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A FARSA DA HISTÓRIA OU HISTÓRIA DA FARSA

Escrito por Abdon Mar­inho

A FARSA DA HISTÓRIA OU HISTÓRIA DA FARSA.

Por Abdon C. Marinho.

QUEM já se deu ao tra­balho de estu­dar um pouquinho de história (não pre­cisa ser his­to­ri­ador) deve saber que desde sem­pre os inter­esses econômi­cos são pre­pon­der­antes nas alter­ações de coman­dos dos países, sobre­tudo, naque­les em que os proces­sos democráti­cos ainda pos­suem frag­ili­dades.

Quan­tos golpes de esta­dos não viven­ci­amos nos últi­mos duzen­tos, cem anos, ao redor do mundo? Quanto não lucraram as empre­sas que deram sus­ten­tação ao fas­cismo ou ao nazismo? Até com os mil­hões de mor­tos lucraram bil­hões. As câmaras de gás ou os fornos onde mil­hões perderam a vida tinha uma história de lucro por trás.

Quan­tas guer­ras não foram pro­movi­das na África por inter­esses econômi­cos? Se pux­amos pela memória, até a escravidão que enver­gonhou e enver­gonha o mundo por sécu­los foi pro­movido a par­tir dos inter­esses econômi­cos de empre­sas – e até de países.

Guer­ras, gov­er­nos depos­tos, ditaduras se suce­dendo, vezes para aten­der aos inter­esses de min­er­ado­ras, vezes para aten­der inter­esses de petroleiras … e por aí vai.

Muitas das vezes para aten­der os inter­esses de seus gru­pos econômi­cos, gov­er­nos usaram da própria força para der­rubar out­ros gov­er­nos em nações mais frágeis.

Isso é (foi) o que mais vimos ao redor do mundo, seja na África, na Ásia, nas Améri­cas ou no Caribe.

Mesmo no Brasil, na ditadura instau­rada em 1964, os inter­esses econômi­cos de empre­sas nacionais e, prin­ci­pal­mente, transna­cionais, foram deci­sivos.

Infe­lic­i­taram o país por duas décadas enquanto lucravam as cus­tas do sangue e do suor dos tra­bal­hadores brasileiros.

O dis­curso, já sur­rado de out­ras con­tendas era a liber­dade ameaçada.

Querem tirar a “nossa”liberdade! Bradavam.

Em nome da tal liber­dade, da tal democ­ra­cia, tan­tos crimes se cometeram …

Hoje o núcleo do poder econômico mudou. Não são as grandes min­er­ado­ras, as petroleiras ou sis­tema bancário que detém o poder econômico.

Os homens e empre­sas mais ricas são as voltadas para a tec­nolo­gia e, a cereja do bolo econômico, as chamadas Big techs.

Nos últi­mos anos essas empre­sas “invadi­ram” nos­sas vidas e pas­saram a ser inte­grantes dos nos­sos lares, prin­ci­pal­mente as redes soci­ais.

Por viver­mos cem por cento do nosso tempo conec­tadas a elas pas­samos a vê-​las como “da família” e não como empre­sas capazes de tudo para auferirem lucro.

Como ensina o dito que o poder cor­rompe e o poder abso­luto cor­rompe abso­lu­ta­mente, essas Big techs pas­saram a ditar diver­sas nor­mas e a tentarem se imporem acima das leis dos países onde auferem seus lucros.

Con­fi­antes no poder econômico que pos­suem fazem pouco caso das decisões judi­ci­ais e instruem seus advo­ga­dos a recor­rerem indefinida­mente nas deman­das cau­sando sérios pre­juí­zos, inclu­sive, para aque­las pes­soas que são suas colab­o­rado­ras e que as aju­dam nos vas­tos lucros que auferem.

A situ­ação é tão escan­dalosa que já até virou meme – esse um termo próprio da lin­guagem das redes.

Certa vez, ao pegar um caso con­tra uma dessas empre­sas recebi o tal “meme” onde mostrava que per­dendo a demanda iriam recor­rer, recor­rer, recor­rer, até que não sobrassem mais recur­sos no orde­na­mento jurídico.

Essa é uma real­i­dade que é viven­ci­ada por muitos brasileiros.

Esse pouco apreço pelas insti­tu­ições e pelo próprio Poder Judi­ciário nos últi­mos dias gan­hou um novo com­po­nente quando um “dono” de uma rede social através de uma fake news ou não, ameaçou des­cumprir as decisões judi­ci­ais ainda que emanadas das mais ele­vadas cortes do país.

Vejamos, con­forme já dito de forma exaus­tiva, desde que o mundo é mundo que o poder econômico “diz o dire­ito”, mas isso sem­pre se deu de forma disc­reta, mesmo quando patroci­navam guer­ras e pro­moviam golpes, pelo menos pub­li­ca­mente, não ousavam tanto.

Como nunca visto, nos últi­mos dias, um empresário do setor de redes soci­ais entrou em con­fronto com um min­istro da suprema corte de um país e, de que­bra, como dito, ameaçou não mais cumprir as decisões judi­ci­ais e a inter­ferir, com ilações, no processo eleitoral do país.

A impressão que me restou foi de estar­mos de volta aos anos 40, 50 ou 60 do século pas­sado, em uma republi­queta de bananas do Caribe ou da América do Sul.

Não temos reg­istros em quais­quer democ­ra­cias, que sejam recon­heci­das como tais, de empre­sas ou empresários agindo de forma tão acin­tosa con­tra uma nação e suas insti­tu­ições. Cheg­amos ao ponto de, fazendo coro, ao pros­elit­ismo e ao rad­i­cal­ismo dos nos­sos dias, empresa/​empresário acusarem o sis­tema eleitoral e as eleições legit­i­mas – recon­heci­das por todas as nações do mundo –, como fraud­u­len­tas.

Trata-​se algo muito sério, até porque faz a acusação e ilação de fora do país e longe do alcance das autori­dades para que prove o alegado.

Não é sem razão que disse anos atrás que, com o poder que det­inham, pode­riam pro­mover golpes de estado em quais­quer lugares do mundo.

Quer nos pare­cer que resolveram “tes­tar” a teo­ria no nosso país.

O pior dessa farsa histórica é que muitos por descon­hec­i­mento da história, por serem incau­tos ou por colo­carem os inter­esses de suas facções políti­cas acima de tudo, até dos inter­esses da própria nação, “embar­cam” na ideia do “empresário” lib­ertário, herói que pensa nos inter­esses do povo acima dos seus próprios e os tem por “sal­vadores”.

Não acred­ito, como dizem, que lutam pela liber­dade. Não é ver­dade, ainda ontem estavam imbuí­dos no propósito de der­rubarem um gov­erno eleito.

Apos­tam na bal­búr­dia polit­ica para lucrarem – inclu­sive com os “cliques” de suas posta­gens escan­dalosas e/​ou men­tirosas –, e para testarem suas próprias forças.

As insti­tu­ições brasileiras têm o dever moral de repelir com veemên­cia esse tipo de intro­mis­são e de exi­gir que cessem com tais com­por­ta­men­tos e, ainda, que respon­dam, nos ter­mos da lei, caso ten­ham cometido algum crime tip­i­fi­cado na leg­is­lação penal.

Os prob­le­mas do nosso pais pre­cisam ser resolvi­dos pelos brasileiros.

Não é con­ce­bível que uma nação como a nossa seja tratada como uma republi­queta de bananas.

A defesa insti­tu­cional da nação cabe a todos os brasileiros.

Não pre­cisamos e não aceita­mos a tutela de ninguém.

As empre­sas e empresários transna­cionais que se ocu­pem dos assun­tos dos seus países, a fome, a mis­éria, os prob­le­mas da imi­gração, do uso desen­f­reado de dro­gas, da falta de uma saude uni­ver­sal e de suas próprias ten­ta­ti­vas de golpe, con­forme viven­ci­amos na eleição passada.

Empresário ou empre­sas, ali­adas ou não de segui­men­tos nacionais, nada mais são do que golpis­tas.

E isso não podemos aceitar.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Venezuela 🇻🇪 cola nariz de pal­haço no Brasil 🇧🇷.

Escrito por Abdon Mar­inho


Venezuela 🇻🇪 cola nariz de pal­haço no Brasil 🇧🇷.

Por Abdon C. Marinho.

SEM­PRE que vou falar de polit­ica rela­cionada a eleição, rep­re­sen­ta­tivi­dade e democ­ra­cia me vem a lem­brança aquela história do coro­nel do sertão. Como falo muito de política é provável que já a tenha con­tado aos leitores uma dezena de vezes. Mas, para os que não lem­bram, a lenda é a seguinte: no sertão do Brasil, em dia de eleição, a urna era colo­cada na varanda da casa do coro­nel – e sob as vis­tas deste –, que, metic­u­losa­mente, ia preenchendo as cédu­las e entregando-​as aos eleitores da região para que estes as colo­cassem na urna. O roteiro bem sim­ples: o cidadão saia da fila, pegava a cédula dev­i­da­mente votada pelo coro­nel e a deposi­tava na urna. Tudo transcor­rendo bem até que um dos eleitores fez menção de “abrir” o voto. O coro­nel gri­tou: — o que pensa que está fazendo, cabra? O cidadão respon­deu: — des­culpa, seu coro­nel, só estava vendo em quem estou votando. O coro­nel retru­cou: — e você não sabe que o voto é secreto?

Fatos assim – out­ros até mais graves –, povoam as nar­ra­ti­vas do dire­ito eleitoral brasileiro ref­er­entes aos sécu­los pas­sa­dos em oposição ao quanto que evoluí­mos na nossa democ­ra­cia, sendo os “soluços” anti­democráti­cos, fatos iso­la­dos.

Aqui é assim, mas na Venezuela …

O assunto do texto, emb­ora rela­cionado com as eleições venezue­lanas, nem é esse, mas sim, como o régime dita­to­r­ial daquele país fez o gov­erno brasileiro – e não é de hoje –, de bobo. A história das eleições nos tem­pos dos coro­néis, serve ape­nas para mostrar que, na Venezuela da atu­al­i­dade, ela gan­hou uma nova roupagem.

O apren­diz de dita­dor, cedendo as pressões inter­na­cionais, decidiu mar­car eleições “livres” para o dia do aniver­sário de nasci­mento de Hugo Chavez (28 de julho), que “instalou” o atual régime. Numa releitura do que faziam os nos­sos coro­néis, aquele régime decidiu que o povo pode votar, mas desde que seja nos can­didatos do régime ou fan­toches do mesmo.

Para isso, ao longo dos anos, foi “elim­i­nando” os adver­sários, tornando-​os inelegíveis, levando-​os às prisões, acusando-​os de traidores da pátria, etc, etc., até que restou, no campo da oposição, ape­nas uma can­di­data, uma sen­hor­inha de mais de oitenta anos que nunca fiz­era nada de “errado” na vida; que nunca tivera qual­quer par­tic­i­pação política – e por isso mesmo –, total­mente fora do “radar” da ditadura. E o que fez o régime? Sim­ples­mente impediu-​a de registrar-​se can­di­data. A “vel­hinha” não con­seguiu reg­is­trar a can­di­datura no site da justiça eleitoral do país e tão pouco chegar à sede daquela insti­tu­ição para fazer o reg­istro de forma pres­en­cial.

A “democ­ra­cia” venezue­lana “escolhe” em quem o povo pode votar e é bem provável que este­jam batendo cabeça porque “deixaram” uma vel­hinha e tiveram que deixar cair a más­cara da ditadura para impedir que con­cor­resse. Ou não. Talvez o régime se sinta tão con­fortável que pouco esteja “lig­ando” para o pensa o mundo exte­rior a respeito de sua ditadura. Não é assim na Rús­sia, que ao longo das décadas foi “matando” qual­quer sus­piro democrático e elim­i­nando fisi­ca­mente pos­síveis opo­nentes? Não foi assim em Cuba? Não foi assim na Cor­eia do Norte? E tan­tos outros.

Pesquisas recentes apon­tam que setenta por cento da pop­u­lação mundial vive sob o jugo de regimes autoritários – um acréscimo de um quarto em relação ao iní­cio dos anos dois mil.

No capí­tulo venezue­lano dos regimes autoritários o Brasil “ganha” o nariz de pal­haço por ter – desde que se instalou o atual régime, ainda sob o comando de Hugo Chávez –, vis­tas grossas, ou como se diz, atual­mente, “pas­sado o pano” para o que vinha acon­te­cendo.

É certo que o Brasil não pode­ria fazer qual­quer tipo de “inter­venção” no régime venezue­lano, claro, mas, a questão é outra. Desde que instalou o régime dita­to­r­ial na Venezuela, o Brasil – não adi­anta dizer que é o atual gov­erno, já na quinta ver­são –, tem atu­ado como “fiador” do mesmo.

Quanto o atual gov­erno assumiu, o diri­gente venezue­lano já visto como dita­dor por todo o mundo, foi rece­bido com “pom­pas e cir­cun­stân­cias” deferi­das a ben­feitores da humanidade. Antes, já com o régime mostrando a que veio, o gov­erno brasileiro despe­jou rios de din­heiro para ajudá-​los, em uma das faju­tas eleições que fiz­eram o atual pres­i­dente, já na condição de ex-​presidente de mandatos ante­ri­ores, foi a Cara­cas par­tic­i­par de comí­cios em favor do atual dita­dorz­inho.

O Brasil está “pas­sando o pano” há duas décadas para um régime político que, chegando ao ápice do seu autori­tarismo impediu uma vel­hinha de ser can­di­data através de estrat­a­gema bisonho; que apar­el­hou todas as insti­tu­ições; que levou à prisão dezenas, cen­te­nas de opos­i­tores e que levou o país à ruína econômica.

O nosso país quer se vestir de “lid­er­ança” regional e até mesmo global, mas não con­seguiu, até aqui, ir além do papel de “bobo da corte” da Venezuela.

Outro episó­dio que o régime de Cara­cas colou o nariz de pal­haço em Brasília diz respeito à “briga” ter­ri­to­r­ial daquele país con­tra o Suri­name pela região do Esse­quibo. O Brasil quis fazer papel de “medi­ador” e acaba de gan­har um novo “chega pra lá” da ditadura venezue­lana, que edi­tou uma lei “anexando” a região ao seu ter­ritório.

Mais uma vez a resposta do Brasil ficou aquém do esper­ado. Ao dizer que a lei tem sen­tido “pró forma” é não enten­der (ou não querer enten­der) o que ela sig­nifica.

Qual­quer pes­soa sabe que a Venezuela não vai “invadir” o Suri­name amanhã, até porque, segundo os espe­cial­is­tas, teria que pas­sar por ter­ritório brasileiro, o sen­tido da lei é criar um falso con­flito externo para bus­car em torno da ditadura uma unidade e, prin­ci­pal­mente, oprimir ainda mais os opos­i­tores, arran­jando des­cul­pas para impingir-​lhes a pecha de “traidores” da pátria.

Esse é o real sig­nifi­cado da lei de incor­po­ração do Esse­quibo. Logo mais ver­e­mos dezenas de opos­i­tores sendo pre­sos como “traidores” da pátria, sofrendo proces­sos fraud­u­len­tos, expul­sos e con­de­na­dos por traição.

Isso tudo parece-​nos tão óbvio, entre­tanto, o Brasil finge que não sabe o acon­tece, preferindo equilibrar-​se entre a omis­são e as notas pro­to­co­lares.

Assim, será difí­cil tirar o nariz de pal­haço que a Venezuela colo­cou.

Ressalte-​se que não é ape­nas a Venezuela que faz o Brasil de bobo no cenário inter­na­cional, out­ras ditaduras tam­bém fazem o mesmo como a Rús­sia, Irã, Cuba, entre out­ros.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Ditadura nunca mais!

Escrito por Abdon Mar­inho


(Foto da inter­net)
DITADURA NUNCA MAIS!

Por Abdon C. Mar­inho.

ALGUNS dias pen­sei em escr­ever o texto que pub­lico hoje. Foi por ocasião da divul­gação dos depoi­men­tos presta­dos pelos ex-​comandantes mil­itares do gov­erno pas­sado.

A minha com­preen­são do que foi dito é bas­tante sin­gela e segue nas lin­has abaixo.

Quando mil­itares de ele­vadas patentes teste­munham que o pres­i­dente da República os pres­sio­nou para aderirem a um golpe de estado com todas as con­se­quên­cias nefas­tas que tal intento pode­ria trazer ao país é algo que merece reflexão de todos os brasileiros.

Quanto esses mil­itares a quem se propôs o golpe de estado eram os mes­mos que lá atrás eram coman­dantes das Forças Armadas, deve­mos parar qual­quer coisa que este­jamos fazendo para anal­isar o fato e bus­car enten­der o que se pas­sou, o papel dos envolvi­dos, o que fazer em relação aos mes­mos e como evi­tar que tais coisas voltem a ocor­rer.

Há sessenta anos, em 31 de março de 1964, davam um golpe mil­i­tar no Brasil.

Eu e a grande maio­ria da pop­u­lação brasileira nasceu depois do golpe e muitos out­ros já vieram ao mundo depois que o régime de exceção, que durou vinte e um anos, chegara o fim.

Talvez por não lem­brar­mos ou por não saber­mos o que é viver­mos sub­ju­ga­dos por um régime dita­to­r­ial ou, mesmo, por igno­rar­mos a situ­ação de muitos países que ainda vivem sob domínio de auto­cratas e dita­dores, ten­demos a fazer pouco caso, min­i­mizar ou “pas­sar o pano” para o que aconteceu/​acontece no Brasil.

O filó­sofo George San­tayana tem uma frase lap­i­dar sobre o tema: “Aque­les que não con­seguem lem­brar o pas­sado estão con­de­na­dos a repeti-​lo”.

O Brasil acostumou-​se a não apren­der com seus erros.

O nor­mal é ser­mos “bonz­in­hos” mesmo com aque­les que come­tem as maiores atro­ci­dades.

Se não fomos as víti­mas deve­mos “rel­e­var”.

Em 1979, por ocasião da Lei da Anis­tia – que dev­e­ria ser ampla, geral e irrestrita –, o país optou de forma con­sciente pelo esquec­i­mento das dores e dos sofri­men­tos daque­les que foram víti­mas da ditadura.

Naquele ano ainda era uma cri­ança, mas, certa vez, ao con­ver­sar com um amigo muito mais velho e expe­ri­ente ele me mostrou e me fez com­preen­der que aque­les que não foram víti­mas, até pode­riam opinar, mas que não era legí­timo per­doar.

Porém, essa é ape­nas uma diva­gação, na real, como se diz atual­mente, quando o país fez a opção por “pas­sar o pano” para todos os crimes cometi­dos, inclu­sive o da supressão da democ­ra­cia brasileira, abriu cam­inho para que out­ros tirantes ou ape­nas imbe­cis se achas­sem no dire­ito de tentarem nova­mente.

A ver­dade é que andamos muito perto de levar­mos o país a uma con­vul­são social, com con­se­quên­cias inimag­ináveis, com mortes, prisões, exílios, famílias destruí­das, sem quais­quer garan­tias de dire­ito, etc.

Bas­tava que o coman­dante do exército tivesse con­cor­dado com a lou­cura – os demais viriam no “arrasto” –, para que não fizésse­mos ideia do que teria acon­te­cido e para que, cer­ta­mente, esse texto não exis­tisse.

Como já disse em out­ras opor­tu­nidades, não acred­ito que o movi­mento de 08 de janeiro de 2023 fosse um “golpe”, sin­ce­ra­mente aquilo mas pare­cia um bando de alo­pra­dos que foram usa­dos como “bucha” para algo muito maior – que acabou não acon­te­cendo.

Por outro lado, quando se anal­is­ar­mos o “filme” com­pleto que vem desde a famosa reunião de julho de 2022, em que min­istros impor­tantes falaram sem con­strang­i­mento em “virada de mesa”, out­ros tratando as insti­tu­ições da República como “forças inimi­gas”, pas­sando pelas diver­sas out­ras reuniões já pos­te­ri­ores ao pleito em segundo turno, aos acam­pa­men­tos sin­croniza­dos em frente aos quar­téis em todos os can­tos do país, aquele ato ganha outra relevân­cia, não pelas pes­soas – muitas ilu­di­das, buchas é a palavra cor­reta –, não pelo ato em si, mas por ter sido a última ten­ta­tiva para forçar o golpe.

E podemos ir além, mesmo antes de assumir após a vitória nas urnas em 2018, “tra­bal­havam” com o foco numa rup­tura insti­tu­cional.

Por conta disso e de forma rotineira, estim­ulava o con­flito entre os poderes, ele­gendo por fim, o Poder Judi­ciário (rep­re­sen­tado pelo STF e TSE) como os seus “inimi­gos”.

Tratava-​se, por óbvio, de um pro­jeto anti­democrático tosco, com um olhar para o pas­sado – e deve­mos “até” agradecê-​los por isso –, as ditaduras mas recentes destru­iram suas democ­ra­cias de den­tro pra fora.

Tem sido assim na Rús­sia, na Venezuela, na Hun­gria, etc., a par­tir do poder con­quis­tado de forma legí­tima ou não foram aniqui­lando as insti­tu­ições e os opos­i­tores até chegarem ao ponto de só restarem o seu grupo para dis­putar sim­u­lacros de eleições.

Não fosse a “cav­alar” falta de trato, que podemos atribuir (ou fes­te­jar) como equívoco de estraté­gia, hoje estaríamos avançando para um retro­cesso insti­tu­cional de forma legí­tima.

Quem teria legit­im­i­dade para ques­tionar um gov­erno eleito por ampla maio­ria dos eleitores?

O que impediria que um gov­erno reeleito por ampla maio­ria ini­ci­asse o processo de “apar­el­hamento” das insti­tu­ições civis e mil­itares para per­manecer no poder “ad infini­tum” ?

Há sessenta anos deram um golpe mil­i­tar no Brasil que durou vinte e um anos.

Quase quarenta anos depois da rede­moc­ra­ti­za­ção do país, ten­taram nova­mente.

O que salvou o país do retro­cesso foi o “não” do gen­eral e a pouca inteligên­cia dos golpis­tas. Não fosse o gen­eral ter dito não ou se os golpis­tas não fos­sem tão idio­tas, estaríamos vivendo uma “volta ao pas­sado”.

Bem que algum dep­utado ou senador pode­ria pro­por uma lei criando o “Dia do Não” e/​ou o “Dia da Ignorân­cia”. Não já temos o Dia do Fico? Por que não?

O certo é que pas­samos “ras­pando” por um processo de retro­cesso político que maio­ria da pop­u­lação não se deu conta, não perce­beu.

Muitos até ficaram decep­ciona­dos.

O que pas­samos foi muito além de dois proces­sos políti­cos extremos. Não se tra­tou e nem se trata de uma dis­puta política ou eleitoral ou de pro­je­tos de poder.

O que se tra­tou, efe­ti­va­mente, foi de uma rup­tura insti­tu­cional ou não.

Essa é a clareza que pre­cisamos ter.

O país pre­cisa reforçar ou criar novos mecan­is­mos de pro­teção con­tra os pro­je­tos autoritários que são uma real­i­dade em todo o mundo e que tem no Brasil uma posição estratég­ica.

O que fazer?

Con­fesso não saber o que deve ser feito.

Dizem que o Con­gresso Nacional vai acabar com a pos­si­bil­i­dade de reeleição dos car­gos majoritários.

Será a solução? Ou, só isso será o remé­dio con­tra os pro­je­tos autoritários?

Cada vez mais as pes­soas exigem respostas super­fi­ci­ais para prob­le­mas com­plexos.

Cada vez mais bus­cam “sal­vadores da pátria” que, invari­avel­mente, não pas­sam de esper­tal­hões.

A real­i­dade é vive­mos em um mundo de pes­soas igno­rantes, que não con­hecem a história, que não lêem e que, por isso mesmo, são inca­pazes de com­preen­derem o que se passa ao seu redor. Uma parcela sig­ni­fica­tiva da pop­u­lação já se encon­tra com o cére­bro cor­roído pelas inutil­i­dades a que estão expostas diari­a­mente.

É como se vivêsse­mos um con­flito entre a inteligên­cia arti­fi­cial e a total falta de inteligên­cia.

O Brasil pre­cisa voltar a estu­dar – prin­ci­pal­mente história (e já vão dizer que o ensino de história é doutri­nação).

O Brasil não tem o dire­ito de esque­cer (e já vão dizer que não esque­cer é revan­chismo).

O Brasil não tem o dire­ito de tratar o seu pas­sado com menosprezo ou rel­a­tivis­mos.

A democ­ra­cia não é um valor rel­a­tivo.

Ela, democ­ra­cia, é conc­reta e pos­sui parâmet­ros sóli­dos e definidos – o resto é con­versa fiada.

Não existe ditadura boa.

Nunca podemos esque­cer disso.

Passé sessenta, passé cem, duzen­tos anos …

Ditadura nunca mais!

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.