiro ou as duas coisas. Não quero nem uma coisa, nem outra, nem as duas.

Ape­sar disso acabei por fazer o emprés­timo – que recebi um ano e pouco depois –, e me tornei freguês do galeto do Mulat­inho nos finais de sem­ana. Só lig­ava e/​ou man­dava men­sagem e pedia um galeto que man­dava deixar ou ia ele mesmo deixar aprovei­tando essas opor­tu­nidades para con­ver­sar um pouco.

O tempo pas­sou, o Mulat­inho “pas­sou” a gale­te­ria, em uma eleição foi can­didato a vereador, não con­seguindo êxito para eleger-​se, em alguns momen­tos as vis­si­tudes da polit­ica colocaram-​nos em dis­cordân­cia, mas sem que a amizade fosse afe­tada, dizia que dis­cor­dava e pronto.

No ini­cio do ano pre­sente me procurou lá no sitio para dizer-​me que seria can­didato a prefeito e me atu­alizar sobre as diver­sas trata­ti­vas que teria par­tic­i­pado nos últi­mos tem­pos mas que não deram certo sobre­tudo por motivos diver­sos; que seria can­didato por um par­tido diverso daquele pelo qual mil­i­tara entre out­ras coisas.

Disse-​lhe que achava salu­tar sua can­di­datura e que pes­soas com a nossa origem não podem aguardar que os donos do poder, os ricos “abram” espaços para os nos­sos son­hos e propósi­tos, que nós que deve­mos bus­car nos­sos espaços e “forçar” as por­tas se quis­er­mos entrar.

Em julho Guil­herme me procurou nova­mente que­ria saber da pos­si­bil­i­dade de fazer a con­venção do seu par­tido no meu sítio. Não é uma ideia que tenha gostado. Os meus finais de sem­ana sequer gosto de sair de casa, cos­tu­mando me dedicar ao ócio, a leitura, a escrita, a ouvir música e as tare­fas domés­ti­cas.

Em um momento de bobagem acabei con­cor­dando em alu­gar o espaço para o par­tido – não pelo din­heiro –, mas para evi­tar prob­le­mas futuros com a leg­is­lação eleitoral.

No dia da con­venção, pela manhã, enquanto arru­mavam o ambi­ente e comíamos uma farofa de ovo com lin­guiça, fazíamos um ret­ro­specto (parte dos fatos ele me lem­brou) e inter­na­mente ia pen­sando no quando de improvável que tinha essa can­di­datura de Mulato. Um rapaz crescido numa invasão, “galeteiro” e, de repente, can­didato a prefeito da cidade. Não de qual­quer municí­pio, mas da ter­ceira maior do estado.

Numa análise sobre a con­jun­tura do país em um momento em que a democ­ra­cia é sem­pre colo­cada em xeque vejo o quanto de inspi­rador é o legado de tal pro­jeto politico e porque ela (a democ­ra­cia) pre­cisa ser defen­dida pelos cidadãos de bem: para pos­si­bil­i­tar que qual­quer um, qual­quer do povo, ape­nas depen­dendo do próprio esforço possa chegar a onde quiser.

Trata-​se, por óbvio, ainda mais nos dias de hoje em que a política tornou-​se ante de qual­quer coisa, um negó­cio, uma can­di­datura improvável.

Ninguém espera que um filho da per­ife­ria, um fave­lado, um ex-​galeteiro seja can­didato a prefeito, quando muito é chamado para ser “bucha de can­hão” numa can­di­datura a vereador, para com­por o quo­ciente eleitoral.

Por isso que a democ­ra­cia é inspi­radora.

Nesse mesmo dia (da con­venção) eu dizia a ele: –– Olha, Mulat­inho, inde­pen­dente do resul­tado do pleito, de qual posição você vai chegar, você já é um vito­rioso. A sua vitória é ter chegado até aqui, é não ter se cur­vado à von­tade dos poderosos, não ter se “ven­dido” por algu­mas moedas, empre­gos ou promes­sas, e ter aceitado o desafio de, sem din­heiro, sem apoio de grandes políti­cos, das grandes máquinas par­tidárias, dos gru­pos econômi­cos, sair can­didato.

Em São José de Riba­mar a dis­puta dar-​se entre o atual prefeito, Dr. Julinho (que foi meu pro­fes­sor no Cursinho do Pro­fes­sor José Maria do Ama­ral, no final da década de oitenta), que faz uma admin­is­tração bem avali­ada, segundo algu­mas pesquisas que tive acesso; o pres­i­dente da Câmara Munic­i­pal, Dudu Diniz, que tem o apoio da pres­i­dente da Assem­bleia Leg­isla­tiva e do Gov­erno Estad­ual, tendo arreg­i­men­tado, esses dois chefes de poderes para sua con­venção; o Guil­herme Mulato; e mais dois out­ros que pos­suem alguma tradição pes­soal ou de par­entesco com a política.

Sair can­didato em situ­ação tão adversa é uma vitória. A vitória da ousadia

Abdon C. Mar­inho é advogado.

A Venezuela é o des­tino de uma nação.

Escrito por Abdon Mar­inho


A Venezuela e o des­tino de uma nação.

Por Abdon C. Mar­inho.

RECOMENDO aos amantes da política que assis­tam ao filme “ O Des­tino de Uma Nação”. Nele é retratada a improvável ascen­são de Win­ston Churchill ao cargo de primeiro-​ministro durante a expan­são do nazismo pela Europa.

No filme apren­demos que pre­cisamos fazer deter­mi­nadas escol­has; que existe lim­ites intransponíveis para que pos­samos con­sid­erar viver sob um régime democrático ou uma ditadura.

Foi durante esse período que Churchill fez o céle­bre dis­curso onde dizia que nada teria a ofer­e­cer senão o sangue, o suor e as lágri­mas.

Com o expe­ri­ente político tam­bém é pos­sível apren­der que ao faz­er­mos con­cessões aos autoritários não esta­mos ref­re­ando seus instin­tos autoritários mas ape­nas fazendo com que eles aumentem ainda mais. No dizer daquele político, durante deter­mi­nada dis­cussão: — você não pode nego­ciar com o tigre quando se está com a cabeça na boca do felino.

Essa intro­dução é para ini­cia­r­mos uma dis­cussão sobre a situ­ação política da Venezuela e como o Brasil, leia-​se todas as suas insti­tu­ições, têm “vac­ilado” ao não terem um com­por­ta­mento mais inci­sivo em reprovação de todos os abu­sos que já vin­ham ocor­rendo ao longo das últi­mas décadas e que cul­mi­naram na tensa e dramática situ­ação que viven­ci­amos hoje.

Se o leitor tiver curiosi­dade e dig­i­tar no canto supe­rior dire­ito dessa página a palavra “Venezuela” aper­tando o botão de busca verá que já tratei desse tema pelo menos umas cinco dezenas de vezes. Quase sem­pre dizendo tratar-​se da con­strução de uma ditadura e o Brasil, e seus políti­cos, erravam (e erram) ao bus­carem artifí­cios retóri­cos para jus­ti­ficar o que é injus­ti­ficável.

O prin­ci­pal erro do Brasil diz respeito a falsa per­cepção de que há “ditaduras do bem”. Não existe isso. Ditadura é ditadura e ponto final.

Ainda que em nome dos inter­esses das nações se possa man­ter relações diplomáti­cas e com­er­ci­ais elas não devem ir muito além disso.

Acho bisonha e desmor­al­izante que os gov­er­nantes brasileiros não ape­nas man­ten­ham relações com­er­ci­ais com deter­mi­na­dos países como “dese­jem” cer­tas “intim­i­dades” com os “tiranetes” de plan­tão.

Os atu­ais diri­gentes do Brasil sem­pre tiveram uma admi­ração ridícula por todos os dita­dores “ditos” de esquerda. Com os irmãos Cas­tro, de Cuba; com Chávez e Maduro, da Venezuela; com Ortega, da Nicarágua, e por aí vai.

Ainda lem­bro da admi­ração quase mítica que tin­ham pela chamada Rev­olução San­din­ista ocor­rida na Nicarágua, em 1979.

O tempo pas­sou o san­din­ismo que gov­ernou a Nicarágua de 1979 a 1990 perdeu o poder. Retomando-​o em 2006 e a par­tir de então em um viés tão autoritário que aque­les que se lem­bravam (ou lem­bram) dese­jaram a volta dos Somoza ao poder.

Essa digressão sobre a Nicarágua é ape­nas para mostrar que as ditaduras podem até nascer com um viés pop­u­lar e de inter­esse cole­tivo, mas a sua manutenção é pela vio­lên­cia, o desatino e a lou­cura.

Os diri­gentes do Brasil, espero que ten­ham apren­dido essa lição com a Nicarágua. Aque­les que gri­tavam vivas para FSLN (Frente San­din­ista de Lib­er­tação da Nicarágua) estão vendo que não é tão fácil lidar com dita­dores auto­cratas.

A ditadura da Nicarágua se voltou, inclu­sive, con­tra a Igreja Católica, que nos primór­dios da “rev­olução” os apoiou.

Agora tem man­dado encar­cerar padres e bis­pos.

O gov­erno brasileiro ten­tou inter­me­diar, a pedido do Papa Fran­cisco, a lib­er­tação de um bispo e out­ros cléri­gos e o dita­dor da Nicarágua sequer aten­deu o tele­fonema do nosso pres­i­dente.

Mas não foi só isso, deter­mi­nou a expul­são do embaix­ador do Brasil porque este não com­pare­ceu a solenidade de comem­o­ração do 45º Aniver­sário da Rev­olução San­din­ista.

Fico até imag­i­nando o diál­ogo entre o Papa Fran­cisco e o Pres­i­dente Lula:

— Ô Lula quero lhe pedir que fale com o Ortega para soltar o nosso bispo. Pode lhe dizer que ele (o bispo) não vai mais rece­ber as recla­mações do povo nicaraguense aos seus abu­sos.

— Deixa comigo, Chico, essa eu mato no peito. Já falo com o Daniel e logo logo o bispo estará solto.

O resul­tado, como já disse ante­ri­or­mente, é que o “amigo” Daniel nem aten­deu ao tele­fonema do amigo Lula, e de “lam­buja” ainda expul­sou o embaix­ador brasileiro.

O papa como deve ser edu­cado sequer dev­erá per­gun­tar o resul­tado do “obséquio”.

Outra prova do nosso ver­gonhoso jul­ga­mento dos fatos é a falta de con­de­nação efe­tiva as bar­bari­dades cometi­das pela Rús­sia na guerra con­tra a Ucrâ­nia.

Veja, se é cor­reto que o gov­erno brasileiro age certo ao con­denar os abu­sos israe­lenses na Faixa de Gaza pro­movendo o exter­mínio de uma pop­u­lação inteira escu­d­ado na des­culpa de “perseguir” os ter­ror­is­tas do Hamas, erra feio ao igno­rar o que vem acon­te­cendo na guerra de expan­são da Rús­sia con­tra a Ucrâ­nia.

Imag­inem que nosso pres­i­dente até chegou a con­vi­dar o pres­i­dente russo para o encon­tro do G20 a ser real­izado no Brasil ainda este ano, garan­ti­ndo ao mesmo que deixaria de cumprir um acordo inter­na­cional para garan­tir sua segu­rança já que con­tra o san­guinário de Moscou pesa uma ordem de prisão do Tri­bunal Penal Inter­na­cional por crimes de guerra e o nosso país teria o dever de prendê-​lo na hora que pousasse em solo brasileiro.

Espero que ten­ham “esque­cido” tal insanidade. Putin inva­diu uma nação livre e pro­move uma das guer­ras mais sujas que se tem notí­cia, inclu­sive com seque­stros de cri­anças de seus pais para que sejam cri­a­dos na Rús­sia.

Como é que uma nação que é sig­natária de todos os trata­dos inter­na­cionais de dire­itos humanos pode fin­gir que não está acon­te­cendo nada, que não acon­te­ceu nada?

Só para encer­rar o debate em torno da falta de noção dos nos­sos gov­er­nantes (para não aplicar outro tipo de adje­ti­vação) acho insano esse debate, que já dura quase dois anos, em torno dos “pre­sentes” rece­bidos por gov­er­nantes – e que o TCU acaba come­ter mais um desatino –, a primeira coisa que dev­eríamos ter em mente é que os tais pre­sentes dev­e­riam ser incor­po­ra­dos ime­di­ata­mente ao patrimônio do país fosse o que fosse. Até porque o chefe de gov­erno, os min­istros, os gov­er­nadores de estado não os rece­be­riam se não fosse pelo cargo que ocu­pam, logo o pre­sente não é para ele é para o “cargo” e o cargo não é dele.

A segunda coisa, mais desmor­al­izante ainda, é o fato dos pre­sen­tea­dos – de esquerda ou de dire­ita, de antes, de agora ou do futuro –, “brigarem de faca” para jus­ti­ficar que os tais pre­sentes são pes­soais.

Fosse eu um gov­er­nante e recebesse um pre­sente de um san­guino­lento dita­dor da África ou das Arábias ou de qual­quer outro país, faria questão de tê-​lo como um pre­sente para Brasil e não para mim. Acred­ito que não teria muito orgulho em me achar amigo de um dita­dor oprime seu povo, que não respeita qual­quer regra básica da vida em sociedade ou que manda esquar­te­jar jor­nal­is­tas por dis­cor­dar do ele escreveu.

No Brasil vemos jus­ta­mente o con­trário. Existe orgulho em rece­ber jóias ou con­têiner de ditaduras odi­en­tas. Aliás, brigam por isso.

Vejo que são pes­soas que jamais poder-​se-​iam com­parar a um Win­ston Churchill.

Retorno à Venezuela para dizer que não será fácil para o Brasil encon­trar uma alter­na­tiva que não seja a humil­hação escan­car­ada.

Os atu­ais gov­er­nantes sem­pre apoiaram essa ditadura em for­mação desde os tem­pos de Chávez. Apoiou a ascen­são de Maduro igno­rando todo tipo de abu­sos que vinha come­tendo com o obje­tivo de se per­pet­uar no poder. Foi o “fiador” acordo que cul­mi­nou com essa eleição silen­ciando a todos os abu­sos cometi­dos, inclu­sive a inabil­i­tação de todos os adver­sários ou mandado-​os para a prisão.

Com tudo isso, as provas estão aí, Maduro perdeu para o adver­sário que per­mi­tiu que con­cor­resse e, mesmo assim não respeitou o resul­tado, per­pe­trando uma fraude com o Con­selho Nacional Eleitoral.

Agora a decisão está com a Suprema Corte daquele país que, assim como o CNE é com­posto por ali­a­dos do gov­erno, aliás, por pre­pos­tos da ditadura.

Pergunta-​se: essa Suprema Corte vai cor­ri­gir a besteira que fiz­eram ou insi­s­tir na fic­tí­cia eleição de Maduro? E o Brasil, o que vai dizer?

Mesmo as nações que sem­pre procu­ram o diál­ogo como forma para solu­cionar os con­fli­tos pre­cisam enten­der que exis­tem lim­ites até onde podem ir.

Abdon C. Mar­inho é advogado.