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Uma guerra desumana.

Escrito por Abdon Mar­inho


UMA GUERRA DESUMANA.

Por Abdon C. Marinho*.

DURANTE a sem­ana, em uma plataforma de stream­ing, assisti ao filme Golda — A Mul­her de Uma Nação, que retrata a guerra do Yom Kip­pur, em 1973, quando Sírios e Egíp­cios, aliás, as duas nações atacaram nesse feri­ado o Estado Israe­lense.

Trata-​se de um filme sobre a aquela guerra sem ser um filme de guerra. Mostra o con­flito a par­tir da visão da primeira mul­her a ocu­par o posto de primeira-​ministra de Israel – de 1969 a 1974, já com 70 anos de idade, enfrentando prob­le­mas graves de saúde –, tendo que tomar decisões de alto risco que pode­riam sig­nificar, inclu­sive, a extinção do estado judeu.

No filme o papel de Golda Meir é desem­pen­hado pela extra­ordinária Helen Mir­rem, que de tão per­feita na cara­ter­i­za­ção temos difi­cul­dades para iden­ti­ficar (eu mesmo só fui saber quem era quando vi nos crédi­tos).

Golda Meir era judia ucra­ni­ana que viveu de 1898 a 1978, antes de migrar para a Palestina, em 1921 — e depois -, assis­tiu a perseguição con­tra os judeus na Europa Oci­den­tal durante a infân­cia e juven­tude. Durante a guerra do Yom Kip­pur, como diplo­mata expe­ri­ente, Golda mostrou forte lid­er­ança e habil­i­dade ao con­duzir o con­flito, que, como já dito acima, pode­ria ter cul­mi­nado como o fim de Israel. Já com a saúde debil­i­tada renun­ciou a cargo de primeira-​ministra em 1974 e fale­ceu, aos 80 anos, em 1978. Em setem­bro do ano de sua morte ocor­rida em dezem­bro, foi assi­nado o primeiro acordo de Camp David, entre Egito e Israel, que ren­deu aos líderes dos dois países (Anwar Sadat e Men­achem Begin) o Prêmio Nobel da Paz de 1978.

Fui “con­hecer” Golda Meir dez anos depois da sua morte, nos anos 1988/​89, quando durante alguns meses fiz o preparatório para o vestibu­lar no cursinho do pro­fes­sor José Maria do Ama­ral, na Rua dos Afo­ga­dos. O pro­fes­sor José Maria do Ama­ral é um grande entu­si­asta da “causa judaica” e uma espé­cie de fã número um da antiga primeira-​ministra de Israel, citando-​a sem­pre que sur­gia opor­tu­nidade nas suas aulas ou nos inter­va­los das mes­mas. Como se fosse hoje, lem­bro que pro­nun­ci­ava o nome dela “car­regando” no sobrenome Golda “mei­iir”. Nunca esqueci.

Acred­ito que a par­tir dessa “intro­dução” pas­sei a interessar-​me mais pelos acon­tec­i­men­tos do Ori­ente Médio. Li diver­sos livros, arti­gos, assisti out­ros filmes e séries sobre os inúmeros con­fli­tos entre Israel e seus viz­in­hos (acho que tem um livro ou filme com esse nome). Com o saudoso amigo e jor­nal­ista Wal­ter Rodrigues, sobre­tudo depois da primeira intifada, fize­mos muitos debates sobre os con­fli­tos e guer­ras daquela região. WR dizia com certa mofa ter certeza que não exi­s­tiria uma única pedra no Ori­ente Médio que não tivesse já sito ati­rada con­tra alguém.

Emb­ora já tenha tratado aqui, mais de uma vez, da atual guerra que se desen­volve em Gaza, a estre­ita faixa que fun­ciona como uma prisão ou campo de con­cen­tração para mais de dois mil­hões de palesti­nos, o filme assis­tido sobre a Guerra do Yom Kip­pur e, prin­ci­pal­mente, o papel dos líderes do país daquele momento e de agora me per­mi­ti­ram fazer um para­lelo entre os dois con­fli­tos, inclu­sive, para dizer que, quem nasceu Bibi Netanyahu jamais será Golda Meir.

O homem (ou mul­her) é a sua história e cir­cun­stân­cias. Isso tam­bém serve para os acon­tec­i­men­tos históri­cos.

Quando faze­mos os recortes dos fatos ocor­ri­dos no final dos anos sessenta e setenta e que cul­mi­nam com a Guerra do Yom Kip­pur, em out­ubro de 1973; e o ataque ter­ror­ista de 07 de out­ubro de 2023 que cul­mi­naram na guerra atual, vemos que há um grave descom­passo.

A despeito de ter­mos sérias con­tro­vér­sias sobre a gestão de Golda Meir e mesmo as mortes de palesti­nos durante a gestão e prin­ci­pal­mente durante a guerra, nada se com­para ao que vem ocor­rendo.

Em out­ubro de 1973, tín­hamos dois países, Egito e Síria, no norte e no sul, ata­cando de sur­presa o Estado Israe­lense com vis­tas à sua aniquilação, a sua extinção enquanto estado sober­ano.

Em out­ubro de 2023, tive­mos um grupo ter­ror­ista, Hamas, pro­movendo um ataque con­tra Israel. Ataque bár­baro, inqual­i­ficável mas, que, inde­pen­dente de qual­quer coisa, muito longe esteve de se com­parar aos ataques do Yom Kip­pur.

Logo, a reação de Israel a tal ataque não pode­ria ser nos moldes que vem se desen­rolando com a pop­u­lação civil sendo aniquilada à des­culpa de com­bater o Hamas.

O Hamas, registre-​se, é um grupo ter­ror­ista que gan­hou “mus­cu­latura” política e mil­i­tar graças ao apoio de Israel.

Até o dia que assisti o filme (acho que dia 10 de janeiro), o número de mor­tos palesti­nos na guerra já alcançava a hor­renda quan­tia de 23 mil víti­mas, destas, setenta por cento, repito, SETENTA POR CENTO, mul­heres e cri­anças. Os demais mor­tos, não esta­mos dizendo ter­ror­is­tas, mas, civis.

Isso tudo em ape­nas 90 dias de guerra.

Quem assiste a guerra de longe, pode achar que é ape­nas um número, uma estatís­tica. Mas, imag­ine empil­har os cor­pos de 17 mil mul­heres e cri­anças. Imag­ine visu­alizar tal cena.

Quan­tos ter­ror­ista as forças armadas de Israel elim­i­nou para jus­ti­ficar a matança de civis? Dezes­sete mil só de mul­heres e cri­anças?

Sob qual­quer aspecto que exam­ine a questão não con­sigo encon­trar uma jus­ti­fica­tiva razoável para aceitar que para elim­i­nar um pun­hado de ter­ror­is­tas se matem tan­tos civis.

E não se trata ape­nas de mortes em si, já ter­ríveis, esta­mos falando de quase dois mil­hões de pes­soas desa­lo­jadas, assom­bradas, vivendo na certeza de logo podem ser as próx­i­mas víti­mas; esta­mos falando de mil­hares de feri­dos pas­sando por trata­men­tos médi­cos sem as mín­i­mas condições; esta­mos falando da fome, da sede e do frio a que estão sub­meti­das essas pes­soas.

O ataque ter­ror­ista do Hamas, por mais vio­lento e abjeto que tenha sido não jus­ti­fica a reação despro­por­cional do estado israe­lense con­tra os civis palesti­nos.

Não é des­culpa dizer que os ter­ror­is­tas uti­lizam os civis como “escu­dos humanos”. São quase 25 mil civis mor­tos, setenta por cento de mul­heres e cri­anças.

Não existe jus­ti­fica­tiva para isso.

Muito mais cedo do que tarde a história cobrará dos envolvi­dos a respon­s­abil­i­dade de cada um. Cobrará o fato dos líderes do mundo apoiarem ou silen­cia­rem diante de tanto sofri­mento imposto aos inocentes.

Como disse ante­ri­or­mente, não há jus­ti­fica­tiva plausível para Israel elim­i­nar tan­tos civis inocentes com a des­culpa de que com­bate o grupo ter­ror­ista que o ata­cou.

Isso fica muito mais evi­dente quando faze­mos os com­par­a­tivos entre os dois recortes históri­cos e mais ainda quando com­para­mos os homens e mul­heres e aquilata­mos suas reações ao redor do mundo.

Em boa hora – emb­ora já tar­dia­mente –, a África do Sul pro­to­colou denún­cia no Tri­bunal Penal Inter­na­cional con­tra Israel, medida apoiada pelo Brasil.

Toda guerra é desumana. A guerra da Rús­sia con­tra a Ucrâ­nia, por exem­plo, é outra aber­ração histórica que já cau­sou mil­hares de mor­tos mas que diante do que vem ocor­rendo em Gaza parece um “acon­tec­i­mento dis­tante”.

Os cidadãos de bem pre­cisamos deixar claro que não esta­mos de acordo com o que vem acon­te­cendo no mundo. Pre­cisamos externar isso de forma bas­tante firme. Pre­cisamos que nos­sas vozes façam ces­sar as barbáries.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Reflexões do irmão imag­inário sobre a “guerra das plumas e paetês” e out­ros males

Escrito por Abdon Mar­inho

Reflexões do irmão imag­inário sobre a “guerra das plumas e paetês” e out­ros males.

Por Abdon C. Mar­inho.

O DR. WEL­GER FREIRE, meu sócio de quase trinta anos e o mais bril­hante advo­gado que con­heço, vez por outra me estim­ula a escr­ever tex­tos mais amenos, menos polêmi­cos e que, quem sabe, pudessem ate nos ren­der div­i­den­dos econômi­cos ao invés dos que comu­mente escrevo e que acabam por con­trariar os humores dos poderosos de plan­tão, sejam de dire­ito, esquerda ou nada disso.

A primeira coisa a ser dita é que não faço isso de forma proposi­tal. Na ver­dade – quem escreve sabe bem disso –, nós, os escribas, não man­damos naquilo que escreve­mos. Diante da folha de papel em branco ou da tela vazia é como se o “irmão imag­inário” assumisse o comando do texto e o pro­duzisse ao seu talante.

Con­ver­sava com o amigo Max Harley Fre­itas e ele falava de uma entre­vista de Chico Buar­que onde ele tratava jus­ta­mente disso, desse “irmão imag­inário” respon­sável por suas obras literárias e de como ele sen­tira ao ter­mi­nar deter­mi­nada obra e não ter mais a com­pan­hia daquele irmão.

O meu irmão, “respon­sável” pela elab­o­ração dos nos­sos tex­tões de fim de sem­ana, deve ter sido, nas encar­nações pretéri­tas, um grande rev­olu­cionário ilu­min­ista e human­ista sendo inca­paz de ficar inerte ou não se indig­nar com as coisas que para muitos “passa batido” mas que para ele sig­nifica uma afronta aos dire­itos dos cidadãos.

Certa vez meu irmão viu impor­tante autori­dade jactar-​se de que iria resolver o prob­lema do abastec­i­mento de água da cap­i­tal – isso há quase vinte anos ou mais –, para isso, pas­sava em “revista” caminhões-​pipa que fariam o abastec­i­mento de diver­sos pon­tos da cidade. O cidadão pas­sava os veícu­los em “revista” tal qual os gen­erais dos exérci­tos fazem com as tropas mil­itares, a imprensa e os adu­ladores de plan­tão “sau­davam” o grande feito enquanto ele escrevia para os que quisessem saber: — ei, que “van­tagem” existe em dis­tribuir água para o povo em cam­in­hões quando ela dev­e­ria jor­rar nat­u­ral­mente das torneiras? E de qual­i­dade? É tratada?

Tanto estava certo e que aquele espetáculo era ape­nas per­for­mático que o prob­lema do abastec­i­mento de água na cap­i­tal, pas­sa­dos tan­tos anos, ainda per­siste, fal­tando água nas torneiras “dia sim e no outro tam­bém” e ele se agre­gando a inex­istên­cia de sanea­mento básico, do lixo que se acu­mula por todos can­tos, da falta de estru­tura que assusta as famílias a cada chuva, e por aí vai.

Essa mesma verve ou sen­ti­mento crítico o fez indignar-​se ao assi­s­tir autori­dades se pro­movendo ao inau­gu­rar uma sentina ou uma placa de trân­sito.

Ele dizia: — que absurdo um prefeito ocupar-​se da inau­gu­ração de uma sentina.

O mesmo sen­ti­mento de indig­nação ao assi­s­tir um gov­er­nador de estado deslocar-​se para deter­mi­nado municí­pio para “inau­gu­rar” um poço arte­siano ou um CRAS (esse con­struído com recur­sos públi­cos des­ti­na­dos pelo gov­erno fed­eral).

O Maran­hão tem sido ter­reno fér­til para esse tipo de inver­são de val­ores. Não faz muito tempo, inclu­sive como “meta de desen­volvi­mento” falava-​se na imensa quan­ti­dade de restau­rantes pop­u­lares onde os “cidadãos” podiam sacia­rem a fome e alimentar-​se com qual­i­dade gas­tando ape­nas um real ou pouco mais que isso.

A despeito do alcance social de tal pro­grama ou mesmo de even­tual incen­tivo à cadeia pro­du­tiva o meu irmão imag­inário inda­gava em diver­sos tex­tos se esse tipo de pro­grama ao invés de apon­tar para algum tipo de sucesso não estaria, de fato, ate­s­tando o nosso fra­casso uma vez que, cer­ta­mente, os cidadãos prefeririam estarem bem empre­ga­dos, gan­hando bem para não pre­cis­arem desse tipo de favor do estado para aten­der a mais básica das neces­si­dades após a existên­cia: alimentar-​se.

O irmão apon­tava em diver­sos tex­tos que a cel­e­bração de tal feito mas pare­cia o “ateste” do fra­casso de uma ger­ação inteira, dizia: — não fomos capazes de nos desen­volver a ponto das pes­soas pre­cis­arem para comer se socor­rer de uma pro­gra­mação do gov­erno que fornece refeições a um real.

Refle­tia: — que mérito pode exi­s­tir nesse tipo de coisa?

Mal virada a fol­hinha de ano, meu irmão imag­inário leu uma manchete e pôs-​se a refle­tir e indignar-​se com o seu alcance, falta de propósito ou de como, no estado, esta­mos vivendo em “mundo para­lelo”. Dizia a manchete do noti­cioso, e repli­cada por diver­sos veícu­los de comu­ni­cação social, que o gov­erno estad­ual des­ig­nara o BOPE (grupo de elite da polí­cia estad­ual) para pro­te­ger os “balões” dec­o­ra­tivos man­da­dos insta­lar na Avenida Beira-​mar para o car­naval de 2024.

Por mais ridículo que possa pare­cer, lá estavam os mais prepara­dos homens da força de segu­rança estad­ual “dando segu­rança aos balões” colo­ca­dos pelo gov­erno estad­ual.

A uti­liza­ção da força de elite da PMMA seria para evi­tar que agentes da prefeitura munic­i­pal reti­rassem os orna­men­tos estad­u­ais, uma vez, que o prefeito no dia da “virada” anun­ciara que o car­naval munic­i­pal seria naquele logradouro.

Estava anun­ci­ada a “guerra das plumas e paetês” e as “batal­has dos fofões” ou dos “blo­cos de sujos”.

Durante quase uma sem­ana – até que o prefeito anun­ci­asse um outro local para o evento da prefeitura –, adu­ladores de ambas as cor­rentes no intu­ito de venderem o próprio “peixe”, e se venderem, incen­ti­vavam o clima de con­flito entre as esferas de poder.

Longe de tomar par­tido, até por ser fiel ao ditado pop­u­lar que diz “em casa que falta pão, todos gri­tam e ninguém tem razão”, ou de ser con­tra a festa pop­u­lar, o irmão imag­inário refle­tia noutra ver­tente.

Faz algum sen­tido que gov­erno do estado e a prefeitura da cap­i­tal “travem” esse tipo de guerra, a ponto de terem chegado a escalar o BOPE, para faz­erem fes­tas públi­cas de carnaval?

Vejamos, por onde se passa se escuta a notí­cia que o setor público, esta­dos e municí­pios, se encon­tram na “pin­daíba”, sem din­heiro para nada, nem mesmo para aten­der as neces­si­dades bási­cas do serviço público.

Tal infor­mação deve ser ver­dadeira porque enquanto se travava a “guerra das plumas e paetês” ou as “batal­has dos fofões”, noticiava-​se, ainda no tema dos folgue­dos, que ambos os “lit­i­gantes” estavam sendo deman­da­dos por não terem pagos os artis­tas locais que prestaram seus serviços no car­naval e nos fes­te­jos juni­nos pas­sa­dos, inclu­sive, com dire­ito a reporta­gens em rede nacional.

Ai, reside outra grande injustiça pois o din­heiro público dis­pen­sado com tais even­tos sequer, pref­er­en­cial­mente, vai para o bolso dos artis­tas locais, res­i­dentes no estado e municí­pio, indo para fora do estado pois as “grandes estre­las” só sobem ao palco com o din­heiro na mão.

Meu irmão imag­inário sem­pre defendeu em inúmeros tex­tos que esses even­tos fos­sem custea­dos pela ini­cia­tiva pri­vada quando muito com o apoio do setor público ou em último caso através de parce­rias, pois, afora a falta de recur­sos, ale­gada por todos, o nosso estado e os municí­pios maran­henses pos­suem deman­das bem mais impor­tantes e urgentes. Somos ainda o estado mais pobre da fed­er­ação, com mais de 50% (cinquenta por cento) da pop­u­lação vivendo abaixo da pobreza, edu­cação, saúde, sanea­mento, empre­ga­bil­i­dade, desen­volvi­mento social, etc., rev­e­lando carên­cias em níveis diver­sos.

O mundo – o Maran­hão inclu­sive –, passa por uma grave emergên­cia climática, exceto pelo tem­po­ral desta manhã enfrenta­mos uma grave seca com sérios pre­juí­zos para um estado já pobre.

É certo que não é o din­heiro do Car­naval (ou do São João) que vai “desen­volver” o estado e pôr fim a sua sec­u­lar pobreza, mas, de outro não se faz muito sen­tido que se vá ao baile de bar­riga vazia. Ou que as esferas de poder (estado e municí­pio) travem uma “guerra” pelo dire­ito de fazer o car­naval aqui ou ali ou que dis­putem quem fez o evento mais “bonito” com atrações mais caras, quem atraiu mais gente, etcetera.

Tudo isso, pelo menos aos olhos do meu irmão imag­inário, pare­cem bobagem diante dos prob­le­mas efe­tivos que afligem a pop­u­lação.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado, escritor e cro­nista.

PESQUISAS ELEITORAIS

Escrito por Abdon Mar­inho

PESQUISAS ELEITORAIS

A par­tir desta segunda-​feira (1º de janeiro), todas as enti­dades ou empre­sas que realizarem pesquisas de opinião pública sobre intenção de voto em even­tu­ais can­di­datas e can­didatos às Eleições Munic­i­pais de 2024 devem fazer o reg­istro prévio do lev­an­ta­mento no Tri­bunal Supe­rior Eleitoral (TSE). O reg­istro da pesquisa na Justiça Eleitoral deve ocor­rer até cinco dias antes da divul­gação dos resul­ta­dos e deve ser acom­pan­hado das infor­mações pre­vis­tas no artigo 33 da Lei das Eleições (Lei n° 9.504÷1997). Ape­sar de ser necessário o reg­istro dos lev­an­ta­men­tos, a divul­gação dos resul­ta­dos não é obrigatória.

As pesquisas eleitorais são uma con­hecida fer­ra­menta para ver­i­ficar a via­bil­i­dade de pos­síveis can­di­dat­uras, bem como de avali­ação sobre os temas mais sen­síveis que a pop­u­lação gostaria de ver em debate durante a cam­panha. Em 2022, por exem­plo, o Por­tal do TSE con­tabi­li­zou mais de 600 pesquisas eleitorais rel­a­ti­vas às eleições daquele ano.

Mas você sabe o que é uma pesquisa eleitoral?

É a inda­gação feita à eleitora ou ao eleitor, em deter­mi­nado momento, a respeito de can­di­datas e can­didatos que podem dis­putar ou já con­cor­rem em uma eleição. Essa fer­ra­menta de opinião pública é uti­lizada por insti­tu­tos ou enti­dades para ver­i­ficar a prefer­ên­cia da eleitora ou do eleitor nos meses que ante­ce­dem um pleito.

Como toda pesquisa de opinião pública, ela uti­liza método cien­tí­fico para apu­rar a real­i­dade do momento junto a seg­men­tos rep­re­sen­ta­tivos do eleitorado, chama­dos de amostra. Além de seguir metodolo­gia especí­fica, a pesquisa deve ser obri­ga­to­ri­a­mente reg­istrada na Justiça Eleitoral.

O que diz a lei

Segundo o artigo 33 da Lei das Eleições, as enti­dades e as empre­sas que realizarem pesquisas de opinião pública rel­a­ti­vas a eleições ou a can­di­datas e can­didatos, para con­hec­i­mento público, são obri­gadas, para cada pesquisa, a reg­is­trar, junto à Justiça Eleitoral, até cinco dias antes da divul­gação, as seguintes infor­mações: quem con­tra­tou a pesquisa; valor e origem dos recur­sos despendi­dos no tra­balho; metodolo­gia e período de real­iza­ção da pesquisa; plano amostral e pon­der­ação quanto a sexo, idade, grau de instrução, nível econômico e área física de real­iza­ção do tra­balho a ser exe­cu­tado, inter­valo de con­fi­ança e margem de erro.

Além disso, devem reg­is­trar o sis­tema interno de con­t­role e ver­i­fi­cação, con­fer­ên­cia e fis­cal­iza­ção da coleta de dados e do tra­balho de campo; ques­tionário com­pleto apli­cado ou a ser apli­cado; e o nome de quem pagou pela real­iza­ção do tra­balho e cópia da respec­tiva nota fiscal.

Segundo o pará­grafo 1º do mesmo artigo, as infor­mações rel­a­ti­vas às pesquisas serão reg­istradas nos órgãos da Justiça Eleitoral aos quais com­pete fazer o reg­istro de can­di­datas e candidatos.

Penal­i­dades

Ainda segundo a Lei das Eleições, a divul­gação de pesquisa sem o prévio reg­istro das infor­mações sujeita os respon­sáveis a uma multa no valor de 50 mil a 10 mil UFIRs. Já a divul­gação de pesquisa fraud­u­lenta con­sti­tui crime, punível com detenção de seis meses a um ano e multa no valor de 50 mil a 100 mil UFIRs. No período de cam­panha eleitoral, é proibida a real­iza­ção de enquetes rela­cionadas ao processo eleitoral.

Fonte: TSE.