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Trinta anos de uma cam­panha mem­o­rável episó­dio 2 O racha da esquerda

Escrito por Abdon Mar­inho


TRINTA ANOS DE UMA CAM­PANHA MEM­O­RÁVEL II.

Por Abdon C. Marinho.

Episó­dio 2 — O racha da esquerda.

O SÍTIO Pira­pora, no bairro Santo Antônio, em São Luís, era o palco prin­ci­pal dos encon­tros da esquerda maranhense.

O Par­tido Social­ista Brasileiro — PSB do Maran­hão até por diver­sas moti­vações de ordem prática, tinha prefer­ên­cia por seus espaços.

Difer­ente de out­ros par­tidos de esquerda com uma base mais urbana, sindi­cal ou estu­dan­til, quase noventa por cento (ou próx­imo disso) da base do PSB era com­posta por tra­bal­hadores rurais, que­bradeiras de côcos de babaçu, homens, mul­heres, jovens, que viviam no campo, da agri­cul­tura famil­iar e ativi­dades cor­re­latas. Pes­soas sim­ples, hon­es­tas e com uma visão prática do mundo muito mais clara do que muitos “doutores”.

Os par­tidos políti­cos não dis­pun­ham dos recur­sos finan­ceiros que dis­põem hoje para alu­gar hotéis ou cen­tros de con­venções. O Pira­pora era o espaço ideal pois ofer­e­cia alo­ja­men­tos, refeitório e local para a reunião.

Con­forme fos­sem as pau­tas de debates, já na quinta ou sexta-​feira as lid­er­anças políti­cas do par­tido começavam a chegar no Pira­pora e se dividi­rem entre os alo­ja­men­tos mas­culino e fem­i­nino. Muitos traziam suas redes. Com o aluguel do sítio já con­tratava coz­in­heira para preparar as refeições, gente para fazer a limpeza (parte dela feita pelos próprios par­tic­i­pantes) e se mon­tava a logís­tica de fun­ciona­mento do evento.

Geral­mente os con­gres­sos con­tavam com trezen­tas ou mais pes­soas e as reuniões do diretório na faixa de cem ou um pouco mais ou menos. Eram pes­soas que vin­ham de todos can­tos do estado, sul do estado, baix­ada, mearim, médio Par­naíba, etc.

Desde que chegavam e nos horários de folga ou à noite esses tra­bal­hadores e tra­bal­hado­ras rurais tro­cavam impressões e infor­mações sobre suas regiões e como estava o embate político nos seus municí­pios, suas lutas por dire­itos, con­tra a vio­lên­cia no campo.

As análises de con­jun­tura para as eleições de 1994 começaram já pelo final do ano ante­rior.

Nas eleições de 1992, na cap­i­tal, o PDT, de Jack­son Lago, apoiou a can­di­datura de Con­ceição Andrade (PSB). Muito emb­ora ela tenha tido uma boa per­for­mance nas eleições para o gov­erno em 1990, sem o apoio do PDT, da sua estru­tura de poder – uma vez que estavam no comando da prefeitura e bem avali­a­dos –, e sua mil­itân­cia talvez não tivesse ganho a eleição (ou mesmo não tivesse sido can­di­data).

A eleição seria um primeiro con­fronto entre as forças lig­adas ao poder munic­i­pal e as forças lig­adas ao poder do gov­erno estad­ual.

Os can­didatos no primeiro turno (seria a primeira eleição munic­i­pal com dois turnos), por ordem de votos foram: Con­ceição Andrade (PSB, PDT, PCdoB e PPS), que obteve 134.910, 38,26%; João Alberto Souza (PFL, PV, PCN), 58.922, 16,75%; Evan­dro Bessa (PDS, PMDB, PRN, PL), 42.000,11, 94%; Car­los Guter­res (PDC), 26.000, 7,39%; Betto Dou­glas (PMN), 24.000, 6,82%; Jaime San­tana (PSDB, PRP) 17.000, 4,83%; Costa Fer­reira (PTR), 16.000, 4,55%; Haroldo Sabóia (PT, PC), 13.000, 3,70%; Rubens Soares (PSD), 10.472, 2,98%; Nan Souza (PST, PSC), 1,42%; e Mauro Fecury PTB), 4.500, 1,28%.

O resul­tado do primeiro turno traz como destaque o boa votação de Evan­dro Bessa, que tinha o apoio de Cafeteira e ficou em ter­ceiro lugar, Car­los Guter­res que perdeu a eleição qua­tro anos antes por pouco mais de mil votos, ficou em quarto lugar; o can­tor Betto Dou­glas que alcançou 24 mil votos ficando muito à frente de políti­cos de renome como Jaime San­tana, Costa Fer­reira, Haroldo Sabóia, Nan Souza, que eram dep­uta­dos e até mesmo do ex-​prefeito biônico Mauro Fecury.

O segundo turno, ape­sar do resul­tado final ter sido ampla­mente favorável a col­i­gação PSB, PDT, PCdoB e PPS com a chapa Conceição/​Aziz obtendo 137.687 votos o que cor­re­spon­dia a 64,1%, con­tra os 77.239 votos da chapa João Alberto/​Bosco, que cor­re­spon­dia a 35,9%, a dis­puta foi forte.

Os números rev­e­lam que Con­ceição só acres­cen­tou pouco mais de três mil votos à votação que obteve no primeiro turno enquanto que João Alberto acres­cen­tou quase 20 mil votos. Sem con­sid­erar que muitos dos que con­cor­reram no primeiro turno foram apoiar Con­ceição, como foi o caso de Evan­dro Bessa, Car­los Guter­res, os que lem­bro.

Isso para dizer que os números finais não refletem o clima da dis­puta. Ape­sar do mote de que ilha rebelde não votaria em um can­didato do grupo Sar­ney, João Alberto havia sido gov­er­nador (sucedeu Cafeteira quando esse deixou o gov­erno para dis­putar o Senado) e se nota­bi­li­zou por oper­ações poli­ci­ais fortes con­tra o crime orga­ni­zado a pis­to­lagem, den­tre as quais merece destaque a Oper­ação Tigre, tão efi­caz quanto con­tro­ver­tida.

No segundo turno das eleições o ex-​governador “assumiu” esse papel de, dig­amos, jus­ti­ceiro e sua cam­panha man­dou “plotar” os seus veícu­los a imagem da ave “car­cará”, imor­tal­izado nos ver­sos do can­tor João do Vale como aquela ave lá da baix­ada que “pega, mata e come”. Aliás, segundo os dicionários, o sig­nifi­cado em sen­tido fig­u­rado do termo é pes­soa ruim e mal­vada.

O certo é que emb­ora tenha per­dido por larga margem, pelo tanto que cresceu entre o primeiro e o segundo turno, não fez feio.

Um fato que tam­bém con­tribuiu para sur­preen­dente per­for­mance de João Alberto no segundo turno foi o enga­ja­mento de segui­men­tos da juven­tude na cam­panha dele. A juven­tude da ilha sem­pre estivera lig­ada a esquerda nos seus diver­sos par­tidos, PDT, PSB e a UJS, vin­cu­lada ao PCdoB.

A par­tir daquela eleição os par­tidos “ditos” de dire­ita começaram a “apos­tar” nos segui­men­tos juve­nis. Um dos respon­sáveis do por isso foi o atual dep­utado estad­ual do MDB, Roberto Costa, que ini­ciou sua mil­itân­cia política no PSB e levou essa “exper­tise” para a cam­panha do PFL.

Con­ceição Andrade (PSB) gan­hou a eleição com o apoio do PDT e teria que fazer um gov­erno que equi­li­brasse os inter­esses desses ali­a­dos majoritários com os do seu par­tido, o PSB. Não seria e não foi fácil.

Nos con­gres­sos do PSB ocor­ri­dos no final de 1993 e começo de 1994 era clara a insat­is­fação das diver­sas lid­er­anças do par­tido, prin­ci­pal­mente, as lid­er­anças rurais com o gov­erno de Con­ceição.

Achavam que o par­tido não tinha qual­quer espaço (o espaço era muito reduzido) e recla­mavam até da falta de acesso que tinha à prefeita que era do par­tido.

Essas lid­er­anças estavam acos­tu­madas a ter as por­tas aber­tas. Con­ceição ini­ciara na polit­ica pela advo­ca­cia, foi como advo­gada dos tra­bal­hadores rurais, enfrentando as “gri­la­gens” de ter­ras e a vio­lên­cia no campo que con­quis­tou os apoios necessários a sua primeira eleição, em 1986, ainda pelo grupo “Nossa Luta”, agru­pado den­tro do PMDB. A prefeita não estava mais à dis­tân­cia de um trinco dos mes­mos, como estivera como advo­gada, dividindo dormida com eles em sedes de sindi­ca­dos, casas paro­quiais ou mesmo em acam­pa­men­tos no campo ou como dep­utada na antiga Assem­bleia da Rua do Egito, quando qual­quer pes­soa bas­tava bater numa porta para entrar no gabi­nete e ser aten­dida.

O acesso ao gabi­nete da prefeita na prefeitura da cap­i­tal era mais com­plexo, as pes­soas que estavam antes do gabi­nete, na maio­ria das vezes, não con­heciam nen­huma daque­las lid­er­anças do PSB que eram da “coz­inha” da prefeita e a prefeita da “coz­inha” delas e difi­cul­tavam ou não per­mi­tiam o acesso. Sem con­tar as próprias atribuições e respon­s­abil­i­dades do cargo.

Na época eu era chefe da gabi­nete do dep­utado Juarez Medeiros e muitos dessas lid­er­anças con­heci­das e ami­gas iam lá – ou mesmo no gabi­nete do dep­utado Costa, que foi eleito no lugar de Con­ceição nas eleições de 1990 –, com esse tipo de recla­mação ou queixa.

O resumo do que diziam: a prefeita é do par­tido mas o gov­erno é do PDT, nós não temos “nada” no gov­erno, não encam­in­hamos qual­quer reivin­di­cação; não faz difer­ença alguma ter­mos ou não a prefeitura da cap­i­tal.

Esse sen­ti­mento, essa insat­is­fação, queixas, etc., são rel­e­vantes para que se com­preenda que não foi “traumático” o PSB romper a aliança com o PDT para apoiar a can­di­datura de Cafeteira, PPB. Aque­las lid­er­anças tin­ham estado com ele em 1986. Em 1988 inte­graram a União da Ilha com PDT mas não se sen­tiam inte­grante do gov­erno Jack­son Lago, em 1990, emb­ora todos ten­ham apoiado Con­ceição ao gov­erno mas perderam e quando ganha em 1992, no gov­erno de uma “estrela” do PSB não se sen­tem rep­re­sen­ta­dos.

Por todos esses motivos, quando se ini­cia­ram as análises de con­jun­tura política para as eleições estad­u­ais de 1994, a maio­ria sig­ni­fica­tiva das lid­er­anças do par­tido, con­forme disse ante­ri­or­mente, homens, mul­heres e jovens do campo não tiveram difi­cul­dades em indicar ou apoiar o nome de Cafeteira ao invés de seguir com a aliança com o PDT de Jack­son Lago.

No último con­gresso do PSB de 1993 já haviam indica­tivos que isso pode­ria acon­te­cer.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

PS. No próx­imo episó­dio tratare­mos da decisão de apoiar Cafeteira, do racha entre o PSB e PDT e a falta de visão política que levou o Maran­hão a per­manecer estag­nado politi­ca­mente.

Trinta anos de uma cam­panha memorável.

Escrito por Abdon Mar­inho


TRINTA ANOS DE UMA CAM­PANHA MEM­O­RÁVEL.

Por Abdon C. Marinho*.

Episó­dio 1 — Fatos históri­cos ante­ri­ores.

ENQUANTO me preparo para mais uma cam­panha eleitoral – leitura de res­oluções, regras, entendi­men­tos, debates sobre o que vai ou não poder se fazer –, min­has lem­branças foram sendo tomadas por flash­backs daquela que, para mim, foi a mais impor­tante cam­panha que par­ticipei.

Falo da cam­panha eleitoral de 1994 – aquela que gan­hamos e não lev­a­mos.

Os indi­cadores do IBGE apon­tam o nosso estado “ainda” na rabeira de tudo. Por der­radeiro saiu de renda per capita e lá estava o Maran­hão com uma renda de menos de mil reais, um com­par­a­tivo com um mais ele­vado, chega a ser menos de um terço da renda per capita do Dis­trito Fed­eral, que encabeça a lista. Antes dessa tinha saído a de esgo­ta­mento san­itário, mais uma vez, lá atrás; e, antes ainda indi­cadores edu­ca­cionais (os foi de infraestru­tura?), atrás. Pouca difer­ença faz qual é o indi­cador, rara­mente o nos desta­camos de forma positiva.

Esses números e fatos me fiz­eram pen­sar: e se em 1994, além de gan­har­mos, tivésse­mos lev­ado a vitória para “casa”? Se tivésse­mos feito a “tran­sição” de poder com Cafeteira? O Maran­hão seria um estado mel­hor? Teríamos nos desen­volvido como fiz­eram out­ros esta­dos ao romperem com suas oli­gar­quias estad­u­ais?

Em 1986, Cafeteira elegeu-​se gov­er­nador numa aliança com o grupo do arqui-​inimigo Sar­ney, alçado à presidên­cia da República por conta da morte de Tan­credo Neves. O grupo “Nossa Luta”, for­mado por diver­sas lid­er­anças cam­pone­sas, lid­er­ado por Juarez Medeiros, Con­ceição Andrade, José Car­los Sabóia, José Costa, Celso Veras, e tan­tos out­ros, inte­grava o PMDB (Par­tido do Movi­mento Democrático Brasileiro) e apoiou, em torno de alguns com­pro­mis­sos, a eleição de Cafeteira, em 1986.

Deve­mos lem­brar que em 1986, após a eleição de Tancredo/​Sarney o país ainda fazia uma tran­sição do bipar­tidarismo para o sis­tema pluri­par­tidário que vive­mos até hoje. Todos os que eram con­tra a ditadura ficaram “hospeda­dos” no MDB.

Um esclarec­i­mento: até o iní­cio da rede­moc­ra­ti­za­ção do país os par­tidos políti­cos não eram chama­dos par­tidos, com isso tín­hamos a ARENA, que dava sus­ten­tação ao régime mil­i­tar e o MDB, onde ficavam todos que se opun­ham ao mesmo.

Com o iní­cio da aber­tura política a ARENA transformou-​se em PDS; e por ocasião da eleição indi­reta no Colé­gio Eleitoral, surgiu a dis­sidên­cia do par­tido chamada “Frente Lib­eral”, que pos­te­ri­or­mente veio a chamar-​se Par­tido da Frente Lib­eral — PFL.

Além do MDB e ARENA/​PDS, poucos par­tidos tin­ham reg­istros e/​ou pos­suíam den­si­dade política para enfrentar dis­putas, den­tre eles, o Par­tido Democrático Tra­bal­hista — PDT, que con­seguiu reg­istro em 1981 e o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, que con­seguiu reg­istro em 1982.

No Maran­hão, além de todos os prob­le­mas que per­du­ram até hoje, vivíamos uma fase de muitos con­fli­tos agrários, tradução para assas­si­natos, “gri­lagem de ter­ras” – e toda sorte de vio­lên­cia.

Foi em tal con­texto que o grupo “Nossa Luta” apoiou a eleição de Cafeteira em 1986 e con­seguiu eleger três par­la­mentares: José Car­los Sabóia, dep­utado fed­eral; Juarez Medeiros e Con­ceição Andrade, dep­uta­dos estad­u­ais.

Cabe, ainda, salien­tar que em 1985, na esteira da rede­moc­ra­ti­za­ção, tive­mos a eleição para prefeitos das cap­i­tais. Em São Luís a dis­puta teve como atores prin­ci­pais, a esposa do ex-​governador João Castelo, que foi eleita, sendo uma das primeiras mul­heres a se elegerem prefeita de cap­i­tal; o dep­utado fed­eral Jaime San­tana, pelo PFL, com o apoio do prefeito biônico, Mauro Fecury, do gov­erno estad­ual, e do gov­erno fed­eral, a cam­panha gan­hou o sug­es­tivo nome de “força total”, que perdeu por menos de dez mil votos; na mesma dis­puta, logo em seguida vieram Jack­son Lago, pelo PDT; Haroldo Sabóia, pelo PMDB; Luis Soares (Vila Nova), pelo PT; e, Ema­noel Viana, pelo PMB.

Cafeteira foi eleito, em 1986, pela Col­i­gação “Aliança Democrática”, que reuniu PMDB, PFL, PTB, PCB e PCdoB, esses últi­mos par­tidos tira­dos da ile­gal­i­dade recen­te­mente pelo gov­erno Sar­ney. Nas palavras de Ader­son Lago, que foi um dos que coor­de­nou a cam­panha foi “uma festa”, bas­tava pen­sar numa neces­si­dade que a solução já se mostrava pre­sente.

A vitória con­tra o ex-​governador João Castelo foi con­tun­dente: 81,03% con­tra 16,52%; a can­di­datura do PT, rep­re­sen­tado por Delta Mar­tins obteve ape­nas 2,45%.

O PDT de Jack­son Lago apoiou Cafeteira mas sem inte­grar a col­i­gação, lançando cha­pas para o Senado e para Câmara dos Dep­uta­dos e Assem­bleia.

Nessa mesma eleição, por conta do quo­ciente eleitoral o líder do PDT, Jack­son Lago, ape­sar de ter obtido uma votação das mais expres­si­vas, na con­seguiu ir para o Con­gresso Nacional como dep­utado.

O gov­erno Cafeteira, a par­tir de 1987, foi mon­tado a par­tir das forças que o apoiaram, inclu­sive, cabendo ao PDT a Sec­re­taria de Saúde, que pas­sou a ser coman­dada por Jack­son Lago.

Em 1988, eleições munic­i­pais nova­mente, dois secretários de Cafeteira deixam o gov­erno para dis­putarem a prefeitura da cap­i­tal, Jack­son Lago, do PDT, pela col­i­gação União da Ilha, com­posta por PDT, PMC, PCdoB, PSB e PSDB; e Car­los Guter­res, PMDB, que for­mou a col­i­gação Aliança Democrática for­mada pelos par­tidos PMDB, PFL, PJ, PND, PDC; Ainda fig­u­raram na dis­puta Jairz­inho da Silva, pela col­i­gação Resistên­cia, for­mada por PDS, PTB. PMB e PTR; José Heluy, do PT; e Edi­valdo Holanda, pelo PL, estes últi­mos em col­i­gações menores.

Cabe uma obser­vação sobre o per­son­agem Jairz­inho da Silva, radi­al­ista pop­u­lar que há muitos anos tinha um pro­grama na Rádio Riba­mar. Em 1982 ele foi eleito vereador da cap­i­tal (o prefeito era biônico, mas os vereadores eram eleitos); em 1985, foi eleito vice-​prefeito na chapa com Gardê­nia Gonçalves; em 1986, foi eleito dep­utado estad­ual e em 1988, estava can­didato a prefeito da cap­i­tal, ficando em ter­ceiro lugar, com 20% dos votos váli­dos.

Como sabe­mos, aquela foi uma das mais dis­putadas eleições, tendo Jack­son Lago sido eleito com 31,14% (85.801) e Car­los Guter­res, ficando em segundo lugar com 30,71% (84.636), pouco mais de mil votos entre os dois can­didatos.

Con­vém obser­var, que a regra dos dois turnos foi imple­men­tada na Con­sti­tu­ição de 1988, mas como o processo eleitoral já havia sido defla­grado por ocasião de sua pro­mul­gação a regra não pode­ria ser apli­cada.

(Juarez Medeiros, Neud­son Claudino, Luiz Vila Nova, Domin­gos Dutra e José Costa, reg­istro de 1990).


Em 1990, Cafeteira renun­cia ao gov­erno estad­ual para candidatar-​se ao Senado, assu­mindo o gov­erno o vice-​governador, João Alberto Souza. Após Cafeteira descer a rampa do Palá­cio do Planalto com Sar­ney que deix­ava o gov­erno para Fer­nando Col­lor, eleito em 1989, assumir, recomeçou o dis­tan­ci­a­mento (e a oposição) entre ambos.

Naquela eleição Cafeteira apoiou, jus­ta­mente o adver­sário da eleição ante­rior, o ex-​governador João Castelo, da col­i­gação Maran­hão Livre, PRN, PMDB, PDC, PSDB, PDS, PL, e PSD, con­tra o can­didato do grupo Sar­ney, Edi­son Lobão, do PFL, da col­i­gação Maran­hão do Povo, PFL, PTB, PSC,

Nessa eleição, pela primeira vez na história do estado, a oposição de esquerda teve uma can­di­datura com­pet­i­tiva – não digo com condições de gan­har, mas de dis­putar –, a dep­utada estad­ual Con­ceição Andrade (PSB) foi lançada ao gov­erno tendo o empresário Neud­son Claudino (PT) como vice, na chamada Frente Pop­u­lar do Maran­hão for­mada pelos par­tidos PSB, PR, PDT, PCB e PCdoB.

O resul­tado do primeiro turno foi: Castelo, com 595.392 votos (45,75%); Lobão, com 459.542 votos (35,31%); e Con­ceição com 246.468 votos (18,94%). Se com­para­r­mos com os quase e dois e meio da pro­fes­sora Delta Mar­tins na eleição de 1986, foi um salto extra­ordinário.

No segundo turno esses votos da oposição de esquerda migraram para a chapa Lobão/​Fiquene que obtiveram 695.727 votos (53,92%) con­tra 594.620 votos (46,08%) da chapa Castelo/​Ney Bello.

A oposição de esquerda vin­culava o ex-​governador João Castelo à ditadura por conta de ter sido nomeado gov­er­nador biônico em 1978; por ser rela­cionado aos atos de vio­lên­cia no campo e con­tra os estu­dantes em 1979; por ser ali­ado de Col­lor de Melo nas eleições de 1989.

Todos esses fatores fiz­eram com que preferis­sem o Lobão, can­didato de Sar­ney.

Mesmo os que não o apoiaram não dis­seram nada con­tra.

Nessa eleição de 1990 Cafeteira foi eleito senador com quase sessenta por cento dos votos (59,56%), para ser­mos mais pre­cisos.

Na eleição seguinte, 1992, Con­ceição Andrade eleita prefeita da cap­i­tal pelas forças políti­cas da oposição de esquerda.

No próx­imo (ou próx­i­mos) episó­dio falare­mos da eleição de 1992 e de como a oposição de esquerda perdeu a opor­tu­nidade de gan­har aquela mem­o­rável eleição de 1994.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

PS. Os fatos nar­ra­dos são per­cepções de um ado­les­cente que estava “de fora”, assistindo, com pouca par­tic­i­pação efe­tiva e nos dados cole­ta­dos do TSE.

Ensaio sobre as palavras.

Escrito por Abdon Mar­inho


ENSAIO SOBRE AS PALAVRAS.

Por Abdon C. Marinho*.

QUANDO menino, ainda na primeira infân­cia e morando na aldeia orig­inária, cos­tu­mava ouvir do meu pai, anal­fa­beto por parte de pai, mãe e parteira, uma expressão: — se não sabe falar, mel­hor calar.

Na mesma época tín­hamos por casa um velho cachorro branco – bem velho, mesmo –, que, imag­ino, viera com a família do Rio Grande do Norte por ocasião da vinda para o Maran­hão, a quem todos chamavam de “Calar”. Era o nosso “Baleia”, no para­lelo famil­iar com “Vidas Secas”, de Gra­cil­iano Ramos.

Como disse, ainda na primeira infân­cia e sem con­hecer o sen­tido das palavras, imag­i­nava que meu pai estava referindo-​se ao cachorro. Não sabia falar, era o velho cão.

Out­ros ditos daque­les dias: “lín­gua não é osso mas que­bra caroço”, “palavras cor­tam mais que lâmi­nas”, entre out­ras.

Com o tempo aprendi que você pode expres­sar tudo que pensa sobre quais­quer temas desde que saiba como fazê-​lo.

Aprendi isso com a vida – e após come­ter muitos erros.

O pop­u­lar Abelardo Bar­bosa, o Chacrinha, criou um bor­dão que ultra­pas­sou sua existên­cia ter­rena, dizia ele quando ani­mava nos­sas jovens tardes: — quem não se comu­nica se tram­bica.

Acred­ito ser incon­testável que o atual man­datário da nação seja um grande comu­ni­cador – tanto que con­seguiu eleger-​se pres­i­dente três vezes, algo inédito na história do país desde a rede­moc­ra­ti­za­ção, sem con­tar a eleição da ali­ada em 2010 e 2014 –, por outro lado, exceto pelos seus “devo­tos”, tam­bém é fato a sua imensa capaci­dade de dizer tolices, con­fundir alhos com bugal­hos ou fazer com­para­ções de coisas incom­paráveis ou rel­a­tivizar assun­tos com­plexos.

Talvez esse imenso pendão para tolices até realce a capaci­dade de comunicar-​se, afi­nal, se con­segue se man­ter por tan­tos anos “na crista onda” ape­sar das enormi­dades que pro­fere deve ser porque é bom, é o cara.

E vejam que essa incon­trolável atração por bobagens não vem de agora.

Já no iní­cio da car­reira como líder político, em entre­vista à saudosa revista Play­boy disse, sem pudor, da sua admi­ração por Hitler; lá na frente foi fla­grado em um áudio indis­creto falando da neces­si­dade de con­struir uma rodovia chamada “trans­vi­adônica” lig­ando o municí­pio de Pelotas (RS) ao municí­pio de Camp­inas (SP); já foi fla­grado rel­a­tivizando a escravidão brasileira; já teve áudios divul­ga­dos falando sobre mul­heres do “grelo duro”, e tan­tas out­ras coisas coisas que pas­saríamos dias só escrevendo sobre elas.

Muito emb­ora sua suces­sora eleita em 2010 tenha se nota­bi­lizado pelas bobagens e pelas coisas sem nexo pro­feri­das durante o mandato, acred­ito que chega longe das ditas pelo líder.

No trato da política inter­na­cional, com o debate con­t­a­m­i­nado pelo viés ide­ológico, então nem se fala.

No mesmo dia em o “nosso” líder ataca os Esta­dos Unidos ou as sec­u­lares democ­ra­cias europeias é capaz de defender o régime venezue­lano ou a ditadura cubana.

Tudo isso sem tro­car de terno ou mesmo a gra­vata.

Os despropósi­tos são tan­tos que chegou a colo­car em condições de igual­dade uma nação que estava (está) sendo inva­dida com a nação inva­sora.

Isso não faz muito tempo, foi logo no iní­cio da guerra do Ucrâ­nia, que acaba de com­ple­tar dois anos. Mais à frente, ainda em relação ao mesmo con­flito, con­vi­dou o auto­crata inva­sor Putin a vis­i­tar o Brasil para o encon­tro do G20, dizendo que o país não cumpriria con­tra ele um mandato de prisão expe­dido con­tra ele pelo Tri­bunal Penal Inter­na­cional que temos obri­gação de cumprir por ser­mos sig­natários de tratado com tal final­i­dade.

Não sei se, chamado à atenção, desis­tiu do intento tolo.

Pois bem, feitas tais con­sid­er­ações sobre o mal­trato as palavras ou a sua uti­liza­ção incor­reta, uma vez que mais sábios dizem que palavras causam mais danos que muitas ações, cheg­amos a atual crise diplomática com o Estado de Israel.

Nessa crise diplomática, sob pena de incor­re­mos nos mes­mos erros que pre­tendemos cor­ri­gir e/​ou esclare­cer, faz-​se necessário uma análise longe das explo­rações políti­cas inter­nas e exter­nas.

Em seu périplo pela África, o man­datário do Brasil, atrav­es­sou Hitler de novo na sua história, como já o fiz­eram por ocasião da polêmica entre­vista dos anos setenta, para com­parar o que Israel faz hoje na Faixa de Gaza com o que o nazista fiz­era ao povo judeu durante a Segunda Guerra Mundial.

A colo­cação gerou (gera) muitas polêmi­cas, umas legit­i­mas out­ras ilegí­ti­mas; muita explo­ração política tanto em Israel quanto no Brasil – e até mesmo um tolo pedido de impeach­ment, feito por par­la­mentares brasileiros.

Em nome da ver­dade é necessário esclare­cer os fatos.

O pres­i­dente do Brasil, como já fiz­era ao com­parar uma nação inva­sora (Rús­sia) a uma nação inva­dida (Ucrâ­nia), fez uma analo­gia despro­por­cional, equiv­o­cada.

A Segunda Guerra Mundial des­en­cadeada por Hitler cus­tou em vidas humanas, cer­ta­mente, mais de 70 mil­hões de mor­tos. Só Judeus foram cerca de 6 mil­hões diz­ima­dos a sangue frio ou em Cam­pos de Con­cen­tração.

Como podemos perce­ber são coisas incom­patíveis para serem com­para­das.

Mas, por outro lado, a crítica do pres­i­dente brasileiro ao que vem ocor­rendo em Gaza é per­ti­nente, necessária e justa.

Temos uma pop­u­lação de aprox­i­mada­mente 2,5 mil­hões de pes­soas, cer­cada por todos os lados, pas­sando fome, pas­sando sede, sem medica­men­tos, com cirur­gias, inclu­sive em cri­anças, sendo feitas sem aneste­sia, sendo bom­bardeadas dia e noite por Estado reg­u­lar. Deve­mos con­sid­erar que mais de setenta por cento da pop­u­lação de Gaza é com­posta por mul­heres, cri­anças, idosos, pes­soas que nunca fiz­eram nada con­tra a existên­cia do Estado de Israel.

Por mais justo que seja o dire­ito de defesa de Israel, o dire­ito de bus­car os reféns injus­ta­mente sequestra­dos, exis­tem regras legais e humanas que pre­cisam ser respeitadas. A primeira delas é a pro­teção aos civis. Essa regra ele­men­tar não vem sendo respeitada. Mais de setenta por cento das víti­mas da guerra em Gaza são mul­heres, são cri­anças, são idosos, são pes­soas vul­neráveis que não têm, sequer, como fugir (e não teria para onde já que estão pre­sas) das bom­bas que caem sobre suas cabeças.

O pres­i­dente brasileiro não uti­li­zou na sua fala a palavra “holo­causto”, até porque tanto ele quanto a maio­ria das pes­soas não sabem o seu sig­nifi­cado.

O sub­stan­tivo mas­culino holo­causto, segundo os dicionários, já exis­tia e sig­nifi­cava: 1 REL Sac­ri­fí­cio ou rit­ual reli­gioso prat­i­cado espe­cial­mente pelos anti­gos hebreus, em que a vítima era total­mente queimada. 2 A vítima assim sac­ri­fi­cada. 3 POR EXT Ato ou efeito de sacrificar­‑se; expi­ação, sac­ri­fí­cio: “[…] se fora ele, enfim, que, em nome da própria honra, ofer­e­cera seus fil­hos em holo­causto, fora ele tam­bém que, depois de tanta honra, se vira subita­mente despo­jado dela, acabrun­hado, abatido, der­ro­tado” (JU).4 FIG Ato de renun­ciar à von­tade própria em favor de outrem.

Após a Segunda Guerra Mundial, na falta de uma palavra para descr­ever o que ocor­rera o termo pas­sou, tam­bém, a sig­nificar: “Genocí­dio de judeus e de out­ras mino­rias, como os ciganos e os homos­sex­u­ais, ocor­rido em cam­pos de con­cen­tração nazis­tas durante a Segunda Guerra Mundial (19391945)”.(Michaelis, edição eletrônica).

Já deixando os con­sideran­dos e partindo para os “final­mentes”, como diria o saudoso per­son­agem Odorico Paraguaçu, ao meu sen­tir, o man­datário brasileiro fez uma analo­gia despro­por­cional, talvez, imag­ino, por descon­hec­i­mento histórico, entre­tanto, a questão de fundo, o que inter­essa efe­ti­va­mente nos dias atu­ais, per­manece viva e latente que é o mas­sacre de palesti­nos inocentes em uma estre­ita faixa de terra de onde não podem sair.

Com­parar fatos ocor­ri­dos há mais de setenta anos com os que estão acon­te­cendo nesse momento é abso­lu­ta­mente inde­v­ido, mas, mais grave ainda é “fechar os olhos” para o mor­ticínio que acon­tece nesse momento à vista de todos.

— Ah, o pres­i­dente do Brasil falou “besteira” ao com­parar a segunda guerra com a guerra em Gaza.

Certo, falou besteira. E, por conta dessa besteira, entre tan­tas que ele já disse, vamos igno­rar o quem acon­te­cendo em Gaza, já denun­ci­ado por todos os países sérios do mundo e todas as agên­cias humanitárias?

Ah, o pres­i­dente do Brasil falou besteira, Israel está “lib­er­ado” para matar vel­hos, mul­heres e cri­anças em Gaza? É esse o raciocínio dos bons cristãos brasileiros?

Chega às raias do ridículo que par­la­mentares brasileiros peçam o impeach­ment por causa da fala tola do pres­i­dente e nada digam sobre o mas­sacre que ocorre em Gaza.

Não faz sen­tido nen­hum. Esses valentes parece-​me mais tolos do que a tolice que querem com­bater.

Claro que o pres­i­dente pode­ria uti­lizar a mesma lóg­ica que uti­liza para criticar Israel para criticar a invasão Russa à Ucrâ­nia; para criticar o régime venezue­lano, o cubano ou mesmo aque­las san­guinárias ditaduras africanas pelas quais parece nutrir afeto.

Mas, por conta disso, deve­mos calar ou fin­gir que o mas­sacre é devido?

Uma coisa que tam­bém aprendi é que não podemos mudar o pas­sado, não podemos retornar no tempo e impedir as mortes dos mil­hões que pere­ce­ram na Segunda Guerra, por exem­plo, mas podemos (e deve­mos) tra­bal­har para que tais tragé­dias não se repi­tam.

E essas tragé­dias estão aí, à vista de todos.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.