AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

O que a bunda não prejudica.

Escrito por Abdon Mar­inho

O que a bunda não prejudica.

Por Abdon C. Marinho.

O ASSUNTO mais comen­tado nessa Ilha dos Amores, no Maran­hão e, até mesmo no Brasil tem sido a “per­for­mance” de uma pro­fes­sora (?), escritora (?), pesquisadora (?), ativista (?), etc. ocor­rida na Uni­ver­si­dade Fed­eral dos Maran­hão — UFMA, por esses dias. Isso porque a “palestrante” em deter­mi­nado momento de sua “palestra” subiu à mesa e exibiu as partes puden­das para a seleta plateia.

Pronto! Não teve mais nada de rel­e­vante acon­te­cendo no mundo que superasse o “bur­bur­inho” cau­sado pelo “evento acadêmico”.

Não inter­essa se os palesti­nos no norte da Faixa de Gaza, destruída numa guerra que já ceifou mais de quarenta e duas mil vida, setenta por cento delas mul­heres e cri­anças, estão, lit­eral­mente, mor­rendo de fome; não inter­essa, tam­bém, se o Estado Judeu voltou suas armas para o Líbano, e sua cap­i­tal, Beirute, enfrenta os maiores bom­bardeios que se tem notí­cia em décadas, inclu­sive, colo­cando em risco os mil­hares de brasileiros que moram naquele país; não inter­essa se a Rús­sia, que inva­diu a Ucrâ­nia em 2022, dia após dia, pro­move bom­bardeios naquele país, que resiste brava­mente, seques­tra cri­anças, mata e desloca cidadãos; não inter­essa se a fome na África leva mil­hares (ou mil­hões) à morte anual­mente ou que as guer­ras naquele con­ti­nente são as mais fer­ozes; não inter­essa as eleições amer­i­canas daqui a duas sem­anas; não inter­essa se o fundão eleitoral de 5 bil­hões nas últi­mas eleições foi usado para com­prar votos ou para tornar mais ricos alguns esper­tal­hões; não inter­essa a emergên­cia climática que o mundo todo vive e que ameaça da extinção da espé­cie humana nas próx­i­mas décadas e, porque não dizer, a extinção do próprio plan­eta.

O único assunto que inter­essa a uma parcela sig­ni­fica­tiva da nossa sociedade é o c* da palestrante (?) da UFMA.

Viramos um país de idio­tas? É isso?

Tenho visto debates acalo­rados em gru­pos de What­sApp, arti­c­ulis­tas fazendo arti­gos fer­ozes; dep­uta­dos prom­e­tendo o inferno para os pro­mo­tores do evento, cidadãos indig­na­dos, etcetera e tal.

Con­fesso que tenho ten­tado enten­der toda essa bal­búr­dia em torno desse assunto. E con­fesso que não tenho con­seguido enten­der razão de tanta polêmica.

Meu Deus, onde já se viu fazer esse tipo de “per­for­mance” numa uni­ver­si­dade? Numa uni­ver­si­dade pública? Usando recur­sos públi­cos? Qual o futuro da edu­cação do país? Como ficarão nos­sas crianças?

Os cidadãos, os rep­re­sen­tantes do povo estão indig­na­dos. Recebi até pedi­dos para escr­ever sobre o assunto.

Como disse, não con­sigo enten­der a razão de tanta polêmica. Noutros tem­pos isso seria um assunto dis­cu­tido com ares de “mux­oxo” durante um ou dois dias no depar­ta­mento da uni­ver­si­dade, talvez se esten­desse até um outro depar­ta­mento, e só.

O que vejo são os “cidadãos de bem” e indig­na­dos com a per­for­mance da “palestrante” acabaram dando uma “audiên­cia” que ela não teria em tem­pos normais.

Sob o argu­mento de “pro­te­gerem” a uni­ver­si­dade acabam por expor a mesma a uma injus­ti­fi­cada situ­ação de achin­cal­hamento público.

O que inco­modou tanto esses cidadãos de bem?

A palestra de con­teúdo, dig­amos, impróprio, deu-​se, pelo que vi, em uma sala ou um pequeno auditório, não deve ter con­tato com nem cem pes­soas na plateia; os que estavam lá, até onde sei, eram adul­tos; estavam lá por sua livre e espon­tânea von­tade; se aplaudi­ram ou se vaiaram foi por gosto próprio.

Qual o impacto disso na vida dos cidadãos? No preço do arroz, do fei­jão, da gasolina ou da inflação?

Ah, mas estavam em um ambi­ente acadêmico, não podem exibir “as partes” em tal ambi­ente.

Como disse, eu não con­sigo enten­der como uma “per­for­mance” que pode ou não ser con­sid­er­ada de bom ou mau gosto ganhe tanto destaque.

Foi a exibição da bunda? Foi por ser a bunda de uma mul­her trans? Foi por ser na uni­ver­si­dade? Foi por, suposta­mente, envolver recur­sos públi­cos?

Em 1987, por­tanto, há quase quarenta anos, a rede globo de tele­visão, com 80% ou mais da audiên­cia em canal aberto exibiu a nov­ela “Brega&Chique”, no horário das 7 horas. Essa nov­ela, na aber­tura, ao som da música “pelado” do grupo Ultraje a Rigor, exibia um homem total­mente nu, lit­eral­mente, pelado com as mãos no bolso, como dizia música.

Chegá­va­mos em casa, voltando do colé­gio – os que estu­davam à tarde –, e lá estava a “família brasileira” no sofá da sala, com um prato de comida na mão vendo uma nov­ela que exibia na aber­tura um homem total­mente pelado.

Foi assim de abril a novem­bro de 1987.

No iní­cio ainda ten­taram cen­surar diante da pressão de alguns seg­men­tos, mas depois lib­er­aram total­mente a aber­tura da nov­ela, que foi, inclu­sive, reex­ibida out­ras vezes na parte da tarde. Nos inter­va­los da nov­ela eram exibidas diver­sas peças pub­lic­itárias dos gov­er­nos, fed­eral, estad­u­ais e munic­i­pais.

Desde então pul­u­lam nudes em diver­sos pro­gra­mas tele­vi­sivos nas redes de tele­visões aber­tas e fechadas, cenas de sexo picantes, sem que isso des­perte a atenção ou a indig­nação de quem quer que seja.

Querem ver outra coisa? Todos os anos os gov­er­nos fed­eral, estad­u­ais e munic­i­pais des­ti­nam mil­hões e mil­hões dos orça­men­tos públi­cos para as fes­tas de car­naval no país inteiro. Me respon­dam: já viram alguma pes­soa indig­nada pelo fato homens e mul­heres se exibirem para mil­hares ou mil­hões semi­nuas e muitas vezes até nuas?

Essa sem­ana o assunto da “per­for­mance” na UFMA estava em rede nacional no Brasil Urgente ou no Jor­nal da Band com os mes­mos ares de escân­da­los que teste­munhamos nes­sas pla­gas. Aí lem­brei que quando mais jovens per­dia noites de sonos para assi­s­tir os “car­navais proibidões” da … Band.

A per­for­mance da UFMA, no ambi­ente da UFMA é mais danosa do que assis­ti­mos diari­a­mente nos vários meios de comu­ni­cação de massa, inclu­sive con­cessões públicas?

Vejam os sen­hores que muitos dos dep­uta­dos indig­na­dos e revolta­dos com o que acon­te­ceu na UFMA, de gosto duvi­doso ou não – não me cabe jul­gar –, des­ti­nam mil­hares de reais para os even­tos de con­teúdo sim­i­lar ao que repreen­dem.

Acho, inclu­sive, que dev­e­riam des­ti­nar suas emen­das para bol­sas de estu­dos.

Encerro dizendo que não sou con­tra ou a favor desse tipo de “per­for­mance” numa uni­ver­si­dade pública ou pri­vada, mas, dizendo, que se não fosse a “indig­nação” aço­dada o assunto teria “mor­rido” naquela sala e para uma plateia de 30 ou 40 pes­soas, se é que tinha esse número de pes­soas lá.

O escân­dalo trouxe uma vis­i­bil­i­dade e exposição que os indig­na­dos pro­te­tores da uni­ver­si­dade não que­riam (?). Ou será que o que que­riam, efe­ti­va­mente, era “lacrar” em cima do episódio?

Será que a exibição na UFMA cau­sou mais dano do que divul­gação feita pelos cidadãos de bem pro­te­tores da universidade?

Não deixa de ser bisonho que os mais indig­na­dos são jus­ta­mente aque­les que dia sim e no outro tam­bém recla­mam con­tra a cen­sura, a falta de liber­dade de expressão, a ditadura do judi­ciário, o Xandão …

Será que a liber­dade de expressão que tanto pregam e dizem defender não alcançaria a aquela per­for­mance também?

Se sou con­vi­dado para uma festa e ela não faz meu estilo, eu não vou. Se sou con­vi­dado para uma palestra e o assunto não tem nada a ver comigo, os pre­mio com minha ausên­cia; se a tele­visão exibe algo que não gosto, mudo de canal ou desligo a tele­visão.

Acho que é o mel­hor cam­inho.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

FRASES E SUCESSÃO.

Escrito por Abdon Mar­inho


Frases e sucessão.

Por Abdon C. Marinho*.

GOSTO muito de frases, prin­ci­pal­mente de uma frase bem feita. Gosto tanto que vez ou outra até “arrisco” a lap­i­dar alguma.

Há algum tempo um amigo me per­gun­tou: –– Abdon, tu achas que estão “fri­tando” o Camarão?

Para os leitores que não são do estado ou Brasil, a inda­gação era uma refer­ên­cia ao vice-​governador do Maran­hão e, então, secretário de edu­cação, Felipe Camarão.

Respondi-​lhe: –– Se estão “fri­tando” o camarão não sei, mas se estiverem é no “alho e no orleans”.

Uma refer­ên­cia a um prato típico da culinária maran­hense e ao nome do gov­er­nador.

Ele e out­ros para quem disse a frase não se con­tiveram e riram a valer do trocadilho.

Encer­rado o pleito munic­i­pal começaram as inda­gações sobre a sucessão de 2026. Ocu­pado e divi­dido entre as ativi­dades da advo­ca­cia e as empre­sari­ais, não tenho acom­pan­hado dire­ito. (Faz alguns anos que decidi pro­mover alguns pro­je­tos edu­ca­cionais. Será a minha con­tribuição por tudo que recebi da vida).

A falta de tempo tem me “rou­bado” o prazer do hobby da escrita – mas a causa é boa.

Uma tarde dessas recebi um amigo que que­ria saber minha opinião sobre a sucessão de 2026.

Respondi-​lhe com as frases que fui cole­cio­nando ao longo dos anos, as quais, muitas, já com­par­til­hadas com os leitores.

Disse-​lhe que o “dono da bola” do jogo da sucessão era o gov­er­nador no estado, Car­los Orleans Brandão. Ressal­vado que ele era o “dono da bola, mas não o dono do jogo”, pois sendo a política um “jogo de equipe” ele depen­de­ria de out­ros atores e con­forme a decisão que tomasse “pode­ria jogar ou não o jogo da politica”.

Tive que explicar na frase de Mag­a­l­hães Pinto 19091996 (?), politico mineiro, que a “polit­ica é como as nuvens, você olha ela estar de um jeito, olha nova­mente, ela estar de outro jeito”.

É dizer, caso o gov­er­nador decida por ficar até o fim do mandato tem todas as condições de eleger o seu suces­sor, tal o nível de hege­mo­nia polit­ica que alcançou.

Por outro lado há uma frase – não me recordo se me foi dita pelo saudoso Cafeteira (19242018), um fra­sista nato, ou se ele ape­nas a repetiu para mim –, que é a seguinte: “o Senado é bem mel­hor que o céu, pois no céu para entrar você pre­cisa mor­rer, já no Senado você des­fruta de suas van­ta­gens e benesses ainda vivo”. Cafeteira bem sabia disso pois foi senador por dezes­seis anos.

Esse é o jogo da politica.

Se sua excelên­cia quiser entrar no “céu dos vivos” a par­tir de 2027 – é quase certo que uma das vagas será dele, se dese­jar – o “dono da bola” pas­saria a ser o crustáceo, “frito ou não”, que teria oito meses de gov­erno pela frente e dois cabos eleitorais incon­tro­ver­sos: os leões que guarnecem o palá­cio do mesmo nome.

Nesse novo jogo o campe­onato – ou devo dizer a arena –, estaria aberto entre vários com­peti­dores o próprio Camarão, com seus leãoz­in­hos, o Hilton Gonçalo, prefeito de Santa Rita, a Iracema Vale, pres­i­dente da Assem­bleia, o Eduardo Braide, Prefeito de São Luís; e diver­sos out­ros agentes políti­cos da atu­al­i­dade e mesmo aque­les que ainda pos­sam se apre­sen­tar como com­pet­i­tivos pelos próx­i­mos dois anos, inclu­sive, alguém elegível da família do atual governador.

Cogitou-​se a pos­si­bil­i­dade do atual gov­er­nante con­tin­uar como o “dono da bola” man­tendo o sonho de entrar vivo no céu do Senado a par­tir de 2027.

Nessa hipótese o Camarão, que é legit­i­mado a sucedê-​lo, renun­cia­ria junto com ele, abrindo a pos­si­bil­i­dade da Assem­bleia Leg­isla­tiva eleger indi­re­ta­mente um gov­er­nador para tirar o restante do mandato, este, inclu­sive, com a pos­si­bil­i­dade de candidatar-​se a reeleição.

Mas o que levaria alguém a renun­ciar a oito meses de comando do estado com pos­si­bil­i­dade de dis­putar a reeleição no cargo?

Há uma frase de ninguém menos que Getúlio Var­gas que diz o seguinte: “os Tri­bunais de Con­tas são os lugares onde ‘arquiv­a­mos’ os nos­sos ami­gos”. Pode­ria acres­cen­tar, tam­bém, os “incô­mo­dos”.

Sabe­mos que não fal­tam vagas no TCE e mesmo que não tivesse ou não hou­vesse a pos­si­bil­i­dade de abrirem até lá, sem­pre se pode­ria con­tar com a “renún­cia” de alguém “cansado” da labuta. A questão residiria na famosa frase de um jogador de fute­bol ao rece­ber as lições do téc­nico. O téc­nico dizia como a equipe dev­e­ria jogar, que jogadas dev­e­ria armar, quando o jogador inter­rompeu e indagou: –– sim, pro­fes­sor, mas o sen­hor com­bi­nou tudo isso com os “rus­sos” tam­bém?

No caso da sucessão o “russo” seria o Camarão, e a per­gunta que se faz – ele, inclu­sive, negou tal pos­si­bil­i­dade –, é se ele estaria dis­posto ou toparia renun­ciar a oito meses de mandato para, nas palavras de Var­gas, ser “arquiv­ado” no tri­bunal.

Lem­bro que em 2013 até cog­i­taram um “campe­onato” nesses moldes. A gov­er­nadora de então, Roseana Sar­ney, renun­cia­ria, o vice-​governador iria para o TCE e o can­didato “preferido”, Luis Fer­nando, seria eleito indi­re­ta­mente pela Alema e can­didato a própria reeleição.

Até chegaram a exe­cu­tar a primeira parte da estraté­gia do jogo, o vice-​governador, Wash­ing­ton Oliveira acabou indo para o “arquivo” do TCE, o que era abso­lu­ta­mente improvável em condições “nor­mais”, mas em algum momento “erraram o ponto”, o can­didato preferido “foi desis­tido” da dis­puta, Roseana ficou até o fim e perderam para Flávio Dino.

Ape­nas para con­jec­turar, se o “campe­onato eleitoral” tivesse seguido o roteiro orig­i­nal­mente plane­jado, talvez até tivessem ganho de Flávio Dino ou a eleição teria sido mais equi­li­brada – ou menos vexatória.

Em 2006, se não me falha a memória, chegaram a cog­i­tar o mesmo tipo de jogo, mas o vice-​governador de então, Jurandir Lago, não teria topado – se é ver­dade, deve arrepender-​se até hoje –, o gov­er­nador Zé Reinaldo ficou até o fim e elegeu seu suces­sor e fez Flávio Dino dep­utado fed­eral, trazendo-​o do judi­ciário para a polit­ica ou vice-​versa.

Caso o atual gov­er­nador resolva seguir esses dois exem­p­los e ficar até o fim, pelos exem­p­los acima, estou certo que só o fará por alguém da família e de quem goste muito, pois aí, recorro a outra frase céle­bre, essa do meu pai: “sangue dói”.

É dizer, o gov­er­nador até poderá renun­ciar ao “céu onde se entra vivo”, mas se isso acon­te­cer, podem “tirar o cav­al­inho da chuva”, será por alguém “de sangue”, pois na frase imor­tal, nova­mente de Mag­a­l­hães Pinto “Gratidão em política só dura 48 horas”.

Não pre­cisa ser um gênio da política para chegar a essa con­clusão. O gov­er­nador que é inteligente – se não fosse não teria “se cri­ado” nesse ramo e não teria chegado onde chegou se não tivesse sagaci­dade.

Além do mais, tem dois exem­p­los “den­tro de casa”.

Se em algum momento lhe assaltar alguma dúvida sobre o que fazer poderá dissipá-​la com uma ou duas lig­ações: –– Zé Reinaldo, valeu a pena teres ficado até o fim para garan­tir a eleição do suces­sor e dos ali­a­dos? Ou: –– Roseana, valeu a pena ter desis­tido do “céu” em 2014?

Mas como já dizia um outro famoso homem público “a política é arte das aparên­cias”. Os mali­ciosos dizem, na ver­dade, que é “a arte da enganação”. Em qual­quer das situ­ações é necessário que se tenha “ner­vos de aço”. Não há espaço para amadores ou para os afoitos.

Nessa per­spec­tiva o pen­sa­mento aqui esboçado pode fazer sen­tido ou não. Posso está certo ou total­mente errado.

O querido ex-​deputado Mar­cony Farias me conta um “causo” deli­cioso envol­vendo o ex-​governador mineiro Bened­ito Val­adares (18921973). Conta a lenda que o autor da frase “eu não sou con­tra, nem a favor, muito pelo con­trário”, certa vez se prepar­ava para deixar o Palá­cio da Liber­dade quando chegou sua esposa, dona Odete, para irem jun­tos para casa.

Enquanto se arru­mam para sair, chega um dep­utado com uma urgên­cia: –– gov­er­nador, gov­er­nador, o sen­hor come­teu um grave erro ao nomear fulano de tal como dire­tor da escola tal. O sujeito é um “comu­nista sub­ver­sivo” que está colo­cando os jovens con­tra a gente.

Bened­ito ouviu, matutou e disse: –– é, dep­utado, o sen­hor tem razão.

Deix­avam o palá­cio quando encon­traram o dito dire­tor: –– gov­er­nador, não acred­item nesses meus detra­tores, eles não têm com­pro­misso com a edu­cação do estado e querem fazer polit­i­calha com a mesma.

Nova­mente, o gov­er­nador ouviu com tran­quil­i­dade, refletiu e disse: –– o sen­hor tem toda razão, diretor.

D. Odete que a tudo assis­tia, virou-​se para ele: –– mas, Bened­ito, você deu razão para o dep­utado, em seguida deu razão para o dire­tor, são coisas total­mente antagôni­cas, como é que pode?

Bened­ito virou-​se para a esposa e com olhar car­in­hoso respon­deu: –– é, Odete, você tem razão.

Sobre o quadro da sucessão estad­ual de 2026, encerro com frase do político maran­hense, Lis­ter Cal­das, que diria: “quem viver verá”.

Abdon C. Mar­inho é advogado.

PS. O amigo João Jorge de Weba Lobato, ex-​prefeito de Santa Helena, colab­ora com esse escriba para dizer (e provar) que frase que me foi repas­sada por Cafeteira é de auto­ria do grande brasileiro, antropól­ogo, edu­cador e que foi senador da República Darcy Ribeiro (19221997).

As lições de dona Creüsa para os futuros gestores.

Escrito por Abdon Mar­inho


As lições de dona Creüsa para os futuros gestores.

Por Abdon C. Marinho.

UMA TARDE, logo depois do resul­tado das eleições munic­i­pais, recebi a visita de um amigo que tra­balha dando assistên­cia aos municí­pios e seus gestores. Ele e out­ros téc­ni­cos em gestão pública munic­i­pal iriam par­tic­i­par (ou pro­mover) uma reunião com os novos gestores para falarem de suas exper­iên­cias, pas­sarem infor­mações sobre os desafios que os gestores dev­erão enfrentar.

— Abdon, achamos impor­tante sua par­tic­i­pação nesse evento.

Há quase trinta anos meu escritório tra­balha com dire­ito munic­i­pal, admin­is­tra­tivo e eleitoral – se levar­mos em conta os anos que pas­sei na Assem­bleia e na prefeitura de São Luís, dará bem mais –, entre­tanto, essas ativi­dades não são como um man­ual onde se possa dizer: siga esse cam­inho que dará certo, estar-​se sem­pre con­ser­tando o trem com ele em movi­mento.

Fiquei sem saber o que dizer sobre o “con­vite” para falar aos novos gestores.

Depois da visita – e nos dias seguintes –, fiquei pen­sando no assunto e, per­dido em tais pen­sa­men­tos, lembrei-​me das lições que aprendi com umas das min­has primeiras clientes nesse ofí­cio de advo­ca­cia pública: dona Creüsa, ex-​prefeita de Luís Domingues, extinta desse plano em 2020.

Con­forme já falei em out­ros escritos, inclu­sive nos tex­tos “Minha amiga D. Creüsa” e em “O revólver de Vitorino e a paciên­cia de Creüsa”, a ex-​prefeita foi uma gestora sin­gu­lar, por isso, durante anos – e até hoje –, me refiro a ela como exem­plo quando con­verso com algum cliente.

D. Creüsa era uma mul­her sim­ples, sequer chegou a con­cluir o que hoje chamamos de fun­da­men­tal menor, mãe de seis fil­hos (todos homens), era uma dona de casa comum mas com muito jeito para lidar com as pes­soas e muita autori­dade moral.

A con­heci através do dep­utado Ader­son Lago que con­tou com o apoio dela e da família em algu­mas cam­pan­has. O marido, seu Didi Queiroz foi prefeito entre 1989 e 1992. Nesse período o gov­erno estad­ual, coman­dado pelo gov­er­nador Edi­son Lobão, pro­moveu uma série de inter­venções políti­cas nos gov­er­nos munic­i­pais, entre elas a de Luís Domingues, e Ader­son aju­dou a devolver-​lhe o mandato pouco tempo depois.

Em 1996, dona Creüsa foi can­di­data a prefeita e perdeu por uma ínfima quan­ti­dade de votos.

Em 2000 con­seguiu a vitória em cima do prefeito que a der­ro­tara qua­tro anos atrás.

Acom­pan­hei a gestão desde antes dela começar. Na véspera da posse estava lá prov­i­den­ciando os atos ini­ci­ais.

Naquela época ainda não havia a MA 206, lig­ando o Povoado Qua­tro bocas (Junco do Maran­hão) a Caru­ta­pera nem a MA 301 (que poderá ser a BR 308) lig­ando Caru­ta­pera a Cân­dido Mendes. Só no primeiro tre­cho lev­á­va­mos 5 ou 6 horas depen­dendo da época do ano e do chamado inverno amazônico.

Nos mais de vinte anos em que con­vivi com dona Creüsa muitas foram as lições apren­di­das é sobre elas que trata o pre­sente texto.

Muito emb­ora dona Creüsa fosse uma mul­her sim­ples, esposa de ex-​prefeito, dona de casa e mãe de seis fil­hos varões, o mais novo já com mais de vinte anos, ela nunca per­mi­tiu que nen­hum deles desse “pitaco” ou inter­ferisse na sua gestão. Se seu Didi dava alguma opinião essa era muito disc­reta e den­tro do recesso do lar de ambos, aliás, den­tro do quarto, pois mesmo nos ambi­entes comuns da casa não o ouvíamos opinar sobre os assun­tos da gestão.

O mesmo se dava em relação aos fil­hos e noras, nen­hum tinha “mando” sobre o gov­erno da mãe/​sogra. Mesmo aque­les que tra­bal­havam na prefeitura ficavam restri­tos as suas atribuições fun­cionais e sob o comando de dona Creüsa.

Como é muito comum não víamos ninguém da família “prefei­tando” na sua gestão.

Se com os “de casa” era assim, imag­ine com os demais. Dep­uta­dos, vereadores, lid­er­anças, empresários e todo o resto que hoje vemos com poder de comando em muitas gestões, no gov­erno de dona Creüsa não davam “pitaco”.

Acho que essa é uma lição. O gestor pre­cisa enten­der que ele pre­cisa assumir as respon­s­abil­i­dades e não ter­ce­i­rizar suas funções. A respon­s­abil­i­dade é dele. Como dizia um amigo é o CPF dele que aparece per­ante os órgãos de con­t­role como gestor/​ordenador de despe­sas.

Em uma das primeiras con­ver­sas que tive com ela, ainda antes de assumir, sugeri-​lhe tivesse tudo ano­tado – até para cobrar depois.

Ela aten­deu a sug­estão dada e man­tinha uma agenda onde fazia as ano­tações dos assun­tos trata­dos, dos sal­dos em con­tas, das obri­gações que teria que cumprir, etc., um dos fil­hos que a aux­il­i­ava tinha a mis­são de olhar os sal­dos e emi­tir os extratos para que ela pudesse con­ferir.

Uma das car­ac­terís­ti­cas de dona Creüsa era escu­tar seu advogado.

Foram oito anos em que sem­pre que ela ia tomar uma decisão impor­tante tinha a ini­cia­tiva de me ligar para per­gun­tar o que eu achava, se podia fazer ou como podia fazer.

Se tinha algum assunto mais urgente e que deman­dasse uma solução pres­en­cial, lig­ava: —doutor pre­ciso que o sen­hor venha aqui, já falei com o dep­utado fulano que emprestou um avião para o sen­hor vir.

No dia seguinte aman­hecia no aero­porto para pegar um aviãoz­inho bimo­tor ou monomo­tor para ir pas­sar o dia em Luís Domingues.

Talvez essa seja uma outra lição a ser assim­i­lada pelos novos gestores: seus advo­ga­dos, con­ta­dores e demais téc­ni­cos pre­cisam ser de sua con­fi­ança e cor­re­tos a ponto de com­preen­derem que o tra­balho e assistên­cia ao ex-​gestor não se encerra com o mandato.

Com o tér­mino do mandato con­tin­u­amos cuidando das coisas dela e, prin­ci­pal­mente, man­tendo a amizade.

Ape­sar de ter feito o suces­sor não con­tin­u­amos a asses­so­ria jurídica do município.

Mas ela sem­pre me lig­ava para con­ver­sar e ouvir a minha opinião sobre o gov­erno do suces­sor. Muito res­ig­nada, quanto as coisas não andavam como gostaria que andassem, me lig­ava para desaba­far: — fazer o que, né, doutor? Eu quis assim, agora terei que aguen­tar.

O gov­erno do suces­sor não é o “nosso” gov­erno.

Ela tinha essa com­preen­são e em nome do inter­esse maior ado­tava uma dis­crição e resil­iên­cia impres­sio­n­antes. Não demon­strava insat­is­fação ou recla­mava pub­li­ca­mente de nada. Acho que era um dos poucos que sabia quando ela não estava satisfeita.

Essa, talvez seja, tam­bém, uma lição, saber esperar com serenidade em nome de um inter­esse maior.

Oito anos depois, em 2016, ela estava artic­u­lando a eleição do filho, jun­tando todos os ali­a­dos e tra­bal­hando para uma vitória tran­quila nas urnas, como de fato se deu. Antes das eleições e depois tornaram-​se mais fre­quentes as idas ao escritório e as nos­sas con­tribuições para a cam­panha e para o gov­erno.

Em janeiro de 2017, fui con­vi­dado para a primeira reunião do novo gov­erno. Lá estava dona Creüsa par­tic­i­pando da reunião na condição de secretária de uma pasta enquanto o filho caçula assumia dali os rumos da história e da política.

Ficou no cargo até quando veio a doença que a levou desse plano.

Ela foi a artic­u­ladora de tudo mas já sabia que não era mais a pro­tag­o­nista, não era ela a prefeita.

Quando a apre­sen­tei ao amigo e con­ta­dor público Max Harley Fre­itas ele disse: — doutor Abdon fala tanto da sen­hora que parece que lhe con­heço há muitos anos, da vida toda.

Foram mais de vinte anos de amizade e apren­diza­dos que, cer­ta­mente, levarei para sem­pre.

Posso dizer que bem antes de sur­gir o termo “empodera­mento” fem­i­nino, ou dele entrar na “moda” dona Creüsa, que não sabia e nunca ouvirá falar nisso, já era uma mul­her empoder­ada. Acho que era algo nat­ural dela.

Como disse acima, sem­pre que con­verso com um gestor, prin­ci­pal­mente, um novo gestor que ainda ini­cia nos cam­in­hos da admin­is­tração pública cito as lições e exem­p­los de dona Creüsa.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.