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Palestina ≠ Hamas ≠ Israel.

Escrito por Abdon Mar­inho


PALESTINAHAMASISRAEL.

Por Abdon C. Marinho*.

NAS TRÊS PALAVRAS do título o essen­cial é o que se encon­tra entre elas, um sím­bolo matemático pouco usual e quase esque­cido pelos alunos do fun­da­men­tal: o sinal de difer­ente.

Talvez essa defi­ciên­cia no con­hec­i­mento dos sím­bo­los matemáti­cos ou mesmo gra­mat­i­cais faça com que sejamos obri­ga­dos a ouvir, a ler tan­tas sandices em torno de questões sérias e com­plexas.

Outro dia um senador da República, ex-​juiz, que rep­utava pos­suir con­hec­i­men­tos mesmo que de nível fun­da­men­tal, pos­tou uma charge que chamou de “per­feita”, onde, segundo ele, resumiu toda a situ­ação judaico-​palestina.

Soube depois que até deu uma entre­vista onde con­fir­mava su ignorân­cia sobre o tema histórico e até mesmo sobre dire­ito, assunto que imag­i­nava que con­hecesse.

O pre­ten­sioso se achou no dire­ito de resumir três mil anos de história em uma charge e em meia dúzias de palavras que nem de longe pas­sam perto da essên­cia do que se dev­e­ria dis­cu­tir no momento: a perda de vidas inocentes.

Essa ignorân­cia é bem própria dos nos­sos dias, o indi­ví­duo “escolhe” um lado e o “seu” lado pode fazer o que quiser, o que lhe der na “telha” sem pre­cisar se jus­ti­ficar ou dar qual­quer jus­ti­fica­tiva.

A mídia oci­den­tal assim como muita gente boa vem divul­gando a guerra entre Israel e o Hamas. Só que essa guerra não vem sendo travada con­tra o Hamas, mas sim con­tra o povo palestino que é difer­ente (≠) do Hamas.

O Hamas é um grupo ter­ror­ista que pos­sui cerca de vinte mil inte­grantes de diver­sas nacional­i­dades, não ape­nas palesti­nos, que tomou o poder – medi­ante eleições –, e com o apoio direto e indi­reto (inclu­sive finan­ceiro) de Israel que que­ria (e quer) enfraque­cer a Autori­dade Palestina e assim “enter­rar” o sonho de um Estado Palestino con­forme foi definido pela Orga­ni­za­ção das Nações Unidas — ONU, em 1947, através da Res­olução 158 (se não me falha a memória) que esta­b­ele­ceu que naquele ter­ritório dev­e­riam exi­s­tir dois países: Israel e Palestina.

Desde 1948, quando foi insta­l­ado o Estado de Israel que a região vive em con­stantes guer­ras e con­fli­tos. Sejam eles provo­ca­dos pelos palesti­nos, pelos países viz­in­hos, seja pelo próprio Estado de Israel, que a cada guerra aumenta seu ter­ritório em detri­mento dos povos palesti­nos, con­forme mostra clara­mente os mapas que ilus­tram esse texto.

Nesse clima de guerra con­stante vice­jam os gru­pos terroristas.

O Hamas é um desses gru­pos ter­ror­is­tas, repito, que foi “ban­cado” durante décadas por diver­sos países, inclu­sive por Israel (direta e indi­re­ta­mente para enfraque­cer a Autori­dade Palestina e o seu par­tido político no poder na Cisjordânia).

Esse grupo ter­ror­ista ata­cou Israel em 07 de out­ubro p.p., de forma covarde, infame, e todas out­ras adje­ti­vações exis­tentes, inclu­sive com o seque­stro de duas cen­te­nas de israe­lenses, mul­heres, idosos e até mesmo cri­anças.

No mesmo ataque ter­ror­ista esse grupo ter­ror­ista matou mais de mil cidadãos israe­lenses e alguns de out­ras nacional­i­dades, inclu­sive, brasileiros.

Pois bem, sendo Hamas um grupo ter­ror­ista, como é um con­senso quase global e Israel um estado nacional recon­hecido por quase todos países do mundo, sig­nifica dizer que Israel é difer­ente (≠) do Hamas, logo, como tal, não pode se valer dos méto­dos do Hamas, ou seja, do ter­ror­ismo para combatê-​lo.

É essa lóg­ica bem sim­ples, fun­da­men­tal até, que muitos pelos motivos mais canal­has fin­gem descon­hecer e a igno­rar.

O preço de ser recon­hecido como estado sober­ano, com todos os dire­itos esta­b­ele­ci­dos na carta das Nações Unidas é que você pre­cisa submeter-​se as leis do dire­ito inter­na­cional, sobre­tudo o dire­ito da guerra quando no exer­cí­cio da chamada “autode­fesa”.

Essa é a questão essen­cial. Ninguém diz que Israel não tem o dire­ito à autode­fesa que é uma pre­rrog­a­tiva das nações recon­heci­das esta­b­ele­cido na Carta da ONU, o que se diz é que esse dire­ito pre­cisa ser exer­cido den­tro da lei.

O Estado de Israel tem todo o dire­ito de ir atrás do grupo ter­ror­ista, mata-​los em con­fronto, prendê-​los, julgá-​los e condená-​los.

O que não pode fazer é usar do seu pode­rio mil­i­tar extra­or­di­nar­i­a­mente supe­rior para ater­rorizar e matar pes­soas que nada fiz­eram con­tra o Estado de Israel, impondo deslo­ca­men­tos força­dos, destru­indo casas, pri­vando as pes­soas de elet­ri­ci­dade, ali­men­tos e até água.

Essa estraté­gia de guerra viola todos trata­dos de guerra e por isso é crim­i­nosa.

É dizer, repito, um estado nacional por mais razão que tenha em qual­quer de suas pre­ten­sões não pode agir como um grupo ter­ror­ista, vem aí ele nova­mente: Israel ≠ Hamas.

Infe­liz­mente, desde que essa guerra começou, com a conivên­cia de muitas nações, de muitos “cidadãos de bem”, Israel vem agindo como se não fosse difer­ente do Hamas ou como se não tivesse respon­s­abil­i­dade como nação recon­hecida que é: Israel = Hamas.

A Faixa de Gaza, o enclave ou a prisão a céu aberto onde se encon­tram “con­fi­na­dos”, apri­sion­a­dos dois mil­hões e meio de palesti­nos, tem mais da metade de sua pop­u­lação con­sti­tuída por cri­anças e ado­les­centes com menos de 18 anos, uma outra parte for­mada por mul­heres e idosos.

É sobre essas pes­soas que pesa mais o braço forte de Israel. Nas fotografias de agên­cias inter­na­cionais vemos cri­anças com sem­blante apa­vo­rado, mul­heres em deses­pero fug­indo de um lado para outro e sem encon­trar segu­rança nen­huma onde quer que vão, com os poucos per­tences em saco­las e deixando para trás suas casas, seu patrimônio e o pouco que con­seguiram ameal­har.

A maio­ria dos que pere­ce­ram nessa guerra até aqui são cri­anças e mul­heres, assim como os feri­dos que estão sendo sub­meti­dos a pro­ced­i­men­tos cirúr­gi­cos à luz de lanter­nas e sem aneste­sia.

Isso sem con­tar a fome, a falta d’água, a escuridão.

Esse é o nível de sofri­mento a que está sendo sub­metida uma pop­u­lação inocente diante dos olhos do mundo e da cumpli­ci­dade de muitos.

Não entendo como isso possa ser chamado de dire­ito de autode­fesa.

Um dos princí­pios mais caros do dire­ito é aquele que diz que pena não pode pas­sar da pes­soa do con­de­nado.

A pop­u­lação de Gaza está sendo punida, ater­ror­izada, tor­tu­rada, sobre­tudo, mul­heres, cri­anças e idosos por crimes que não come­teram. Isso é ver­gonhoso.
A humanidade que assiste a tudo isso cal­ada e na maio­ria das vezes con­cor­dando dev­e­ria ter ver­gonha de se olhar no espelho.

Cri­anças, mul­heres, idosos, doentes, defi­cientes, etc., não podem ser mas­sacra­dos por crimes que não come­teram.

Um estado nacional, recon­hecido como tal, não pode utilizar-​se da estraté­gia do ter­ror­ismo para mino­rar os efeitos de suas próprias incom­petên­cias e estratégias.

Os bons cristãos daqui e do resto mundo dev­e­riam lem­brar da história de Ló, o sobrinho de Abraão. Pois con­sta do livro do Gêne­sis que Abraão inter­cedeu a Deus pela não destru­ição das cidades gêmeas de Sodoma e Gomorra, tendo Ele dito que não as destru­iria se den­tre seus habi­tantes encon­trasse os inocentes, o que não se deu deu – salvando-​se ape­nas Ló e as fil­has, já que mul­her dele olhara para trás e virara uma está­tua de sal.

Vê-​se, cristãos, que no atual con­flito em Gaza os inocentes pere­cem bem mais que os maus, o que viola o pacto sagrado. E vós sois sabedores disso.

Um outro princí­pio básico do dire­ito é que mel­hor um cul­pado solto do que um inocente preso (ou morto).

Ape­nas os infames acham que a perda de vidas humanas, de cri­anças inocentes, de mul­heres, enfer­mos e idosos são “efeitos colat­erais da guerra”.

Não são, ainda mais quando assis­ti­mos, todos os dias, todas as horas, que estes inocentes são os alvos da guerra porque essa não está escol­hendo alvos, os civis são as víti­mas, são os alvos.

Ao dar­mos razão a isso podemos dizer que Herodes estava certo quando, para evi­tar que Cristo se tor­nasse rei dos judeus, man­dou matar todas as cri­anças nasci­das naque­les tem­pos e que tivessem até dois anos de idade.

Encerro dizendo que sob qual­quer argu­mento, ético, moral, político, reli­gioso não é jus­ti­ficável o mas­sacre de inocentes.

Ao aceitar­mos e, até mesmo, jus­ti­fi­car­mos isso é porque esta­mos per­dendo o sen­tido de humanidade.

Esta­mos dizendo que Palestina = Hamas = Israel.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Por quem choram as mães?

Escrito por Abdon Mar­inho

(Foto AFP)

POR QUEM CHORAM AS MÃES?

Abdon C. Marinho*.

SEM­PRE que nos deparamos com tragé­dias humanas como as que vive­mos atual­mente em diver­sos can­tos do mundo uma ideia me vem à mente: como estão as mães? Por quem elas choram?

Faço isso diante de todos os con­fli­tos. As guer­ras na África; a guerra na Ucrâ­nia dev­ido a invasão russa; os con­fli­tos nas Améri­cas, a fome em todos os can­tos do plan­eta.

Há uma sem­ana, prati­ca­mente, desde que estourou mais esse con­flito con­flito entre o Hamas e o gov­erno israe­lense, essa é uma ideia que não me sai da cabeça.

Primeiro, o sofri­mento cau­sado às mães judias ante o ataque ter­ror­ista do Hamas que ceifou a vida de cen­te­nas de judeus e não judeus no dia 7 de out­ubro. Jovens, idosos, homens, mul­heres e até cri­anças que perderam a vida ou se encon­tram sequestradas, em condições indizíveis e sofrendo todo tipo de pri­vações, humil­hações e o risco per­ma­nente e imi­nente da morte.

Como estarão suas mães? Como aguen­tam tamanha provação?

Segundo, o sofri­mento cau­sado às mães palesti­nas ante a reação israe­lense.

O cerco à Faixa de Gaza há mais uma sem­ana cria situ­ações de vio­lên­cia e sofri­mento ímpares.

Esse tempo todo estão sem água potável, sem elet­ri­ci­dade, sem ali­men­tação, força­dos a se deslo­carem para o sul do ter­ritório, sem saber se voltam as suas casas e com bom­bas sendo ati­radas sobre suas cabeças, uma a cada dois min­u­tos, segundo os espe­cial­is­tas que se deram o tra­balho de con­tar.

Quão deses­per­adas não estão essas mães para pro­te­gerem seus fil­hos, para alimentá-​los, para curá-​los de suas enfer­mi­dades ou dos estil­haços das bom­bas ou mesmo o sofri­mento que pas­sam diante da morte que os ron­dam e está sem­pre presente?

Como essas mães refrig­eram seus corações diante do medo, do deses­pero, da angús­tia, da impotên­cia por nada poderem faz­erem por seus fil­hos?

Caberia alguma com­para­ção ou sime­tria entre os povos para saber quem sofre mais? Acred­ito que não.

Em maior ou menor pro­porção o sofri­mento é igual para as mães.

Talvez não o seja para os que ata­cam e para os que são ata­ca­dos, mas, para as mães, não.

Para elas o sofri­mento é o mesmo de Maria diante do martírio de Jesus Cristo. O sofri­mento de vê-​lo pade­cer sob Pilatos, de ser humil­hado, de car­regar a própria cruz ao monte do calvário e ser cru­ci­fi­cado.

Até porque, a ver­dadeira mãe sofre com a dor de outra mãe, mesmo que em cam­pos opos­tos.

São capazes de sen­tir o deses­pero que acomete a outra.

Pode­ria exam­i­nar essa etapa do con­flito judaico-​palestino de forma bem prática.

Dizer, de forma pro­to­co­lar, que o Estado de Israel tem total dire­ito de defender-​se mas, que mesmo o dire­ito à mais ampla defesa pos­sui lim­ites; que a própria guerra pos­sui lim­ites muito claros nas con­venções internacionais.

Pode­ria dizer que o direto que tem Israel de defender-​se dos ataques ter­ror­ista do Hamas não o exime de obser­var tais con­venções e a respeitar os dire­itos humanos das pop­u­lações civis alo­jadas na Faixa de Gaza, que no fundo é uma prisão a céu aberto, e que os países de todo o mundo são cúm­plices de toda desumanidade prat­i­cada con­tra o povo.

Pode­ria, ainda, chamar a atenção para o fato do gov­erno israe­lense não poder ou não ser aceitável que use o pre­texto dos ataques para con­fi­nar ainda mais o povo palestino, notada­mente aquele que vive na Faixa de Gaza.

Guerra nen­huma, em tem­pos mod­er­nos, pode ter esse caráter expan­sion­ista.

Por isso deve­mos repu­diar a invasão russa na Ucrâ­nia; por isso deve­mos protes­tar con­tra qual­quer ten­ta­tiva do gov­erno israe­lense de pre­tender um metro, sequer, de qual­quer ter­ritório, recon­hecido como palestino.

Uma coisa são as incursões para irem atrás do Hamas, lib­er­tar os reféns sub­traí­dos de seus famil­iares, outra coisa, bem difer­ente, é querer ou pre­tender acrescer qual­quer metro de terra da Faixa de Gaza ao seu ter­ritório.

Aliás, desde 1947, quando a ONU criou o Estado de Israel e a solução de dois esta­dos difer­entes em um mesmo espaço ter­ri­to­r­ial (divi­dido entre o Estado de Israel e Estado da Palestina) que per­manece insolúvel a questão da definição das fron­teiras entre eles.

Já passa da hora – e faz tempo –, da ONU e seus organ­is­mos pararem com a polit­icagem e se debruçarem sobre essa questão resolvendo-​a defin­i­ti­va­mente, com ambos os esta­dos respei­tando os ter­mos da res­olução que dividiu o ter­ritório entre eles.

Nesses anos todos, desde que “cri­aram” a solução de dois esta­dos que não resolvem a questão fron­teir­iça com o povo palestino con­fi­nado em dois ter­ritórios: Faixa de Gaza (maior den­si­dade pop­u­la­cional do mundo, com dois mil­hões de pes­soas no espaço de 365 km2) e a Cisjordâ­nia, com Israel, sem­pre que pode, trans­ferindo judeus para áreas recon­heci­das como palesti­nas.

Nada, repito, nada jus­ti­fica um ataque ter­ror­ista com os prat­i­ca­dos pelo Hamas, mas, por outro lado, a omis­são reit­er­ada dos organ­is­mos inter­na­cionais e mesmo de algu­mas nações em não protestarem ou faz­erem “vis­tas grossas” a uma questão pen­dente desde 1947, tem sido o com­bustível para incen­ti­var essa guerra e tan­tas out­ras que vieram antes.

Em 1947 resolveu-​se o prob­lema dos Judeus, mas­sacra­dos e espo­li­a­dos por todos os regimes autoritários do mundo, com a cri­ação do Estado de Israel, mas criou-​se um prob­lema para os povos que ocu­pavam aquele ter­ritório desde o iní­cio da Era cristã quando se deu a última grande diás­pora que durou 19 sécu­los, pois somente a par­tir 1948 o povo judeu pode se reunir nova­mente em mesmo ter­ritório.

Os con­fli­tos veem desde então.

Desde 1948 que não há con­vivên­cia pací­fica entre judeus e palesti­nos, com diver­sas guer­ras, con­fli­tos entre eles e o sofri­mento indizível dos povos, prin­ci­pal­mente, da pop­u­lação civil que em todas as guer­ras é quem mais sofre.

Muitas lágri­mas as mães destes povos ainda vert­erão até que os sen­hores das guer­ras dêem-​se por saci­a­dos com os seus lucros e os políti­cos tomem juízo.

Chorarão as mães pelos fil­hos que perderão nas guer­ras e pelos fil­hos que mor­rerão sem ter a chance de crescer; chorarão pelas pri­vações e pelas as angús­tias de cada dia.

Deus salve as mães de tan­tos sofri­men­tos.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Reflexões para o Oito de Outubro.

Escrito por Abdon Mar­inho


REFLEXÕES PARA O OITO DE OUT­UBRO.

Por Abdon C. Marinho.

O MUNDO acorda em sus­pense diante da nova guerra eterna entre Judeus e Palesti­nos. Ontem, 7, o grupo Hamas de forma sur­preen­dente ata­cou o Estado de Israel, matando e seques­trando dezenas, talvez, cen­te­nas de civis.

O hor­rip­i­lante cam­inho do ter­ror­ismo.

Em reação aos ataques, Israel ataca com exces­siva força os palesti­nos já espremi­dos na Faixa de Gaza, tam­bém civis, tam­bém tra­bal­hadores, tam­bém inocentes e que sofrem há décadas com a guerra e com a falta de tudo, inclu­sive, de uma existên­cia digna.

A guerra é sem­pre bru­tal e suas víti­mas mais efe­ti­vas são aque­les que nada fizeram.

Ansiosos por se posi­cionarem, muitos já escol­heram o seu lado.

Esse lado nunca é o lado das ver­dadeiras víti­mas.

Ah, é legit­imo o dire­ito de autode­fesa. Claro que sim, é legí­timo.

O que não é legí­timo é quando se usa um dire­ito legí­timo para come­ter ato de vin­gança cole­tiva, punindo, prin­ci­pal­mente, aque­les que nada fiz­eram e que não pos­suem condições mín­ima de se defend­erem.

O nome para isso é covar­dia. Outro nome: ter­ror­ismo de estado e até genocídio.

Os veícu­los de comu­ni­cação e seus donatários pare­cem sen­tir orgas­mos múlti­p­los a cada min­uto que atu­al­izam o número de vidas per­di­das.

Na Europa, a invasão russa na Ucrâ­nia já cam­inha para o segundo ano sem uma per­spec­tiva de solução.

Além das víti­mas fatais choca o sofri­mento dos mil­hões de cidadãos que, de uma hora para outra, se viram pri­va­dos de suas vidas, de suas casas, do seu con­vívio famil­iar e comu­nitário. Muitos foram viver noutra pla­gas, sofrendo pri­vações e todo tipo de pre­con­ceito e incom­preen­sões e, até mesmo, abu­sos diver­sos.

Na Ásia, a pop­u­lação afegã voltou ao indizível sofri­mento de tem­pos pretéri­tos com as mul­heres, sobre­tudo elas, sofrendo todo tipo de abu­sos, humil­hações e pri­vações.

A mesma situ­ação que mul­heres e meni­nas enfrentam no Irã, na Arábia Sau­dita e tan­tos out­ros países. Humil­hação, pri­vação, abuso.

Mel­hor sorte não têm os povos do lado de cá do Atlân­tico.

Hon­duras tornou-​se uma ditadura asquerosa com os san­din­istas que há quarenta anos pen­sá­va­mos que fos­sem red­imir aquele povo tornado-​se seus opres­sores tão ou piores que os lacaios da ditadura de Somoza.

Quanta decepção. Lem­bro que na juven­tude tín­hamos Daniel Ortega como herói lib­er­ta­dor do povo hon­durenho e hoje o vemos pren­dendo, expro­priando opos­i­tores como os tira­nos mais san­guinários.

Merece relevo que até a igreja católica que nos primór­dios do san­din­ismo os apoiou, hoje sente o braço forte da ditadura sobre seus mem­bros e sobre o seu patrimônio.

O san­din­ismo e Ortega, de lib­er­ta­dores viraram (ou sem­pre foram) opres­sores do povo.

Em alguns casos, como das expro­pri­ações dos adver­sários, viraram, na ver­dade, ladrões do povo. Reles ladrões que usam do poder que pos­suem para “tomar” o patrimônio alheio na mão grande.

Essa é a “sorte” de tan­tos out­ros povos das Améri­cas. Os bar­bu­dos de Sierra Maes­tra não iam levar paz e pros­peri­dade a Cuba? Chávez e os seus não iam devolver o pro­gresso à Venezuela?

O que é desses países além de car­i­cat­uras de regimes total­itários?

Mesmo o Brasil, será que não cam­in­hamos para um mod­elo autoritário? Que garan­tias pos­suem os cidadãos diante de poderes con­sti­tuí­dos con­fla­gra­dos e com seus mem­bros só pen­sando nos próprios inter­esses?

O Brasil sofreu uma ten­ta­tiva de golpe, de supressão da democ­ra­cia, de forma atípica – muito emb­ora os mem­bros da inten­tona mais pare­cerem o esfar­ra­pado exército de Bran­ca­le­one –, mas a nossa democ­ra­cia não sairá vito­riosa se con­tin­uar­mos a pen­sar no inter­esse próprio em detri­mento do inter­esse do país.

A democ­ra­cia no mundo todo parece-​me cada vez mais frag­ilizada. Não são poucos os países onde líderes autoritários ameaçam ou estão tomando o poder na maio­ria das vezes com o apoio do povo que não apren­deram nada das lições históri­cas.

Vejam que mesmo a democ­ra­cia amer­i­cana – durante sécu­los um exem­plo de esta­bil­i­dade –, apre­senta sinais de frag­ili­dade.

Há três anos, como uma republi­queta de bananas qual­quer, sofreu uma ten­ta­tiva de golpe, quando por meios vio­len­tos ten­taram alterar o resul­tado eleitoral.

Agora, de forma inédita na sua história, des­ti­tuíram o pres­i­dente da Câmara dos Dep­uta­dos por causa da exces­siva polar­iza­ção política.

Não demora, como ocor­reu na Ale­manha nos anos ante­ri­ores ao nazismo, aque­les que ten­taram der­rubar a democ­ra­cia amer­i­cana chegarão ao poder mesmo todos sabendo que não pos­suem qual­quer com­pro­misso com ela.

O homem, defin­i­ti­va­mente, é o ser mais irra­cional do plan­eta pois emb­ora sabendo e tendo capaci­dade para dis­cernir entre o certo e o errado ele busca o cam­inho errado, ainda que isso só traga diss­a­bores para si mesmo e para todos no seu entorno.

Desde sem­pre sabe­mos que deve­mos preser­var a natureza, cuidar do plan­eta que é a “casa” de todos.

O que fize­mos? Destruí­mos o plan­eta, des­mata­mos as flo­restas, mata­mos os rios, cór­re­gos, igara­pés, poluí­mos os mares, con­sum­i­mos além do necessário.

Como sabe­mos e temos a opor­tu­nidade de con­statar, um dia a conta chega.

A cada dia o plan­eta está mais aque­cido, geleiras der­retem, a cada dia, a cada mês, dizem foi o mais quente de todo o sem­pre.

Even­tos climáti­cos nunca vis­tos acon­te­cem em todo mundo, calor escal­dante na Europa, tromba d’água na África, seca nunca vista na Amazô­nia, tor­na­dos e enchentes no sul Brasil.

Condições climáti­cas extremas, agravadas pela pobreza mais extrema ainda, além das guer­ras inter­nas e abu­sos con­stantes provo­cam as ondas de migração de pes­soas que só bus­cam um pouco de mel­hora para suas vidas.

Pes­soas que são aban­don­adas ou deix­adas à própria sorte quando não são mais mal­tratadas ainda.

Ninguém se acha cul­pado, ninguém se acha respon­sável – talvez Deus –, se a seca dos rios amazôni­cos, mata os peixes e mamíferos e se os humanos mor­rem de sede ou con­somem lama.

Mas é, tam­bém, em nome de Deus que se come­tem os maiores absur­dos. Na grande maio­ria das vezes aque­les que bradam o dia inteiro o nome de Deus são os primeiros a duvi­darem de sua existên­cia.

Ao fazer tais reflexões sobre os nos­sos dias, esse pequeno recorte neste 8 de out­ubro, imag­ino se não somos o mais retum­bante fra­casso da criação.

Daqui a pouco nen­hum de nós estará aqui. Nada. Nen­huma pro­priedade, nen­huma for­tuna, nen­huma posse. Nada disso nos servirá mais. Talvez não sejamos, sequer, um retrato na parede.

Daqui a pouco, talvez nem o plan­eta exista mais.

Nossa própria descendên­cia talvez não mais exista para nos honrar.

E isso encadeia uma outra inda­gação: o que esta­mos fazendo para ser­mos hon­ra­dos?

O que esta­mos, efe­ti­va­mente, fazendo de útil para ela, para a nossa descendên­cia?

São tan­tas reflexões. São tan­tas inda­gações.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.