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A vitória já é do HAMAS.

Escrito por Abdon Mar­inho


A vitória já é do HAMAS.

Por Abdon C. Marinho*.

CER­TA­MENTE não é pos­sível dimen­sionar toda a tragé­dia humana da atual guerra no Ori­ente Médio que tem como pro­tag­o­nistas o Estado de Israel e o grupo ter­ror­ista HAMAS, acrôn­imo de Harakat al-​Muqāwamah al-​ʾIslāmiyyah ou, na tradução aprox­i­mada, Movi­mento de Resistên­cia Islâmica (fique conosco, Abdon Mar­inho é cul­tura, rsrs), entre­tanto, a minha avali­ação é que essa guerra, já tem como vence­dor o grupo ter­ror­ista.

Nos pará­grafos abaixo expli­carei meu posi­ciona­mento e as razões pelas quais acho que a guerra já tem um vence­dor e porque esse vence­dor é o HAMAS, der­rotando Israel, Esta­dos Unidos (prin­ci­pal­mente estes) e diver­sos out­ros países.

Quando, em 07 de out­ubro de 2023, o grupo ter­ror­ista deu um “passa moleque” nas forças de segu­rança de Israel e provo­cou o ter­ror come­tendo todo tipo de atro­ci­dades con­tra os israe­lenses e mesmo cidadãos de out­ras nacional­i­dades, inclu­sive, levando con­sigo mais de duas cen­te­nas de pes­soas como sequestra­dos para pos­te­ri­or­mente utilizá-​las como moeda de troca, tinha como obje­tivo prin­ci­pal causar a reação que cau­sou no estado israelense.

Fico per­plexo quando vejo supos­tos espe­cial­is­tas afir­marem que o HAMAS quer a o fim ou a destru­ição do Estado de Israel na leitura da guerra atual.

Um absurdo imag­i­nar ou colo­car como ponto de dis­cussão a pre­missa que um grupo ter­ror­ista com o número esti­mado de 20 mil inte­grantes seja capaz de elim­i­nar um Estado Nacional como o de Israel que conta com o apoio “incondi­cional” dos Esta­dos Unidos (falare­mos disso mais à frente) e que pos­sui as mais mod­er­nas armas de com­bate do mundo, sem con­tar o exército reg­u­lar e os reservis­tas em números infini­ta­mente supe­ri­ores.

Chamar a atenção para o fato do grupo ter­ror­ista “querer” o fim de Israel é ape­nas uma bobagem, pois não seria com aquele ataque que iria con­seguir isso – muito pelo con­trário. Eu, por exem­plo, todo final de ano “quero” acer­tar soz­inho as dezenas da mega sena da virada, nunca con­segui.

É dizer, muito emb­ora tal assertiva con­ste do seu ideário ou “estatuto” não foi isso que os moveu nos ataques ter­ror­is­tas que deram iní­cio a atual guerra.

Não foi uma ação visando a “destru­ição” do Estado de Israel como muitos divul­gam e até trazem para supos­tos debates “sérios”.

O que os moveu foi provo­carem a reação que provo­caram nos diri­gentes israe­lenses. Uma reação tão vio­lenta quanto inócua.

As forças de segu­rança de Israel, por mais que digam, não tem condições de elim­i­nar o HAMAS, seus mil­i­tantes, além da Faixa de Gaza, onde travam com­bates con­tra os sol­da­dos israe­lenses, estão espal­ha­dos por todos os países da região com seus prin­ci­pais diri­gentes com­ple­ta­mente a salvo em alguns deles.

Logo, o que as forças israe­lenses vem fazendo é exercer o “dire­ito de vin­gança” con­tra a pop­u­lação palestina, majori­tari­a­mente de mul­heres, cri­anças e idosos.

Quan­tos inocentes não já pere­ce­ram para cada suposto ter­ror­ista elim­i­nado? Como um exército que se van­glo­ria de ser um dos mais prepara­dos do mundo prat­ica uma guerra de terra arrasada com a morte de mil­hares de pes­soas sob o argu­mento de elim­i­nar um ou outro mem­bro do grupo ter­ror­ista que os ata­cou?

A estraté­gia é burra até porque os ver­dadeiros diri­gentes do HAMAS, como dito ante­ri­or­mente, estão a quilômet­ros de dis­tân­cia dos locais onde Israel despeja mil­hares de bom­bas diariamente.

Inde­pen­dente do ataque ter­ror­ista do HAMAS – hor­rendo, ter­rível, cruel e todas as demais adje­ti­vações pos­síveis –, a reação Israe­lense não pode­ria (e não pode) ser na mesma moeda ou no mesmo for­mato, por uma razão que já expli­camos em um texto ante­rior, e que o próprio Estado de Israel e seus ali­a­dos fazem questão de ressaltar: o grupo HAMAS é um grupo ter­ror­ista.

Já o Estado de Israel é um estado nacional legí­timo e recon­hecido por quase todos os países do mundo.

Um estado nacional legí­timo – não sei porque temos que repe­tir isso já que é óbvio –, não pode agir como um grupo ter­ror­ista.

O HAMAS venceu a guerra quando fez Israel uti­lizar suas estraté­gias para o com­bate: o ter­ror­ismo indis­crim­i­nado con­tra civis inocentes, com o agra­vante de pos­suir um poten­cial de letal­i­dade e de sofri­mento infini­ta­mente supe­rior aos dele.

Em todas as nações do mundo as pes­soas sen­sa­tas, muito emb­ora con­denem o ato ter­ror­ista do HAMAS, con­de­nam, com muito mais veemên­cia, a reação israe­lense.

Em todos os grandes cen­tros do mundo, sem­anal­mente, exis­tem mon­u­men­tais protestos con­tra as ações de Israel na Faixa de Gaza.

Ninguém con­segue ficar indifer­ente às crat­eras aber­tas pelas bom­bas que são jogadas à cada min­uto, à destru­ição de hos­pi­tais, esco­las, cam­pos de refu­gia­dos e, prin­ci­pal­mente, a imagem de cri­anças trê­mu­las de pavor ou mor­tas.

O HAMAS venceu porque em todo o mundo já se dis­cute que a Faixa de Gaza é uma prisão a céu aberto onde estão con­fi­na­dos mais de dois mil­hões de pes­soas pas­sando todo tipo de pri­vações e sofrendo com as humil­hações mais diver­sas.

Imag­inem um europeu, que pode se deslo­car por todos os países do mundo, saber que na Faixa de Gaza ou mesmo na Cisjordâ­nia os palesti­nos não podem se loco­moverem livre­mente e que até mesmo para fugir da guerra Israel tem que per­mi­tir.

O HAMAS venceu a guerra porque em todos países ou fóruns globais estão dis­cutindo a neces­si­dade e urgên­cia de um estado palestino sober­ano e estão se debruçando para a real­i­dade de que Israel, desde que venceu a guerra de sua cri­ação, em 1948, e as guer­ras seguintes, vem, sis­tem­ati­ca­mente, avançando sobre os ter­ritórios que na par­tilha feita pela ONU, em 1947, caberia aos palesti­nos.

Muito emb­ora con­de­nando o ataque ter­ror­ista do HAMAS, o secretário-​geral da ONU, Anto­nio Guter­res, em declar­ação recente – que cau­sou revolta aos israe­lenses –, pon­tuou algu­mas ver­dades, den­tre as quais que o (injus­ti­ficável) ataque ter­ror­ista não ocor­reu no vácuo; e que ao longo dos anos os palesti­nos veem sofrendo infini­ta­mente com a perda de seus dire­itos.

Foi como se dissesse: — olha eles agi­ram errado ao “meter o bicho como meteram”, mas ao longo dos anos vocês provo­caram tal situ­ação.

O HAMAS já venceu a guerra con­tra Israel pois a sua ação ter­ror­ista por mais abom­inável que tenha sido (e foi) parece infini­ta­mente (e é) menos gravosa do que vem sendo a reação israe­lense na Faixa de Gaza onde joga bom­bas inces­san­te­mente con­tra os civis.

Ora, o ataque ter­ror­ista matou mil e qua­tro­cen­tas pes­soas inocentes que se diver­tiam ou estavam em suas casas, os ataques de Israel, em menos de um mês, tirou mais de dez mil vidas inocentes, com a des­culpa de ter elim­i­nado um, dois, uma dúzia de ter­ror­is­tas.

Tem jus­ti­fica­tiva que se faça assim? Então para se tirar um cisto é cor­reto que se mate o paciente?

As pes­soas sen­sa­tas e mesmo as nações, enten­dem que não.

A reação de Israel ao ataque ter­ror­ista tem cau­sado um efeito reverso, mesmo os palesti­nos (e out­ros árabes) que nunca apoiaram HAMAS pas­saram a apoiá-​lo.

O apoio, registre-​se, não é apoio ao ato ter­ror­ista, mas con­tra a reação Israe­lense, con­tra o mor­ticínio de civis, con­tra as prisões arbi­trárias, con­tra os deslo­ca­men­tos força­dos, con­tra as pri­vações impostas.

Essas pes­soas – se algum dia voltarem as eleições em Gaza e/​ou na Cisjordâ­nia –, votarão nos can­didatos do HAMAS.

Essa é outra der­rota de Israel.

O mundo assiste estar­recido a uma guerra assimétrica (ou seja onde Israel é muito mais forte) com mil­hões de inocentes, sobre­tudo, cri­anças sofrendo seus impactos mais dev­as­ta­dores.

A vitória é do HAMAS porque o apoio a cam­panha israe­lense vai reduzir-​se ainda mais à medida que o sofri­mento dos palesti­nos vai aumen­tando.

O próprio Joe Biden avaliando a impli­cação do seu “apoio incondi­cional”, já man­dou o Secretário de Estado pedir mod­er­ação.

Ele sabe que, muito emb­ora haja um apoio sig­ni­fica­tivo ao povo judeu nos EUA, mesmo os segui­men­tos mais orto­doxos já vêem com pre­ocu­pação os exces­sos cometi­dos. Biden sabe que, se a sua reeleição em 2024 já era uma incóg­nita, esse apoio incondi­cional a Netanyahu pode tornar a der­rota nas urnas uma certeza.

O pre­mier israe­lense que será cat­a­pul­tado do poder na hora que a guerra acabar, pode estar dando o seu último “abraço de afo­gado” no pres­i­dente amer­i­cano.

A única solução de paz pos­sível – que acred­ito possa ser aceito pelos palesti­nos e pela comu­nidade inter­na­cional –, é o esta­b­elec­i­mento dos dois países sober­a­nos e inde­pen­dentes nos ter­mos esta­b­ele­ci­dos pela ONU em 1947.

Em todos os cenários, a vitória é do HAMAS.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado, escritor e cro­nista.

P.S. — Após con­cluir o texto tomei con­hec­i­mento que um min­istro israe­lense propôs o lança­mento de uma bomba atômica con­tra a Faixa de Gaza por conta disso teria sido sus­penso. A lou­cura parece-​me descon­hecer limites.

Ode ao ladrão.

Escrito por Abdon Mar­inho


Ode ao Ladrão.

Por Abdon C. Marinho*.

O ladrão que trato na pre­sente crônica não é aquele a quem os reis (ou o povo) entregam as admin­is­trações das provín­cias ou mesmo aque­les que se ocu­pam de espre­itar os ban­his­tas para roubar-​lhes as vestes, ou que fam­intos, roubam o pacote de bis­coito ou um quilo de carne, con­forme nos faz lem­brar Vieira** no ser­mão do “Bom ladrão”.

O ladrão a que me refiro é aquele em quem você con­fiou, ou trouxe para perto de si, ou que é seu con­hecido, ou aquele lhe rouba o celu­lar, o salário do mês e ainda o chama de vagabundo, quando é ele o vagabundo.

O ladrão que trato é tam­bém aquele a quem esten­destes a mão em uma difi­cul­dade e até o teve por irmão.

O ladrão a que me refiro nessa crônica de ficção é aquele que tu jul­gastes mere­ce­dor de con­fi­ança e lhe deu crédito que ele jamais teve.

O ladrão que trato não é um ladrão deter­mi­nado, mas muitos e inde­ter­mi­na­dos podem vestir a cara­puça que lhe será con­fortável.

O ladrão é um ser desprezível, asqueroso, imundo, repug­nante, nojento, petu­lante, debochado, sujo, abjeto, infame, torpe, sór­dido, fétido …

O ladrão não tem qual­quer pre­ocu­pação com os danos que causa as pes­soas ao seu redor – ou de qual­quer lugar do mundo –, con­heci­das ou não.

O ladrão não liga se está cau­sando sofri­mento as cri­anças, mul­heres, enfer­mos, as famílias.

O ladrão sequer se pre­ocupa se os seus atos prej­u­dicam a sua própria família – se a tiver.

O ladrão não está “nem aí” se dos seus atos decorre a destru­ição dos son­hos das pes­soas, pois ele próprio não pos­sui sonho algum.

O ladrão se aprox­ima de ti na “maciota”, fin­gindo ser bom moço, ter sen­ti­men­tos nobres, famil­iares, tudo para des­per­tar uma certa empa­tia – isso até con­seguir o que quer.

O ladrão, em ver­dade, não tem empa­tia por nada além dos próprios inter­esses sub­al­ter­nos, mesquinhos …

O ladrão não ama a natureza, as pes­soas (só as quer para usar), os ani­mais, ou qual­quer ser vivente.

O ladrão é nar­ci­sista, ele se acha o máx­imo quando na ver­dade não é nada, quando se faz a apu­ração da sua vida vê-​se que nunca fez a difer­ença na vida de ninguém, entrou e saiu da vida sem deixar nada de útil para a posteridade.

O ladrão cul­tiva o ódio às mino­rias, às difer­enças, ao ser humano … pois ele próprio não sabe o que seja humanidade.

O ladrão é vai­doso chegando a orgulhar-​se da própria indigên­cia do seu caráter (ou seria da ausência?).

O ladrão é tam­bém um inve­joso. A mín­gua de con­quis­tar as coisas por seus próprios méri­tos, tenta – e as vezes con­segue –, roubar aquilo que é seu objeto de desejo.

O ladrão quer a sua vida. Ele inveja seu sucesso, seu tal­ento, suas amizades, suas conquistas.

O ladrão tem como uma das prin­ci­pais e primeiras mis­sões ten­tar con­quis­tar teus ami­gos, até chegar ao ponto de pro­por a eles que lhe deem uma “rasteira”.

O ladrão se não con­segue o seu intento ante­rior passa a ter esses ami­gos como tam­bém seus inimi­gos e passa a tra­bal­har para roubá-​los.

O ladrão é um infe­liz que não se pre­ocupa com os próprios riscos que corre no mal­ogro de suas tentativas.

O ladrão é um Midas reverso, tudo que ele toca, mesmo ouro, con­segue trans­for­mar em m… .

O ladrão não tem tal­ento para escr­ever, por isso se ocupa em criticar os escritos alheios, à procura de um erro de grafia ou de uma vír­gula ou ponto fora de lugar.

O ladrão não tem tal­ento para ler nada além dos man­u­ais de tra­paças ou as biografias dos trapaceiros.

O ladrão não tem tal­ento para os negó­cios pois não con­segue, sequer, ser um “ban­dido hon­esto”, estando sem­pre ocu­pado em “pas­sar a perna” em quem lhe con­fiou qual­quer coisa.

O ladrão não con­hece a arte, a lit­er­atura, a música, nada que o faça cul­ti­var bons sentimentos.

O ladrão não tem ami­gos, nen­huma amizade duradoura, no seu entorno só pros­peram os sabu­jos, adu­ladores e parasitas …

O ladrão não tem amizades porque é inca­paz de cul­ti­var bons sen­ti­men­tos estando sem­pre a espre­ita para aplicar um novo golpe em quem come­teu a ingenuidade de lhe confiar.

O ladrão é tão vigarista que quando não con­segue ninguém para roubar tenta roubar de si próprio.

O ladrão é inca­paz de agir com qual­quer escrúpulo, guia-​se pelos man­u­ais de tra­paça e de con­tratos fajuto, pouco lig­ando para o brio e o peso da palavra dada.

O ladrão não sabe o que é pejo, não sabe o sig­nifi­cado de caráter ou de decên­cia ou da antiga e pouco usual ver­gonha na cara.

O ladrão só se pre­ocupa em se “dar bem”, seja roubando um mil­hão ou mesmo um tostão.

O ladrão é tam­bém um covarde, ao roubar tudo de todos, no fim está em busca de alguém que dê cabo a sua vida de crimes.

O ladrão é inca­paz de assumir suas próprias respon­s­abil­i­dades por isso tenta roubar a vida de alguém junto com a sua.

O ladrão que é inca­paz de ir a guerra ou de qual­quer outro gesto de grandeza busca “matar”, tirar as vidas alheias com suas tor­pezas.

O ladrão de tão infame jamais con­seguirá lam­ber os pés daque­les a quem rouba.

O ladrão imag­ina que o hábito de roubar lhe con­fere outro sta­tus além do que mis­er­av­el­mente já é: ladrão.

*Abdon C. Mar­inho é advo­gado, escritor e cro­nista.

** Padre Antônio Vieira (Lis­boa, Por­tu­gal, 16081697, Sal­vador, Brasil).

Post Scrip­tum (P.S.) — iden­ti­fique o ladrão que con­hece e atrasa sua vida e o coloque no espaço da fotografia.

Out­ros que se iden­ti­fi­carem podem colo­car a própria imagem ou onde tem ladrão colo­car o nome.

A MEMÓRIA ME TRAIU OU A AMIZADE DE DEUS E ABRAÃO

Escrito por Abdon Mar­inho

A MEMÓRIA ME TRAIU OU A AMIZADE DE DEUS E ABRAÃO.

Abdon C. Marinho*.

COMO sabem, escrevo de memória.

É assim: após o café da manhã me instalo na poltrona pen­sadora, abro a tela do tablet e começo a escr­ever con­fiando uni­ca­mente na memória, nas lem­branças, sem qual­quer pesquisa. Uma ou duas horas depois, o tex­tão do fim de sem­ana está pronto para ser publicado.

No último final de sem­ana no texto Palestina ≠ Hamas ≠ Israel cometi um equívoco (já cor­rigido) que foi dizer que Ló inter­ced­era junto a Deus pela não destru­ição de Sodoma/​Gomorra e não Abraão, como seria o cor­reto.

Neste caso a memória me traiu duas vezes.

Cerca de dez ou quinze min­u­tos após a pub­li­cação do texto, minha sobrinha Már­cia Mar­inho me apon­tou o equívoco. Como estava andando pelo sítio acabei esque­cendo de fazer a cor­reção que só fiz ontem após rece­ber men­sagem do colega Eli Medeiros apon­tando o mesmo equívoco no texto.

A ambos meus sin­ceros agradecimentos.

Na ver­dade, como sabe­mos Deus era “chapa” de Abraão, daque­les de sen­tar na varanda de casa e ficarem levando um papo enquanto Sara prepar­ava o cafez­inho para ambos.

No episó­dio, em sen­tido reverso, que usei para criticar a matança indis­crim­i­nada de inocentes em Gaza, sobre­tudo, cri­anças, mul­heres, idosos e enfer­mos por Israel na sua guerra con­tra o grupo ter­ror­ista Hamas, deu-​se o seguinte:

Vis­i­tava Deus os ‘parças’ Abraão e Sara e após dizer que a última engravi­daria em breve, ape­sar da idade avançada, fazendo com que Sara risse Dele – viram o grau de intim­i­dade? Quando Deus disse que Sara ficaria grávida, ela pois-​se a rir de suas palavras. Tipo assim: –– conta outra bar­budo –, começaram a con­ver­sar sobre a situ­ação de Sodoma e Gomorra, enquanto Sara fora a coz­inha preparar o café.

Deus anun­ciou que lançaria os mís­seis mais potentes para destruir as duas cidades.

Tendo Abraão pon­der­ado: –– Destru­irás o justo com o ímpio (em lin­guagem atual: tu vai destruir os inocentes junto com os culpados?).

Veja a intim­i­dade de Abraão era tão grande que ele o chamava de tu.

E con­tin­uou Abraão: –– Se por­ven­tura hou­ver cinquenta jus­tos na cidade, destru­irás tam­bém e não pouparás o lugar por causa dos cinquenta jus­tos que estão den­tro dela? Longe de ti que faças tal coisa, que mate o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o juiz de toda a terra?

Veja que Abraão deu uma “chamada” em Deus, chamando-​o à razão. Dizendo ser injusto que cul­pa­dos e inocentes fos­sem punidos jun­tos.

Deus pen­sou, viu que o ‘parça’ Abraão estava certo, disse: –– Tá bom, se eu achar em Sodoma cinquenta inocentes, por conta deles não lançarei os mís­seis destruidores.

Abraão, já certo que vencera, o “barba” na argu­men­tação de fundo, foi além: –– já que disse o que penso, con­tinuo a dizer: Se não forem cinquenta, mas ape­nas quarenta e cinco, pela falta de cinco destru­irás a cidade.

Deus respon­deu: –– Está bem, Abraão, não lançarei os mís­seis se achar ali quarenta e cinco.

Abraão: –– e se forem quarenta?

Deus: –– não lançarei os mís­seis por causa dos quarenta inocentes.

Abraão: –– e se forem trinta os inocentes?

Deus: –– não lançarei os mís­seis por causa desses trinta.

Abraão: –– e se forem ape­nas vinte?

Deus: –– não lançarei os mís­seis de fab­ri­cação amer­i­cana por causa desses vinte.

Abraão insis­tiu: –– brother, des­culpa a “apor­rin­hação”, vai que só encon­tre ali dez inocentes?

Deus: –– cabra tu estás chato, tá bom, se achar os dez inocentes não lançarei os mís­seis, vou man­dar verificar.

Foi a hora que Sara chegou com o café, Deus tomou uma xícara com uma broa de milho, se des­pediu do casal e foi cuidar dos seus afaz­eres – que já eram muitos.

Dias depois foi que man­dou os anjos fazer o censo dos inocentes de Sodoma/​Gomorra e foram acol­hi­dos por Ló.

Não tendo os anjos recenseadores encon­tra­dos os inocentes que Abraão imag­i­nara que tivesse, e ainda ten­taram “pas­sar” os mes­mos, Deus lançou ataques vio­len­tos com todos os mís­seis que pos­suía no arse­nal celes­tial, não deixando sequer vestí­gios das cidades.

Ape­nas Ló e suas fil­has se sal­varam. Enquanto fugiam para as mon­tan­has ou out­ras ter­ras dis­tantes já que as cidades não eram cer­cadas, a esposa de Ló olhou para trás e foi con­ver­tida em uma estátua.

Con­forme disse no texto ante­rior, Deus só lançou os seus mís­seis após a ver­i­fi­cação “in loco” da inex­istên­cia de inocentes.

O que ocorre nos dias atu­ais é que o exército judeu, difer­ente do que tanto cobrou Abraão de Deus, estão mirando nos inocentes e não nos cul­pa­dos.

É o con­trário do acordo cel­e­brado naquela tarde entre Deus e Abraão (o pai de todos eles) enquanto aguar­davam o café de Sara.

Outro “parça” que tem tudo a ver com os con­fli­tos dos nos­sos tem­pos foi Moisés. Mas nesse caso Deus teve sua parcela de responsabilidade.

Como escrevo “de memória” como dito acima, só lem­bro de dois caras que tiveram intim­i­dade com Deus a ponto de con­ver­sarem cara a cara, ou como se dizia antiga­mente, na face do Sen­hor: Abraão e Moisés.

Só que no tempo de Abraão Deus tinha mais tempo, podia ficar uma tarde inteira tro­cando umas ideias com ele, dis­cutindo sobre as coisas terrenas.

Já no tempo de Moisés o trampo estava mais pux­ado. Já haviam con­fli­tos por todos os lados, Deus já pen­sando em destruir tudo e começar de novo.

Deus já não tinha tanto tempo e para agravar a situ­ação Moisés era gago.

Imag­ine, você cheio de coisas para fazer e pre­cisar fazer uma reunião com o gago para passar-​lhe uma con­sti­tu­ição inteira.

Por isso que só saíram os dez man­da­men­tos dita­dos por Deus a Moisés.

A respon­s­abil­i­dade div­ina nos episó­dios recentes deu-​se pela falta de tempo de Deus e pela gagueira de Moisés.

Quando Deus salvou os hebreus do cativeiro no Egito – os fazendo vagar por quarenta anos pelo deserto –, Moisés subiu no monte para rece­ber a con­sti­tu­ição do povo, que como disse, Deus só teve tempo de ditar os dez man­da­men­tos, mandando-​o se virar com o resto das leis.

Pois bem, naquela opor­tu­nidade, após pas­sar ditar a con­sti­tu­ição, Deus dirigiu-​se a Moisés e indagou: –– Ok, Moisés, já os tirei do cativeiro, já te ditei a con­sti­tu­ição, agora me diz ai para onde queres que mande o seu povo?.

Moisés começou: –– ca-​ca, ca-​ca…

Deus, sem tempo, foi no mais rápido: –– certo Moisés, todo mundo para Canaã.

E foi cuidar dos out­ros conflitos.

Na ver­dade Moisés que­ria dizer Canadá.

Por conta dessa falta de comu­ni­cação, dessa impaciên­cia div­ina temos esse con­flito todo.

Como os ami­gos devem saber, esse texto é uma crônica, não tomem ao “pé da letra” mas tem fundamento.

A atual guerra me fez recor­dar, tam­bém, a série de debates que travei com o saudoso amigo Wal­ter Rodrigues por conta das diver­sas “inti­madas” ocor­ri­das antes de sua morte. Todas elas, claro, nem de longe, tão vio­len­tas quanto a atual, o que per­mi­tia ao amigo dizer, entre a pil­héria e a pre­ocu­pação: –– Abdon, em todo o Ori­ente Médio não existe uma única pedra que ainda não tenha sido ati­rada uns con­tra os out­ros.

Saudosas e tristes memórias.

Abdon C. Mar­inho é advogado.